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BRING ME THE HORIZON – SÃO PAULO (SP)

30 de novembro de 2024 – Allianz Parque

Por Daniel Agapito

Fotos: André Santos

 

Traga-me o quê?

 Goste ou não, o Bring Me the Horizon é uma das grandes bandas do século XXI, responsável por introduzir milhares e milhares de pessoas à loucura que é o mundo da música pesada. Quando começaram, na cena underground de Sheffield, na Inglaterra, integrantes tinham entre 15 e 17 anos, então já era de se esperar que os primórdios da banda fossem banhados de polêmica. Após lançarem seu primeiro EP, This Is What the Edge of Your Seat Was Made For, em setembro de 2004, conseguiram sua primeira turnê como banda de abertura para os americanos do The Red Chord, e só porque aparentemente enganaram meia dúzia de produtores locais.

Depois de lançarem o primeiro álbum de estúdio, Count Your Blessings, a ascensão foi nada menos que meteórica, rapidamente se tornando um daqueles grupos para ficar de olho, que tinham uma chance igual de estourar e de não dar em nada – eram claramente algo muito diferente, à frente do seu tempo. Foram vaiados e quase expulsos do palco pelos fãs no Reading Festival de 2008, lançaram Suicide Season, que apresentou uma evolução palpável, e fizeram diversas turnês pela América do Norte construindo um bom nome, mas ainda sendo odiados pelo público mais “tiozão”.

O reconhecimento real veio só com Sempiternal (2013), que viu o então quinteto equilibrar a brutalidade que já apresentavam com uma produção mais madura e sofisticada, quase “colocando a cabecinha” no mundo do hiperdesejado mainstream. Foi um disco que, na época, impressionou até aqueles que parecem não conhecer Manowar, para não soltar nenhuma ofensa. Com That’s the Spirit foi quando chegaram mais e mais perto do topo do mundo. O Bring Me the Horizon do That’s the Spirit e do Amo, que veio depois, em 2018, não tem absolutamente nada, nada mesmo, a ver nem mesmo com o estilo da banda em Sempiternal. That’s the Spirit era completamente rock, para tocar na rádio, e Amo nem isso era, entrou na fila do pop. Foi uma medida calculada, eles sabiam que iriam dividir por completo sua base de fãs mais antiga – foram praticamente do Thy Art Is Murder para Ed Sheeran, mas também acabaram ganhando o coração de mais meio mundo de fãs.

A dupla Post Human: Survival Horror e Post Human: Nex Gen foi uma volta às raízes e uma evolução ao mesmo tempo. Havia algumas músicas que realmente poderiam ter saído direto do acervo de Count Your Blessings, mas a essa altura os fãs já haviam sido condicionados a esperar o inesperado. É aí que está o BMTH, de forma extremamente condensada. São facilmente uma das bandas mais importantes e influentes desta geração, mas ainda tem muita gente que se recusa a ouvir por ser moderno e diferente, especialmente aqui no Brasil. Isso não quer dizer que não tenham um relacionamento bem especial com o país verde-amarelo…

“Eu sou Brasil agora”

Esqueceu a chave dentro do Fiat Uno e teve que empurrar; tem casa em Taubaté e outra na praia para “se desconectar”. Não, não estou descrevendo meu tio, mas sim Oliver Sykes, vocalista do Bring Me, que tem até CPF. Casado com a modelo e cantora tupiniquim Alissa Salls (conhecida como Alissic) desde 2017, o agora também brasileiro tem sido praticamente adotado pelos seus fãs do país, soltando diversos stories em português e até aprendendo a “rir que nem brasileiro”, terminando alguns deles com um singelo “rsrsrs”.

Em entrevista a O Globo, ele revelou até ser fã de um dos maiores pensadores contemporâneos e detentor de um talento musical inestimável, MC Papo, apontando Piriguete como um dos sucessos que mais curte. “O funk me interessa muito, especialmente aquele que vem das comunidades”, disse o vocalista, impressionado com as histórias de superação que vêm de lá. “Sei que o Brasil ainda tem muito problemas com a homofobia, mas há muita liberdade de expressão, a música queer tem muito espaço, adoro ver isso.”

