14 de março de 1983. Neste dia, o Marillion lançou seu primeiro álbum de estúdio, o clássico “Script For A Jester’s Tear”. Fãs da banda ainda hoje, 30 anos depois, dividem-se ao apontar “o melhor álbum”, mas ‘Script’ sempre aparece entre os três melhores.
A banda já tinha quatro anos (surgiu em 1979 em Aylesbruy e, no começo, se chamava Silmarillion, em homenagem ao livro do Tolkien) e um público pequeno e fiel. Esbanjando influências sonoras que iam desde Genesis, Pink Floyd, Queen e até Van Der Graaf Generator, o Marillion definia a sua personalidade e despontava como uma nova esperança para o então agonizante progressivo inglês – decadente desde a “invasão Punk” de 1977. A melancolia poética que acompanha os primeiros álbuns – e Script, neste sentido, é uma tremenda referência – ditaria a toada progressiva da banda, com letras profundas e sofridas.
Derek W. Dick (Fish), Mark Kelly, Pete Trewawas, Steve Rothery e Mick Pointer lançaram sua primeira “fita demo” em 1981, com uma versão caseira de “He Knows You Know”, “Garden Party” e “Charting The Single”. Com ela, conseguiram ser chamados para participar de um programa chamado Friday Rock Show e caíram no gosto dos executivos da EMI.
A estreia em disco veio na forma de “Script For a Jester’s Tear”, um álbum bastante melancólico e introspectivo, fruto da força poética e teatral de Fish e da competente ambientação sonora que a banda conseguia construir para sustentar suas fábulas.
Naquele momento, essa nova encarnação de um súdito de Peter Gabriel narrando histórias fantásticas parecia a salvação do estilo que aqueles jovens aprenderam a amar, e então o Marillion viu sua popularidade explodir da noite para o dia.
Fish era o “novo herói do gueto progressivo”: inteligente, problemático, complexo, eventualmente agressivo e divinamente abençoado com uma sensibilidade única para escrever contos mágicos. Seu “script” veio recheado de canções extraordinárias. O álbum reúne verdadeiros contos que exploravam a melancolia e despertavam os sentimentos mais profundos, adormecidos em cada um de nós.
A faixa-título continua sendo um dos grandes hinos dessa época, e tem o gosto agridoce do coração partido (In the playground of the broken hearts / One more experience, one more entry in a diary, self-penned) , numa narrativa carregadamente inglesa, riquíssima e cheia de diversidade progressiva.
Garden Party vai ser, para sempre, uma das preferidas dos fãs do Marillion. E mesmo hoje com um tal de Steve Hogarth como porta-voz de uma época outrora gloriosa, os “freaks” se dilaceram em satisfação quando são convocados para a festa.
“He Knows You Know”, “Chelsea Monday”, “The Web” e “Forgotten Sons” completam a trágica, porém esperançosa jornada do “Jester”, que desfilou pelo universo do Marillion pelos anos seguintes e os ajudaria a conquistar muitas glórias até o destino da banda mudar drasticamente em 1988.
30 anos depois, ‘Script’ ainda soa atual, emociona e fortalece a relação que cada um de nós tem com o Marillion, com o Progressivo, com a arte pela arte.
Felipe Cotta Cardoso, 34, é publicitário.
Wagner Belmonte, 43, é jornalista.
Amigos, ambos são fãs de Marillion, sobretudo na fase “Fish”.