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ADAIR DAUFEMBACH: Desbravando o território americano de produção

Adair Daufembach é referência no Brasil no que diz respeito à produção e engenharia de áudio. Por aqui, tem seu nome marcado na música pesada nacional, assinando trabalhos para nomes como Project 46, Aquiles Priester, Ponto Nulo No Céu, Semblant, Maestrick e tantos outros. Residindo agora em Los Angeles (EUA), onde tem o seu próprio estúdio, o catarinense vem solidificando de vez a sua carreira internacional, tornando-se um profissional de confiança para músicos como o guitarrista Tony MacAlpine e o baterista atual do Megadeth, Dirk Verbeuren. Para falar desses feitos, da recém firmada parceria e suas funções com uma grande e importante marca estrangeira de plugins, de como é estar dentro do poderoso mercado norte-americano e também de sua visão sobre o ramo o qual atua e se destaca, Adair Daufembach reservou um tempo e conversou com a ROADIE CREW.

Como foi o começo de sua carreira e de onde surgiu o interesse em trabalhar com produção e engenharia de áudio?

Adair Daufembach: Gravação sempre foi uma coisa que me fascinou. Eu lembro que eu tinha um daqueles toca-fitas com um falante só, que gravava, e eu adorava me gravar tocando. Em 1999, entrei numa banda chamada Soul Hunter, em que os caras estavam indo na contramão e gravando o CD demo em casa ao invés de num estúdio. Eu gravei o disco com essa banda e tive o primeiro contato com gravação não apenas como músico, mas como “um meio produtor”. Depois daquela experiência, apesar da precariedade de tudo, o que eu queira era poder ter o equipamento para gravar e um local pra isso. Lembro que quando comprei meu primeiro computador, para fazer a faculdade de direito (sim sou formado em direito – risos), o adquiri com uma plaquinha de som um pouco melhor, já fazendo planos de gravar com ele, mesmo que não fosse nenhum pouco apropriado para aquilo.

Atualmente, você vive e trabalha em Los Angeles, onde montou o Daufembach Studio. Que diferenças nota entre trabalhar nos Estados Unidos e no Brasil, inclusive em sua relação com os músicos?

Adair: Trabalhar nos EUA tem a vantagem econômica do país, aqui não preciso trabalhar tanto quanto no Brasil para ter uma vida estável. Mesmo estando aqui há pouco tempo e ainda conquistando meu espaço, eu já tenho uma vida muito mais tranquila. No Brasil eu conseguia viver apenas produzindo metal, mas para isso eu tinha que trabalhar muito. A minha vida pessoal era sempre zoada, cheguei a trabalhar dois meses seguidos sem tirar um dia de folga. Outra diferença é que o americano é mais pragmático, ele sempre cuida não apenas da música, mas também daquilo que ele vai fazer depois do trabalho estar pronto. Eles têm um tipo de “frieza” com as coisas e não são tão “empolgados” como os brasileiros, mas isso traz uma coisa boa e outra ruim… O lado bom é que americano é melhor de negócios e sabe como fazer uma banda acontecer, sem dúvida, já o ruim é que falta um pouco do sangue nos olhos e a paixão do brasileiro. Outra coisa que é bem legal de ser dita é que, talvez por nosso complexo de vira-lata, a gente sai do Brasil achando que qualquer músico americano vai ser sempre muito melhor que nós. E não tem sido bem assim. Aqui em Los Angeles há vários músicos brasileiros que se mudaram pra cá nos últimos anos e, comparando esses caras com os músicos americanos, os brasileiros estão dando um banho. Acho que essa baixa estima criou na cabeça do músico brasileiro nos últimos vinte anos uma necessidade de estudar muito, porque achávamos que se comparado aos americanos seríamos sempre piores. Isso acabou gerando uma nova geração de músicos brasileiros que são verdadeiras máquinas tocando.