Na mesma matéria, revelou que ainda está tentando decifrar nosso senso de humor, a zoeira; “A cultura de vocês é muito engraçada!” É por esse seu espírito de futuro tiozão e por seu amor genuíno por tudo que vem do “país do futebol” que ele tem se identificado tanto com o público daqui, e é exatamente por isso que aquele show seria tão relevante. Não só seria a volta da banda ao país após 2 anos, mas também seria seu primeiro show de estádio em quase 20 anos de carreira.

 

The Plot in You – não desvie o olhar

Com um logotipo completamente legível, pequenininho e na parte de baixo do flyer, a presença dos nativos de Ohio passou batido para muitos. Apesar disso, a apresentação deles, primeira na América Latina, prometia ser de qualidade. O The Plot in You passou o ano inteiro “na cozinha”, lançando uma trinca de EPs, Vol. 1, Vol. 2 e Vol. 3, todos bem recebidos pelos fãs. O som deles é exatamente o que se pode esperar do “metalcore moderno”: produção espetacular, alguns vocais limpos, letras cheias de emoção. Os portões do Allianz Parque estavam marcados para abrir às 13h, mas o TPIY só subiria no palco por volta das 16h30 – ou sejam quem chegou cedo para ver da grade sofreu.

Em relação ao show em si, tiveram bastante espaço para tocar, fazendo uma performance de aproximadamente 50 minutos. Subiram no palco ao som de John Denver e seu setlist, como já era de se esperar, girou em torno dos 3 EPs que foram lançados este ano, com apenas Closure, do segundo volume, ficando de fora. De seus outros lançamentos, o que mais recebeu atenção foi DISPOSE (2018), que, entre outras, contém a FEEL NOTHING, que no Spotify passa de 200 milhões de reproduções. Foi exatamente com ela que fecharam seu show, que foi um ótimo aquecimento para o dia longo que ainda estava por vir.

Desceram do palco mais ou menos umas 17h20 e o Spiritbox só foi subir meia hora depois, que foi um dos poucos pontos passíveis de melhora do evento. Entendo a necessidade de passar som, trocar equipamentos e montar de palco, mas os 30-40 minutos entre cada banda eram sempre agonizantes, e o BMTH foi a única banda que realmente contou com um palco elaborado; as primeiras duas, nem backdrop tiveram.

Spiritbox – o futuro de metal

Qualquer um que vem acompanhando o metal nos últimos anos sabe bem o que é o Spiritbox. Liderados pela carismática Courtney LaPlante, eles tiveram uma ascensão meteórica lá pelos EUA recentemente, com seu primeiro álbum, Eternal Blue, sendo considerado um dos melhores de 2021 por diversos meios. Estariam fazendo sua estreia na América Latina naquele sábado. Em estúdio, preparam o lançamento de Tsunami Sea, que chegará no dia 7 de março do ano que vem.

Subiram exatamente às 17h50, começando com o pé na porta, tocando uma sequência de Cellar Door e Jaded, ambas de seu último lançamento, o EP The Fear of Fear, que completou um ano no começo do mês. Para uma banda relativamente nova, a conexão com o público foi instantânea. Fora o som impecável e a reação estrondosa dos fãs, dava para perceber claramente que LaPlante & Cia. estavam insanamente felizes por poder tocar em um palco tão grande. Mike Stringer e Josh Gilbert, respectivamente guitarrista e baixista, corriam pelo palco, batendo cabeça vigorosamente. A voz de Courtney ao vivo era um espetáculo que não tenho nem como fazer jus por meio de texto, tinha que estar lá para ver. O resto da banda também não ficou atrás um segundo, eram 4 músicos extremamente competentes, com uma dinâmica incrível entre si.

Tivemos direito até a músicas novas, que farão parte do próximo álbum, Tsunami Sea, sendo elas Soft Spine e a envolvente e mais acessível Perfect Soul, executada ao vivo pela primeira vez. São músicas mais “tranquilas” como Perfect Soul que conseguem ser “porta de entrada” para o metal; são elas que introduzirão a próxima geração ao metal. Outra surpresa no repertório foi Blessed Be, que, de acordo com LaPlante em entrevista ao jornalista Igor Miranda, “por ser mais longa, costuma ser cortada dos setlists”.

