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Em novo livro, DAVE MUSTAINE detalha toda a relação do MEGADETH com as drogas até o álbum “Rust in Peace”

Desde que foi expulso do Metallica até os primeiros anos de seu Megadeth, o ícone do thrash metal Dave Mustaine viveu uma vida bastante turbulenta. Envolto à polêmicas e sempre cercado de músicos que, assim como ele, curtiam a vida de maneira desregrada e sem limites com drogas e álcool, Mustaine parecia seguir o lema ‘live fast die young’. Até que atingisse o ápice de sua genialidade musical no quarto álbum do Megadeth, a obra prima Rust in Peace, que em 2020 completa 30 anos, muitas histórias pesadas aconteceram na banda, tantas que dariam até um livro. E deram!

Dave Mustaine, autor do best-selling Mustaine – Memórias do Heavy Metal (2013), acaba de lançar sua segunda biografia, Rust in Peace: The Inside Story of the Megadeth Masterpiece, escrita em parceria de Joel Sevin. Como o título sugere, o livro aborda os bastidores do Megadeth no período de seu álbum mais aclamado. Na verdade, Mustaine fala muito à respeito também dos anos anteriores da banda, oferecendo ao leitor um amplo parâmetro de como o terreno foi preparado até que o Megadeth chegasse á Rust in Peace. Inclusive, o vocalista/guitarrista relembra sobre como a banda cortejou Dimebag Darrell do Pantera para a posição de guitarrista principal e também como estabeleceram a formação – composta por ele, o baixista David Ellefson e os estreantes Marty Friedman (guitarra) e Nick Menza (bateria) – que levaria o Megadeth ao sucesso comercial com o álbum seguinte Countdown to Extinction de 1992.

Ao longo do livro, os músicos e seus amigos falam de lembranças conflitantes, embora convincentes, dos eventos que marcaram a gênese do álbum. Mas, como mostra o trecho exclusivo que você lerá abaixo, antes de escreverem os clássicos de Rust in Peace, como Hangar 18, Holy Wars… The Punishment Due e Tornado of Souls, Mustaine, Ellefson, Friedman e Menza primeiro tiveram que abandonar seus maus hábitos. Confira:

Dave Mustaine fala dos bastidores de “Rust in Peace” em seu novo livro, inclusive sobre a relação do Megadeth com as drogas até aquele momento

David Ellefson: Foi combinado que Dave e eu iríamos para um programa de tratamento de 10 dias em uma clínica em Van Nuys, chamada ASAP. Durou três dias. Eu estava tão exausto que pedi a um de nossos amigos que trouxesse uma guitarra e equipamento, e escondesse sacos de heroína dentro do pedal de distorção. Logo, estávamos ficando chapados enquanto estávamos na reabilitação. Esse foi o início de minha jornada para a sobriedade. Claramente, eu não estava pronto. Eu estava procurando a pílula do tipo ‘não tome tantas drogas’, que eu pudesse engolir e dar o fora dali. Depois de três dias, fui para casa. Alguns dias depois, (minha namorada) Charlie percebeu que eu não estava falando sério sobre estar sóbrio e foi embora.

Dave Mustaine: Deveríamos ir para uma clínica de reabilitação chamada ASAP no Valley. Esta foi a primeira vez que qualquer um de nós tentou o tratamento. Ele (David Ellefson) durou três dias e foi embora. Fiquei mais um pouco. Ele voltou contrabandeando heroína para o centro de tratamento em um pedal de guitarra. Fiquei chapado no tratamento e fui revistado. Começou tudo de novo.

Dave Mustaine com David Ellefson, seu “parceiro no crime” desde a criação do Megadeth em 1983

David Ellefson: O Megadeth começou a se aprofundar nas drogas quando Gar Samuelson e Chris Poland estavam na banda. Eles eram músicos de jazz fusion da área de Dunquerque/Buffalo, Nova Iorque, que se mudaram para Los Angeles, onde tinham uma banda chamada New Yorkers que tocava na cena. Eles conquistaram um público modesto, tocando no Troubadour e coisas assim, mas por pouco não conseguiram um contrato com uma gravadora. Gar estava trabalhando na B.C. Rich Guitars. Chris Poland tinha uma namorada rica. Os dois foram bem financiados em seu vício em heroína e cocaína, que os acompanhou quando se juntaram à banda (Megadeth). Dave e eu certamente já estávamos dançando com a coisa da cocaína, porque a ‘senhora branca’ era popular em L.A. na época.

