O Darkside, representante de peso do Metal feito no Nordeste, há muito tempo vem empreitando uma jornada que culminou em seu mais recente álbum, “Prayers in Doomsday” (2012). São mais de duas décadas de atividade entre percalços e conquistas, até chegar nesse ápice que os revelou para o Brasil e Europa. Agora Marcelo Falcão (vocal), ao lado dos recém-chegados Kaio Castelo (baixo), Anderson Meneses (guitarra) e Acácio Vidal (bateria, Gstruds), liderados por Tales ‘Groo’ (guitarra), encaram um novo desafio que é compor material que originará o sucessor desse disco. Confiante no trabalho, Tales falou à ROADIE CREW que dará continuidade ao significado da mensagem de “Prayers in Doomsday” e também dos planos para o futuro.
A aceitação de “Prayers In Doomsday” fez até o velho continente se render à riferama que ele promove. Prova disso foram as resenhas positivas que ele recebeu. Ali começava uma nova era para o Darkside?
Tales Groo: Tivemos boas resenhas em muitos sites especializados europeus, algumas bem empolgadas e outras com certas ressalvas. Recebemos um destaque de dica de ‘CD do Mês’ na revista alemã Legacy, creio que seja a maior publicação de Metal no mundo atualmente, o que nos dá bastante orgulho.
Como você vê o cenário underground naqueles países?
Tales: O que posso notar é que o underground europeu é extremamente coorporativo. É um mercado forte por onde circula muita grana. Por isso a alta qualidade profissional de bandas e eventos de lá, algo que nós não temos. Tenho sondado alguns contatos para shows e começo a entender as barreiras.
E sobre a penetração de bandas nacionais no cenário europeu?
Tales: É praxe das gravadoras cobrarem das bandas pela prensagem do próprio CD, e os ‘bookers’ pelas turnês, e não é barato. Alguns sites insinuam propostas de negócios para resenhar um CD da banda. Isso é corporativismo do Metal Europeu. Parece a corrida do ouro, onde só quem lucra é quem vende pá e picareta. Não dá pra uma banda underground como o Darkside ter isso como objetivo, é um erro que não leva a lugar algum. É bastante difícil penetrar nesse mercado sem precisar desembolsar uma fortuna (se tivéssemos, preferia investir em equipamento e cerveja), um processo demorado que levaria anos, quem sabe décadas. Faremos nossa parte que é preparar material de qualidade, um após o outro.
Dessa forma, hoje seria improvável um lançamento do Darkside pela Europa?
Tales: Temos uma proposta concreta para o lançamento de Prayers In Doosmday por um selo do leste europeu, esquema underground mesmo, onde não pagaremos pela prensagem. Isso está bem distante de se tornar uma carreira internacional. Recentemente uma banda homônima da Áustria entrou em contato, reclamando os direitos autorais sobre o nome ‘Darkside’, dizendo que detém esse ‘trademark’ na União Europeia e que não podemos fazer shows nem vender discos por lá sob esse nome, que temos desde 1991. Ainda vamos ter que desatar esse nó, provavelmente alterando ligeiramente o nome da banda, para não termos que entrar numa ação judicial internacional. Que merda!
Voltando a falar sobre o “Prayers in Doomsday”, os solos de “The Apocalypse Bell” foram feitos por ex-integrantes da banda, correto?
Tales: Exato, pra solar nessa faixa, convidamos o Paulo ‘Boi’ Boizer (guitarra, Sleeping Awake), que tocou na Darkside entre 1991 e 1996 – ele gravou as três demos que possuímos. Costumo dizer que eu, o Boi e o Aurélio “Hulk” (vocal, atual Sleeping Awake) éramos a espinha dorsal da banda nos anos noventa. O segundo solo é do Paulo Bessa (guitarra, Necromorten) que esteve na banda entre 2008 e 2010 e foi responsável por uma grande revolução no nosso ‘modus operandi’, trazendo o uso de softwares de gravação como ferramenta de composição. Darkside deve muito a esses caras, mas também a muitos outros ex-componentes que nos deram bastante força nos shows que fizemos fora do estado, como o Daniel Monge (ex-vocal), Dudu Magnani (baixo, Necromorten), Rodrigo Magnani (guitarra, Necromorten), Marcelo Martins, Ramiro Melo e Eduardo ‘Dudu’ Fiuza (bateria, Mystical Vision, Sleeping Awake). Gostaria de ter a participação de cada um deles em um álbum!
