Quando recebi um e-mail de Ron Coolen, dois fatos me chamaram atenção antes mesmo de ouvir seu debut solo, intitulado Rise. O primeiro é que parte da venda de cada unidade do disco seria revertida ao icônico guitarrista Jason Becker, que sofre de esclerose lateral amiotrófica. O outro é que o multi-instrumentista holandês conta com um grande elenco nessa empreitada, gente como Keith St. John (Burning Rain), George Lynch (Lynch Mob), Christopher Amott (ex-Arch Enemy), Joey Concepcion (Joey Concepcion, Sanctuary), Chris Clancy (Mutiny Within), Steve Lamb (ex-Tygers of Pan Tang), entre outros. Com essas informações, fui então conferir esta obra e, em seguida, bater um papo com o mentor de Rise. Confira aqui os melhores momentos dessa conversa.
Por Thiago Prata
Olá, Ron. Como você está?
Ron Coolen: Olá! Antes de tudo, obrigado por esta oportunidade de apresentar Rise aos fãs brasileiros!
Bem, gostaria que você nos contasse um pouco sobre sua história na música. De onde e como surgiu seu interesse em hard rock e heavy metal?
Ron: Me apaixonei por hard rock e heavy metal desde que ouvi pela primeira vez Whole Lotta Rosie, do AC/DC, quando criança. Eu também queria ser uma estrela do rock and roll! Aos 18 anos, comecei a tocar bateria na minha primeira banda de heavy metal, Razor, junto com alguns amigos. Nós éramos muito sérios e tivemos um sonho de viajar e conquistar o mundo. Infelizmente, isso não aconteceu. Depois disso, sempre fui ativo como músico, principalmente nas bandas locais de cover e tributo de hard rock holandês. Nos últimos quatro anos, toquei no AC/DShe, uma banda cover do AC/DC de frente feminina, inicialmente como baterista e, há dois anos, como guitarrista.
Que paixão veio antes: bateria ou guitarra? E quem são suas principais influências?
Ron: Minha primeira paixão foi a guitarra. Eddie Van Halen foi meu primeiro herói de guitarra de verdade, eu queria ser como Eddie. Então, quando criança, tentei aprender guitarra, mas não era Eddie, e meus amigos eram muito melhores guitarristas que eu. Quando começamos o Razor, o único assento disponível para mim estava atrás da bateria. Felizmente, eu tinha algum talento para tocar bateria, então, a partir daquele momento, virei baterista. Minhas principais influências são Simon Phillips (ex-Toto) e Ray Luzier (Korn). E também adoro Phil Rudd (ex-AC/DC) e Chris Adler (ex-Lamb of God). Eu escolho detalhes de seus estilos e os incorporo isso ao meu.
A partir desse amor pela música, surgiu seu envolvimento em uma causa de caridade. Você passou a ajudar Jason Becker com o tratamento dele. Quando e como tudo começou?
Ron: Então, em 2008, com alguns amigos, decidimos correr a Maratona de Nova York. Na Holanda, é muito comum combinar esse desafio com a captação de recursos para uma boa causa. Decidi arrecadar dinheiro para Jason. Sou fã dele desde o período no Cacophony e o segui desde então. Via MySpace, pedi a muitos músicos que doassem algumas recordações, CDs assinados, palhetas de guitarra, álbuns, pôsteres, pratos, qualquer coisa, e vendi para o maior lance no eBay, com os recursos indo para Jason. Eu arrecadei US$ 3.000 para Jason e, com isso, conheci muitos músicos que gostaram da iniciativa. Muitos deles eram na verdade grandes amigos do próprio Jason. No mesmo ano, fui vê-lo em sua casa em Richmond, e isso foi quase uma experiência espiritual.
No seu site, você diz que Jason é a maior inspiração de todos os tempos. Falando sobre Jason, como ele está? De fato, parabéns por tudo isso.
Ron: Pelo que entendi, Jason passou por um período muito difícil, lutando com os pulmões, mas isso parece ter se curado no final de 2019. A outra questão é que seu olho esquerdo está fraco, e é difícil de mantê-lo aberto. E como ele se comunica através dos olhos, isso também é uma coisa preocupante. É inacreditável como ele lida com seu destino. Toda vez que estou enfrentando uma dificuldade, penso em Jason e percebo a sorte que tenho em minha vida.