Dave Mustaine: Gar me contou como alguns amigos do New Yorkers invadiram uma farmácia e roubaram um monte de supositórios de ópio. Eu costumava brincar sobre vê-los desmaiados sem as calças. Frequentemente, quando íamos para uma nova cidade, Gar desaparecia. Ele ia para o lado desagradável da cidade para encontrar heroína. Às vezes ele voltava tarde, mas sempre conseguia. Foi assim que Chuck Behler conseguiu o emprego de baterista. Estávamos em Detroit e Gar Samuelson saiu para procurar drogas. Quando ele não voltou, Chuck viu sua oportunidade. Ele apareceu no clube para a passagem de som e me convenceu de que conhecia as músicas dos discos bem o suficiente para tocar. Ele sentou-se antes de Gar voltar. De qualquer modo, precisávamos de um técnico de bateria, porém contratamos Chuck porque, depois disso, eu sabia que se Gar cometesse algum problema, Chuck poderia tocar. E foi exatamente isso o que aconteceu.

Chris Poland e Gar Samuelson formaram com Dave Mustaine e David Ellefson o line up literalmente mais “chapado” do Megadeth

David Ellefson: Nosso primeiro manager, Jay Jones, foi nosso fornecedor (de drogas). Foi assim que ele nos conquistou. Chamamos isso de “heroína e hambúrgueres de Jay Jones”. Ele nos alimentou e nos manteve tensos. Ele trouxe Gar Samuelson em 1984 e depois Chris Poland. Nunca vou esquecer a primeira vez que experimentei heroína. Estávamos ensaiando no Mars Studio, em Los Angeles, e Gar colocou algumas carreiras no balcão – uma carreira branca e uma carreira marrom. Perguntei o que era a carreira marrom. Ele disse que era chiba. “O que é chiba?”, perguntei. “Heroína”, ele respondeu. Eu conhecia a heroína de meus heróis do punk rock como Sid Vicious e Stiv Bators, para não mencionar Jimi Hendrix. Eu sabia com certeza, mas Gar disse: “Cara, se você quer ser ótimo, você tem que usar heroína”. Meio brincando. Eu cheirei, o tempo todo sabendo que, provavelmente, não era uma boa ideia, mas aqui estava eu, em Hollywood.

Dave Mustaine: Após (o show de) Castle Donington, o gabarito estava pronto. Mas eu não queria ficar sóbrio. Eu estava fazendo meu trabalho. A parte da cocaína estava fora de controle. Não há dúvidas sobre isso. Mas a heroína era estranha. As duas drogas tinham idiossincrasias. Um, você cairia no sono e não faria mais nada até acordar; dois, você continuaria fazendo sem parar, bem além do ponto em que você tinha o suficiente, indo até onde você pode se matar. Eu acordava na minha cama e Ellefson entrava no meu quarto e colocava um espelho embaixo do meu nariz com uma carreira e soprava. Assim que eu começasse a festejar, íamos para uma aventura de dois dias, acordados a noite toda, acordados na manhã seguinte, no dia seguinte, até eu não conseguir ficar mais acordado e ir para a cama. Eu nunca adormecia; Eu desmaiava. Agora eu tinha que lidar que eu tinha um vício. Quer dizer, eu achava legal fumar maconha. Achava legal beber. Achava legar ir à uma festa e talvez cheirar uma carreira ou algo assim. Mas agora era como se eu fosse algum tipo de cara mau. Isso não era bom. Fiquei pensando que agora eu era como Keith Richards – um viciado. Isso é legal? Eu queria voltar de Donington para casa? Sim. Eu queria voltar para casa para ir para a reabilitação? Não. Eu não sabia o que iria acontecer na reabilitação e estava com medo. Eu queria ir para casa e ficar chapado. A maioria dos caras que tem problemas com drogas é porque tem problemas para conseguir as drogas. Caras que têm dinheiro e podem conseguir drogas sempre que quiserem não têm problemas com elas. Eles têm um problema de uso de drogas. Eu não me importava também em ficar limpo ou ficar alto; naquele ponto, era simplesmente um estilo de vida. Eu aceitei que, para mim, estar chapado era apenas algo que fiz.

