Na terça-feira, dia 25 de maio, a sede da gravadora EMI foi palco de um evento especial: cerca de vinte privilegiados órgãos de imprensa teriam a oportunidade de ouvir, em primeira mão, ao disco “13”, aguardadíssimo novo lançamento do Black Sabbath e primeiro disco a reunir Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler em nada menos que 35 anos – o último full lenght a reunir os três foi “Never Say Die!”, lançado em 1978.
Vários eventos, nem todos positivos, cercaram a gravação de “13”, a começar pelo linfoma de Tony Iommi, o que fez com que todo o processo de confecção do disco fosse condicionado ao tratamento do guitarrista. Além disso, foram notórios os entreveros entre o trio e o baterista original, Bill Ward, que ficou de fora dos shows de reunião, realizados no ano passado, e acabou não gravando o disco – justificativas que envolviam questões financeiras e até mesmo uma suposta incapacidade do baterista de dar conta do trabalho acabou estremecendo a relação da banda com Ward, que acabou substituído por Brad Wilk, do Rage Against The Machine.
A audição de “13” cercou-se de todos os cuidados que um evento como esse exige. Era proibido entrar na sala portando celular e todos os presentes assinaram um documento se comprometendo a não divulgar qualquer informação sobre o disco até hoje, 3 de junho – o lançamento acontece na semana que vem, mais precisamente no dia 10.
Naturalmente que ouvir um disco dessa importância apenas uma vez e num ambiente bem diferente daquele que em que estamos acostumados a trabalhar faz com que comentários como os que você verá a seguir não tenham a profundidade necessária – tanto que você verá a resenha completa na edição de julho da ROADIE CREW. Fizeram falta também as letras das canções, já que a interação entre música e letra é muito forte em se tratando do Black Sabbath. Mesmo assim, foi possível pinçar várias informações interessantes sobre o disco.
O álbum, com oito faixas e 53’32”, começa com “End Of The Beginning” (8’06”), segundo single do disco e que foi lançado após a audição. O início da música lembra demais a estrutura de “Black Sabbath”, a música que abre o primeiro disco do quarteto. Em seguida, a faixa apresenta inúmeras variações, todas elas lembrando alguma fase do quarteto em sua formação clássica – algo que se repetiria em diversas outras faixas do disco. O riff de Tony Iommi deixa claro que o disco giraria em torno de sua guitarra e das frases clássicas que ele cria como ninguém, além de contar com um solo inspirado no final.
“God Is Dead?” (8’52”) foi a primeira música divulgada do novo disco. E dá para fazer uma comparação com “A Different Kind Of Truth”, álbum que o Van Halen soltou no ano passado também contando com 75% de sua formação clássica – se lá a primeira faixa divulgada, “Tattoo”, era uma das menos interessantes do trabalho, o mesmo ocorreu aqui. Que fique claro, da mesma forma que a composição de Eddie Van Halen & Cia. não era uma música ruim, apenas ficava num patamar inferior ao resto do disco, a mesma coisa acontece aqui. De todo modo, o riff impactante e o timbre da guitarra de Tony servem para lembrar quem foi que inventou o Doom Metal.
“Loner”, uma das mais curtas do disco com seus 4’59”, tem uma estrutura mais moderna e se desenvolve em torno de um riff circular. Iommi surpreende no solo, em que privilegia a velocidade, algo que não é muito de seu estilo. Mas, como estamos falando de um músico diferenciado, óbvio que se sai bem. E vale também citar a participação de Ozzy Osbourne, que se mostra corretíssimo como sempre. Timbre privilegiado, vocais dobrados em todas as músicas (característica básica do Black Sabbath) e uma coesão fantástica com a guitarra são os aspectos que chamam a atenção na atuação do vocalista.
“Zeitgeist”, com 4’37”, é a mais curta do disco. A palavra alemã que dá nome à canção significa algo como “espírito de uma época”. E fica evidente por que a faixa recebeu esse titulo. O efeito na voz de Ozzy e a percussão movida a bongô remetem imediata e diretamente a “Planet Caravan” (de “Paranoid”, lançado em 1970), em mais uma referência da banda ao seu passado de glórias. A veia Jazz que a banda deixou evidente em vários momentos de sua trajetória é relembrada aqui.
Outra faixa longa é “Age Of Reason” (7’01”), que é conduzida pelos riffs monstruosos de Iommi, especialmente o de abertura. Pra arrematar, ele ainda nos oferece um solo inspirado. “Live Forever” (4’46”) é mais direta e é outra que revive o passado da banda – no caso, vai bem na linha de “Hard Road”, hit de “Never Say Die!”. E aqui vale um comentário para Brad Wilk. Está na cara que ele foi instruído para emular da melhor forma possível a pegada e o estilo de Bill Ward. E, partindo-se desse princípio, não há dúvida de que ele fez um excelente trabalho. Pode-se discutir se essa seria a melhor solução – deveriam esperar Bill Ward? Ou deixar o baterista tocar de seu próprio modo? –, mas a ideia era claramente reviver o Black Sabbath dos anos 70 e, tendo isso em mente, o resultado não poderia ser melhor.
A penúltima faixa do disco, “Damaged Soul” (7’51”), é, numa opinião bem pessoal, a melhor – mais que isso, é uma das melhores músicas já escritas pelo Black Sabbath. O início com um “riff navalhada” (não me ocorre definição melhor) se desenvolve em um tema de ritmo quebrado, num excelente trabalho de Geezer e Brad. Lá pelo meio da faixa, vem a primeira das intervenções da gaita de Ozzy Osbourne, acompanhando o riff central e lembrando “The Wizard”, do disco de estreia da banda. Mais para frente, ele ainda arrisca um solo no instrumento, que emenda no solo de guitarra, e volta a intervir no final da música. Dividida em diversas partes que se alternam, “Damaged Soul” é uma composição que prova que o Black Sabbath ainda tem muita lenha pra queimar.
Fecha o disco “Dear Father” (7’20”), que tem uma característica clássica em se tratando de Black Sabbath: a linha vocal acompanhando o riff de guitarra – quem aí lembrou de “Iron Man” entendeu o que estou dizendo. Ozzy já disse que esse era um recurso de que lançava mão quando não conseguia ter uma ideia melhor para a linha melódica das músicas e acabou se tornando uma das muitas marcas registradas da banda. Essa faixa recebeu um refrão com guitarra dedilhada, mas isso não quer dizer que essa parte ficou menos pesada.
“Dear Father” acaba com sons de sinos e tempestade, exatamente como começava a primeira faixa de seu disco de estreia. Se isso significa que a banda encerrou seu ciclo discográfico, só o tempo vai dizer. Mas o que importa no momento é que “13” mostra uma banda com garra inabalada e que comprova o tempo não abala o talento. A pressa que Tony Iommi vem imprimindo à carreira, talvez pelo temor de não saber quanto tempo ainda lhe resta, fizeram de “13” um álbum pesado e urgente. E se esse for mesmo o canto do cisne do Black Sabbath, temos aí mais uma definição para “saída gloriosa”.