Ninguém discute que o Reino Unido é o berço de revolucionários movimentos musicais, como o Punk e o New Wave of British Heavy Metal. Muito menos que é lar de lendárias bandas: Led Zeppelin, The Clash, Sex Pistols, Iron Maiden… No entanto, a Inglaterra foi de onde saiu boa parte desses artistas, restando uma minoria para seus vizinhos. Mas não pensem, por isso, que não existem grandes músicos nos outros países. Para provar isso, das Quedas de Falloch, cachoeira próxima a Crainlairch, no coração da Escócia, surge Falloch, banda que mistura instrumentos Folk tradicionais de seu país com as tradicionais guitarras, baixos, baterias e teclados. E pela sonoridade de sua música – apesar de bem menos depressiva – e seu nome, já é comparada ao Agalloch, banda norte-americana de Atmospheric Metal. O gênero, por ora, é o que menos importa ao guitarrista e tecladista Scott McLean, que fala com exclusividade para a ROADIE CREW, e ao vocalista e guitarrista Andy Marshall, capitães do Falloch, que ainda conta, ao vivo, com Ben Brown (baixo) e Steve Scott (bateria). Com pés no chão, McLean admite que há muito o que melhorar, principalmente a performance ao vivo – até agora fizeram apenas oito concertos – e o vocal, ponto baixo do debut “Where Distant Spirits Remain”, claramente ainda muito amador. Ainda assim, já receberam reviews assombrosos dos principais veículos especializados pelo mundo. E com justiça: “WDSR” será lembrado ‘individualmente’ por “We Are Gathering Dust”, “Where We Believe”, “The Carying Light” e “To Walk Amongst The Dead”, e pelo conjunto, uma obra homogênea e linear, introspectiva e bela.
Pouca gente no Brasil conhece bem a música escocesa. Por aqui, toca-se bastantes artistas ingleses, mas quase nenhum da Escócia. Você pode nos falar um pouco sobre os principais artistas e gêneros musicais de seu país?
Scott McLean: Na verdade, não ouço muita coisa da música escocesa. No geral, o gênero mais popular é o Indie Rock. Gosto bastante de uma banda chamada The Twilight Sad. Vale a pena conferir. Como banda, nós temos como influência a música folk escocesa mais tradicional. Tentamos incorporá-la à nossa música usando instrumentos tradicionais, como tin whistle (pequena flauta típica da música celta) e bodhrán (instrumento musical de percussão irlandês).
Apresente o Falloch aos brasileiros que nunca ouviram.
Scott: A banda foi formada no final de 2009, começamos a escrever e gravar para o primeiro álbum em 2010 e lançamos ‘Where Distant Spirits Remain’ no ano passado. Queríamos fazer um CD que capturasse a atmosfera e os sentimentos que sentimos em alguns locais especiais da Escócia, como a Ilha de Skye ou Glencoe.
Eu ouvi “Where Distant Spirits Remain” e me senti bem. Soa como Agalloch, mas não tão depressivo. Eles são uma influência para vocês?
Scott: Cara, não os temos como influência. Agalloch não é nem uma banda que ouvíamos. Acredito que o motivo para as pessoas pensarem nisso é a semelhança entre os nomes. Nem nos ligamos nisso quando decidimos pelo nome Falloch, por isso acho que temos nossa parcela de culpa por todas as comparações com o Agalloch. O nome Falloch veio das Quedas de Falloch, uma das cachoeiras mais bonitas da Escócia, perto de Crainlairch, e também significa escondido em escocês gaélico.
Como surgiram as músicas de “Where Distant Spirits Remain”?
Scott: O processo de composição das músicas para o álbum foi bastante simples. Escrevemos e gravamos as linhas instrumentais e, basicamente, continuamos compondo até sentirmos que tínhamos um bom material para um álbum completo e que transmitia as atmosfera e emoção que procurávamos. Uma vez com isso gravado, passamos a trabalhar com os vocais e as letras. No geral, os recebemos bons reviews. Estamos felizes com o resultado, embora saibamos que há algumas coisas que precisamos melhorar. Particularmente, acho que temos de evoluir os vocais. Quando entramos em estúdio, Andy (Marshall) nunca tinha cantado antes.
