Antônio “Tunão” Parreira Neto fez sucesso no Brasil nos anos noventa tocando em bandas como The Still e Avalon, entre várias outras. Há alguns anos mudou-se para o Canadá e lá, passou aquecer o país gelado ao integrar a banda de Stoner/Southern Buffalo Theory MTL, que lançou recentemente o ‘debut’ “Heavy Ride”. Tunão, que precisou adaptar seu nome lá fora para Anton Parr, conversou com a ROADIE CREW, contando um pouco de sua carreira, além é claro do lançamento de seu atual grupo. É Buffalo Theory MTL na prática!
Como foi a formação da banda? O esse nome do grupo, como surgiu?
Antônio “Tunão” Parreira Neto: A banda foi formada logo depois que o Ghoulunatics encerrou as atividades, depois de quinze anos. Três dos ex-Ghouls, Gary Lyons (baixo), Pat Gordon (guitarra) e Brian Craig (bateria) continuaram fazendo um som juntos e chamaram o guitarrista Yannick Pilon (ex-Arseniq33) para fazer a segunda guitarra. Demoraram quase um ano para fazer um processo de seleção para vocalista e foi aí que eu entrei na banda. Assim, fizemos inúmeros shows, gravamos um CD demo em 2010 e agora estamos colocando no mercado o primeiro ‘full length’, ‘Heavy Ride’, pelo selo canadense Galy Records. O nome da banda veio de um seriado de TV chamado “Cheers” e é uma teoria maluca ligando o consumo de cerveja à inteligência do beberrão. Zoeira, evidentemente. O “MTL” no final é a abreviação de Montreal, cidade natal da banda.
Como foi a concepção do “Heavy Ride”? O que mais pode falar sobre o álbum?
Tunão: Compusemos o disco sem muita pressa e quando entramos no estúdio, já estava tudo pronto para gravar. O processo levou três dias. No primeiro, foi acertar o som; no segundo, gravar o instrumental ao vivo e no terceiro, os vocais e retoques finais. Ficamos muito contentes com o resultado. O som está hiper pesado e reflete a realidade da banda ao vivo, exatamente o que queríamos.
Como houve a decisão de incorporar as músicas da primeira demo ao novo trabalho?
Tunão: O CD demo era na verdade uma pré-produção e a gente não tinha a intenção de colocá-lo no mercado. Como a reação inicial foi boa, acabamos prensando e começamos a vender os CDs. Depois, foi lançado por um selo neo-zelandês e, quando estávamos quase para gravar o novo trabalho, o material se esgotou. Foi aí que tivemos a ideia de masterizar a gravação e incluí-la no ‘Heavy Ride’.
Por que a decisão de não colocar as letras do álbum no encarte?
Tunão: Nessa primeira prensagem, o orçamento que a gente tinha era extremamente limitado e o acordo com a gravadora ainda não estava fechado. Resolvemos fazer assim mesmo e disponibilizar as letras pela internet. Na verdade, muitas delas já estão disponíveis juntamente com os vídeos no nosso canal do You Tube.
Por que o título em português da faixa “Monstro”?
Tunão: Quando entramos no estúdio, eu ainda não tinha a letra dessa música. Ela inclusive teve vários títulos provisórios na fase de ensaios e o último era Talion. Escrevi o primeiro esboço das frases indo para o estúdio, no metrô. Quando finalmente defini a letra, com o refrão “don’t follow the monster”, comecei a pensar em títulos óbvios, tipo esse do refrão, ou mesmo ‘Monster’. Foi aí que decidi usar a tradução em português “monstro”. Gostaria de usar mais o português nas letras, então ‘Monstro’ fica como uma introdução ao tema! Curiosidade: essa música foi a última que fizemos antes de gravar o CD, a partir de riffs compostos por Gary, e era meio que uma música que ninguém dava muita bola. Fiz um pouco de suspense para mostrar a linha vocal para a banda, mas sempre falava que essa iria surpreender no resultado final! E todos acabaram gostando muito da versão acabada.
