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BATUSHKA – São Paulo/SP, 18 de maio de 2018

Praticamente desde que os primeiros vestígios do som que chamaríamos de black metal foram ouvidos – lá no início da década de 80 – já se percebia que o bastado feio e maldito do heavy metal não reconheceria limites, e jamais pararia de crescer e evoluir. Sim, o Venom mais parecia uma tempestade impiedosa do que uma banda de rock, e fazia exatamente o que era necessário para dar novo gás e novos caminhos para o metal. Mas, claro, era só o começo. Cronos, Abaddon e Mantas, do alto do Olimpo ou das profundezas do Reino de Hades, jamais poderiam imaginar que toda a sua blasfema criação tomaria proporções cada vez maiores, em todos os sentidos. Com os anos, vimos o Bathory reinar absoluto, vimos o thrash/black alemão se consolidar, vimos a Noruega queimar, e assistimos com um misto de orgulho e tristeza o gênero mais extremo do metal se aproximar muito perigosamente daquele reino proibido chamado ‘mainstream’. Vimos muita coisa, mas a chama negra nunca deixou de queimar. Nunca. E na sexta-feira, 18 de maio, tínhamos mais algo para ver. Era chegado o dia de assistir ao polonês BATUSHKA, um dos mais célebres nomes do black metal da atualidade.

Com a casa recebendo um ótimo público, a misteriosa banda polonesa chegou como que para comprovar que a chama do black metal continua acesa. Antes de tudo, o mistério: O palco vazio – a não ser por toda a decoração que torna um show do Batushka um grande ritual – onde uma luz quase completamente ausente parecia evanescer os restos de um culto vetusto, enquanto uma introdução sombria irrompia pelos alto-falantes, com a languidez e a melancolia de um antigo funeral. Coisa curiosa é que todo esse clima, planejadamente tétrico, parecia surtir efeito contrário na massa humana presente na casa: conforme os minutos se passavam sem a presença dos músicos no palco, o furor parecia aumentar, crescer em fulgor e em poder. Justamente quando todos já pareciam não poder mais aguentar a ansiedade, eis que eles estavam ali. Enquanto iam tomando seus postos no palco, aquele espetáculo esperado pelos fãs ia tomando forma, com poucas alterações. A premissa básica de seguir o ritmo e, digamos, a ordem de culto foi seguida, o livro da liturgia foi apresentado, mas não tivemos o acendimento das velas. Enquanto os primeiros acordes de guitarra anunciavam o início de Yekteniya I: Ochishcheniye, e da apresentação em si, o público começou a vibrar, renovando a força e o ânimo com a entrada do ‘padre’ – ou do vocalista, como preferir.

A alternância entre as partes calmas – instrumentalmente mais voltadas ao chamado Depressive Suicidal Black Metal ou ao Blackgaze – se tornaram uma massa ensandecida de peso e melancolia, que se unia aos tons mais tradicionais e viscerais do black metal por meio dos vocais rasgados do vocalista, um belíssimo e assustador contraste com os vocais estilo ‘canto bizantino’ dos vocalistas de apoio. Mais intensa desde o princípio, Yekteniya II: Blagosloveniye passou como um trem desgovernado sobre a plateia, exigindo muita habilidade do vocalista principal, que alternava entre gestuais ritualísticos, gritos ensandecidos e vozes de comando, enquanto bateria, guitarra e baixo garantiam a efetividade de uma mensagem que paira apenas subentendida.

Seguindo adiante em sua liturgia baseada nos ritos da igreja ortodoxa, os poloneses atacaram uma terceira vez com Yekteniya III: Premudrost’, que teve ao seu início o som das sinetas (carrilhão) sendo acompanhado pelas palmas dos fãs, cada vez mais envolvidos com a missa que se seguia. O show, que foi o primeiro da banda no Brasil – e que não contou com banda de abertura – chegou a sua metade com Yekteniya IV: Milost’. Claro que não existiam grandes surpresas no repertório, já que estávamos diante de uma banda que ainda dispõe de apenas um único álbum de estúdio lançado, e que segue uma ordem especifica em suas apresentações. Também não podemos dizer que o impacto visual era inédito, afinal, quem de nós não viu milhares de vezes os vídeos do Batushka ao vivo pela internet? E mesmo assim, a cada nova música, a cada novo movimento no palco nos víamos capturados, hipnotizados pelo que estava acontecendo, como se o espetáculo fosse tudo o que havia acontecendo no mundo naquele momento. Impressionante, em todos os sentidos.

Claro que a sequência foi respeitada do início ao fim, e o show foi encerrado com Yekteniya VIII: Spaseniye, quando o livro da liturgia foi novamente apresentado aos presentes, para depois ser levado do palco, seguido por toda a banda. Você já viu padre voltar para o ‘bis’ depois da missa? Pois é, nem adiantava esperar. A primeira passagem de uma das mais importantes bandas da nova geração do black metal tinha terminado, com um sucesso retumbante. Nas caras estupefatas que acompanharam a apresentação, no rosto lavado de júbilo que sucedeu o show… Estava claro para cada um de nós que a música foi o mais importante, mas não o único ingrediente que tornou a noite de sexta-feira especial em São Paulo. Seria esta, afinal, a verdadeira força do black metal? Mais do que nunca, podemos dizer que temos fé que sim.

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