Consideradas bandas coirmãs, a mineira Grey Wolf (de Contagem) e a paranaense Thunderlord (de Londrina) acabam de lançar, juntos, um material que exalta essa amizade e essa união em prol do heavy metal. Com temas épicos e movidos pelo poder do underground, a dupla disponibilizou o split Funeral to a Brother of Sword (2020), que contém cinco faixas do Grey Wolf, idealizado pelo baixista e vocalista Fábio Paulinelli, e quatro do Thunderlord, liderado pelo guitarrista e vocalista Peter Kelter. A seguir, você confere mais sobre esse trabalho nas palavras destes dois batalhadores da cena.
Como e de onde veio a ideia do split e como foi juntarem o Grey Wolf e o Thunderlord neste formato?
Fábio Paulinelli: Tive a ideia muitos anos atrás. Acho que as duas bandas têm similaridades, tanto pelos temas quanto pelo estilo. Em 2017, propus isso para o Peter, porque eu estava com algumas músicas sobrando. No entanto, ele estava com a atenção voltada para a gravação do segundo play deles (Conqueror, de 2017). Então não rolou naquele momento. Aí entra a história da capa do split. Ela na verdade seria para meu quarto álbum de estúdio, o The Last Journey of an Old Viking (2019). Encomendei uma ilustração ao Nicolas Bournay (artista francês), só que o cara sumiu e, depois de muito tempo, reapareceu com uma capa que não tinha nada a ver com o que eu precisava, e falei que não poderia utilizá-la. Depois, mostrei a capa ao Peter, que falou na hora: ‘Opa, essa é a capa do nosso split’. Aí vi que ele animou. Só que como eu estava investindo no meu quarto disco, o Peter é quem comprou a imagem. Depois a gente se acertaria. O Peter pediu para o Nicolas colocar os chifres num dos dois personagens da capa, o que representaria o Thunderlord. O Nicolas fez a alteração e vendeu a imagem. Daí, surgiu o split.
E você, Peter, quais suas impressões de uma forma geral? E como foi o processo de composição do Thunderlord?
Peter Kelter: Fiquei extremamente satisfeito com o resultado final, a produção cresceu, as guitarras ficaram encorpadas, a arte gráfica ficou excepcional, a composição nos agradou… Já em relação à maneira de compor, nós todos da banda moramos em cidades diferentes, o que torna muito difícil nos reunirmos para compor. Mas, à medida que surgem as ideias, anotamos, guardamos, organizamos tudo e, quando temos alguma coisa já esboçada, vamos para o estúdio. Essas músicas já estavam quase que prontas, porque elas entrariam no nosso terceiro álbum, porém foram redirecionadas para o split, e, por conta disso, o terceiro disco foi adiado.
É um split envolto a um conceito, pois tem a capa, em que há a presença de personagens representando as duas bandas, tem a similaridade do som e dos temas, e a faixa-título, que é do Grey Wolf e conta com os vocais de vocês dois.
Fábio: Eu escrevi essa letra olhando a imagem (da capa). A ideia que tive era reunir as duas bandas. Falei com o Peter que iríamos dividir os vocais. Cada um cantaria uma estrofe, haveria estrofe em que cantaríamos juntos… Achei legal.
E aí vem outra coisa interessante, pois essa faixa é a quinta, a que ‘divide’ o álbum. Antes dela, há quatro músicas do Grey Wolf. E depois dela, quatro do Thunderlord. Ou seja, ela fecha o tracklist de uma banda e inicia o da outra.
Fábio: Exatamente, por isso quis colocá-las como quinta faixa. Pois ela divide os vocais e já divide o trabalho também.
Peter: Foi espetacular participar dela com o Grey Wolf, uma banda que eu acho do caralho, e o Fábio é meu amigo, um puta compositor.
Vocês são fãs de splits?
Fábio: Sempre quis lançar um, tanto que a ideia foi minha, mas acho que as bandas precisam ter a mesma sonoridade para lançar. Não curto aqueles em que uma banda não tem nada a ver com a sonoridade da outra. Todo mundo envolvido ficou satisfeito com o resultado.
Peter: Eu acho legal demais! A história do metal brasileiro tem um split clássico e imortal, que é o do Sepultura/Overdose (Bestial Devastation/Século XX, de 1985) e que ajudou a construir um legado. É uma das coisas que mais representam o underground. Não só esse formato, como também as coletâneas que reúnem mais bandas. Vou até deixar plantada uma ideia aqui, armar uma coletânea com Thunderlord, Grey Wolf, Steel Warrior, Dragonheart…
Fábio, qual faixa do Thunderlord você mais curtiu no split?
Fábio: True Metal Avenger, acho ela marcante demais. Até falei com o Peter que todas as músicas do Thunderlord deram uma boa evoluída, uma elevada no nível de composições, em relação aos discos anteriores deles.
Peter, e qual do Grey Wolf você mais gostou?
Peter: Conan the Barbarian, sem dúvida. Ela já abre com aquela narrativa da descrição que o Robert E. Howard faz do Conan, na voz do Arthur Migotto (Coltan Skull, ex-Hazy Hamlet), que, para mim, é um dos maiores vocalistas do heavy metal do Brasil. Daí vem uma música foda, naquela pegada do Grey Wolf mesmo. O Grey Wolf tem uma identidade musical própria, e a música é animal!
E quais os próximos projetos das duas bandas?
Peter: Vamos dar início à gravação de guitarras do terceiro álbum. A composição está finalizada e falta gravar; a ideia é lançar no ano que vem. E algumas músicas do quarto álbum, que, posso adiantar aqui, vai ser temático, já estão em fase de composição. Já em relação a tocar ao vivo, este ano fodeu tudo, né! Mas nós gostamos de estar no palco, fazemos um esforço enorme para poder ensaiar e viajar. Espero que o Thunderlord possa voltar às apresentações ao vivo e tocar muito no ano que vem!
Fábio: Sempre que lanço um disco, já estou com outro escrito. Quando o split saiu, já estava com outras músicas prontas. As músicas estão compostas e gravadas, falta só engenharia de som. Sairá em 2021. Também vou lançar um box limitado, de 30 unidades, com muita coisa legal. Estou com trabalho pronto até 2022 (risos). Vou relançar ainda o primeiro disco (Grey Wolf, de 2014), com uma produção melhor e nova capa. E um selo da Hungria vai lançar um EP em formato K7, chamado Stygia. São cinco músicas, sendo três inéditas, uma demo regravada, Thoth Amon, e um cover do Running Wild, que é Preacher.