De resto, passaram por todos seus lançamentos, com exceção ao EP autointitulado de 2017, que parece estar fora do setlist de uma vez por todas, tendo uma de suas músicas executadas pela última vez no meio do ano passado. Todos os hits mais importantes foram tocados, como Circle With Me, Holy Roller e Rotoscope. Holy Roller especificamente ocasionou reações explosivas dos fãs – ela contou até com um fã vestido de Jesus, segurando sinalizador no meio da roda (que depois foi expulso pela equipe de segurança). O único detalhe que poderia, para alguns, ofuscar a quase-perfeição da performance deles foi o uso de muitas trilhas pré-gravadas, especialmente para a segunda voz (claro). Creio eu que este seja o único caso em que foram empregadas, porém, a precisão instrumental era tamanha que realmente fica difícil discernir o que poderia ser VS e o que era real.

Antes de iniciar a última música (Hysteria), Courtney falou uma frase que pode parecer simples na hora, mas não deveria ser ignorada: “Temos que agradecer ao Bring Me the Horizon que possibilitou bandas como nós a tocarem em lugares como esse.” Ao meu ver, a tendência é bandas assim terem mais e mais espaço.

Depois do show, fui falar com uns amigos, e chegamos a um consenso: foi um festival em que o headliner foi a segunda banda.

Motionless in White – 10 anos depois

Ao som da clássica Sandstorm, do Darude, subiu no palco o Motionless in White, que pela reação dos fãs era uma das bandas mais esperadas da noite. O alvoroço começou bem antes de entrarem em cena: quando içaram o backdrop deles, já tinha gente gritando. Como o próprio Chris Motionless, vocalista, disse logo depois da primeira música, a última vez que passaram por terras tupiniquins foi há dez anos. Eram uma das atrações do Knotfest de 2022, mas acabaram  cancelando sua aparição por aqui. Nas primeiras músicas, era difícil ver alguém que não estivesse cantando junto. O domínio de público era absurdo mesmo. Se tivesse que comparar o som e a estética deles com alguma outra banda mais conhecida pelos leitores da ROADIE CREW, diria que são o Marilyn Manson do metalcore, mas o som deles realmente vale a pena escutar.

Em Masterpiece, que é mais melancólica e mais emocionante, os setores das cadeiras estavam completamente dominados por luzes, aquele momento que, por mais clichê que seja, é lindo. Ela foi seguida de Slaughterhouse, um de seus maiores hits. Chris pediu para que os fãs, que àquela altura do campeonato estavam completamente alucinados (tinham até uns gritando “fala que me ama”), repetissem o refrão (“one mutilation, under god”) com ele, e dito e feito.

Another Life foi sem dúvida o ponto alto do show. Os fãs gritavam “I hate that it seems you were never enough” a plenos pulmões, e a energia da banda estava do mesmo jeito: dando tudo de si no palco. Novamente, o Allianz era iluminado por dezenas de milhares de luzes de celular.

Não deixando a peteca cair, Chris perguntou quem já conhecia o Motionless e disse que cantaria uma música que todo mundo sabia pelo menos parte da letra. De todas as canções do mundo, Somebody Told Me com certeza não seria a primeira que viria à mente da maioria das pessoas quando pensam em possíveis covers de uma banda como o Motionless, mas os fãs mais atentos já até sabiam, visto que o cover está disponível nas plataformas de streaming e já é marca registrada nos shows, estando presente na maioria dos shows desde 2022. Foi uma inclusão de certa forma inesperada, mas uma sacada genial para reacender o fogo dentro de cada fã antes que tocassem um de seus maiores “clássicos”, Voices.

