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BILL KELLIHER sobre a dura realidade de turnês atualmente: “Os últimos a receber são as bandas”

Guitarrista do Mastodon explica detalhes que encarecem turnês e merchandise das bandas

A retomada das turnês internacionais após a pandemia trouxe um novo conjunto de desafios para as bandas. Com restrições sanitárias, custos de viagem e de voo, combustível, tour bus hoteis e mudanças nas políticas de entrada em muitos países, realizar shows pelo mundo ficou mais complicado e caro. Além disso, a escassez de mão de obra especializada e os protocolos de segurança aumentaram as demandas e o estresse nas equipes, exigindo das bandas uma adaptação constante para garantir que as turnês sejam seguras e viáveis. Mesmo com a vontade do público de ver os artistas ao vivo, essa nova realidade tornou as turnês um verdadeiro teste de resiliência para a indústria da música. Bill Kelliher, guitarrista do Mastodon, refletiu sobre o tema em entrevista ao The Break Down with Nath & Johnny, dando uma longa resposta sobre o que mudou pré e pós-pandemia.

“Bem, honestamente, são várias coisas ao mesmo tempo, porque durante a COVID ninguém fez turnês, muitos lugares fecharam, e muita gente mudou de carreira. Por exemplo, técnicos que trabalhavam para bandas foram para o mercado imobiliário ou conseguiram empregos regulares. Todo mundo estava correndo atrás de dinheiro. E foi um desastre completo. Então, o efeito em cascata de oferta e demanda, conseguir lugares… Por exemplo, gasolina, combustível, tudo cai quando o preço da gasolina… As pessoas não conseguem gasolina, há filas, é tudo questão de economia. Tudo depende de transporte, especialmente para a nossa banda. E recusamos algumas turnês na Europa porque, basicamente, sairíamos no zero a zero. Há alguns motivos para isso. Por um lado, temos a maior produção que já tivemos em nossas carreiras, o que é ótimo. Mas tentar levar isso para a Europa é muito mais difícil. Primeiro, a gasolina é muito mais cara. Os caminhões são menores, então teríamos que contratar alguns caminhões a mais, o dobro do que usamos aqui. E está difícil encontrar motoristas. Com o Brexit, geralmente alugamos do Reino Unido, e muitas vezes encontrávamos os veículos, mas não tínhamos motoristas, ou o contrário — muitos motoristas, mas sem veículos. Porque todo mundo está de volta à estrada tentando recuperar o dinheiro perdido durante a COVID, e isso ainda está acontecendo. Embora a última turnê nos EUA que fizemos com o Lamb of God tenha sido um grande sucesso — foi ótima — a melhor de todas. Mas não podemos ter a enorme produção que temos nos EUA e levar para a Europa sem fazer o mesmo. Se você vai pra lá só com um backdrop, pode ganhar algum dinheiro, mas se você leva lasers, telão, toda a sua equipe e técnicos, fogo e tudo mais, você não consegue fazer isso. E o público vai ficar, tipo, ‘Mas o que é isso? Por que vocês não trouxeram isso aqui?’ E eles não vão entender o que acabei de contar… Não podemos ir para a Europa por um mês e não ganhar dinheiro, só para fazer shows. Todo mundo é pago. A banda é a última a receber.”, explicou.

“Acho que foi há dois anos, em agosto, que fomos ao Japão, e mal conseguimos chegar lá, tanto pelo custo quanto pela economia. E no Japão, as cidades são um pouco espalhadas, então é difícil de se mover logisticamente, mesmo que o público seja incrível. Toda vez que vamos para lá, eles são super precisos. Se você pega emprestado ou aluga amplificadores e equipamentos, eles são incríveis. Eles prestam muita atenção aos detalhes; são simplesmente incríveis. Fomos para lá e, no meio dos fãs, me misturei um pouco na plateia, e tocamos apenas em um festival. Fiquei pensando: ‘Por que não podemos tocar umas três ou quatro vezes enquanto estamos aqui?’ Mas simplesmente não dá. Conversando com as pessoas, elas diziam: ‘O Japão acabou de começar a permitir que as pessoas se reúnam em grupos agora.’ Isso foi há dois anos e meio, ou algo assim.”, contou Kelliher.

“As coisas estão voltando ao normal, mas definitivamente houve danos irreparáveis em toda a indústria”, acrescentou. “As pessoas estão apenas — estão encontrando diferentes maneiras de ganhar dinheiro. Tipo, se virando. Eu sou assim. Sempre fui um hustler, mesmo antes do Mastodon. Tipo, não tenho educação universitária. Nunca fiz aulas de guitarra. Sou apenas um cara das ruas. E é assim: como podemos ganhar dinheiro? Vender coisas, autografar coisas, tocar guitarra no palco e vender isso. Essas são coisas que os músicos estão fazendo agora. E muitas pessoas na plateia não entendem isso. Elas vão à barraca de merchandise e ficam, tipo, ‘Ah, as camisetas deles estão sessenta dólares. Eles estão nos passando a perna.’ É assim: deixe-me explicar os detalhes. Os locais pegam de 20 a 30 por cento, às vezes — na maioria das vezes — do seu dinheiro de merchandise, mesmo quando não têm nada a ver com isso. E não deveriam. Se você tocar com uma banda maior como Slayer, Metallica, Iron Maiden, você tem que igualar o preço das camisetas deles. Então, há muitas coisas que estão ocultas do público geral.”, revelou.

Kelliher concluiu esbravejando sobre a taxa cobrada por promotores em cima do merchandise das bandas: 

“É bastante padrão. Estamos lutando contra isso há anos. Nos contratos, riscamos essa parte. Tipo, ‘Não, não vamos fazer isso. Por que deveríamos fazer isso?’ Temos uma empresa de merchandise. Temos uma pessoa de merchandise que vai na estrada conosco. Eles são um corpo extra. Eles voam para onde voamos, pagamos a passagem deles, ficam em hotéis, são um corpo extra e recebem um per diem. Você chega ao local naquele dia, e o local diz: ‘Não, temos nossas próprias pessoas que (vendem o merchandise).’ E nós: ‘Ei, temos nossa própria máquina de cartão de crédito.’ Eles respondem: ‘Não. Você vai usar a nossa, e vamos cobrar para você usá-la.’ Então, é assim: você só está se ferrando em todos os lugares.”

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