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DEFORMITY BR “Trajetória conquistada com muito sangue, suor e dedicação”

Com mais de 20 anos de carreira a banda Deformity BR se tornou definitivamente uma das mais importantes e avassaladoras bandas de nosso cenário. Nesta trajetória conquistada com muito sangue, suor e dedicação a Deformity BR está no hall das bandas mais respeitadas do estilo. O seu fundador e mestre em física (não preciso nem mencionar sua inteligência) Yuri Hamayano nos concedeu gentilmente esta entrevista para que possamos saber como a banda superou todas as dificuldades e hoje, após retomados seus batimentos cardíacos, continuam derretendo nossos tímpanos.

Yuri Hamayano, Foto por: Divulgação

A Deformity BR foi fundada em 1995 na cidade de Feira de Santana e por todos esses anos a banda se manteve fiel ao estilo. Como surgiu a proposta de fazer o Brutal Death Metal? Fale-nos a respeito dessa criação sangrenta chamada Deformity BR…

Yuri Hamayano: Eu e Julio (guitarra) somos os fundadores da banda. Nós nos conhecemos em 1993 e participamos de outro projeto juntos. Felizmente aconteceram brigas e divergências nesse projeto, assim decidimos sair para fundar a Deformity. O engraçado é que, no início, não havia nada de Brutal Death Metal. Sequer tínhamos uma ideia clara de como seria o som. Nessa época, as composições tinham uma influência Death/Doom e Lucio já estava fazendo o vocal conosco. Nem sonhávamos com “blast beats”! As músicas eram bem mais lentas e as partes mais rápidas possuíam uma pegada mais tradicional Death Metal. Em 1997 eu tive que me ausentar por um ano para estudos e, nesse interstício, Lucio acabou apresentando bandas mais brutais para Julio, como o Cannibal Corpse, Carcass, Brutal Truth, Napalm Death e Terrorizer. Essas bandas não me chamavam muito a atenção. Eu ainda estava vidrado em bandas como Slayer, Gorefest e Paradise Lost. Além disso, até aquele instante, eu ainda não havia sido apresentado ao conceito “splatter”, mas mesmo assim tive uma brilhante ideia de começar a retratar os acontecimentos com muito sangue, além de eventos brutais e doentios nas letras (também conheci o Mortician nessa época). Quando nos reencontramos, Julio me mostrou as novas composições que definiram o atual estilo da banda; do meu lado, os apresentei minhas novas ideias para as letras – Lucio me explicou que aquilo já existia e era denominado “splatter”. Assim nasciam os clássicos “Agony Yells” e “Bloody Banquet”. Entramos de vez no mundo do Splatter Death Metal e o som foi se tornando cada vez mais brutal, como um carro velho que desce uma ladeira esburacada e sem freios.

Julio Nascimento, Foto por: Divulgação

Feira de Santana é uma cidade que foi apelidada como a “Princesa do Sertão” pelo escritor Ruy Barbosa e que é um celeiro de bandas importantíssimas no underground. Como você vê a cena na região atualmente?

Yuri Hamayano: Se formos bem precisos quanto à geografia, Feira de Santana não está exatamente no sertão da Bahia… kkkkk… Sem me prender a essas questões secundárias, posso estender seu questionamento a todo o interior da Bahia, excluindo apenas a região metropolitana de Salvador. Dessa forma não deixo de citar bandas como a Suffocation of Souls que, dentre as interioranas, ainda é nova, mas já alçou voos mais altos (e fazem um Thrash foda). A cena do interior vai muito bem (em termos de bandas), obrigado! Sempre tivemos ótimas bandas, algumas delas conseguiram sobreviver, outras não; e já existem tantas outras novas… o pessoal não para! Assim, posso citar alguns nomes que me vêm rapidamente à mente, como: Braincancer, Impios, Inside Hatred, Bastard, Kerberus, Sades, Second Face, entre outros; em Feira de Santana, mais especificamente, temos Human, MetalWar, Martyrdom, Pestis, Erasy e Pathfinders que já estão na batalha há algum tempo; outras começando agora, como a Gaia Beta. É muito bom perceber que a cena metálica baiana não está mais restrita à região metropolitana de Salvador. O interior, além das bandas, tem conseguido apresentar ótimos festivais, muitos bons fanzines e uma estrutura foda. Só fico triste porque estamos passando por um momento de baixa de público. Já passamos por outros momentos como esse e percebo que é um movimento cíclico da cena. Imagino que este seja um desses momentos de transição entre gerações. Muitos bangers antigos somem e os novos ainda não se sentiram agentes do próprio cenário. Por isso a importância em acolher e cativar o sangue novo. Aqui em Feira de Santana foi criado um grupo para tentar discutir coletivamente os problemas do cenário, especialmente do interior da Bahia. Já fizemos uma mesa redonda para discutir essas questões com a participação do público e esses esforços já têm resultado em boas ideias. Agora só nos falta pôr mãos à obra e colocar os projetos para frente. Espero que o fortalecimento venha num curto tempo, toda a Bahia ganha com isso!

