A quinta edição do festival MetalDays foi realizada na bela cidade de Tolmin, na Eslovênia. E a maior diferença entre ele e os demais festivais de verão europeus está na possibilidade de misturar, num mesmo momento, uma relaxante viagem de férias com a loucura de um festival de heavy metal. O local onde acontecem os shows fica ao lado do Triglav Nacional Park, uma das mais belas atrações turísticas do país. Então, após conferir mais de oitenta bandas em cinco dias, você pode participar de atividades radicais como rafting ou parapente, ou simplesmente fazer caminhadas por lá. Se seu interesse é História, é uma ótima oportunidade de visitar um lugar diretamente ligado com a I Guerra Mundial. Pra completar, se nada disso te interessar, ainda dá pra aproveitar o rio Soca e suas praias naturais na companhia de outros headbangers e de uma boa bebida.
O mês de julho costuma ter sol durante todo o dia por lá e mesmo sendo uma região em que acontecem muitos dias chuvosos, isso quase não acontece nessa época do ano. As portas do festival se abrem dois dias antes para aqueles que vão acampar por lá e é uma boa oportunidade para conferir as atrações do New Forces, um pequeno palco que estreou este ano para dar oportunidade a bandas que estão começando e que ficou lotado durante todos os dias do MetalDays.
1º. dia: domingo, 23 de julho
O primeiro dia do festival é sempre especial porque acaba se transformando numa espécie de festa de família. Isso porque o clima de amizade entre os participantes pode ser sentido em todos os lugares. É uma espécie de confraternização entre os fãs que vão ao festival com as pessoas que trabalham para tornar o MetalDays possível. E esse clima agradável e sereno não mudaria durante os próximos cinco dias.
As bandas começaram a se apresentar às 14h no segundo palco, que é cercado de árvores que dão uma ótima sombra ao sol causticante. O palco principal abria às 17h, o que dava a todos um bom tempo para ver outros shows e participar de outras atividades. E opções não faltavam: desde ioga pela manhã até workshop de bondage, tinha pra todos os gostos. Para os mais criativos havia ainda o Colors in Hell, curso de pintura oferecido gratuitamente. À tarde ainda havia jogos de badminton de topless para as mulheres e voleibol de sunga para os homens…
Passando para música, o palco principal sofreu algumas mudanças de última hora. Assim, o folk metal dos irlandeses do Na Cruithne abriu os trabalhos às 18h. E, apesar de o lugar ainda não estar lotado, eles fizeram um bom trabalho. Isso mudou drasticamente quando o Iced Earth fez seu segundo show em Tolmin em três anos. A frente do palco lotou e a banda curtiu junto com os fãs. A maior parte dos clássicos estava no set list, mas muitas músicas de seu último disco também foram apresentadas.
Em seguida, quando o autoproclamado Rei entrou em cena, o ambiente entrou em clímax. Marilyn Manson levantou de seu trono e conquistou o público desde o primeiro momento. Trata-se de um show de um só artista, mas é impossível deixar de citar a incrível banda que o acompanha. Enquanto isso, os fãs, mais que felizes, agitavam como loucos.
Já no segundo palco, coube aos holandeses do Dool dar o pontapé inicial. Fizeram um show intenso e muito especial, um grande início para os próximos cinco dias de música, e foram bastante aplaudidos.
As apresentações de Suicidal Angels e Absu mantiveram o nível elevado e a quantidade de gente à frente do palco mostrou que o palco “menor” ficou grande esse ano. Mais tarde, os japoneses do Loudness se apresentaram no segundo palco por conta do cancelamento de uma outra banda. Seu metal tradicional foi muito bem recebido pela plateia e a performance da banda foi irretocável. Infelizmente, o Venom Inc., headliner do segundo palco, não conseguiu manter o nível lá em cima. Apesar de ter mais representantes da formação clássica do que a banda que usa o nome Venom, foi uma apresentação chata. De todo modo, foi um ótimo primeiro dia de festival e muita gente foi festejar na praia após o final das apresentações.
2º. dia: segunda-feira, 24 de julho
O segundo dia começou com trovões ameaçadores, o que acabou fazendo com que alguns shows fossem reagendados. Felizmente, os organizadores são bem experientes nisso e conseguiram reacomodar todas as atrações. Uma das mudanças aconteceu com o Krisiun, que foi redirecionado para o segundo palco em função do cancelamento do headliner Kadavar, que não pôde comparecer por conta de problemas particulares.
