Por: Julia Ourique
O rock e o autismo podem conviver juntos. Isso é o que mostra a banda Lyria, do Rio de Janeiro, que acaba de lançar o clipe “The Rain” abordando a situação dos diagnosticados no espectro do autismo. A canção foi inspirada na história de superação de um fã autista, que pediu que a música fosse escrita e inspirada em um poema autobiográfico escrito por ele.
Tudo começou em 2014, durante a campanha de financiamento coletivo para o disco “Catharsis”. Uma das recompensas, era escolher o tema de uma música do Lyria, e foi assim que Warren Mayocchi, da Austrália, sugeriu o autismo como assunto da canção, a ser lançada no álbum seguinte, Immersion (2018). A letra de “The Rain” foi inspirada no poema de Warren, disponível no livro “Human: Finding Myself in the Autism Spectrum”.
“Essa música tem um significado muito especial por tratar de uma questão tão sensível. A sensação da liberdade em estar sozinho, a experiência sensorial com a chuva, a fascinação da infância e a realidade da vida adulta, a necessidade de esconder seu verdadeiro eu para ser aceito na sociedade, etc. Mas o fator mais marcante é que ele percebe que pode ser amado, mesmo sendo diferente. Cada um de nós é uma peça única de um grande quebra-cabeça, e todos são importantes para a engrenagem funcionar.”, diz Aline Happ, vocalista do Lyria.
Desde 2012 na estrada, o Lyria nutre forte ligação com causas relativas a transtornos mentais. Nas canções do grupo carioca, superação de quadros de ansiedade e depressão também são abordados, buscando uma espécie de “auto-ajuda” por meio da música.
“Escrevo sobre minhas experiências, sobre algo que tenha me marcado de alguma forma e a música funciona como terapia para mim. Quando compomos, queremos trazer essa função terapêutica para outras pessoas também. Acreditamos no poder da música de curar feridas, de confortar e de ajudar a superar obstáculos e seguir em frente.”, define Aline.
O rock é um gênero conhecido por uma sonoridade densa, pesada. Mas não é bem assim. Canções de superação são importantes, e existem, em todos os gêneros. A música também pode ser terapêutica para autistas, como no caso de Miguel, aluno há seis anos de Thiago Mateu, baterista do Lyria.
“Todo autista escolhe o seu ponto de fixação, e ele escolheu a música, especificamente a bateria. Ele até flerta com outros instrumentos, mas nada com a habilidade que ele toca a bateria. É um diferencial total que contribui no desenvolvimento dele. Se eu deixo de montar a bateria corretamente ou esqueço de colocar o prato, ele pergunta: E o prato, cadê o prato?”, comenta Thiago.
O Lyria busca a visibilidade para o diagnóstico do transtorno, que pode ser feito a partir do primeiro ano de vida. Como simpatizante da causa, o objetivo é possibilitar o reconhecimento dos autistas como indivíduos capazes de aprender, superar os obstáculos e contribuir para uma sociedade mais justa.
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