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SACRISTIA – False Preacher [9,0/10]

A década de 1980 foi a base sob a qual o death metal foi erigido. Após longos anos de firmação das raízes e de evolução constante, em 1989 o death metal encontrou o seu ano mais coeso e produtivo até então, com o gênero fortemente ancorado no lançamento de clássicos do estilo. Apenas para nos limitarmos aos nomes mais proeminentes, foi em 1989 que AUTOPSY (Severed Survival), MORBID ANGEL (Altars Of Madness) e OBITUARY (Slowly We Rot) lançaram seus respectivos álbuns de estreia, foi o ano em que o BOLT THROWER encontrou sua fórmula definitiva com o seu segundo álbum clássico, Realm of Chaos: Slaves to Darkness, e também foi em 1989 que nasceram grupos fundamentais para a segunda Era do gênero, como BENEDICTION, EDGE OF SANITY, GOREFEST, INCANTATION, GORGUTS e UNLEASHED, novamente, apenas para nos prender aos nomes mais óbvios.

Foi nesse ano e nesse cenário de constante expansão e transformação do death metal que surgiu em Rio Claro, interior do Estado de São Paulo, a banda SACRISTIA. A formação inicial, que deu seus primeiros passos em 1989 contava com Canibal (Guitarra e Vocal), Ricardo (Baixo), Rodrigo (Guitarra) e Márcio (Bateria) e trazia em seu DNA as características dos nomes clássicos anteriormente citados, acrescidos de um elemento coagulador fundamental para tantas bandas que hoje consideramos clássicas: A energia e a união que só os ‘perrengues’ tipicamente encarados pelas bandas extremas sul-americanas pode proporcionar. Para os fãs das antigas, toda essa energia pode ser conferida nas demos Culto Na Sacristia (1990) e Corpus Christis (1991), mas para aqueles que passaram décadas esperando pelo lançamento de um material mais ‘profissional’, eis que finalmente eles disponibilizam o seu primeiro registro oficial, o EP False Preacher.

E, já que citamos anteriormente o BOLT THROWER, este é um bom ponto para o ouvinte iniciar a audição de Gloomy Sex, canção que abre este primeiro registro oficial. Cadenciada, brutal e enervante, a faixa lembra o velho canhão de guerra inglês por conta de seu andamento marcado, mas outras referências vão surgindo conforme a música progride. Em vários momentos as linhas vocais fizeram-me recordar os trejeitos de Mark “Barney” Greenway em seus tempos de BENEDICTION (Subconscious Terror, 1990, recorda?), mas a pegada é tão tradicional, tão suja, tão brutal que só poderia remeter ao velho e tradicionalíssimo metal extremo nacional, especialmente quando falamos de SEXTRASH e SARCÓFAGO (se depois da audição vier um desejo incontrolável de ouvir a célebre Midnight Queen, não se contenha!).

Dito tudo isso, o leitor talvez pense, estamos diante de uma cópia? Não, absolutamente. Embora seja claro que o SACRISTIA não quis reinventar a roda e procurou intencionalmente soar o mais tradicional possível, o domínio absoluto sobre os diferentes elementos que pertencem à música extrema e que geram um álbum equilibrado (velocidade, cadência, brutalidade, atmosferas emocionalmente estafantes, etc) mostra que estamos diante de uma banda que entende do riscado, e que consegue sim impor os seus ditames mesmo a um gênero musical que já ultrapassa os trinta anos de história. Prova disso vem logo em seguida, com a poderosa Anthropophagy, essa um arregaço veloz e mortal, que passa a sua mensagem em menos de três minutos!

Image volta a buscar o ritmo mais cadenciado e marcado, algo que convenhamos, sempre fez muito bem ao death metal. O bom uso de elementos doom, mesclados com força e fúria ao death metal novamente garante a impressão de um álbum planejado para soar dinâmico, e que não se perde em frivolidades desnecessárias. Os riffs são duros e efetivos, as linhas de bateria soam firmes, e os vocais seguram a onda com uma classe absurda, já que mesmo extremos e profundos, permanecem inteligíveis em todos os momentos do álbum (algo que, inclusive, sempre foi uma característica das bandas extremas brasileiras dos anos 80, não?).

Para encerrar (sim, o EP tem apenas quatro músicas) vem a faixa-título, False Preacher. No melhor estilho ‘arrasa-quarteirão’, a música chega com um riff pesado e marcado, seguido por linhas de bateria seguras, firmes. A mais longa faixa do álbum traz ótimos movimentos, pega pesado nas referências doom, e injeta uma dose nada delicada de death metal ‘old school’ nas veias, confira as constantes mudanças de andamento, e se deixe levar por mais essa grande composição destes mestres do death metal do interior paulista!

Com tudo isso posto, resta torcer para que este False Preacher seja apenas o ‘abre-alas’ de uma discografia crescente, e que não seja o único suspiro de uma banda que se mostra tão capaz e talentosa. Que venha o primeiro álbum completo de estúdio, isso é o que os fãs de death metal desejam após uma audição tão proveitosa!

Mais informações, acesse: https://www.facebook.com/Sacristiadeathmetal/

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