Enfim, o segundo dia no palco principal começou com o Sanctuary, que fez um ótimo show. A voz de Warrel Danes se mostrou em excelente forma e até músicas como Battle Angels soaram como na época em que foram gravadas. O Katatonia, por sua vez, foi meio aborrecido, o que levou os fãs a se divertirem com uma saudável guerra de lama. Foi um show muito previsível para um festival desse porte.
Uma mudança drástica aconteceu quando o Amon Amarth entrou em cena debaixo de belos efeitos pirotécnicos. Pusuit of Vikings foi uma abertura perfeita para um set de noventa minutes, repleto de clássicos e de material novo. Mas não importava se estavam tocando músicas novas do disco Jomsviking (2016) ou temas antigos como Death in Fire. Todas eram cantadas pelos fãs junto com o vocalista Johan Hegg. Uma verdadeira catarse coletiva! O show terminou como começou: com uma chuva de fogos de artifício e Twilight of the Thunder God. Essa foi uma das melhores apresentações dos suecos e deixou claro que o Amon Amarth passou a ser um dos principais shows do heavy metal atual.
O segundo palco também teve vários destaques no segundo dia. O Evil Invaders deu uma aula de thrash metal old school, enquanto o Firespawn, projeto que reúne vários nomes conhecidos, acabou sendo uma verdadeira festa para celebrar o death metal da Suécia.
O trio americano Macabre talvez não tenha convencido as pessoas como planejara, mas ofereceu um show consistente. O MGLA entrou em cena mascarado e tentou fazer a melhor performance que poderia. Mas aqueles mascarados debaixo de uma iluminação esquisita deixaram o negócio um pouco decepcionante. Só mesmo a intensidade de seu black metal salvou-os de um desastre maior.
O já citado Krisiun foi o headliner do segundo palco por conta do cancelamento de última hora do Kadavar. E os três fizeram um show perfeito. Foi uma verdadeira lição de brutal death metal, muito celebrada pelos fãs e digna do encerramento de mais um dia de shows.
3º. dia: terça-feira, 25 de julho
No terceiro dia, a maluquice no palco principal começou com o Gutalax. Os tchecos usavam vestimentas iguais e havia rolos e mais rolos de papel higiênico tanto no palco como na plateia, que entrou no clima e mandou ver no ‘crowd surfing’. A música parece algo secundário em um show do Gutalax…
Já Abbath é sempre divertido, principalmente quando ele apresenta seu gélido black metal norueguês debaixo de um sol de rachar. Acontece que ele é profissional e fez de tudo para conquistar a plateia, tarefa que cumpriu com facilidade ao apresentar tanto músicas do Immortal como de sua carreira solo. O público curtiu muito e ovacionou o músico por um longo tempo depois que ele encerrou seu set.
Depois de shows com essa intensidade, o Bloodbath tinha a difícil missão de manter o nível lá em cima. E eles não desapontaram. O set list, como o de tantas outras bandas, misturava temas clássicos e atuais. A banda entregou exatamente o que se esperava dela e muitos vibraram enquanto o vocalista Nick Holmes gritava como um louco. Mais uma bela apresentação do Bloodbath.
Desnecessário apresentar Doro. A rainha do metal teutônico tem muitos fãs no mundo todo e na Eslovênia não é diferente. Ela é daquelas que levanta uma multidão sem fazer o mínimo esforço. O set trazia muitas músicas da época do Warlock, o que deixou a multidão ainda mais maluca. Doro e sua banda estavam num excelente astral e o show acabou sendo um dos melhores da bela vocalista.
O segundo palco começou tarde nesse dia. O Warbringer abriu o palco às 19h mostrando todo seu potencial. Mas estava quase todo mundo conferindo o Abbath, o que deixou a apresentação dos americanos meio fria. Foram escalados num péssimo momento e se esforçaram bastante para agradar. O mesmo aconteceu com o Cancer logo em seguida.
Apenas quando a instituição do metal teutônico Grave Digger entrou em cena que o público voltou a se aglomerar diante do palco par acompanhar quase com devoção ao show da banda. Foi realmente uma grande apresentação.