Krusius Barreto, Foto por: Divulgação

A última vez que os vi ao vivo, a banda contava com o Fúlvio (Ex-Sower) e também com um dos vocais mais brutais que eu conheço: Lúcio. Hoje a banda não conta mais com ele no vocal. Qual o motivo desse afastamento?

Yuri Hamayano: Cara, então já faz muito tempo que você viu uma apresentação nossa! 2002/2003? A saída será irmos a São Paulo para uma apresentação! Kkkkk… Nós temos muito apreço pelos ex-integrantes da banda. No caso do Fúlvio, mesmo tendo ficado conosco por muito pouco tempo, ele conseguiu fazer contribuições importantes, trazendo ideias e experiências. Seria interessante ainda tê-lo na banda… aliás, seria bom se todos os ex-integrantes pudessem continuar juntos conosco na Deformity. Imagine! Uma banda com 20 integrantes! Kkkk… Com relação a Lucio, concordo contigo: é um dos vocais mais brutais e versáteis que eu tive o prazer em conhecer. Infelizmente divergências aparecem e elas vão minando as relações entre as pessoas. Isso é a coisa mais natural do mundo! O estranho é ver as pessoas terem o amadurecimento para conseguir repensar as situações e contornar os problemas. Foi muito triste, pois era inimaginável tê-lo fora da banda. Afinal, havia a amizade de anos, além do fato de a Deformity BR ser caracterizada exatamente por seu timbre. Mas creio que o seu afastamento tenha sido a melhor solução. Estávamos preocupados em como solucionar o problema da carência de uma voz que pudesse ser a nova cara da Deformity. Não saímos à procura de novos vocalistas, mas mesmo assim, com a notícia da saída de Lucio, algumas pessoas demonstraram interesse na posição e ofereceram ajuda – um deles com o vocal tão fudido e versátil quanto o do próprio Lucio (coisa que eu não imaginava que pudesse acontecer). O engraçado é que você não se dá conta da repercussão que sua banda possui até acontecer um evento como esse. Conversamos entre nós e decidimos que o baixista Krusius também assumiria o vocal, afinal ele já estava acumulando essas duas funções em alguns shows que Lucio ficou impossibilitado de viajar. Seu timbre é completamente diferente daquele de Lucio e do que estávamos acostumados. É mais fechado, mais grave. Mesmo assim ficamos supercontentes com o resultado desse novo casamento! Em breve, quanto lançarmos um novo registro fonográfico, vamos compartilhar essa nova experiência com os bangers. Esperamos desde já pelas críticas!

Diego “Corpsegrinder”, Foto por: Divulgação

Falando um pouco de você e de sua trajetória como um baterista de um alto nível técnico, você também fez parte do Mystifier. Como foi a experiência de estar dando suporte a essa renomada banda?