O álbum de estreia de sua carreira solo, Rise, tem muitos convidados, como Keith St. John, George Lynch, Christopher Amott e tantos outros. Todo mundo abraçou a causa de Jason, e parte das vendas do disco será revertida para ele. Conte-nos tudo, por favor.
Ron: Então, seis anos atrás, voltei a tocar guitarra, e, três anos depois, eu tinha tantos riffs que estava na hora de escrever minha primeira música. Nunca tinha escrito música alguma antes e, como você sabe, eu gosto de desafios, certo? Então a primeira música que escrevi foi Big Devil Data. A partir daí, mais músicas se seguiram, e então decidi ir em frente e gravar meu primeiro álbum solo. Para ser sincero, o álbum não foi feito apenas para o propósito de Jason. Ter meu próprio disco com minha própria música está na minha lista de desejos há muitos anos. Mas agora que tenho este álbum, com ótimos músicos, e posso ganhar dinheiro com isso, decidi colaborar com Jason também. Ele precisa de apoio financeiro mais do que nunca para pagar suas contas médicas. Então, para cada álbum vendido, doarei US$ 1 para Jason. O Rise só pode ser adquirido no meu site (www.roncoolen.rocks), em CD e formato digital. O disco não estará disponível nas plataformas de streaming, pelo menos não neste ano (N.R.: somente os singles Paradise, Sin City e Big Devil Data foram disponibilizados nas plataformas digitais).
Como foi para você ter tantos ídolos e amigos em seu trabalho?
Ron: Para dizer o mínimo, foi como um sonho se tornando realidade. O álbum é um projeto solo, ao lado dos meus instrumentos “habituais”, guitarra e bateria, e também toco baixo e teclados. Então, eu sabia que tinha que convidar vocalistas e guitarristas solo para preencher as lacunas musicais. Sabia muito bem que tinha uma rede de amigos e músicos, mas tinha que me certificar de que a habilidade individual de cada convidado agregasse valor à música, fornecendo exatamente o que a música precisava e elevando-a a outro nível. É claro que é fantástico ter uma formação tão boa de músicos, o que me deixa muito orgulhoso. Talvez eu esteja mais surpreso com a contribuição de Johannes Persson (N.R.: não se trata do vocalista do Cult of Luna). Vi algumas coisas dele no YouTube e notei seu talento imediatamente. Eu apenas sabia que ele se sairia muito bem, e ele fez um incrível solo de guitarra em Too Late to Surrender. E ter meus heróis George Lynch e Christopher Amott nisso é um pouco além da imaginação.
Metade do álbum apresenta letras e participação de Keith St. John, em músicas mais hard rock. Como foi a parceria com ele?
Ron: Ele foi meu principal ‘parceiro no crime’ (risos). Eu me aproximei dele no início de 2019 para cantar a música Paradise. Sabia que Keith era o homem para o trabalho, então queria tê-lo nessa música. Algumas semanas depois que ele gravou seus vocais brilhantes, nos conhecemos pessoalmente, quando Keith estava na Europa com Doug Aldrich para uma pequena turnê, “Acoustic Burning Rain” (em abril de 2019). Eu os ajudei a conseguir um show e a reparar a guitarra quebrada de Doug. Passamos dois dias juntos e nos demos muito bem, então perguntei a Keith se ele queria fazer mais duas músicas, e ele o fez: Too Late to Surrender e Big Devil Data. Eu estava em dúvida se as versões de Gotta Shoot Your Devils Down e Sin City eram boas o suficiente para o álbum, e perguntei a Keith se ele poderia fazer algo com isso. Seus vocais levantaram as músicas completamente e, com alguns ajustes nos arranjos, elas se tornaram muito melhores do que as versões iniciais. Para Keith e eu, White Summer é provavelmente nossa faixa favorita do álbum. Keith também estava muito envolvido na parte da produção, deu muitas dicas e truques e tinha preferências claras de como seus vocais deveriam terminar no disco, por isso mostrou muita dedicação e comprometimento.
Falando sobre Lynch, o que você achou do desempenho dele?
