Outra vez o Parque Ibirapuera foi palco de mais uma edição do “Samsung Best of Blues”, que acontece anualmente no Auditório Ibirapuera. Enfrentando o calor absurdo que fazia em São Paulo no último dia 27 de outubro, o público compareceu em peso ao gratuito festival ‘open air’, que esse ano contou com as apresentações dos consagrados Zakk Wylde e Kenny Wayne Shepherd, além das jovens Tatiana Pará (guitarra) e Nina Pará (bateria). Todos esses artistas vieram de viagem de Porto Alegre (RS), onde tocaram no dia anterior pelo mesmo festival. Antes de se apresentarem para o público paulistano, porém, os músicos atenderam aos jornalistas em uma disputada coletiva de imprensa, que começou com atraso. Devido a tal atraso, as irmãs Pará tiveram pouco tempo para responder as perguntas dos repórteres e logo se retiraram para começarem a tocar. Para piorar a situação, após o músico Beto Lee (filho da cantora Rita Lee) fazer as honrarias e anunciar Wylde e Shepherd, o som que vazava da apresentação de Tatiana e Nina, somado a um alarme que teimava em disparar no local, atrapalhou demais a comunicação entre os jornalistas e os dois guitarristas americanos.
Entre os principais pontos abordados na coletiva, Nina e Tatiana Pará ressaltaram a importância de estarem tocando ao lado de Wylde e Shepherd e revelaram que irão gravar um CD no formato em que estavam se apresentando, ou seja, guitarra e bateria. Também pouco questionado, Kenny Wayne Shepherd respondeu perguntas básicas, porém sempre de maneira positiva, como sobre seu sentimento de estar tocando pela primeira vez no Brasil, por exemplo. Por sua vez, Zakk Wylde, que entrou brincando com os jornalistas – em dado momento, arrancou risadas ao ressaltar que a música une as pessoas, mas salientando que sexo e álcool não ficam atrás -, descartou a hipótese de tocar algo de sua ex-banda, o Pride & Glory, revelou conhecer o violonista sertanejo Almir Sater e comentou ter sido natural a sua transição da Gibson para a sua própria marca de guitarras, a Wylde Audio.
Com a coletiva rolando simultaneamente ao show das brasileiras Tatiana Pará e Nina Pará, infelizmente acabamos chegando apenas na hora em que a guitarrista estava sendo obrigada a se despedir do público, já que a produção cortou a última música que ela e sua irmã iriam tocar (Crazy Cow).
Sem muito alarde, Kenny Wayne Shepherd assumiu o palco e deixou muita gente de queixo caído com sua performance. Apesar de ser um artista multiplatinado e bastante respeitado nos Estados Unidos, Shepherd ainda é pouco conhecido pela maioria dos brasileiros. No entanto, o guitarrista, que em algumas músicas também assume o vocal, fez um show tão surpreendente e cativante, que certamente conseguiu angariar novos fãs e se reafirmar perante aos que já o admiravam. Com timbres certeiros e uma qualidade de som irretocável, o blueseiro cativou o público mostrando um feeling absurdo em sua forma de tocar. Muito da qualidade da apresentação mostrada por Shepherd se deu também pela competência de sua banda, formada por Noah Hunt (vocal e guitarra), Scott Nelson (baixo), Joe Krown (teclado), Mark Pender (saxofone), Joe Sublett (trompete) e Sam Bryant (bateria).
Atualmente, Shepherd divulga seu recém-lançado novo álbum solo, The Traveler, que, além do blues, traz referências da música country e da soul music. Dele, o guitarrista tocou a instigante Woman Like You e a cadenciada I Want You. Também incluiu no set outras músicas igualmente contagiantes, entre elas Trouble Is…, do álbum de mesmo nome, lançado em 1997, o ‘bluesão’ Shame, Shame, Shame, do debut Ledbetter Heights (1995), o hit Blue on Black, a instrumental While We Cry, que, em grande parte, conta com acordes extraídos de Yellow Ledbetter, do Pearl Jam, e um medley final formado por Voodoo Chile e Voodoo Child (Slight Return), do icônico e saudoso Jimi Hendrix. Em sua primeira visita ao Brasil, Kenny Wayne Sheperd deixou muita gente aguçada com suas músicas e com seu estilo altamente influenciado por Stevie Ray Vaughan. Ele nos deixou na vontade de vê-lo em um show só seu, com um repertório maior. E tomara que na próxima vez Shepherd inclua a ótima Slow Ride, música de Trouble Is…, que dessa vez, infelizmente, ficou de fora.
De volta ao Brasil, poucos meses após tocar por aqui com seu Black Label Society, Zakk Wylde estava de volta. Sem ter dado pistas nem na coletiva de imprensa sobre o que iria tocar em sua nova visita à São Paulo, a curiosidade por parte daqueles que não curtem visitar previamente sites que revelam os repertórios tocados pelos artistas em shows anteriores, era para saber se o que Wylde apresentaria eram músicas do próprio Black Label, tendo em vista que ele veio acompanhado dos próprios Dario Lorina (guitarra), John DeServio (baixo) e Jeff Fabb (bateria). Antes deles darem as caras, o público se divertiu com a introdução mecânica, um ‘mash up’ cruzando de maneira bastante interessante e certeira os hinos “Whole Lotta Love” (Led Zeppelin) e “War Pigs” (Black Sabbath). No entanto, o que se viu assim que Zakk Wylde e banda entraram em ação foi um show maçante, com qualidade de som inconsistente, pouca conversação com o público e exageradas e cansativas improvisações e “fritações guitarrísticas”.
No set, a única música do B.L.S. tocada foi Fire it Up, do álbum Mafia, de 2005. No mais, Wylde e seus asseclas mandaram apenas a clássica Whipping Post (The Allman Brothers Band), com inserções de Machine Gun (Band of Gypsys), The Ocean (Led Zeppelin) e Cross Road Blues (Robert Johnson), e a imortal War Pigs, do Black Sabbath. Ou seja, no papel até parece sim um setlist curto, porém ao vivo acabou ficando bastante longo, tendo em vista que as improvisações praticadas em palco pareciam intermináveis. Uma pena, pois se Wylde tivesse sido mais conciso, o show não teria sido tão extenuante e daria para ter encaixado mais músicas no repertório. No fim das contas, apesar de a grande maioria dos presentes terem ido para conferir o ídolo Zakk Wylde, o melhor show da recente edição do Samsung Best of Blues acabou sendo o do agora não mais “desconhecido” Kenny Wayne Shepherd.