Yuri Hamayano: Alto nível técnico? É mesmo? Kkkk… Para ser sincero, nem sei como é que meu nome apareceu na cabeça de Armando (Beelzebuth)… kkkkk. Um belo dia, Elimar do Thundergod Zine me ligou para dizer que Armando queria conversar comigo e tinha interesse em me ter tocando bateria para alguns shows do Mystifier. Aceitei, afinal quando escutei o “Born… Suffer… Die” e o “Goetia” pela primeira vez, caralho… Amor à primeira vista. Eu nem tinha noção de que aqui, tão perto, havia bandas naquele nível! Como não aceitar? É foda poder tocar com uma banda que se admira! Armando é um cara que sempre pensa à frente. Aprendi muito com ele, com a sua forma estabelecer as metas, com sua forma de pensar a banda. Armando tem um pensamento muito profissional e foi foda observar o processo da Mystifier estando do outro das cortinas. Pena que na época ele estava desanimado para compor e não pude participar desse processo. Mas deu para acumular toneladas de experiências boas. Creio que também tenha deixado a minha marca… kkkk… com minha personalidade metódica… kkkk. Além disso, tive o prazer de tocar em diversos estados brasileiros, ir à Alemanha, conhecer muita gente, montar rede de contatos. O Mystifier foi um agente importante do meu amadurecimento como músico e como integrante do underground!

Por um tempo pensei que você estaria como membro efetivo do Mystifier. Você esteve de 2006 a 2013 ao lado deles, o que é bastante tempo. Em algum momento você pensou em estar com eles definitivamente?

Yuri Hamayano: Cara, e foi esse tempo todo mesmo? Fique surpreso aqui! Achava que teria sido até 2011… Aturando Armando (Beelzebuth), realmente muito tempo! kkkk… Na verdade, comecei como um músico contratado. Quando fui para a primeira turnê com eles, eu ganhava por show! Foi ótimo, tocar numa banda que se admira, fazer o que gosta e ainda receber por isso! Kkkk… Fiz duas turnês nesse formato. Depois disso, parece que o dinheiro diminuiu e ele me convidou a ficar como membro fixo na banda… Eu preferia o formato antigo… kkkkkk. Enfim, eu creio que fui considerado como membro da banda… kkkkk. Mas não havia como ficar definitivamente na banda, afinal, após pouco tempo, as viagens para as turnês começaram a se tornar cada vez mais frequentes. Nessa época eu ainda estava no mestrado em Física e tinha certa flexibilidade com o tempo, mas hoje sou funcionário público e tenho uma família– atividades altamente incompatíveis com quem sonha em estar na estrada, trilhando os caminhos do Heavy Metal. Certo dia, Armando me ligou comentando acerca de uns shows… Eu lhe disse que as datas acabavam chocando com um congresso. Ele perguntou sobre a possibilidade de levar outro baterista e foi aí que percebi que o melhor era jogar a toalha.

1999 Disgrace is Coming “Demo”

Voltando ao foco, vamos voltar a falar do Deformity BR. Apesar da banda iniciar suas atividades em 1995, o primeiro registro foi a demo “Disgrace Is Coming”, gravado em 1999, que conta com apenas uma música de mesmo nome. Como foi a receptividade por parte do público no lançamento deste registro?

Yuri Hamayano: O fato interessante é que essa não era a nossa primeira composição à época, como eu já deixei claro anteriormente. Nós a escolhemos por ser mais brutal e insana! Não tínhamos a intenção de gravar apenas uma música, mas os nossos planos eram incertos. Era a nossa primeira vez num estúdio, por que gravar apenas uma música? Uma coisa é certa: o fator financeiro influenciou fortemente a gravarmos apenas “Disgrace is Coming”. A demora em lançar a demo ocorreu por conta de todo o processo de definição de nossa identidade musical, como eu comentei. Além disso, Feira de Santana não dispunha de técnicos que pudessem entender e nos ajudar com o nosso tipo de som. Ao observar que o Malefactor havia acabado de lançar o “Celebrate Thy War”, pensamos na possibilidade de ir ao mesmo estúdio, mesmo com o dinheiro limitado. Sequer tínhamos estrutura para uma gravação: levamos material emprestado de bateria, o estúdio conseguiu um amplificador de guitarra emprestado. Não tínhamos a mínima noção de como seria a “coisa”. Quando pisamos os pés no estúdio, o cara logo nos disse: man, está contando! Kkkk… Aquilo nos desestabilizou. Foi a maior correria para fazer a gravação. Ao final do primeiro dia, tínhamos gravado a bateria e a guitarra para uma única música. Voltamos para casa com a sensação de que deveríamos fazer um esforço com o dinheiro para gravar uma segunda, mas, no dia seguinte, quando retornamos ao estúdio, eis que recebemos a notícia que o amplificador de guitarra já havia sido devolvido. A única opção era gravar o baixo e o vocal e retornar a Feira de Santana. Surpreendentemente, o resultado dessa gravação teve tanta energia, que todos os que tiveram a oportunidade de escuta-la, ficaram impressionados. Foi um material muito mal divulgado, mas serviu como um bom cartão de visitas. Creio que foi com ela que conquistamos o público de Salvador. Lembrando de uma história… Certa vez, convidamos uma guitarrista para tocar conosco. Então levamos a demo para que ele pudesse fazer uma audição – conquistamos o cara no mesmo instante, que ficou surpreso com a desgraça!

