Em franco crescimento desde a estreia com End’evour (2019), Alyson Garcia (vocal), Diego Bittencourt (guitarra e vocal), André Schneider (baixo) e Gilson Naspolini (bateria), trazem o EP All the Evil – trabalho cuja proposta musical espanta logo nos primeiros segundos de audição. Para os catarinenses, o som pesado e de letras elaboradas apresentados no EP firmam o norte que o As The Palaces Burn deseja seguir. Conversamos com Bittencourt e Garcia sobre as características musicais e profissionais que vêm levando a banda a conquistar o seu espaço.
Por Guilherme Spiazzi
Quem já conhece o As The Palaces Burn, ao ouvir o EP All the Evil certamente perceberá um amadurecimento musical. Sendo mais específico, o que mudou no som da banda na visão de vocês?
Diego Bittencourt: Nesse EP eu peguei tudo aquilo que eu acho que deu certo em End’evour e incrementei trazendo influências mais extremas. Acredito que daqui para frente esse será o caminho seguido.
Alyson Garcia: Além disso, ainda tem a questão da personalidade. Eu creio ter conseguido criar a identidade vocal no primeiro disco, onde o cara percebe a diferença entre a minha voz e os guturais do Bittencourt, porém, nós lapidamos isso nas duas músicas (autorais) do EP. Acho que agora tudo está mais redondo e sem exageros. Nós vimos a evolução de uma banda que tem dois anos. Agora nós sabemos o som que queremos fazer.
Diego: Tem uma coisa importante. Nós seguimos um cronograma para a composição de End’evour, onde eu trazia uma música nova pronta a cada quinze dias. Isso fez com que o processo fosse apertado. Para esse EP, como não houve cronograma, eu consegui trabalhar de forma muito confortável. Tanto é que nele trago os dois melhores refrãos que eu já compus na vida. Juntando a base que End’evour nos deu, com o fato de termos mais tempo, tivemos esse resultado.
Então é possível afirmar as composições do EP surgem após vocês terem recebido as críticas dos fãs e mídia e trazem essa influência…
Diego: Exatamente. Confesso que sequei a fonte depois do disco de estreia. Mas, logo na sequência eu comecei a compor novamente. Veja, End’evour foi lançado em outubro de 2019 e Nothing Last Forever foi composta em dezembro. Já a outra veio em janeiro de 2020, junto com outras músicas que ainda não lançamos, mas que estão prontas para um projeto futuro. Nós observamos aquilo que não agradou a mídia e a nós no primeiro disco e a partir disso escolhemos aquilo que predominaria no estilo do As The Palaces Burn.
Enquanto All the Evil traz uma pegada mais intensa e direta, Nothing Last Forever se apresenta de forma mais cadenciada, além de trazer alguns toques de ritmos brasileiros. São direcionamentos um pouco diferentes onde a primeira parece se relacionar mais com a sonoridade de End’evour, enquanto a segunda aponta para uma nova direção, dados os novos elementos. Existe alguma expectativa da parte de vocês a partir dessa novidade no som?
Diego: Acho que isso foi algo natural dentro das possibilidades e do norte que temos para a forma como a banda quer soar. Por exemplo, estou trabalhando numa balada que é no estilo As The Palaces Burn. As pessoas ouvirão e poderão dizer que ela lembra um pouco de Queensrÿche. Tudo bem, a banda é uma influência nossa. Eu acredito que nas próximas composições nós teremos um pouco mais de pegada brasileira, mas óbvio que nada forçado. Isso aparecerá quando a música pedir. A respeito do seu comentário sobre All the Evil, eu vou discordar de você. No primeiro disco nós não tivemos blast beats ou aqueles riffs numa pegada mais black metal. Essa veia mais extrema não está presente em End’evour, exceto pelos guturais. Porém, esse lançamento traz mais guturais que todo o disco de estreia. Resumindo, o EP carimba a identidade da banda daqui para frente, sem obviamente deixarmos de experimentar coisas novas.
Considerando todas as novidades que o EP traz, como foi elaborada a abordagem dos vocais?
Alyson: Assim como no disco anterior, o meu trabalho é lapidar as ideias de linha de voz e letras criadas por Bittencourt. Lembro de como fiquei impressionado e imaginando o que poderia ser feito quando recebi o primeiro refrão criado por ele. É uma coisa que não pede que eu cante nas alturas. É uma questão de interpretação daquilo que ele criou. Claro durante a gravação, Naspolini e eu ainda incrementamos as ideias, além de eu adicionar a minha personalidade na execução.