Adair Daufembach gravando o novo DVD de Aquiles Priester no Harman Experience Center

Dirk Verbeuren, ex-Soilwork e atual baterista do Megadeth, tem utilizado a sua engenharia para gravar álbuns de projetos o quais participa e vídeos tocando músicas antigas do Megadeth. Tais vídeos têm sido usados nas redes oficiais da banda. Como tem sido essa parceria com Dirk, e também com o brasileiro Rafael Pensado (baterista do Mindflow), que atualmente integra a equipe técnica do Megadeth?

Adair: Trabalhar com um baterista do nível do Dirk tem sido recompensador. Considerando que até hoje, basicamente, ele só trabalhou com produtores que são lendas do áudio, é muito gratificante ter o meu trabalho apreciado por um profissional como ele. As gravações com o Dirk geralmente acontecem no Machina Factory, estúdio do Rafael, que é um estúdio ótimo, com um equipamento muito bom e uma sala muito foda, mas o que mais faz diferença lá é o clima como as gravações rolam. O Dirk é um cara absolutamente ‘easy going’ e a gente se diverte muito, rola uma energia muito boa e isso reflete no resultado. Ele é um baterista praticamente sem limites e grava tudo no modo mais old school possível. Ele tenta gravar as músicas em um take do começo ao fim e refaz várias vezes até que não precise de edição nenhuma. O Rafa é um grande amigo meu aqui em Los Angeles e também se tornou um grande parceiro profissional. Fico muito feliz que você tenha perguntado, porque ele não só é um músico incrível, mas hoje o serviço que ele tem prestado pro rock/metal brasileiro nos bastidores é muito foda, e é legal que as pessoas saibam disso. Hoje ele é muito importante dentro do Megadeth e através da competência com que tem exercido o trabalho dele com a banda, tem feito com que a imagem dos brasileiros seja a melhor possível em todos os maiores festivais do mundo.

Adair Daufembach Mixando Project46 e John Wayne no Rock in Rio – 2015

Você também tem a confiança do renomado guitarrista americano Tony MacAlpine. Como é saber que você é o único profissional a mixar dois discos seguidos de MacAlpine, no caso, Concrete Gardens (2015) e Death of Roses (2017)?

Adair: Eu lembro que quando estava mixando o primeiro material para o Tony, que foi a participação dele no EMGtv, a título de curiosidade eu procurei quais eram os engenheiros que ele já tinha trabalhado até então e só encontrei grandes nomes. O que me chamou a atenção é que ele nunca repetiu o engenheiro de mixagem ao longo da carreira, então fiquei feliz por estar trabalhando com ele, mas, ao mesmo tempo, preocupado por imaginar o quão exigente ele era (risos). Algum tempo depois, numa conversa com o próprio Tony, ele comentou que nos discos anteriores ao Concrete Gardens ele sempre fazia extensas listas de recall de mixagem e que nos discos que eu fiz eram bem menores (algumas músicas nem tiveram recall). Isso valeu mais do que qualquer prêmio na vida. Inclusive, achei que ele estava falando isso só pra me agradar, só acreditei quando o Michael Mesker, seu empresário, me confirmou que era verdade. (risos)

Você conseguiu um feito expressivo para o Brasil: se tornou endorser da Waves (empresa top de linha e pioneira na criação e comercialização de plugins). Como surgiu o interesse deles em tê-lo no time? Conte também sobre suas ações em projetos da empresa os quais tem se envolvido, como, por exemplo, o “Abbey Road Chambers Reverb Plugin”, lançamento histórico, que recria o reverb do estúdio londrino Abbey Road, que ficou famoso com os Beatles.