Depois de dois longos anos a banda lança a segunda demo “Fleshless Remains”, com quatro faixas do mais puro e Brutal Death Metal. No seu ponto de vista, foi a partir dessa demo que a banda começou a ser conhecida na cena brasileira? Pelo que tenho visto, essa demo é muito procurada até hoje pelos amantes do estilo…

2001 Fleshless Remains “Demo”

Yuri Hamayano: Exatamente isso. Eu tive uma preocupação enorme com a divulgação da “Fleshless Remains”. Catei o contato de muitos zines, mandei para algumas revistas da época, preparei um monte de flyers. Creio que ela tenha chegado à muita gente, principalmente no sudeste do país. Quando comecei a viajar com o Mystifier, notei o quanto essa divulgação havia sido efetiva, pois as pessoas me procuravam para perguntar pela Deformity, enquanto que outras comentavam que trocavam cartas comigo. Em outros momentos, encontrava com pessoas que relatavam possuir a demo… É muito gratificante sentir que as pessoas tiveram acesso ao seu trabalho. Tivemos a preocupação em incluir a faixa “Disgrace is Coming”, já que ela não tinha sido muito divulgada, e percebemos que essa havia ficado mais brutal que as demais. Lucio ficou abusando quanto a isso por um bom tempo. Logo depois de seu lançamento, as fitas K7 entraram em desuso e passamos a divulgar a demo no formato demo-CD. Recentemente, algumas pessoas voltaram a perguntar pelo formato fita K7. Tenho que me organizar para voltar a divulga-la, pois perdi os arquivos da capinha.

Já com muita visibilidade no extremo underground, a banda, em 2002, foi convidada a participar de um split CD, lançada pelo selo brasiliense Kill Again Records, junto com as bandas: Imperial Devastation, Sangrena e Purgatory. Como foi recebido esse convite por vocês? Como foi participar deste split?

2002 Killing All The Posers “Split”

Yuri Hamayano: Isso foi fruto da ótima repercussão da demo “Fleshless Remains”. Conhecíamos o Jaime Amorim do The MetalVox e ele nos deu uma grande ajuda com a divulgação. Ele é uma pessoa muito bem relacionada dentro do underground e usou a sua rede de contatos para nos dar uma força. Com isso, ele facilitou a nossa participação na trilha sonora do filme “Feto morto”, da Black Vomit Filmes (blackvomit.com.br). Outro contato importantíssimo intermediado por Jaime foi com Antonio Rolldão, da Kill Again Rec. Isso possibilitou a nossa ida a Brasília para abrir o show do Vader, além do convite para participar do CD coletânea “Killing all the Posers”. Todos esses três fatos foram recebidos com muito entusiasmo pela banda. A primeira vez a aparecer num CD prensado oficialmente é uma experiência muito empolgante! Não havia como negar essas propostas! Essa coletânea também ajudou bastante em nossa divulgação. As demais bandas são foda… Infelizmente, apenas a Sangrena ainda está em atividade. Agradecemos ao Jaime Amorim (themetalvox.com.br) e a Rolldão pelo suporte, ajuda, e força que eles deram. A Deformity sempre estará em dívida com eles!

Quatro anos depois (bastante tempo) a banda lança, em 2006, mais uma demo com um título bem interessante (“There’s More Blood Coming”), que nos remete ao título da primeira demo e conta com apenas duas músicas. Qual o motivo para lançar seus materiais com longos espaços de tempo?