Dave Mustaine no fatídico show de Castle Donington em 1988, acompanhado por seu antigo parceiro de Metallica Lars Ulrich fazendo backing vocals no cover “Anarchy in the U.K.” (Sex Pistols)

David Ellefson: Experimentei heroína e percebi que meio que ela me deprimiu, diminuiu o efeito da droga, o que me permitiu consumir mais cocaína. Achei isso maravilhoso. Liguei para meus amigos de infância em Minnesota e lhes disse que levaria um pouco para eles na próxima vez que eu fosse para lá. Fiz exatamente isso quando Dave e eu fizemos uma parada rápida na fazenda dos meus pais no início de 1986. Tínhamos terminado o álbum Peace Sells e estávamos indo para Nova Iorque conseguir um novo empresário e nos encontrar com as grandes gravadoras que começaram a nos cortejar. Foi quando a coisa da heroína começou a tomar conta. No verão de 1988 fizemos sete shows na turnê “Seventh Son of a Seventh Son” do Iron Maiden nos Estados Unidos. Fomos rapidamente apresentados à banda no Met Center, em Bloomington, Minnesota, um lugar com fortes memórias afetivas para mim. Foi onde vi o Kiss – a primeira banda que assisti – em fevereiro de 1977. Peguei em Minnestora AC/DC, Def Leppard, Blackfoot e muitos outros grupos em ascensão. Já havíamos tocado lá antes com Ronnie Dio e agora estávamos de volta com o Iron Maiden, duas bandas que tiveram grande influência em mim. Eles nos alojaram em um corredor nos bastidores, em um canto, para melhor nos manter afastados. Eles tinham jovens famílias com babás, carrinhos de bebê, todos os bebês e esposas. Eles sabiam que éramos um problema. Acho que prevalecia no meio empresarial que usávamos muitas drogas, que pegávamos pesado e que festejávamos muito.

Dave Mustaine e Jay Reynolds, guitarrista do Malice, com breve passagem pelo Megadeth

Dave Mustaine: Chuck (Behler) morava em um condomínio em Hollywood, do outro lado do pátio de nossa conexão com a heroína: Jay Reynolds. Naquela época, estávamos comprando a granel – heroína e cocaína por grama, um décimo sexto ou um oitavo. Até usamos Jay como nosso guitarrista por um breve período enquanto Chuck estava na banda, porque pensamos, ‘por que não ter o traficante na banda?’. Ele pertencia à uma banda chamada Malice e, realmente, parecia o personagem. Mas quando chegou a hora de fazer suas partes de guitarra, Jay disse que pediria ao seu professor de guitarra que lhe mostrasse como tocá-las. Pensei, ‘neste caso, por que não ter o seu professor de guitarra na banda ao invés dele?’. Então admitimos seu professor de guitarra, Jeff Young. Naquela época, Jay estava morando comigo e Ellefson neste lugar em Silver Lake, que chamávamos de Rancho. Tive de ir para casa e dizer a Jay que tínhamos contratado seu professor e que ele estava fora. Não foi fácil, mas conseguimos manter nossa amizade, porque Jay ainda queria ser nosso revendedor. Chuck estava descendo ladeira abaixo com o cachimbo de crack e continuava descendo e descendo. Ele começou a vender seu caro kit de bateria de madeira Bubinga da Sonor. Quando estávamos em Notthingham, Inglaterra, em março de 1988 – na noite após o inesquecível show de Antrim, na Irlanda do Norte –, quando Chuck não apareceu para a passagem de som e nosso técnico de bateria, Nick Menza, pulou na bateria, sabíamos que Chuck era coisa do passado e que Nick seria a nova era.

Chuck Behler, baterista do Megadeth no álbum “So Far, So Good… So What!”