Percebe-se que a gravação e a produção musical monstra boa evolução. Ainda, a mixagem e masterização também vem com mais qualidade. A preocupação com essa parte é reflexo da percepção de vocês quanto à qualidade que o mercado espera de um novo lançamento?
Diego: Toda a questão de som e parte visual já era algo que pensávamos em melhorar. Acho que trabalhar no EP contando com Adair Daufembach na mix e master era inevitável. Essa questão do som e o trabalho visual de Marcelo Vasco representam um passo profissional da banda.
Vocês estrearam em outubro de 2019, fizeram algumas apresentações e então veio a pandemia que, querendo ou não, mudou as regras do jogo principalmente para os músicos. Em meio a isso, agora temos um EP ambicioso sendo lançado. A que se deve essa vontade de continuar? Vocês diriam que o entrosamento entre os integrantes é um elemento que está impulsionando a banda?
Diego: Todos nós já temos um caminho trilhado dentro do metal e já sabemos onde queremos chegar. Existe um profissionalismo bem forte dentro da banda. Cada um é responsável por uma parte, onde a função desempenhada é de acordo com a aptidão individual…
Alyson: Quando Bittencourt propôs a ideia de formar uma banda eu disse que era para ir com tudo. Eu não queria deixar de investir na minha vida pessoal para ficar tocando na garagem. Quando a gente tem essa fome de vencer, nós temos que ir lá e fazer. Ninguém fará nada por nós, a oportunidade não vai bater na porta. O sucesso é construído.
É impossível não citar o cover de Hall of the Mountain King (Savatage) fechando o EP. Enquanto guitarrista, Bittencourt, como foi trabalhar nesse cover?
Diego: Assim com o trouxemos um cover em End’evour, queríamos fazer algo especial para o EP. Um tributo para alguma banda dos anos 1980. Estávamos entre The Fun Palace (Annihilator), Future Tense (Sanctuary) e o Savatage. Hall of the Mountain King é um disco de 1987 e naquela época Criss Oliva já usava afinação em drop, coisa que para época era algo fenomenal. Oliva é extremamente técnico, melódico e tem um feeling tremendo. Bom, eu nunca havia tocado a faixa Hall of the Mountain King até então. Eu estava lá estudando os solos dele e os gravei numa tarde. Foi bastante rápido porque eu tenho uma abordagem muito parecida com a dele. A escola de Olive é muito Eddie Van Halen com Randy Rhoads. Essas são duas influências fortes em mim, por isso eu não tive dificuldades para tirar o solo de ouvido e interpretar ele. Se você ouvir, o solo é praticamente nota por nota. Eu não botei nada meu. A mesma coisa foi feita em Abigail (King Diamond), porém eu tive muito mais trabalho para tirar o solo do Andy LaRocque. Sou muito fã da banda dele, mas nunca tinha parado para tocar aquilo. Tirar o LaRocque de ouvido… Olha, eu prefiro tirar dez discos do Malmsteen a um disco do King Diamond. O fraseado de LaRocque traz uma abordagem totalmente diferente. O cara é muito complexo. Voltando ao Savatage, tocar aquele riff é de arrepiar. Hall of the Mountain King é uma música mágica. Inclusive, eu fui ler a letra dela quando estava fechando as letras das autorais e percebi que ela se encaixava muito bem no conceito do EP. Foi muito legal porque não esperávamos por isso.
E como foi a sua experiência gravando esse cover, Alyson?
Alyson: Assim como eu respondi para a seção Profile (RC ed. #255), esse era um dos meus sonhos. Eu tinha 17 anos e ficava ouvindo Hall of the Mountain King e achando aquilo muito poderoso. Eu sonhava com aquele timbre e linhas guitarra. Sem contar o vocal do Jon Oliva… O Bittencourt ficava pegando no pé, me desafiando a cantar essa música (risos). Uma coisa que fiz foi pesquisar o Zak Stevens (ex-vocalista do Savatage) para fazer uma coisa com a minha característica, assim como fiz no cover de Abigail. É cantar com os recursos que eu tenho, mas enfatizando a marca deles. Estou bem orgulhoso do que obtivemos. Acho que Hall of the Mountain King foi a música mais difícil de gravar até hoje, tanto pela sua complexidade quanto pela questão do seu significado para mim.