2009 Advanced Tracks For Annihilation “Promo”

Yuri Hamayano: Pois … lembra quando eu citei o grande Fúlvio? Ele teve participação direta na composição de “Squeezing Necks”, que saiu nessa demo. As contribuições dadas por ele, além da participação de Diego nessa época, começaram a traçar uma nova rota para a Deformity, que culminou no resultado apresentado no EP “Torturing Unfortunate People”, 10 anos após a ideia ser iniciada. Falando novamente acerca da questão temporal, havia dois grandes fatores que sempre foram decisivos para a demora entre os nossos lançamentos. O primeiro deles, já comentado, estava relacionado com a parte técnicas, como a carência de produtores especializados na cidade, escassez de dinheiro à mão para conduzir as ideias, falta de experiência dos músicos e, principalmente, falta de estratégias para a divulgação da banda. “There’s more blood coming” foi o nosso primeiro material gravado em Feira de Santana – para conseguir fazer isso, nós próprios tivemos que lançar mão da produção, mesmo sem entender do assunto, com a ajuda do dono do estúdio que sequer tinha muita experiência com gravação em geral. Ao menos, já se sabia um pouco do que não fazer. O segundo e, talvez, mais preponderante dos fatores era a velocidade com a qual conseguíamos compor as músicas. Para se ter uma ideia, as dez músicas que fazem parte do álbum “AnthroposDeadGoreDisgustingPhagia” refletiam toda a nossa produção desde 1997 até 2006. Uma média de quase uma música por ano! Mas também sempre fomos muito perfeccionistas e queríamos que nossos lançamentos estivessem à altura dos materiais de outras bandas apresentavam materiais muito cuidadosos. Posso até afirmar que essa busca infindável acabou atrapalhando e atrasou muito os lançamentos.

Essa demo me apresentou o Deformity BR com mais sede de sangue. O Ódio com certeza é um dos sentimentos que temos ao ouvir este famigerado material. Fale-nos a respeito da aceitação e distribuição desta demo…

Yuri Hamayano: Como eu disse, essas composições eram a nova centelha, pronta a provocar uma nova explosão dentro das nossas composições. Estávamos com vontade de trazer algo mais brutal, mais trabalhado, mais insano. Por outro lado, posso afirmar que o processo de distribuição sempre foi algo difícil para mim. Hoje percebo o quanto falhei nessa tarefa de mostrar ao Brasil o som que estávamos fazendo. Parece que só tive gás para fazê-lo na “Fleshless Remains”. Quanto a “There’s more blood coming”, acabei divulgando mais com a ajuda das viagens que fazia com o Mystifier; a entregava ela direto nas mãos das pessoas! Sua divulgação não foi tão boa quanto a anterior. Mas quem teve acesso, gostou do que escutou e, felizmente, tivemos bons retornos deste material, apesar desta ter sido muito mal distribuída.

Os fãs, como eu, que seguem a banda desde o início tiveram, finalmente, o prelúdio do que seria a destruição anunciada para o Debut, quando chegou em nossas mãos a Promo “Advanced Tracks to Annihilation”. Ainda assim, de forma completamente independente. Mas, em minha opinião, esse foi o divisor de águas na carreira da banda. Qual a sua visão a respeito desta Promo?

Yuri Hamayano: A intenção era justamente essa: fazer uma prévia do que estaria por vir no álbum. As músicas que fizeram parte dessa promo foram gravadas exatamente para o álbum. Como percebi que o álbum demoraria um pouco mais a sair, resolvi lançar a promo, apenas para dar uma amostra grátis da pancadaria. Claro, mostrei as músicas antes que essas pudessem passar pelo processo de mixagem, feita pelo mestre Jera Cravo. Eu mesmo passei uma equalização mal feita nas músicas, e as coloquei na promo… kkkk. Eu passei essas músicas para uma quantidade ainda menor de pessoas… apenas para mostrar que estávamos em atividade.

2010 AnthroposDeadGoreDisgustingPhagia “1º Álbum”

Apesar de todas as dificuldades, a banda alia-se a Thundergod Productions e, em 2010, foi lançado o tão esperado debut álbum: “AnthroposDeadGoreDisgustingPhagia”. Este álbum finca definitivamente a banda entre os grandes nomes do extremo em nosso país. Por que tanto tempo para lançar esse, como já falei, o tão esperado álbum?