A música de vocês tem muito peso e riffs bastante marcantes. A ideia é sempre deixar isso como marca penetrante do BTM?
Tunão: Sem dúvida. E eu diria sem pensar duas vezes que o BTM é a banda mais pesada da qual nós cinco já participamos. Olha que todos nós temos em média uns 25 anos de experiência tocando Metal! Na verdade, não temos nenhuma regra na hora de compor e as músicas saem muito naturalmente.
As influências de Down e Black Sabbath são inegáveis. O que mais vocês andam ouvindo, que os inspira na hora de compor?
Tunão: Todos nós temos mais ou menos a mesma idade e crescemos na época do auge da NWOBHM e da explosão do Thrash Metal. O maior expoente do Thrash, no início, era o Metallica, que tinha todos os riffs baseados em Sabbath. O Down é meio que o expoente de uma outra linhagem de bandas também inspiradas no Black Sabbath, mais lentas e pesadas. Então posso dizer que o Buffalo Theory MTL também se insere nesse cenário. Fora as clássicas já citadas, posso dizer que todos na banda curtem Voivod, Mastodon, Clutch, Priestess, High on Fire, Red Fang etc.
Já existem planos para fazer shows por aqui?
Tunão: Temos muita vontade de tocar no Brasil e estamos estudando possibilidades desde o verão passado. Quem sabe uma dose dupla com as bandas montrealenses Voivod e BTM… Quem se habilita?
De modo geral, como é a cena metálica canadense? Que outras bandas nessa pegada mais extrema você destacaria?
Tunão: O Canadá é o país que tem mais bandas de Metal por habitante nas Américas, e mais do que em vários países da Europa. Mas como o que importa é a qualidade e não a quantidade, posso dizer que o nível técnico das bandas canadenses é impressionante. Conheço mais a cena local (província de Quebec), que tem ótimas bandas como Voivod (os mestres), Gorguts, Obliveon, DBC, BARF, Ghoulunatics, Cryptopsy, Despised Icon, Martyr, Augury, Kataklysm, Priestess, Tunguska Mammoth, Talamyus, Les Ékorchés, Transe Metal Machine, Neuraxis e inúmeras outras.
Como você vê a cena brasileira de Metal, morando no Canadá há alguns anos?
Tunão: Sempre fui um grande fã do Metal brasileiro e até hoje tenho quase tudo o que saiu em vinil na época áurea da Cogumelo, Heavy Records, Baratos Afins, Hellion, Rock Brigade Records e outras. Agora, com a internet e a facilidade de acesso à informação, continuo acompanhado a cena, mesmo que à distância. Acho que tem muita banda nova boa por aí, fora as clássicas voltando, tipo Dorsal Atlântica, Anthares, Attomica, Desaster, e as que nunca pararam, como Korzus, Krisiun e Sepultura.
Tunão: Sou um cara de muita sorte. Sempre toquei o que gosto e nunca estive na música por profissão, mas por vocação. Acho que o tipo de som que toquei em cada fase da minha vida reflete meu estado de espírito e minha inspiração. Parei de tocar em bandas quando minha filha nasceu e, depois de um hiato de seis anos, vi o anúncio do Buffalo procurando vocalista. Senti que era exatamente a banda na qual gostaria de tocar. Aí, foi só partir pro abraço!Por favor, esteja à vontade para as declarações finais.
Tunão: Eu é que agradeço, em nome da banda, o espaço aqui na ROADIE CREW! No mais, agradecemos todos vocês, que tiveram a paciência de ler a entrevista até o final. Mas o que importa mesmo é que vocês ouçam o nosso som! Então, escolham o meio – CD, iTunes, You Tube, Myspace, Reverbnation etc – e som na caixa com o volume no 11!Site relacionado:
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