Adair: A Waves estava a procura de um profissional do áudio no Brasil, que tivesse um alcance maior junto ao público mais jovem. Como nos últimos anos eu tenho trabalhado com várias das bandas da nova geração do metal brasileiro, naturalmente existe uma conexão do meu nome e do meu trabalho com esse público, que me segue nas redes sociais, participou dos meus workshops e me pede sempre dicas e tutorias. Durante a NAMM Show (N.R.: feira americana de música) de 2018, fui apresentado à Artist Relation da Waves pelo meu amigo Baffo Neto, baixista do Project46. Iniciamos uma conversa, troca de emails etc. Nesse período, o Project ganhou o prêmio de “Melhor Disco de 2017” da Roadie Crew. Isso com certeza “caiu bem” e fechou com chave de ouro nossa parceria. Como parte dessa parceria firmada, a Waves tem me enviado plugins para serem testados antes do lançamento e para que eu crie presets para os mesmos. Saber que todas as pessoas no mundo que compram o plugin vão ver meu nome lá é muito surreal!

Workshop no seu estúdio em São Paulo em 2015

Antigamente, quando se falava em produtores internacionais, pensávamos em nomes como Martin Birch, John “Mutt” Lange, Bob Rock, Desmond Child e outros, que, além de cuidar da engenharia de som, se destacavam também por suas atuações, ou como compositores ou ajudando as bandas na estruturação de suas músicas e letras. Era comum ouvirmos uma banda e falarmos: “faltou a mão de um produtor pra melhorar suas composições”. No Brasil, esse auxílio na questão estrutural das músicas de uma banda parece que não é muito o foco da maioria dos produtores. Qual a sua análise sobre isso?

Adair:  Eu sou completamente autodidata, então não comecei usando um método que aprendi em uma faculdade ou com outro profissional. Eu lembro que quando comecei, a maior referência que eu tinha do que era gravar um disco era o documentário (N.R.: A Year and A Half, de 1992) sobre a gravação do “Black Album” do Metallica, onde basicamente a maior parte mostrava o Bob Rock mexendo e discutindo sobre as músicas com a banda, muito mais do que sobre o som/timbre das coisas. Tudo o que eu queria (e quero) era só fazer o melhor disco possível para a banda, e fazia o que eu podia e entendia ser o melhor. Então, se o problema é na composição, eu mexo na música, adicionando, cortando ou acrescentando partes. Sempre fui muito bom em conseguir colocar essas questões para as bandas, ainda que nunca seja fácil ou agradável dizer para um músico que as composições dele têm um problema. Não sei por que, eu sempre tive a capacidade de dizer essas coisas. Inclusive, isso é tão verdade que nos meus workshops o momento que eu mais chocava os participantes era quando eu falava que eles deviam ‘trabalhar com a banda em estúdio como se eles fossem membros da banda’, pedindo para mudar partes ou detalhes das músicas. Nessa hora todo mundo me olhava e perguntava: “mas como você consegue fazer isso sem que a banda levante e vá embora do estúdio?” Isso realmente é uma coisa que exige tanto… Pra mim, isso sim é ser produtor e com certeza é mais difícil do que a parte técnica. Isso que você citou sobre as produções brasileiras com certeza acontece, mas confesso que não sei o porque. É visível o excesso de preocupação com o equipamento ou estúdio em que se vai gravar, mais do que qualquer outra coisa. Isso era uma cultura bem forte, principalmente nos anos 90 e inicio dos 2000, enquanto eu ainda tinha banda, ouvia isso sempre, mas hoje tem diminuído, ainda bem. Mais e mais as bandas têm agora o pensamento do “com quem vamos gravar” e não “onde”. Pelo que tenho visto, a produção musical brasileira tem melhorado muito e esse é o principal motivo.

Pra finalizar, em termos de produção, há uma dualidade. Existem bandas que preferem uma sonoridade cristalina e moderna e outras que não abrem mão de um som vintage, com elementos e modos usados em décadas passadas. De qualquer forma, qual o segredo para uma boa produção?

Adair: Eu acho que a coisa mais importante é achar uma identidade pra banda e nunca se perder de vista qual público você quer atingir ou mesmo criar. Diante dessas questões é que você decide se vai fazer um som old school ou polido e moderno, ou um pouco de cada coisa. Não existe uma fórmula exata, mas o que não pode é se repetir e nem repetir os outros.

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