“Estamos aqui sem nem saber como começar a agradecer vocês”, disse o vocalista, antes de anunciar a música que concluiria a performance deles, Eternally Yours. Quem já viu vídeos de shows do Motionless sabe que há algum tempo davam uma de Roberto Carlos nessa hora e jogavam rosas para os fãs, mas desta vez não rolou. Quem queria rosas deveria ter ido no show do Rei, que ocorreu alguns dias antes, em plena quarta-feira. Algo que ficou claro com a performance da banda foi a quantidade de fãs assíduos que os nativos de Scranton tinham. De cada 10 pessoas, parecia que umas 6 sabiam todas as letras.

Press start

Logo após o público inteiro cantar Chop Suey, do System of a Down, que soava pelo PA, no telão apareceu o startup do PlayStation 1, com o nome “Dreamseeker Industries”; depois, uma tela parecida com uma entrada do Final Fantasy com o texto “PRESS START” embaixo. Foram uns 10 minutos disso. Às 21h apertaram o play, começaram um novo jogo e colocaram na “dificuldade extrema”. Realmente uma dificuldade audaciosa para um setlist que não contemplou nada da era realmente extrema da banda, mas OK. Houve também uma introdução com uma personagem que se tornaria recorrente, a EVE, uma ciborgue que conduziria o resto do show. Os segmentos em que ela aparecia nos telões eram sempre recheados de piadinhas e interações com os fãs. Com um “get the fuck up” (equivalente a um “sai do chão, caralho”) e uma explosão de fumaça e confete, o Bring Me the Horizon se jogou de cabeça em DArkSide, um dos singles de POST HUMAN: NeX GEN. Foi aí que tivemos a primeira amostra do português de Sykes, que soltou um “tudo bem?” Seguiram com MANTRA, bem mais tranquila, um rock de rádio misturado com vários elementos do pop, o suprassumo da música comercializável (não que isso seja ruim).

Happy Song começou com uma daquelas “sessões coletivas de limpar janela”, com todos levantando as mãos e balançando os braços de um lado para o outro, mas isso foi só até o vocalista dizer: “São Paulo, quero uma moshpit grandão. Cinco, seis! Vocês conhecem moshpit?” Diversas rodas se abriram. Não eram aquelas rodas de show do Napalm Death, os vórtices demoníacos que devem ter rolado no Venom, que tocou no mesmo dia, mas dava para sentir que todos que estavam nas rodas estavam se divertindo. O público estava na mão do Oli Sykes desde o começo.

As rodas só realmente cessaram em AmEN!, (que contou com participações gravadas do rapper americano Lil Uzi Vert e de Daryl Palumbo, do Glassjaw, com cabeças flutuantes aparecendo no telão) mas seguiram firmes em Teardrops, faixa em que Sykes pediu para que todos pulassem. Voltando para AmEN!, a parte visual estava impecável, com uns efeitos de IA com Oli no telão que realmente ornavam com todo o conceito do NeX GEN, que seria uma nova versão dos humanos, subiam umas labaredas gigantescas na frente do palco. Era um espetáculo de ponta.

“Um surto demoníaco temporário”

Ao longo da AmEN!, houve várias “falhas”: os telões desligaram, faíscas caíam da parte superior do palco, aí no final da música, como se o “sistema” tivesse quebrado, tivemos direito até a uma imitação da tela azul do Windows. Após um rápido “reboot”, EVE voltou à tela, acompanhada de outros personagens para dizer que estavam experienciando “surtos demoníacos temporários”, com outro dizendo que “a igreja tinha que ser evacuada”. O fã de Suicide Season que mora dentro de mim temporariamente sorriu: “Ah, devem tocar alguma coisa mais antiga, mais demoníaca”. Não.

Compensaram com uma sequência bem interessante de faixas, começando com Kool-Aid, primeiro lançamento deles este ano. O vocalista fez um pequeno pedido, que foi atendido instantaneamente: “We need some circle pits. Por favor São Paulo, vai ser foda”. Nessa hora, a roda parecia só crescer. As labaredas apareciam a cada grito de Sykes, e o liquidificador humano só expandia. O caos comeu solto, relativamente.