Nos shows a banda também chama convidados e hoje essa é uma atitude constante nas apresentações, mas não se restringe apenas a ex-membros…
Tales: Sempre achei interessante essa interação no palco entre membros atuais e antigos. Ultimamente tivemos em palco algumas participações de um quase membro, no caso o Vinny Fist (vocal, Fist Banger), que chegou a fazer teste pra assumir o posto de vocalista.
Por que você resolveu criar uma versão para “The Apocalypse Bell” (essa composição foi apresentada depois do lançamento de “Prayers in Doomsday”) em forma de introdução?
Tales: Não é uma nova versão, é uma continuação. O álbum novo começará exatamente onde o anterior termina. ‘The Apocalypse Bell Part II’ é uma introdução semi-instrumental (há uma declamação no final dela), que serve para fazer a ponte entre os dois álbuns, e ao vivo tem um ótimo efeito como convite ao caos.
Nos shows, até agora, o repertório segue com outra inédita, “Legacy Of Shadows” depois de “The Apocalypse Bell Part II”. Essa mesma sequência nós ouviremos também no próximo álbum?
Tales: Exato, mas essas músicas estão soltas para permitir que ‘Bubonic’ ou ‘Sacrificed Parasites’, por exemplo, possam ser executadas ao vivo ocasionalmente, logo após a intro. Ter um repertório maleável nos shows os torna mais interessantes.
Tales: O cenário é bem parecido, só que a temática atual está mais rude e mais abrangente, e o clima que queremos passar será mais denso. Sairemos da fase ironia/sarcasmo e partiremos para agressões e acusações diretas contra governos, religiões, mídias e atos falhos. É como se num álbum viessem as causas e no outro as consequências; os avisos já foram dados e agora estamos apontando o dedo. Mas ainda há muito espaço para outras histórias a serem contadas.“Megashits On Microminds” é outra das novas que já vem arrancando acompanhamento da platéia nos shows. Seria esta a “Bubonic” do próximo álbum?
Tales: Não creio, aliás, nunca pensei nisso! Essa música tem um grande refrão e uma seção ‘mosh’ incrível capaz de gerar grandes rodas de pogo, mas ‘Bubonic’ ainda causa um efeito mais avassalador. Tenho na gaveta alguns riffs assassinos que estão esperando à hora certa de ver a luz do dia.
O novo disco terá uma missão difícil que é igualar-se ou superar “Prayers In Doomsday”. Com quem o Darkside vai trabalhar na próxima produção para acompanhar essa qualidade?
Tales: As sessões de vocal, bateria e baixo serão gravadas aqui mesmo em Fortaleza (CE). Temos bons estúdios com profissionais capazes de fazer uma ótima produção, como o Moisés Veloso (MV Estúdios), Taumaturgo Moura (VTM Studio) e Jorge Albuquerque (Estúdio 746) entre outros. Mas o toque final, aquele que vai deixar a produção mais avançada será dado em São Paulo. Pretendo gravar minhas partes de guitarra, mixar e masterizar em um estúdio daí. Por hora não há nada definido, apenas algumas sondagens e sugestões que só serão concretizadas quando o disco inteiro estiver composto.
A nova capa já está sendo articulada? Os artistas serão os mesmos que deram vida ao cenário caótico de “Prayers In Doomsday”?
Tales: Já temos um rabisco que foi feito na época de ‘Prayers…’, tivemos que escolher uma das duas artes para ilustrar aquele álbum, a que sobrou vai entrar no seguinte. Ambas são ótimas e não houve um critério para a escolha. Esse rabisco criado pelo Adriano Batista foi finalizado pelo Allan Goldman, que é daqui de Fortaleza.
Existem peculiaridades nos lançamentos do Darkside. “Eclipsed Soul” (2004), cujo vocalista foi Daniel Monje, explora mais a melodia, enquanto “Prayers…”, que teve Alex Eyras nos vocais, a velocidade. Para cada álbum um cantor diferente, mas Marcelo Falcão, o atual, possui uma linha de voz mais brutal que a dos os anteriores. Isso refletirá em mais mudanças na sonoridade?
Tales: Acima de tudo, nunca ligamos para os rótulos, atuamos simplesmente dentro do Heavy Metal. Estagnar está fora de cogitação, assim como mudar drasticamente de estilo, então temos que seguir em frente mantendo uma evolução sem comprometer a identidade da banda. Certamente estamos um pouco mais agressivos agora, mas por outro lado as faixas estão mais complexas melodicamente. Estamos forçando os dois aspectos. Quero que o som da Darkside se transponha, mas que não se transforme. Mudar no sentido de mover, nunca de transfigurar. Musicalmente somos a mesma banda de 1991, mas a alguns degraus acima. Obviamente se alguém parou de nos ouvir na segunda demo, vai estranhar o novo álbum.