Ridícula (para dizer o mínimo) a atitude da banda norte-americana Great White (que sou fã) e da produção do evento “First On First: Dickinson Summer Nights”, que realizaram na última quinta-feira (9) um concerto ao vivo para uma plateia igualmente irresponsável, com todos abdicando das normas de segurança indicadas para evitar o contágio por coronavírus. Não teve regras, nem uso de máscaras e, obviamente, muito menos distanciamento social.
O show do Great White aconteceu em Dakota do Norte, cidade que até o último sábado (11 de julho) registrou um total de 4.243 casos confirmados de COVID-19, e 87 mortes. E ainda que uma média de 3.700 testes tem sido mantida diariamente na cidade, com a taxa de positividade permanecendo relativamente baixa e 83% das pessoas que testaram positivo tenham se recuperado, sabemos que, em relação à uma pandemia como a que estamos enfrentando, “o jogo só termina quando acaba”.
Assista abaixo trecho do show realizado pelo Great White e perceba a aglomeração de gente, com, aparentemente, ninguém usando máscara:
https://www.youtube.com/watch?time_continue=24&v=71F8uIyf954&feature=emb_logo
April Getz, coordenadora de eventos da Odd Fellows, que organiza, administra e apoia o financiamento para eventos, falou à The Dickinson Press, evidenciando o quão estúpido é o seu ponto de vista sobre o ocorrido: “Não temos restrições, acredite ou não, não temos. É uma daquelas coisas em que, se as pessoas se sentem à vontade em vir e se misturar, essa é sua escolha pessoal. Estamos deixando para todo mundo que participar escolher”. E o irônico da coisa é que, enquanto April prega a liberdade de escolha das pessoas em assistir ou não eventos sem restrições, o próprio Great White tem tolhido a liberdade de expressão daqueles que se manifestam contra, apagando os comentários dos mesmos de sua página oficial no Facebook.
No início do mês, Jack Russell, ex-vocalista do Great White e atual Jack Russell’s Great White, com toda a razão criticou pessoas que se recusam a usar máscara em espaços públicos. Ele abordou a questão do “botão quente”, quando os legisladores o pressionam com mais força para que seus eleitores usem máscaras para limitar a propagação do coronavírus. O próprio presidente Donald Trump, tem relutado em usar máscara, apesar dos conselhos de especialistas em saúde pública. Tal teimosia não é diferente da de um tal presidente que todos nós brasileiros conhecemos.
Em entrevista ao Mulatschag, da Áustria, Russell, que vive em um iate de 45 pés em Redondo Beach, Califórnia, falou sobre se tem saído durante a quarentena: “Não. Vou à loja quando preciso. Não há necessidade de sair (em locais públicos). As pessoas não levam à sério – não levam o vírus à sério. Não sei o que todo mundo lá fora está pensando – eles podem pensar que estou cheio disso –, mas eu levo isso muito à sério. Não é de admirar que, quando você abre todos esses lugares, as pessoas dizem, ‘Nossa, os números (de infectados) aumentaram’. Tipo, o que você acha que iria acontecer? É como se dissesse, ‘tirei minha máscara e peguei COVID’. Bem, que grande surpresa é essa? As pessoas simplesmente não pensam. Elas descem aqui para a praia e querem fingir que (o vírus) não existe. Bom, tudo bem. Se você quer ficar doente, ótimo. Mas coloque sua máscara por mim, porque eu tenho minha máscara. Os números, da maneira como as coisas funcionam, se apenas eu usar (minha máscara), não estarei tão seguro. Se você colocar a sua também, estou 70% seguro ao invés de ser zero-ponto-algo (salvos). É incrível a quantidade que muda. Tipo, se você não quer se ajudar, ajude todos os outros. ‘Bem, é meu direito. Direitos Humanos’. Cara, você precisa pagar para que seu carro seja lavado, você tem que ter cinto de segurança, carteira de motorista, certidão de nascimento, certidão de casamento. Ou seja, você precisa usar máscara por um tempo para não morrer. Qual é o problema?”.
Em 2003, o Great White se envolveu em uma tragédia que matou 100 pessoas e feriu outras 230. O próprio guitarrista da banda, Ty Longley, estava entre os que morreram depois que a pirotecnia acesa pelo manager da banda causou um incêndio próximo do fundo do palco. O incêndio logo se espalhou pelo local devido à espuma inflamável que a boate havia usado como isolamento, com duas das quatro saídas sendo acorrentadas. Um segurança inicialmente proibiu os fãs de usarem a porta do palco para sair, enquanto o calor fazia com que o vidro no teto se espatifasse e caísse na multidão. E é uma pena que uma banda que passou por um episódio tão lamentável quanto esse, parece não ter aprendido nenhuma lição sobre humanidade. Como fã, me sinto ainda mais decepcionado com tal atitude do Great White. Será que uma simples noite de show vale o risco de expor pessoas ao perigo do contágio? Vale à pena sair de casa para curtir algumas horas de música e sair infectado ou contagiando outras pessoas? Vamos ver quem irá pagar a conta a hora que ela, infelizmente, chegar.