Foi só a batida de Shadow Moses começar que subiu uma fumaça vermelha diferenciada. Mais uns 5 sinalizadores eram acesos. Adivinhe só quem acendeu um deles? Leonardo Menezes, também conhecido como Jesus. Como o próprio disse em seus stories do Instagram na hora em que voltou para a pista premium, “eu ‘tava de Jesus’, o mínimo era ressuscitar no show, né?” São poucos os fãs que são loucos nesse nível, mas são exatamente esses que são lembrados. Na hora do show, anotei a seguinte frase, “o cara do Spiritbox andou pra que a galera do Shadow Moses pudesse correr”. O fato de ser a mesma pessoa pegou este que vos escreve muito desprevenido. Como já era de se esperar, refrão icônico, a tartaruga da caixinha de areia (“this is sempiternal” virou “this is sandpit turtle”), foi ecoado por todos os fãs com força.

“São Paulo, é sua noite especial”

Apareceram mais alguns personagens no telão, desta vez encapuzados, e falaram sobre como São Paulo era a “terra sagrada”; outros flutuavam no fundo do palco e faziam a estrela de seis pontas que aparece em diversos materiais da banda, ao som do interlúdio [ost] (spi)ritual, e seguiram com uma das músicas mais alto astral, n/A, que não é ruim, mas é bem diferente. Bem diferente mesmo. Interessantemente, ela não tinha sido tocada ao vivo ainda até o show deles na Audio, dois dias antes.

Novamente brincando com as esperanças dos fãs antigos, Sykes falou uma frase que despertou um “Chelsea Smile” em muitos, fez outros contarem suas bênçãos, mostrou para que servia a ponta da cadeira: “Querem ouvir uma mais antiga?” Ao invés de uma Chelsea Smile ou até Diamonds Aren’t Forever, que tocaram em abril, veio Sleepwalking, do Sempiternal, de 2013. É, já dizia o próprio Suicide Season, The Sadness Will Never End.

“Vejo vocês já já, caso sobrevivam”

Pararam de novo e apareceram mais alguns personagens no telão, inclusive uma fusão de boneca com borboleta que parecia ter sido tirada diretamente do quintal do Sid, de Toy Story.

Foi só Oliver chegar e cantarolar o riff de Kinglsayer, música deles com o Babymetal, que os fãs enlouqueceram. Apesar de ela não apresentar a brutalidade dos primeiros discos, é certamente uma das mais caóticas de POST HUMAN: SURVIVAL HORROR (2020), e a apresentação visual refletia isso. No telão, os integrantes pareciam que acabavam de sair do Matrix, dominados por uns e zeros, e no palco tinha mais laser que show do Alok.

“Tá divertido, né? Vocês ‘quer’ mais?” Seguindo na mesma linha, veio Parasite Eve, do mesmo disco, que também foi recebida calorosamente. Mais ou menos do meio da música, Sykes comentou que São Paulo estava “infectada”, e que necessitavam de uma cura. Então, em um momento quase Alice Cooper, duas pessoas armadas e com máscaras de gás subiram no palco e defumaram aqueles que estavam mais perto do palco.

“O destino da terra está na mão destes humanos”

Pararam o show mais uma vez – sim, é a proposta da banda ter estes momentos de interação com os fãs por meio dos personagens, tudo faz parte da estética de videogame, mas sendo a cada 2 músicas, ficou cansativo.

Sykes deu aos fãs a ilusão de escolha, sugerindo algumas músicas para prosseguir com o show, mas seguiram o setlist da turnê e procederam com Antivist. Também foram chamados alguns convidados que seriam “responsáveis por nosso entretenimento pelos próximos 3 minutos e meio”, Di Ferrero, do NX Zero (que estava com uma bermudinha amarela diferenciada, mas somos revista de música e não moda), e MC Lan, que aparentemente lançará música com membros do System of a Down, Lumineers e outros do mundo do rock. Os brasileiros mais estavam lá para fazer firula, pois realmente só trocaram o “pré-breakdown” para “vai se foder” e quando saíram MC Lan soltou algumas pérolas, “nós é pica e o resto… open the tcheca, ladrão”. Alguns podem dizer que foi uma prova clara da lei de Murphy, mas outros podem apenas interpretar como um “rolê aleatório”. Foi um momento no mínimo interessante. História para contar…