Foram vocês dois que gravaram todos os instrumentos em estúdio? E ao vivo? Têm uma banda de apoio?
Scott: Sim, tudo foi gravado por mim e Andy. Tivemos alguns amigos tocando instrumentos secundários, como violinos e violoncelos, além do solo de guitarra no final de ‘The Carrying Light’. Já ao vivo, o line up é o seguinte: Andy Marshall (vocal e guitarra), Ben Brown (baixo), Steve Scott (bateria) e eu no vocal, guitarra e teclado.
Na hora de escrever ou compor, algo na natureza os inspira? Ao ouvir Falloch e outras bandas, como Agalloch, Woods of Ypres, Luke e Empyrium, sinto essa conexão.
Scott: Andy escreveu todas as letras se baseando em experiências pessoais e em sentimentos que teve em contato com a vasta natureza da Escócia. Então acho justo dizer que sim, é um tema que inspira nossas músicas. Fora Empyrium, não conheço essas bandas que você citou. Mas sinto essa conexão ao ouvir Tenhi e a própria Empyrium, principalmente o álbum ‘Weiland’, que, particularmente, é um de meus CDs favoritos.
Quais os próximos planos? Entrar em turnê? Novo CD? A música “The Ghosts That Haunt This Path”, do primeiro single, será usada?
Scott: Atualmente estamos compondo para nosso secundo álbum. Esperamos entrar em estúdio o mais rápido possível. ‘The Ghosts That Haunt This Path’ não está nos planos. Ela é a primeira música que gravamos como Falloch, mas não sentimos que se encaixava com o restante das músicas. Só foi lançada quando nossa gravadora perguntou se tínhamos algum material extra para o single digital que lançamos, ‘Beyond Embers & The Earth’. Estamos também fazendo alguns shows, a maioria pelo Reino Unido, mas esperamos fazer mais pela Europa em um futuro não muito distante. Mas ainda estamos nos primeiros estágios de se tocar ao vivo. Até agora, fizemos apenas oito shows. Então levará algum tempo para agendarmos uma turnê maior. Mas certamente adoraríamos tocar no Brasil.
Quais bandas brasileiras você conhece? Não vale dizer só Sepultura.
Scott: Na verdade, a banda que melhor conheço daí é o Angra. Conheço melhor do que Sepultura. Mas só ela mesmo.
A divulgação mundial de vocês se baseia muito na internet. Então o que você acha quando vê, por exemplo, o Megaupload ser derrubado? Banir o download grátis é o jeito certo de salvar a indústria musical?
Scott: Não acredito que vão conseguir parar com o download grátis/ilegal. E também não vejo o porquê de fecharem o Megaupload, tendo em mente que vários outros sites oferecem serviço semelhante. Então, isso não fez com que as pessoas, de fato, se tornassem incapazes de baixar músicas. Não entendo porque, recorrentemente, na indústria musical, as pessoas parecem tentar lutar contra a internet, sendo que ela é uma ótima ferramenta para promover e compartilhar músicas. Por outro lado, também não consigo entender várias pessoas que acham que música deve ser gratuita e não pagam por ela. Tanto trabalho que se tem para criar música que é uma pena ver pessoas acharem isso.
Como vocês tentam usufruir dos benefícios da internet?
Scott: Com Falloch, crescemos muito com a internet, então esperamos que as pessoas façam download das nossas músicas gratuitamente. Obviamente que agradecemos quando as pessoas que curtiram nosso trabalho pagam por ele. Mas seria ingênuo de minha parte se achasse que a internet não ajudou a nos tornarmos mais conhecidos. A internet tem os dois, influências positivas e negativas na música, mas não nos preocupamos com isso. Vamos apenas continuar fazendo a música que nos dá prazer e esperar que as pessoas comprem nossos álbuns.