Por que você buscou ouvir o Stevens, sendo que a música foi originalmente gravada por Oliva?
Alyson: Eu fui atrás da interpretação de cada um. Peguei apresentações ao vivo deles porque eu queria criar uma timbragem diferente. Eu de certa forma fiz uma mescla dos dois, mas botando a minha voz. Fiz o mesmo quando gravei Abigail. Na época eu ouvi o Tim “Ripper” Owens cantando a música e percebi que ele colocava mais força, intensidade e drive. Então eu resolvi trazer a novidade para fazer essa mistura e criar a minha característica.
Foi comentado sobre o conceito das letras do EP, que dessa vez narram acontecimentos prévios àquilo cantado em End’evour. Essa é uma linha de letra e tema que vocês pretendem continuar seguindo?
Diego: Eu acredito que sim. Esse All the Evil traz menos ficção e mais realidade que End’evour. É um drama que passamos nas nossas vidas. O drama de muitas vezes termos que ser aquilo que não somos. Toda aquela parte da vaidade que vem tomando a sociedade, onde cada vez mais as pessoas vão entrando em seus buracos, depressões etc. Eu resolvi transformar isso em história nesse EP para puxar os acontecimentos narrados em End’evour. A ideia é mostrar os fatores que desencadearam os acontecimentos narrados no disco de estreia. Esse drama psicológico que a gente tem passado… Temos observado várias pessoas com problemas por conta disso. Cada vez mais trataremos casos como esse. Você não tem que provar nada para ninguém e viver a sua vida independente do que a sociedade queira impor. São questão silenciosas que não se pode falar. Em End’evour eu retratei o fim como algo apocalíptico, mas aquilo pode representar o fim da pessoa. Algo que não é legal. Acho que abordaremos cada vez mais o assunto, afinal isso é uma ferida. Muita gente não gosta e evita falar disso.
Como fica a abordagem vocal e a interpretação das letras na hora de cantar sobre esse tema?
Alyson: O Bittencourt sempre foi um cara muito criativo nas letras. Como ele já havia explicado o conceito, eu sabia o que ele queria. Assim como ele me mandou a matriz da linha vocal, eu procurei dentro da minha característica mais intuitiva, colocar a minha visão. Nas partes que Bittencourt canta, ele traz todo o sentimento e raiva, a pressão que ele queria botar. Assim como, eu trouxe o contraponto disso. A minha interpretação nesse EP está mais lapidada. Para isso, eu tive que ler as letras várias vezes, além de perceber como o instrumental estava estruturado.
Como fica o futuro do As The Palaces Burn após o lançamento de All the Evil?
Diego: Eu estou finalizando mais seis faixas que serão apresentadas gradativamente para começarmos a trabalharmos nos sons. Ainda não sei se faremos um novo EP ou se partimos para o segundo disco. As únicas coisas definidas ainda para 2020 são o lançamento novo merchandising da banda, acredito que no mês que vem, e o videoclipe para All the Evil que vem por aí.
Finalizando, qual o recado que vocês deixam para aqueles que já conhecem o As The Palaces Burn e aqueles que estão descobrindo vocês agora?
Diego: Fiquem ligados! A nossa proposta é a de sempre entregar o melhor material possível. Fazemos um metal pesado com influências do metal extremo, com thrash e com vocais guturais, onde as letras são um diferencial. É bom dizer que não temos nada a ver com Lamb of God, afinal, tem gente que acha que fazemos cover deles. Nós batizamos a banda na época das eleições de 2018, época em que estava acontecendo toda aquela coisa. Também não somos uma banda política e não polarizamos nessa questão. O nosso tema está muito acima de qualquer bandeira política. Inclusive, não queremos misturar as coisas. No meu conceito, arte não se mistura com política, nem com religião. Eu falo daquilo que o ser humano passa. Enfim, conheça a banda, afinal nos preocupamos em trazer o melhor material possível.
Alyson: Estamos muito contentes com o respaldo recebido. Inclusive, recebemos muito bem os comentários de gente da mídia que elogiaram o nosso profissionalismo e as novidades que trazemos. São atributos, segundo eles, que não são tantas bandas que têm. Estamos evoluindo e conseguindo nos inserir na cena como uma opção de som. Se End’evour fez com que as pessoas abrissem as portas, confiamos que All the Evil trará ainda mais oportunidades para estarmos nos lugares em que sempre sonhamos estar.
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