Ethan Brosh foi o escolhido para abrir uma tour de 25 datas de Yngwie Malmsteen. Isso deve ser suficiente para dar uma boa referência sobre o talento desse guitarrista. Ele acaba de lançar “Live The Dream”, seu segundo disco solo instrumental que mescla técnica e virtuosismo, mas, ao mesmo tempo, deixa claro que há muita fúria em suas composições e em sua forma de interpretá-las. O álbum foi mixado por Max Norman (Ozzy Osbourne) e conta com a participação de Dave Ellefson (Megadeth) no baixo. Seu trabalho de estreia, “Out Of Oblivion”, saiu em 2009 e contava com as presenças de Mike Mangini (Dream Theater, Steve Vai), George Lynch, Greg Howe (Michael Jackson) e Derek Riggs (Iron Maiden), além de ter sido produzido por Chris Tsangarides (Ozzy, Judas Priest). Ethan ainda é integrante de duas outras bandas: Angels Of Babylon, que conta com Ellefson o baterista Rhino (ex-Manowar) e já dividiu palcos com nomes como Lynch Mob, Michael Schenker, Enuff Z’nuff e Danger Danger, e Burning Heat. Nesta entrevista, Brosh fala sobre seu trabalho e seu envolvimento com a música.
Você estudou violão clássico em Israel. Como foi essa experiência?
Ethan Brosh: Quando eu comecei a tocar, todo mundo partia do princípio que para se tornar um bom guitarrista era preciso começar com o violão clássico. Então, foi o que fiz. E também porque eu amava o violão clássico, na verdade, ainda adoro e gostaria de ter tempo de me dedicar mais a ele atualmente.
Há bons guitarristas em Israel?
Ethan: Sim! Meu antigo professor de violão, Eyal Freeman, é, na minha opinião, o melhor guitarrista do planeta! E, sim, há muita gente talentosa por lá.
Como foi gravar “Out Of Oblivion”? Desde o princípio você já sabia exatamente o tipo de trabalho que pretendia fazer?
Ethan: Eu sabia o que queria fazer, mas não tinha a menor ideia de como fazer aquilo. Tive que aprender muito durante todo o processo de gravação – inclusive, foi um dos motivos por que ele levou dois anos e meio para ficar pronto. E, levando em conta os recursos de que eu dispunha na época, ficou muito feliz com o resultado. Coloquei todo meu esforço para fazer esse disco.
Você chegou a mapear os timbres e os efeitos que ia usar antes de gravar?
Ethan: Eu descobri os timbres apropriados conforme fui gravando. Gastei muito tempo com isso porque fiquei experimentando vários amplificadores até achar o som ideal para cada música.
E que tal foi trabalhar com Chris Tsangarides?
Ethan: Foi um enorme prazer! Sou muito fã do seu trabalho. Passei uma semana com ele em seu estúdio na Inglaterra. Acabamos nos tornando bons amigos e passei um bom tempo lá ouvindo as histórias que ele viveu em todos esses anos convivendo com as pessoas malucas da indústria musical.
Você fez um dueto com George Lynch em “Downward Spiral”. O que você mais admira no estilo dele?
Ethan: Tudo que George toca é instintivo e esse é um dos motivos pelo qual ele é tão especial. Seu fraseado é incrível, é puramente musical. Seu ataque é Heavy Metal puro, pra ele é o melhor guitarrista de Metal de todos os tempos.
“Blast Off” é uma bela faixa mas que não tem bateria. Uma música com essa característica muda em algo sua forma de tocar?
Ethan: Essa música foi inspirada naqueles acordes épicos de teclados que ela tem. Esse tipo de abordagem acaba inspirando uma outra forma de tocar, mas o interessante é que ela surge de forma totalmente natural.
Em “Night City” você usou violão. De onde surgiu sua paixão por esse instrumento?
Ethan: Isso tem a ver com o fato de eu ter começado a aprender violão clássico muito jovem porque queria me tornar guitarrista. E, como eu disse antes, acabei me apaixonando pelo instrumento. Adoro o som das cordas de náilon. E o início de Night City é algo que eu criei ainda na adolescência.