Antes de Follow You, mais melancólica, tristinha, o vocalista pediu para que todos subissem nos ombros de algum amigo, e muitos subiram. Caso você não conseguisse subir, ele disse que poderia pegar seu celular ou seu isqueiro e ligar. O Allianz Parque realmente ficou claro, completamente iluminado por milhares de lanternas de celular. A presença de palco que ele tem dá inveja. Dirigindo-se aos fãs, Sykes disse: “Quando me apaixonei por uma brasileira, não fazia ideia de que me apaixonaria pelo país inteiro. Vocês são muito, muito especiais para mim.” Em português, claramente sobrecarregado pelo apreço que havia recebido ao longo da noite, disse “te amo; te amo muito”. Indo de 8 a 80 (e voltando para o inglês), anunciou a próxima: “Esta aqui é LosT, rebolem!” e soltaram mais quantidades absurdas de confete.

Depois, o português voltou: “Minha nossa senhora, feijoada de puta.” Vendo que havia arrancado algumas risadas do público, voltou para a língua materna: “Vocês podem perceber que meu português está ficando ótimo! Já tenho CPF, I am brasileiro. Sou um de vocês, como feijoada todo dia.” Continuou, “este é o maior show que fizemos em nossas vidas, então preciso ver o maior público da minha vida. Everybody pula!” Convenhamos, Can You Feel My Heart já deu, toca demais, ficou saturada, mas a energia dessa música ao vivo foi algo incomparável, uma loucura. Ver o vocalista realmente dando a vida, ajoelhado na ponta da passarela, envolto em uma bandeira personalizada do Brasil… dava para sentir a emoção na pele.

Esta turnê do Bring Me the Horizon fugiu bastante do normal. Ultimamente, as bandas de metal tocam em casas menores aqui no Brasil, e em estádios fechados no Chile ou na Argentina, mas desta vez o Bring lotou o Allianz (com capacidade para mais de 43 mil fãs em dia de jogo) e a Audio (com capacidade para 3.200 pessoas) em São Paulo. Já no Chile, Colômbia e Argentina, tocaram nas arenas Movistar, com capacidades para 16 mil, 14 mil e 15 mil espectadores respectivamente. Será um sinal de que o público brasileiro está voltando a ser um dos melhores do mundo?

O bis que ninguém esperava

Saíram do palco, mas a galera não parou, eram gritos de “eu não vou embora”, “lindo, tesão, bonito e gostosão”, o pacote completo. EVE apareceu uma última vez e disse: “São Paulo, vocês ainda estão aqui? Realmente estão condenados”. Mostraram um pacote de vídeos com imagens do começo da carreira deles, com uma trilha de música clássica por trás. Os vídeos tinham tudo que você poderia esperar: imagens de ensaios fotográficos, gravações de clipes, interações com fãs, as primeiras rodas, um cartaz escrito “you saved my life”. Assim como EVE já havia sugerido, começaram o bis com Doomed, mantendo a energia dos fãs lá em cima. Fora o novo álbum, That’s the Spirit (2015) foi o mais contemplado pelo setlist, e pelo bom e velho olhômetro, era a estampa de camiseta mais comum (talvez porque era a mais vendida pelos vendedores “alternativos” da rua).

Em Drown, rolou um momento realmente lindo. Logo no começo, um mar de bexigas brancas foi ao ar, em homenagem a Pedro Miranda, um grande fã da banda que infelizmente nos deixou recentemente. O próprio Sykes reconheceu a ação, gritando “essa é para o Pedro” logo antes do começo da música. Como disse a página de fãs Bring Me the Horizon Brasil, responsável pela divulgação do movimento, “esse momento foi para o Pedro e do Pedro”. Durante essa música, Oliver aprofundou a conexão com a plateia e cantou do pit de fotografia, junto com seus fãs, levando uma das câmeras que fazia a transmissão ao telão junto. Ele estava tão perto dos fãs que até ganhou uma tiara de orelhinha. São momentos como esses que realmente diferenciam a cena do metal, que pode ter suas diferenças, mas, querendo ou não, se une quando importa.