Yuri Hamayano: O processo para conseguir fechar essa gravação foi parecida com o da demo “There’s more blood coming”, ou seja, um trabalho desgraçado! A bateria foi emprestada de um amigo e um guitarrista foi chamado para timbrar a guitarra. Quando ele chegou ao estúdio, a primeira coisa a notar foi que a guitarra precisava ser regulada. Ou seja, a gravação foi interrompida antes mesmo de começar… kkk. Gravamos apenas seis músicas. Depois que estava tudo pronto, percebemos que aqui só daria para lançar um EP. Quando quisemos gravar mais quatro músicas, já não tínhamos mais a disponibilidade do mesmo amplificador de guitarra. Então esperamos mais um ano até ter novamente condições similares para gravar as demais músicas. Com as músicas gravadas, as levamos para outro estúdio fazer a mixagem. Não deu certo, pois o técnico não conseguia chegar a um resultado animador. A última saída foi levar o material para ser mixado em Salvador, com Jera Cravo. Depois de muitos erros durante a gravação, ele conseguiu fazer mágica e salvar as músicas. O resultado foi esse que todos conhecem! Então iniciamos outra caminhada para fechar uma parceria para o seu lançamento. Mandamos o álbum e tentamos conversar com diversos selos brasileiros, mas essa busca só foi finalizada quando fechamos com o Thundergod Prods. Foi sorte, pois essa parceria investiu uma energia enorme para fazer a divulgação desse material!

Após o lançamento do debut, li resenhas na mídia especializada que o colocavam entre os mais importantes álbuns nacionais. A distribuição dentro país foi satisfatória para você?

Yuri Hamayano: Eu acredito que sim, pois os resultados foram muito positivos. Como eu falei, foi uma energia tremenda que foi colocada nesse processo de divulgação. Nós nos preocupamos muito com a distribuição nos meios de divulgação underground. Quem pensa que esse processo de divulgação é simples, está muito enganado. Não basta a disponibilidade de dinheiro – é necessária muita vontade e disposição! Infelizmente, não conseguimos atingir todo o Brasil.

Quanto ao exterior, esse trabalho também foi distribuído por lá?

Yuri Hamayano: Com o material prensado em mãos, tive a ideia de aventurar um selo estrangeiro para fazer sua distribuição. Mas parece que o pessoal não viu muita novidade na Deformity. O máximo que consegui foram algumas trocas. Ainda aconteceu uma desventura, na qual trocamos vinte unidades com a Sevared Rec., mas houve algum problema com o serviço de entrega e o pacote nunca chegou em nossas mãos.

Depois deste grande feito, a banda ficou adormecida por três anos. O que aconteceu?

Yuri Hamayano: Cara, exatamente nessa época houve problemas pessoais com o Julio, que acabou se afastando dos trabalhos da banda. Estávamos em trio nessa época, então este fato forçou umas férias na banda. O chato é que isso aconteceu exatamente durante o processo de divulgação do álbum. Assim, os projetos que existiam para a divulgação física, com os shows, ficou comprometida. As coisas foram esfriando e a banda quase acabou. Felizmente, conseguimos arrumar a casa, reorganizar a formação, e retornar com gás total!

2015 Born To Punish The Skies Vol. 2 “Tributo ao Headhunter D.C.”

Como vocês mesmo escreveram em sua bio, em 2013 a banda retomou seus batimentos cardíacos e retornou ao massacre. Assim, em 2015, a banda ressurge e faz uma participação impecável no tributo ao Headhunter D.C., chamado “Born to Punish The Skies”, tocando a música “From Dream To Nightmare”, apresentando a banda como um quinteto. Entraram na banda dois novos membros: Diego “Corpsegrinder” na guitarra e o Tarcísio Medeiros no Baixo. Como foi este retorno com a banda junto a estes novos membros?