Chuck Behler: Eu nunca perdi um show. A única coisa que acontecia, de vez em quando, era que eu deixava Nick tocar bateria enquanto eu ia para o corredor ouvir o som da bateria. Muitos dos caras de som não estavam acostumados com esse tipo de bateria rápida e se você não mixar direito em uma grande arena, soa como um monte de tagarelice. Então, eu entrava no local e pedia para Nick tocar, não necessariamente com a banda, mas para fazer um solo, uma levada de dois bumbos ou algo assim, para que eu pudesse ouvir como estava a mixagem no local. Pode ser aí que Dave percebeu o quão bom baterista Nick era, mas eu nunca perdi um show.

Dave Mustaine: Antrim, Irlanda do Norte, foi de onde nasceu a música Holy Wars. No show, saí para dar alguns autógrafos. Passei por um garoto ruivo parado ao lado de uma cerca gigante de seis metros. “Foda-se, Dave Mustaine!”, disse ele e cuspiu em mim. Fiquei furioso, mas quando cheguei nos bastidores, descobri que cuspir – eles chamavam de engolir – era um sinal de respeito dos punk rockers. Respeito? Isso está certo? De volta para dentro, ouvi pelo walkie-talkie que alguém estava no local vendendo camisetas falsificadas do Megadeth. Disse à segurança para encontra-lo, confiscar suas camisetas e acompanhá-lo para fora. Quando o encontraram, ele disse que estava vendendo as camisetas para A Causa. Eu não tinha ideia do que isso significava, mas parecia legal. Eu estava lá embaixo conversando com um dos locais, ainda chateado por ter sido cuspido e ganhando uma Guinness, foi quando ele me disse que se eu desenhasse uma carinha feliz na espuma da cerveja, sempre terei um parceiro para beber. Achei fofo, então desenhei um rosto na espuma e comecei a beber minha Guinness. Ocorreu-me perguntar a este simpático norte irlandês o que é A Causa. Ele me disse que a Irlanda foi dividida entre católicos e protestantes e eles não se gostam. Ele realmente não entrou em detalhes. Isso ficou lá no fundo da minha mente quando subi ao palco para tocar. Foi nossa primeira vez lá e todo mundo estava enlouquecendo. Havia um garoto atrás das barricadas atirando moedas em mim. As moedas eram pesadas, como três quartos colados com fita adesiva. Você é atingido por um, eles deixam uma marca. Esse cara estava jogando essas coisas. Soltei minha guitarra, o intimei e o show parou. Fui para trás dos amplificadores para esperar a luz verde apagar e tocar novamente, e havia uma verdadeira Sodoma e Gomorra atrás da fila de amplificadores, onde a equipe de palco estava brindando com Schnapps de hortelã e cheirando umas carreiras. Esses caras estavam se divertindo mais do que eu, embora eu já tivesse visto alguns parceiros de bebida sorrirem até o fim. Tomei uma dose de Schnapps e um pouco de tudo mais e voltei. Cheio de tudo e olhando para a multidão, uma música que ouvi de Paul McCartney veio à minha mente e pensei: ‘Se é bom o suficiente para Sir Paul, é bom o suficiente para mim’. Fui até o microfone e disse: “Devolvam a Irlanda aos irlandeses. Isto é pela Causa”. Mandamos a música Anarchy in the U.K. do Sex Pistols, que alteramos para “Anarchy in Antrim” para a ocasião. Foi como se eu tivesse detonado uma bomba na plateia. Isso dividiu a multidão ao meio, protestantes e católicos. Fomos escoltados para fora da cidade naquela noite em um ônibus à prova de balas, embora eu ainda não tivesse percebido a enormidade da minha gafe. Na manhã seguinte comecei a perceber que David Ellefson não queria falar comigo. Saímos de Dublin para Notthingham, que foi onde Nick Menza fez a passagem de som para Chuck Behler. Com tudo fresco em minha mente, comecei a escrever a letra que se tornaria Holy Wars…: “Irmão matará irmão, derramando sangue pela terra, matando por religião, algo que eu não compreendo”.

Dave Mustaine, Nick Menza, David Ellefson e Marty Friedman, formação que gravou o clássico “Rust in Peace”, que em 2020 completa 30 anos

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