“Brasil, este é o maior show que o Bring Me the Horizon já fez. Não sei o que fizemos para merecer vocês. Gratidão. Grati-fucking-dão! Preciso ver todo mundo se mexendo.” Fecharam a noite com Throne, que contou diversos fogos vindos de cima do estádio e mais de 40 mil vozes cantando em uníssono. Mesmo com quase duas horas de show, os fãs ainda se acabavam de felicidade. Indiretamente ajudando aqueles que ficaram de pé desde às 13h, o vocalista pediu para que todos sentassem antes do último refrão. Com um simples “fucking jump”, Sykes tirou todos do chão. Com agradecimentos extensos e o texto “BMTH JUST ROCKED MY WORLD” (o BMTH virou meu mundo de ponta cabeça), se despediram do maior público de sua história. Goste ou não, estão firmemente no trono do metal moderno.

 

Conclusões finais – BMTH just rocked my world

Vou dizer aqui algo muito parecido ao que escrevi em relação ao show do Linkin Park: pode dizer o que for do som do Bring Me, mas em termos de show, os caras sabem o que fazem. “Ah, mas usaram muita coisa digital, muita pirotecnia, muita firula, muita trilha pré-gravada.” Gente, estamos em 2024, a banda fez seu maior show como headliner na história. Se eles têm os recursos e a tecnologia de ponta para fazer um show daqueles, porque não usariam? Independentemente do que você, que conhece ou não Manowar, acha do som deles, eles são sim uma das maiores e mais importantes bandas da atualidade.

A única coisa que eu realmente senti falta no show foi a inclusão de músicas mais antigas no repertório. Tá, tocaram algumas de Sempiternal, mas os 3 discos que vieram antes foram completamente esquecidos, e isso vem acontecendo há um tempo. Antes até faziam um pequena medley de alguns temas de sua era deathcore, justamente para mostrar aos seus críticos que ainda conseguiam fazer aquele som, mas agora, nem isso. As músicas novas até são legais, ao vivo é uma energia animal, mas faltou aquele “presentinho” para a galera que os acompanhou desde o começo.

Até isso dá para entender. Grande parte do público era bem jovem, e a banda focou nas músicas que os fizeram eles conhecê-la, focando nas coisas mais novas. Não dá para julgar. Ouvir o BMTH em estúdio (ou até ter visto o show que fizeram na Audio) não se compara ao que foi aquele show, o maior da vida deles. Talvez, seja um sinal que o metal – de um jeito ou de outro – realmente esteja voltando ao mainstream. O rock não morreu, só se misturou com outros estilos. Aceitem. Querem aquele bom e velho rock and roll, aquele metal extremo “sem frescura”? Apoie o underground, vá a shows menores. Só porque não toca mais em estádio não quer dizer que não existe.

The Plot in You setlist

Don’t Look Away

Divide

Pretend

Paradigm

THE ONE YOU LOVED

Face Me

Been Here Before

Forgotten

Spare Me

All That I Can Give

Left Behind

DISPOSABLE FIX

FEEL NOTHING

Spiritbox setlist

Cellar Door

Jaded

Angel Eyes

Soft Spine

The Void

Perfect Soul

Hurt You

Yellowjacket

Blessed Be

Rotoscope

Circle With Me

Holy Roller

Hysteria

Motionless in White setlist

Meltdown

Sign of Life

Thoughts & Prayers

Masterpiece

Slaughterhouse

Werewolf

Abigail

Reincarnate

Another Life

Somebody Told Me (The Killers)

Voices

Eternally Yours

Bring Me The Horizon setlist

Prelúdio (Final Fantasy) *

DArkSide

MANTRA

Happy Song

Teardrops

AmEN!

Kool-Aid

Shadow Moses

[ost] (spi)ritual

n/A

Sleepwalking

Itch For the Cure: When Will We Be Free? (versão Project: Kingslayer)*

Kingslayer

Parasite Eve

Antivist

Follow You

LosT

Can You Feel My Heart

Doomed

Drown

Throne

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