Ron: Quando eu era jovem, levei a capa do álbum Tooth and Nail (1984), do Dokken, ao barbeiro e o instruí a cortar meu cabelo exatamente como o cabelo de George. Conheço todos os solos de guitarra de George e acho que devo ter tocado o solo de Tooth and Nail mais de mil vezes. Eu já havia me aproximado dele algumas vezes, e o chamei para fazer um solo como meu convidado, mas não havia obtido uma resposta. Então, quando Keith St. John saiu em turnê com George em outubro passado, pensei: ‘É agora ou nunca, esta é minha chance’ Keith convenceu George a fazer o solo em Sin City, que tem os vocais de Keith, a propósito. O resultado é incrível, estou superfeliz com o solo dele. Na verdade, no dia em que George gravou seu solo, ele me ligou no meio da noite, me disse que amava a música e se divertiu muito tocando.
As últimas músicas do disco soam mais pesadas, algo mais thrash, speed, metalcore… Como foi para você tocar diferentes gêneros em um álbum?
Ron: Durante o processo de gravação, tive períodos em que estava num certo fluxo. Algumas semanas foram apenas de teclados, outras, de riffs de rock clássico, alguns períodos apenas de thrash etc. Como meu gosto musical se desenvolveu ao longo dos anos, era lógico para mim que o álbum tivesse estilos diferentes, pois é apenas um reflexo do meu gosto musical e influências. As últimas músicas do álbum tornaram-se muito pesadas, principalmente por causa dos vocais de Chris Clancy. Ele deu ao disco uma verdadeira reviravolta brutal.
Você tem planos de sair em turnê para promover Rise? Ou alguns shows especiais, pelo menos, quando possível?
Ron: Na minha cabeça, tenho muitos planos e sonhos, o maior é tocar no Rock in Rio com todos os músicos convidados no mesmo palco. Mas tenho que ser realista e, é claro, é difícil conseguir um show ou uma turnê desse tipo financiada. Mas você nunca sabe o que pode acontecer. Keith e eu temos planos e ideias para fazer algumas turnês juntos também, mas isso também precisa ser elaborado. Com certeza haverá os próximos passos, não vamos parar após o Rise. Eu adoraria ir ao Brasil e tocar para os fãs brasileiros. Me apaixonei por seu lindo país depois de passar umas férias nos anos 90. Além disso, sou um grande fã de Ayrton Senna e da seleção canarinho e adoro a atitude apaixonada do povo brasileiro.
Falando em brasileiros, conte-nos sobre o trabalho com Gustavo Sazes, que desenvolveu a arte para singles de Rise.
Ron: Me deparei com Gustavo Sazes, que acabara de terminar a capa do single Giant Spider Attack on the City, de Joey Concepcion. Descobri que Gustavo fez trabalhos para muitos artistas, como Gus G., Arch Enemy, Kamelot, British Lion, Firewind, Epica, Jeff Scott Soto, Amaranthe e muitos outros. E todos os seus desenhos são lindos. Ele fez uma ótima tradução das letras e do tópico Big Devil Data em uma imagem que conta toda a história. Fiquei tão feliz que lhe pedi para fazer a capa do meu segundo single também, Sin City. Ele é um verdadeiro designer profissional e a nível mundial. Posso recomendá-lo a qualquer um.
Você já está pensando em um próximo álbum?
Ron: Sim, com certeza. Tenho muitas ideias de músicas na prateleira e estou ansioso para começar a trabalhar nelas. O sucesso de Rise me motiva a continuar fazendo mais música. Aprendi muitas lições do processo de gravação de Rise, que posso aplicar em um próximo álbum. Sei que as expectativas serão maiores, principalmente as minhas, e quero sempre superá-las. Mas vamos começar a escrever primeiro. Espero começar a trabalhar no segundo álbum antes do verão (europeu).
Ron, muito obrigado pela entrevista e, acima de tudo, pelo ótimo som e pelo trabalho realizado para ajudar Jason, um dos guitarristas mais brilhantes da história. Sucesso!
Ron: Obrigado, Thiago, ROADIE CREW e a todos os fãs brasileiros! Eu realmente aprecio o interesse de vocês na minha música. Espero que você goste e espalhe a notícia! Por favor, visitem meu site www.roncoolen.rocks a qualquer momento e deixe-me uma mensagem. Adoro ficar em contato com os fãs!
Edições avulsas, assinatura física e digital.
Conheça a nossa Roadie Crew Shop – acesse https://roadiecrew.com/roadie-shop
Apoie nosso jornalismo com uma contribuição de qualquer tamanho.
Seu apoio ajuda a continuarmos melhorando o conteúdo do site com entrevistas exclusivas, resenhas de shows, notícias e artigos. Toda contribuição, por maior ou menor que seja, é muito valiosa para nós. Clique em Doações