Cada show do Behemoth é uma experiência única. É tudo muito intenso e carregado e não foi diferente nesta terceira passagem da banda polonesa pelo Brasil. Esta foi a primeira vez que o líder Nergal (guitarrista e vocalista) veio à América do Sul após ser submetido a um transplante de medula óssea e quimioterapia, em combate à leucemia, diagnosticada em agosto de 2010. A expectativa pelo show era muito grande e o Carioca Club estava lotado nesta noite de domingo para ver os poloneses. Era 20h35 quando Seth (guitarra), Orion (baixo), Inferno (bateria) e Nergal entraram em palco ovacionados pelo público.
Ainda divulgando o álbum “Evangelion” (2009), o ‘caos’ começou com a música “Ov Fire and the Void”, emendada com “Demigod” e sua introdução em metais que arrepia. A capacidade de agitar tanto e ainda tocar precisão é uma coisa admirável no Behemoth. A sequência veio com a clássica “Moonspell Rites”, infelizmente uma das poucas de sua fase Black Metal que a banda ainda executa em shows. Nergal então cumprimentou o público e deixou clara a satisfação de estar de volta ao Brasil. Aplaudido, o músico arrancou mesmo os gritos da pista ao anunciar “Conquer All”. Impressionante como o riff inicial dela é exatamente como o de “Be All End All”, do Anthrax, mas a “coincidência” para por aí, já que a música combina cadência e brutalidade de modo único no Death Metal e por isso é uma das músicas mais admiradas pelos fãs da banda.
Introdução e os gritos de Nergal para o anúncio de “Christians to the Lions” só fizeram aumentar o empolgação dos presentes que cantaram toda a música junto à banda e pareciam querer o sangue cristão espalhados pela casa ao ouvir a banda tocando esta que é uma das melhores músicas do álbum “Thelema 6.66”, ao lado de “Antichristian Phenomenon”, que lamentavelmente ficou fora do set.
Uma coisa que impossível não se notar no show é que Seth e Orion cantam cada vez mais durante a apresentação, quase tanto quanto Nergal. Não sei ao certo se para o frontman ficar mais solto, inclusive como guitarrista ou se ele ainda sente alguma dificuldade em executar vocais guturais após todo o tratamento pelo qual passou. Mas em nada isso prejudica o show, pois Seth e Orion cantam com perfeição e juntos seus vocais formam um duo de vozes do Inferno.
Uma sequência do disco “Evangelion” formada por “The Seed ov I”, “Alas”, “Lord Is Upon Me” antecedeu mais um momento apoteótico do show com a banda tocando “Decade o Therion”, mais uma cantada em massa durante o show. “At the Left Hand of God” deu as caras para o injustiçado álbum “The Apostasy” (2007) e é uma verdadeira amostra de poder de Inferno com sua linha de bateria ao melhor estilo “polvo”. Aliás, ao fim dela, enquanto toda a banda estava voltada para Inferno, o público começou a bater palmas. E para mostrar que o baterista é dono de perfeição em arranjos ou brutalidade, “Slaves Shall Serve” foi tocada ainda mais rápida que a versão de estúdio e com Seth e Orion fazendo “hélices” com seus cabelos quase que ininterruptamente.
“Chant for Eschaton 2000”, a versão de uma de suas músicas da fase Black Metal lançada no álbum “Satânica” (1999) encerrou a primeira parte da apresentação. Poucos minutos depois, a banda volta, com Nergal usando uma coroa de espinhos e começando o encore com “23 (The Youth Manifesto)” e já encerrando a apresentação com a épica “Lucifer”.
O show acabou por aqui. A apresentação que a banda vem fazendo nesta turnê é mesmo curtíssima. Para você ter uma ideia, na passagem anterior da banda por São Paulo, em 2008, a banda tocou quatro músicas a mais que desta última vez. O show também é diferente. Com uma iluminação mais obscura, pouca comunicação e um clima mais frio e sombrio. Em resumo: mais um show fantástico desta banda polonesa que vem ano a ano conquistando o mundo.
Set list:
Ov Fire and the Void
Demigod
Moonspell Rites
Conquer All
Christians to the Lions
The Seed ov I
Alas, Lord Is Upon Me
Decade of Therion
At the Left Hand ov God
Slaves Shall Serve
Chant for Eschaton 2000
23 (The Youth Manifesto)
Lucifer