Yuri Hamayano: A condição essencial para a banda retomar a atividade era ter sangue novo, colocando mais gás na banda. Assim, convidei o Tarcísio, que tocava baixo com a Martyrdom, para fazer parte desse assalto. Ele aceitou no mesmo instante. Até então, Lucio estava acumulando o baixo e vocal, mas precisávamos de alguém que pudesse acrescentar ao nosso trabalho, deixando Lucio mais à vontade para as suas vociferações alucinadas. Ao mesmo tempo, tive a ideia de convidar o Diego. Ele já havia passado Deformity em duas ocasiões distintas: a primeira como guitarrista, em 2000, se não me engano; a segunda, como baixista em torno de 2005, com a saída do Marcello (ex-Martyrdom). Diego tem uma mente doentia e uma facilidade inigualável para compor (para conferir o que estou relatando, basta escutar as músicas da Rotten Cadaveric Execration, sua banda de gore grind). Assim a banda estaria pronta para a sua fase mais sangrenta! Foi justamente a interpretação que Diego deu para a guitarra de “From dream to nightmare” que nos permitiu deixar essa música com a nossa cara! Foi um retorno com uma chave podre! Tivemos a oportunidade de participar do tributo a uma banda que admiramos, tocando uma música do álbum que mais admiro. Acho que conseguimos fazer uma interpretação à altura do que a Headhunter D.C. merece!

No ano seguinte (2016) a banda, já com sua formação estabilizada, lança o EP “Torturing Unfortunate People”. Esse EP é definitivamente um dos materiais mais Brutais que já ouvi. Fale-nos a respeito da concepção deste trabalho…

2016 Torturing Unfortunate People “EP”

Yuri Hamayano: Como eu deixei claro, o processo que culminou nesse EP começou por volta de 2005, mas esse projeto ficou parado até o retorno de Diego à banda. Com seu retorno, tivemos gás o suficiente para retomar duas composições que estavam meio caminho andado, e compomos outras duas. A forma que Diego pensa as composições abre espaço para todos os demais instrumentos, assim como para os arranjos de vox. Assim conseguimos imprimir uma pancadaria completamente diferente do primeiro álbum: mais madurecida. Para fechar a tampa deste caixão, convidamos o guitarrista Victor Porto para fazer os solos, que ficaram animais. Aliás, ele também gravou o solo para a música do tributo ao Headhunter D.C., abrilhantando ainda mais essa. Para aumentar a boa impressão em torno do EP, trabalhamos com a Putrid Design. Claudio seguiu a nossa ideia de uma música torturante e desenvolveu um projeto gráfico tão doentio quanto a nossa música. Tudo completo e fechado para atingir o propósito final. Nós ficamos muito contentes com o resultado e temos consciência de nossos erros e falhas. Isso significa que a experiência está aumentando, assim como a cobrança própria. A expectativa é que o próximo material saia ainda melhor e mais interessante.

Para o lançamento deste EP a banda contou com a união de três selos “Rise Of Cthulhu”, “Pictures From Hell” e “Sociedade Dos Mortos”. Como surgiu essa parceria? Como está sendo a experiência de trabalhar com estes selos?

Yuri Hamayano: A parceria surgiu através de Elimar do Thundergod, que fez contato com o Junior da “Pictures  from Hell” e abriu as negociações. O grande Junior aceitou o desafio e buscou a parceria de Gleison do “Sociedade dos Mortos” e Sócrates, que estava estreando com a “Rise of Cthulhu”. Eu já admirava esses caras antes de trabalharmos juntos; agora mais ainda! Quando a equipe viu o material gráfico e escutou as músicas, fizeram a proposta de um lançamento em digipack. Foi a escolha mais acertada para o seu formato. Apesar de termos rodado apenas 500 cópias, o material se esgotou em muito pouco tempo! O único erro nosso foi não ter negociado e estabelecido um projeto de divulgação para o material. Com isso eu tive que me virar, com poucas cópias em mãos, para enviar o material para a mídia especializada. Tentei ser mais abrangente desta vez, escolhendo ao menos um representante de cada região do país, mas não pude enviar para todos zines que tive vontade. Os comentários e impressões foram muito bons, o que é muito gratificante diante do esforço que fizemos para que esse material fosse lançado.

Como este último lançamento é um EP, logo pensamos: vem o segundo álbum aí, devastador como a banda sempre foi. De fato, podemos esperar mais um trabalho em breve?

