Uma carreira de sucesso não começa do dia para noite. Mesmo tendo como matéria-prima uma boa ideia, é preciso planejamento, disciplina e foco. E quando o assunto é Rock’n’Roll, talento e carisma são diferenciais. Um bom exemplo disso é a bem sucedida saga da família Young, iniciada com o sonho de George Young de vencer na vida com o Easybeats, grupo que formou no início dos anos 60 com o amigo Harry Vanda, atingindo relativo sucesso na Austrália. Como na maioria das famílias, George foi inspiração para os irmãos mais novos, Malcolm e Angus. De acordo com o livro Let There Be Rock, de Susan Masino, foi Harry Vanda que deu a primeira guitarra Gretsch para Malcolm. Logo em seguida, Angus trocou sua Hofner por um modelo Gibson SG. Malcolm trabalhou em algumas bandas antes de formar o AC/DC, com o vocalista Dave Evans e Angus na segunda guitarra. Quanto ao nome, reza a lenda que foi idéia da irmã deles, Margaret, após ler a inscrição em um eletrodoméstico.
O primeiro single saiu em 1974 pela EMI, com Can I Sit Next To You Girl e Rockin’ In The Parlour. E assim o AC/DC começou a carreira tocando em clubes na Austrália e sendo banda de abertura para grandes atrações, sempre tendo George como conselheiro. Até esse ponto da história, está tudo acontecendo como previsto: um irmão mais velho com experiência no ‘show business’ e produção musical, troca de integrantes da banda até encontrar uma formação adequada, shows agendados, single gravado… Tudo isso no início dos anos 70, para dois rapazes com cerca de 20 anos era uma receita de sucesso aparentemente infalível, mas não foi só isso. Como todo empregado com baixo desempenho, Dave Evans foi sacado da banda e, por indicação de Vince Lovegrove, o vocalista Bon Scott (The Spektors, Valentines e Fraternity) chegou para assumir o posto. E esse foi o fator de desequilíbrio, o talento e o carisma que faltavam para completar o grupo.
Bon Scott
Aos 10 anos de idade, morando na cidade de Fremantle (Australia), o jovem Bon entrou para a Fremantle Scots Pipe Band, na qual aprendeu bateria/percussão. Em 1964, formou seu primeiro grupo, The Spectors, em que revezava as funções de baterista e vocalista. Após esse aprendizado, Bon Scott e Wyn Milson saíram do Spectors para se juntarem ao vocalista Vince Lovegrove e ao guitarrista Dave Halloway para formarem o Valentines, um dos grupos Pop mais peculiares da história, com Bon e Vince dividindo os vocais. A banda acabou em agosto de 1970 devido a diferenças internas.
Foi a partir daí que Bon entrou de cabeça nos anos 70 com um estilo mais progressivo, usando sandálias, assumindo uma postura hippie e unindo-se ao Fraternity. Basta escutar Seasons Of Change que você entende o que estava acontecendo. Lançaram os álbuns Livestock e Flaming Galah e logo em seguida partiram em turnê pelo Reino Unido, quando mudaram o nome para Fang, abrindo shows para Status Quo e Geordie (banda de Brian Johnson). Apesar de ser uma banda séria, não estava fadada a vender muitos discos. Ficaram ativos até o final de 1973.
Nesse período, uma nova banda estava se formando na Austrália, o AC/DC. Bon Scott tinha uma boa amizade com Malcolm e sempre acompanhava a banda. Pronto, Bon Scott estava no AC/DC. Com o apoio de Harry Vanda e George Young, assinaram contrato com a Albert Production. Bon Scott, bem mais velho que Angus e Malcolm (tinha 28 anos na época), trouxe uma bagagem e uma experiência profissional muito importantes, que acrescentaram demais ao processo artístico. Bon Scott era uma pessoa que vivia o momento, teve uma vida intensa e não foi diferente em sua carreira profissional durante os anos que trabalhou com o AC/DC, e contribuindo de maneira contundente para a realização de álbuns como Powerage e Highway To Hell. Por conta de seus excessos, Bon Scott faleceu em 19 de fevereiro de 1980, dormindo alcoolizado no banco de trás de um Renault, na Overhill Road em East Dulwich, em Londres.
Brian Johnson
Nem precisa dizer o impacto do falecimento de Bon Scott para os irmãos Young e todas as pessoas próximas à banda. Perdiam um grande amigo logo após o lançamento do melhor trabalho da banda até então, Highway To Hell. Apesar de tudo, os irmãos Young não podiam parar depois de todo o esforço feito para atingirem o sucesso internacional. Mas, para continuar precisavam de um novo vocalista e alguns nomes foram sondados, como Paul Kossof (Back Street Crawler), Gary Holton (The Heavy Metal Kids), Jimmy Barnes (The Starfighters) e um cara muito bom chamado Alla Fryeer que quase conseguiu o posto, não fosse um certo vocalista inglês.
Filho de um oficial britânico com uma italiana, Brian Johnson nasceu em Dunston (Inglaterra) em 5 de outubro de 1947. Após participar de algumas bandas, juntou-se ao Geordie (banda de Newcastle). Brian contou no programa do radialista Howard Sterncomo como entrou no AC/DC. Ele recebeu uma ligação de uma mulher convidando-o para uma audição, mas que não podia dizer o nome da banda. Disse somente as inicias: “AC” e “DC”… Hilário. Também disse no programa que nunca soube o nome do fã de Cleveland que enviou uma fita sua para os agentes do AC/DC. Ao chegar para o teste em Londres estava nervoso, então Malcolm o recebeu com uma Newcastle Brown Ale, cerveja da região de Brian. Tocaram Nutbush City Limits (Tina Turner) e Whole Lotta Rosie, e assim, em abril de 1980, Brian Johnson foi anunciado como o novo vocalista do AC/DC.
Back In Black
A história de Back In Black começa no ponto em que muitas histórias terminam: com a morte. No início de 1980, pouco antes da morte de Bon Scott, Malcolm e Angus já estavam trabalhando em novas composições. Após ensaios em Londres com Brian, foram para as Bahamas gravar o novo álbum com o produtor John “Mutt” Lange e o engenheiro Tony Platt no Compass Point Studio. Brian contribuiu de forma direta e criativa com as letras, como ele mesmo diz, não sendo um compositor, mas sim um contador de histórias. O álbum foi finalizado no Electric Lady Studios em Nova York por John “Mutt” Lange e Malcolm Young. Quanto à arte de capa, os irmãos Young queriam um álbum todo preto, de luto, o que causou certo receio na gravadora. O presidente da Atlantic Records na época, Jerry Greenberg, disse que temia a repercussão de uma capa toda escura, em que mal se podia ler o nome da banda. Mas colocaram o título e nome da banda de forma legível e tudo bem.
Lançado em 25 de julho de 1980, é um dos álbuns de maior sucesso na história do Rock’n’Roll e da música em geral, com cerca de 50 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Mais do que um álbum em memória ao amigo, Back In Black fez com que despertasse o interesse dos álbuns anteriores do AC/DC, criando, de certa forma, um resgate dos álbuns australianos produzidos por Harry Vanda e George Young.
De alguma forma, Bon Scott tem participação direta nesse álbum. Sua contribuição na trajetória do grupo é inquestionável, sua alma estava lá junto com os garotos no estúdio nas Bahamas, não de forma emotiva e cheia de frescuras, mas como o raio que sempre, aquele raio no meio do AC e DC. E, como ele mesmo dizia, é um longo caminho para se chegar ao topo, e com Back In Black, os irmãos Young atingiram o ponto mais alto de suas carreiras e nunca mais saíram de lá.