Pouco menos de um ano depois da última passagem pelo Rio de Janeiro – descontando a dobradinha com o Viper no Rock in Rio, um pouquinho antes –, Andre Matos e banda voltaram ao Teatro Rival para mais um capítulo da turnê de 20 anos de “Angels Cry”. Um capítulo bem parecido com aquele do dia 14 de novembro de 2013, diga-se. O fã que assistiu aos dois espetáculos não foi brindando com nenhuma mudança no setlist, mas quem fez parte deste grupo pareceu não se importar. Mais do que a casa cheia – 450 pessoas, contra as 500 que a lotaram na apresentação anterior –, o clima era de festa sem que precisasse haver nenhum motivo para isso. Bastava ser o show do ex-vocalista do Viper, Angra e Shaman. E isso é um elogio.
As luzes se apagaram pontualmente às 21h30m, e a noite começou com “Liberty”, música que abre também o último álbum, “The Turn Of The Lights” (2012). Ele, aliás, foi o mais privilegiado na primeira metade do show: nada menos do que cinco canções – “Course Of Life”, “Stop!”, a ótima “On Your Own” (precedida de um dispensável solo de bateria) e a faixa-título completaram a seleção. Decisão acertada, afinal, trata-se do trabalho mais maduro da carreira solo de Andre, que gradativamente mostrou que é muito mais do que um músico vinculado ao Metal Melódico – talvez por isso o material ainda não esteja na ponta da língua de todos os fãs, mas creio que seja apenas questão de tempo.
O mesmo já não pode ser dito de “I Will Return”, de “Mentalize” (2009), e “Rio”, de “Time To Be Free” (2007). A recepção foi calorosa, com seus refrãos muito bem acompanhados pelas vozes presentes. Nada, no entanto, que se compare ao entusiasmo em “Fairy Tale”, única do Shaaman no repertório; à histeria em “Lisbon”, uma das poucas coisas que se salvam em “Fireworks”, o terceiro e último disco do Angra com o vocalista; e à alegria em “Living For The Night”. Andre sabe que esta última é um dos maiores clássicos do Metal nacional em todos os tempos, então abusa. Faz corinho para o público acompanhar e, para completar a versão estendida, apresenta a banda, cujo destaque involuntário acaba sendo o baixista Bruno Ladislau e o trecho de “Beat It”, de Michael Jackson, que virou uma curta e agradável brincadeira.
Veio um intervalo antes daquilo que todos realmente esperavam. O terreno já estava preparado para a íntegra de “Angels Cry”, mas nem era preciso tanto esforço. Trata-se de um daqueles discos certos na hora certa. E vale ressaltar: Hugo Mariutti e Andre “Zaza” Hernandes (guitarras), Rodrigo Silveira (bateria) e Ladislau fazem jus ao disco. Enaltecer o carisma e a presença de palco de Andre é chover no molhado – não é ufanismo dizer que ele é (há muito tempo) um dos melhores aqui e lá fora –, mas a banda tira de letra e coloca tesão em músicas que poderiam cansar uma turma mais velha. Aquela, por exemplo, que já escutou “Carry On” um sem número de vezes mais do que “Happy”, de Pharell Williams, em comerciais de carro e banco na TV.
Mais do que o maior hit do disco ou de canções mais comuns, como “Evil Warning” ou a própria “Angels Cry”, é um prazer escutar e ver pérolas como “Time” (a favorita deste que vos escreve), a belíssima “Stand Away”, “Never Understand” e “Streets Of Tomorrow” (Já reparou que seu riff é por demais legal?). “Wuthering Heights”, o cover de Kate Bush que felizmente não ficou imortalizado em sua versão Speed Metal, digamos assim, é outra que coloca um sorriso no rosto. E mostra como Andre comanda o jogo com maestria: não é crime algum baixar um pouquinho o tom se você sabe que o resultado terá o mesmo nível de excelência original, afinal, lá se vão 20 anos, e o presente é um show de duas horas e meia. Não à toa o vocalista coloca a plateia para cantar em momentos oportunos – meu amigo, você tem ideia de como é complicado cantar apropriadamente as músicas do álbum de estreia do Angra?
O roteiro pré-escrito teve a sua última página com “Lasting Child” – apenas sua primeira metade, “I. The Parting Words”, com “II. Renaissance” nos PAS – e fechou a noite deixando 450 pessoas felizes antes de tomar o caminho de casa. Felizes e esperançosos de um bis num futuro próximo. “É só chamarem que nós tocamos”, disse Andre no início do show, ao pegar de um fã um celular cuja mensagem “Queremos Andre Matos no Rock in Rio” (ou algo muito próximo a isso, perdoem-me a memória) passava como se fosse um ‘screen saver’. E ao fim do show o vocalista deixou no ar. “Vejo vocês muito em breve. Ou num novo show apenas nosso ou no Rock in Rio.” Sim, muita gente vai cobrar.
Setlist
1. Liberty
2. I Will Return
3. Course Of Life
4. Rio
5. The Turn Of The Lights
6. Fairy Tale
7. Stop!
8. Lisbon
9. Solo Rodrigo Silveira
10. On Your Own
11. Living For The Night
Intervalo
12. Unfinished Allegro
13. Carry On
14. Time
15. Angels Cry
16. Stand Away
17. Never Understand
18. Solo Andre “Zaza” Hernandes e Hugo Mariutti
19. Wuthering Heights
20. Streets Of Tomorrow
21. Evil Warning
22. Lasting Child