O que você acha de guitarristas como like Jeff Beck e Ritchie Blackmore?
Ethan: Acho Jeff Beck absolutamente incrível. Você descobre o quanto ele é bom quando tenta tocar alguma de suas músicas. Ele é tremendamente musical! Pode fazer algo simples numa escala pentatônica que todo mundo domina e transformar isso em algo totalmente melódico e agradável. E seu controle da alavanca é incrível! E Richie Ritchie Blackmore escreveu Smoke On The Water. O que mais posso falar dele?
O que você acha da frase a seguir: ‘Os guitarristas modernos têm muita técnica, mas quase nenhuma personalidade’?
Ethan: Bem, acho que isso depende de cada guitarrista. Está cheio de gente talentosa por aí, mas acontece de os bons guitarristas não terem o reconhecimento que merecem. De todo modo, às vezes eu vejo gente da nova geração, da ‘geração YouTube’, que aprende a tocar de um modo extremamente veloz mas não sabe como usar isso.
De fato, você abre o YouTube e vê crianças de 13 anos fritando guitarras como demônios. Como você se vê como guitarrista hoje?
Ethan: É uma boa pergunta e eu estou pensando na melhor forma de te responder… Ainda acho que escrever boas músicas e se apresentar bastante são os melhores caminhos para se tornar um bom músico.
Foi muito diferente gravar com o Angels Of Babylon em comparação com seus discos solo?
Ethan: Sim, é bem diferente porque no Angels Of Babylon eu sou parte de uma banda e toco apenas os solos e umas partes de violão com cordas de náilon. No fim, acaba sendo mais fácil porque o trabalho não fica todo comigo. E também não tive que escrever todas as músicas. Nos meus discos, eu tenho que cuidar de rigorosamente tudo, o que faz uma grande diferença.
E que tal é trabalhar com David Ellefson e Rhino?
Ethan: É ótimo! Ambos são ótimos músicos e ótimas pessoas. Estou feliz com o disco que fizemos e sinto muito orgulho desse material, elas já são parte da minha história. Sempre fui grande fã de Rhino e de Dave, então foi excelente pra mim.
“Out Of Oblivion” tem um excelente trabalho de guitarra. Como fazer para dar um passo adiante em “Live The Dream”?
Ethan: A produção de ‘Live The Dream’ é muito melhor. Também já tinha uma noção muito melhor do que deveria fazer do que na época do primeiro disco. E, é claro, o desenvolvimento como músico e como compositor faz uma diferença. No novo disco eu também tive um direcionamento mais claro, o anterior acabou ficando bastante variado.
Você é daqueles guitarristas que tenta sempre ampliar seus limites descobrindo novas técnicas e novos timbres?
Ethan: Claro! Nunca entendi músicos que fazem sempre a mesma coisa e praticam apenas o que já sabem. Fazendo assim, como você vai ter novas ideias? É uma busca que nunca tem fim!
Tanto o tema como o solo da música “Living The Dream” são muito bonitos. Como é seu processo de composição? Você fica procurando novas alternativas harmônicas e diferentes sequências de acordes?
Ethan: Obrigado pelo elogio… Minha forma de compor é bem variada, mas eu sempre estou procurando por coisas novas. Os timbres precisam ser diferentes uns dos outros, especialmente no caso de músicas instrumentais. Afinal, você tem que manter o interesse do ouvinte de alguma outra forma quando não tem um cantor.
“Space Invaders” é uma música que se destaca pelo ritmo, ou seja, pelo seu trabalho de mão direita. Quais são os guitarristas que mais o influenciaram nesse aspecto?
Ethan: Como guitarristas base, sem dúvida Nuno Bettencourt e Jake E. Lee. E como violonistas, Tommy Emmanuel e Vicente Amigo são uma grande inspiração para mim.
Há muitas harmonias nas guitarras em “Space Invaders”. Você é fã do recurso chamado ‘guitarras gêmeas’?
Ethan: Bem, eu cresci ouvindo Iron Maiden, eles sempre foram uma das minhas bandas favoritas. Então, é lógico que adoro guitarras dobradas! Mas, como disse, tive a preocupação de fazer com que as guitarras soem diferente em cada faixa. Há lugar e momento para tudo.