Já era tarde da noite quando o Shining, grupo norueguês que mistura jazz e black metal, entrou em cena ovacionada pela galera. E eles retribuíram com uma apresentação irrepreensível. E não há muito o que dizer do black metal misturado com acordes de jazz e saxofone que a banda faz. Simplesmente maluco, um final mais que apropriado para mais um dia de festival.
4º. dia: quinta-feira, 27 de julho
O quatro dia foi o mais tranquilo em termos musicais. No palco principal, Kobra and the Lotus fizeram um belo show no final da tarde. Já eram 21h quando a grande nova banda do blues rock mundial entrou em cena: o Blues Pills foi freneticamente recebido pela audiência – parecia que esse ia ser o ultimo show do quarteto. A despeito de a música do Blues Pills ser mais lenta e suave, a vocalista Elin Larsson se encarregou de agitar o público com uma boa performance. Após intensos 75 minutos, tanto banda quanto plateia estavam plenamente satisfeitos.
Já o Opeth certamente não é a banda que mais agita em cena, preferindo que a música prevaleça. Mas a performance da banda, muito prejudicada por vários problemas técnicos, acabou não sendo digna de um headliner. Chegou a haver uma interrupção de mais de vinte minutos (!) para solução de um determinado problema, que certamente acabou se tornando um anticlímax – e nem o carisma e as piadas do vocalista Mikael Akerfeldt conseguiram compensar. No fim das contas, quando o show finalmente recomeçou, boa parte do público já tinha debandado. Uma pena…
Por sua vez, o segundo palco foi bem frequentado durante todo o dia. Bandas como os suecos do LIK e seu death metal old school e o Rectal Smegma com seu hardcore estiveram entre as primeiras atrações. Ambas mostraram que sabem hipnotizar as massas.
Mas a grande atração do dia foi a lenda da NWOBHM Raven, que mostrou saber o que deve ser feito em cima de um palco. E ainda teve espaço para o Bömbers, banda tributo ao Motörhead criada por ninguém menos que Abbath. O repertório focou nos temas mais antigos da banda de Lemmy e a banda saiu do palco ovacionada pela plateia.
E quando a atração principal Solstafir entrou em cena, todo mundo ainda estava no “modo Ace of Spades” do que no clima para ouvir músicas viajantes e dramáticas.
5º. dia: sexta-feira, 28 de julho
O último dia do MetalDays 2017 foi o grande final que um evento assim merece. No palco principal o Hell levantou a massa ao entardecer, enquanto o Grand Magus também tocou com dia claro. O trio foi saudado pelos fãs, mas o trio naquele palco enorme e com o sol a pino quebrou todo o clima criado pela banda. Seria melhor se tivessem sido escalados para o segundo palco em outro horário.
Logo em seguida foi a vez do Equilibrium. Essa banda é um mistério. Seus discos não empolgam, mas ao vivo eles detonam! Um grande público saudou a banda e permaneceu aplaudindo o grupo durante um bom tempo depois que os músicos deixaram o palco.
Depois, o Pain tinha a missão de deixar o astral lá no alto e não desapontou. O repertório também misturou clássicos e musicas novas em seu set. No final, mostraram exatamente aquilo que se esperava deles e também foram muito solicitados a voltar após o encerramento da apresentação – pena que o tempo era curto.
Eram 22h30 quando o Heaven Shall Burn entrou em cena debaixo de muitos fogos de artifício. Com um cenário que lembrava uma fábrica, os alemães fizeram uma apresentação para não esquecer. O repertório fez uma verdadeira viagem por toda a carreira da banda e, como todo mundo esperava, o cover de Edge of Sanity Black Tears encerrou o MetalDays 2017 – um final digno para um grande festival.
Já no segundo palco revezavam-se atrações escolhidas a dedo pelos organizadores. O Katana fez um belo show, mas um dos destaques foi uma rara aparição do Witchfynde. Acabou sendo uma das melhores apresentações do MetalDays.
A lenda do death metal Sinister até tentou manter o clima lá no alto, mas após o show do Witchfynde não era tarefa muito complicada. A missão mais complicada ficou para o Death Angel, que foi a última banda a se apresentar no festival. Porém, como estamos falando de uma banda experiente e profissional, eles se viraram com muita facilidade. Combinando uma postura agressiva em cena com seu poderoso thrash metal, mostraram mais uma vez por que são um dos melhores representantes do estilo. E lá na praia a festa atravessou a madrugada… A gente se vê em 2018!