Yuri Hamayano: Com toda a aprendizagem desses quase 23 anos, agora estou mais atento aos projetos e às programações. De fato, já deveríamos estar começando o processo de gravação desse próximo álbum agora para tentar um lançamento em 2019, mas diversos problemas pessoais acabaram atrasando o processo de composição. Temos poucas composições novas, mas eu estou muito animado com todo o processo e espero poder dar início a esses planos de gravação em breve. Uma coisa eu garanto: as músicas estarão tão, ou ainda mais avassaladoras que aquelas presentes no EP. Vou tentar amarrar as letras de maneira mais conceitual e pensar com mais cuidado nos pequenos detalhes. Também espero conseguir desenvolver um projeto gráfico e uma gravação tão bons quanto os que foram apresentados no EP. Já estou conversando com um estúdio aqui da cidade e o cara me apresentou milhões de novas ideias para melhorar o som da guitarra. Parece-me que tudo está sendo mais bem planejado dessa vez. Até lá, estamos preparando uns vídeos para que possamos ter alguma novidade para os bangers.

O baixista Tarcísio Medeiros já não faz mais parte da banda, assim como o vocalista Lucio. Krusius Barreto acabou assumindo ambas as posições. Como está sendo essa adaptação no vocal? Qual a sua opinião a respeito da atual formação do Deformity BR?

Yuri Hamayano: Houve uma verdadeira reviravolta na banda nesses últimos dois anos. Inicialmente, não havia planos de mudanças na formação. Tínhamos umas datas para apresentações em Natal e Recife, mas o Tarcísio sinalizou que não teria a possibilidade de estar conosco. Nós não conhecíamos o Krusius, mas eu sabia que ele era baixista e vocalista da banda Ímpios e que estava morando em Feira de Santana. Com isso, fizemos o convite para ele nos ajudar nesses shows e tudo correu bem. Após esse fato, coincidentemente, os fatos convergiram para a saída do Tarcísio. Como eu já comentei, um fato parecido aconteceu com Lucio, que também não pôde participar de alguns shows, tendo a substituição feita por Krusius. Pouco tempo depois, Lucio anunciou o seu desligamento e fomos compelidos a resolver o problema da maneira mais prática: Krusius assumiu ambas as posições. Ele é novo (quase da idade da banda), mas é uma pessoa completamente conectada ao underground, conhecedor do metal extremo, comunicativo e um ótimo músico. Ele entendeu rapidamente a proposta de nosso trabalho e vem dando muitas contribuições para que as engrenagens se mantenham em perfeito funcionamento. A adaptação dele foi um desafio, pois as músicas estão ganhando maior complexidade, enquanto que os arranjos de vocal tiveram que ser repensados para não descaracterizar as músicas e, ao mesmo tempo, permitir certo conforto à sua execução. Quanto ao timbre do vocal, não há o que ser feito. Agora é entrar num estúdio e ver como o timbre harmoniza com as novas composições, mas sou otimista e acredito que já deu certo. Finalmente, posso afinar que essa nova formação, em quarteto, está pronta para continuar derretendo os tímpanos alheios. Estamos muito contentes com o trabalho resultante.

Yuri Hamayano, muito obrigado por nos dedicar o seu tempo e sua atenção, espero poder ter a oportunidade vê-los por aqui, destruindo tudo. Será um prazer revê-los. Um forte abraço e conte sempre com a Roadie Crew…

Yuri Hamayano: Éden, nós sequer temos palavras para descrever a felicidade que foi ter novamente o seu contato, ainda mais com um convite como este. Somos muito agradecidos pelo espaço e pela força que você e a Roadie Crew estão dando para a Deformity BR. Quanto à possibilidade de você ver a Deformity ao vivo, atualmente temos buscado meios alternativos para facilitar a nossa ida a algumas localidades mais distantes da Bahia… Se tudo der certo, já temos planos para um giro no estado de SP para o próximo ano. Assim teremos a oportunidade de nos encontrarmos pessoalmente. Dismembraço para você! Hails a todos os bangers!

Ao ler essa entrevista houve um momento que o Yuri se espantou com a minha afirmação à respeito do seu alto nível técnico como baterista. “Alto nível técnico? É mesmo? Kkkk…”. Abaixo segue uma Drum Cam feito durante as gravações do EP “Torturing Unfortunate People”. Assista e veja se não foi correta a minha afirmação….

Abaixo segue uma apresentação do Deformity BR no Palco do Rock gravado em fevereiro deste ano (2018). No inicio deste vídeo o áudio na está muito bom, logo tudo se normaliza e podemos conferir toda sua brutalidade ao vivo:

https://youtu.be/_Rf1RmAhs6Y

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