É sua irmã Nili Brosh que toca a outra guitarra? Como é sua relação com ela?
Ethan: Sim, é ela. Nossa relação é a normal de irmãos, tanto nos bons como nos maus momentos.
Como vocês dividiram as partes que cada um tocaria?
Ethan: Eu passo tudo para ela ouvir e depois no sentamos e definimos o que cada um fará. Normalmente é assim que funciona.
Ethan: Sim, sou muito fã do seu trabalho. Adoro ‘Bark At The Moon’, mas a melhor sonoridade que ele conseguiu, na minha opinião, foi em ‘Wicked Sensation’, do Lynch Mob. Estou muito feliz que ele tenha concordado em interromper sua aposentadoria para trabalhar no meu disco. Ele levou o trabalho muito a sério e você percebe isso claramente quando ouve o disco.A banda Burning Heat foi construída em torno de sua guitarra e do vocal de Carlos Adrian Araiza. É uma forma de arte diferente para um guitarrista acompanhar um cantor?
Ethan: Sem dúvida que é. Nesse caso, a gente tem que saber exatamente o momento em que a guitarra deve aparecer para que ela não cubra a voz.
Seu solo em “Too Raw” é inacreditável! É Louco e inesperado! Parece até que você se sente mais livre no Burning Heat uma vez que a guitarra não é o centro das atenções. Seria isso?
Ethan: Sim, é isso mesmo. Com o Burning Heat eu posso relaxar e me divertir tocando Rock sem ter que me concentrar em cada nota que estou tocando. E é por isso que eu adoro os dois formatos.
Uma música emblemática desse trabalho é “What The Hell Happened To Rock N Roll”. Então, eu lhe pergunto: o que aconteceu com o Rock’n’Roll (N.T.: o título da música em questão significa algo como ‘que diabos aconteceu com o Rock’n’Roll?’)
Ethan: O que aconteceu com o Rock foram várias coisas: os downloads ilegais, a economia ruim e, infelizmente, muita música ruim. A música descreve essa situação sem meias palavras. Mas eu não tenho a solução a essas questões, acho até que ninguém tenha…
Quando você pensa nas bandas clássicas, como Deep Purple, Led Zeppelin e Pink Floyd, percebe que cada uma tem sua identidade. Hoje em dia, a maioria das bandas de Metal e até de Indie soam iguais. Por quê?
Ethan: Acho que é uma questão de mercado. Um selo copia o outro quando vê que aquele primeiro se deu bem. E a pergunta é: como a primeira dessas bandas conseguiu um contrato?
Como foi excursionar com Yngwie Malmsteen? Ele é uma de suas influências?
Ethan: Fazer essa turnê era tudo que eu poderia almejar! Foi simplesmente o máximo! E, sim, Yngwie teve uma grande influência sobre mim, ele é um dos meus músicos favoritos. Inclusive, eu me esforcei muito para não me tornar mais uma cópia dele, como tantos fazem. Por isso, procurei fazer as coisas à minha maneira. Mas ele é uma das minhas grandes influências não apenas como guitarrista, mas como compositor.
Então, deve ter sido fantástico abrir para ele todas aquelas noites!
Ethan: Claro que foi! A experiência de vê-lo tocar noite após noite foi algo que vou levar comigo por muitos e muitos anos. Eu só queria subir no palco e me sentir tão confortável como ele mostrava estar. Porque o nome do jogo é ‘tocar Rock’n’Roll em condições nem sempre favoráveis’. E eu aprendi que a gente tem que estar preparado para essas situações.
Quais novos guitarristas têm chamado sua atenção?
Ethan: Considero Guthrie Govan muito bom no que faz – e ele faz muitas coisas diferentes! Dá a impressão de que ele pode tocar qualquer coisa que quiser e essa é uma forma bastante interessante de abordar a música. Também gosto muito de Rob Marcello. Tudo que ele toca se encaixa naquele estilo glamoroso dos anos 80. Tudo que ele toca soa realmente muito agradável.