Em 2019, o festival brasiliense Porão do Rock chega a sua 22ª edição, mostrando que tem raízes fortes no tradicional cenário do rock da capital federal do Brasil. Acompanhando e encabeçando o festival desde a sua primeira edição está Gustavo Sá, um apaixonado por música que, há cerca de trinta anos promove shows de rock. Trata-se de uma figura influente e importante para o cenário local, mas que, com o seu trabalho, tem ajudado a mudar o patamar do rock em todo o território nacional. O passar dos anos sempre trouxe desafios, e, este ano, ele resolveu encarar mais um, como nos conta logo no início desta conversa, na qual fala sobre dificuldades, mas enaltece o valor e a grandeza de quem há tanto tempo trabalha com aquilo que mais ama. Confira abaixo o que Gustavo Sá tem a nos dizer sobre o Porão do Rock 2019, que, inicialmente ocorreria nos dias 16 e 17 de agosto e foi adiado para outubro (veja o comunicado AQUI).
O Porão do Rock chega à sua 22ª edição, o que coloca o festival entre os mais duradouros do Brasil. Tendo estado à frente de todas as edições, quais são os desafios para manter um evento como este em nosso país?
Gustavo Sá: São muitos desafios. Primeiro, é como se cada edição fosse a primeira edição. Não existe festival consolidado, não existe tudo certo, tudo resolvido, não existe… Todo ano é como se fosse o primeiro, e especialmente esse ano eu tomei uma atitude bem drástica, pois decidimos não usar verba pública em função dos últimos três anos muito problemáticos, com promessas não cumpridas, enfim. Nós resolvemos abrir mão e não pegar verba pública então o nosso grande desafio esse ano é esse. Nós precisamos aumentar um pouco o valor do ingresso, o que desagradou um pouco o nosso público que está bastante acostumado a pagar por ingressos muito baratos. Então nós precisamos fazer um trabalho muito grande de conscientização do nosso público. Olha galera, a gente realmente está precisando cobrar um pouco mais caro, mas é por que decidimos não pegar verba pública, e para o festival funcionar e se manter, nós precisamos que o nosso público nos apoie e entenda essa situação. Temos feito esse trabalho e sinto que está dando relativamente certo, estamos confiantes de que vai ser bem legal. Veja, nós voltamos a ter atrações gringas, temos atrações nacionais muito interessantes, conseguimos fazer um line-up coeso, enfim… Temos um dia dedicado a atrações musicais mais pesadas, Ratos de Porão, Dead Fish, Raimundos, Nervosa, Nuclear Assault, enfim. E o segundo dia é um dia de rock mais convencional, passando pelo indie rock, pop rock, algo com um pouco mais de pegada, mas não puxado para o lado mais extremo, algo mais tradicional.
A dificuldade principal é a captação de recursos?
Gustavo: As dificuldades são inúmeras, mas a questão de captação de patrocínios… Aqui em Brasília basicamente você só consegue patrocínio se tiver alguma lei. As grandes empresas que estão aqui na verdade são filiais e não existe uma tradição do empresariado local de patrocinar, até porque não temos realmente grandes empresas locais. Afora isso, existe também a dificuldade de conseguir equipamentos públicos para realizar eventos. Em Brasília metade dos equipamentos estão caindo aos pedaços, precisando ser reformados, e temos sérias dificuldades. Eu acabei de passar por um problema: reservei o estacionamento do estádio em novembro do ano passado, planejei tudo e tal, e, faltando 29 dias para o evento, o pessoal da Secretaria de Esportes me liga dizendo que eu não posso usar o local porque a CBF pediu o estádio (risos). Existe um decreto aqui que prioriza os equipamentos esportivos para usos esportivos, o que realmente faz sentido, mas precisa haver alguma regra, certo? Eu não posso estar planejando há quase um ano e quando falta menos de um mês a CBF, que não deve ter planejamento nenhum, vem pede o espaço e tem essa prioridade.
Você mencionou algumas bandas que fazem parte das atrações deste ano do festival Porão do Rock. Como funciona o agendamento de tantas atrações para uma mesma data?
Gustavo: A questão principal é a seguinte: o Porão do Rock é um festival que se tornou grande para os moldes de um festival independente. Então a gente esbarra num problema que é a questão dos ‘headliners’. Somos um festival que precisa de headliners, pois temos uma estrutura grande, temos que ter um público razoavelmente grande. E para que isso aconteça, precisamos ter bandas que tragam um público razoavelmente grande. A questão no Brasil é que estas bandas são limitadas. Elas estão envelhecendo. Existe um hiato que aconteceu com a derrocada da indústria fonográfica e o advento da internet que, bem, na minha opinião, o último grande artista que conseguiu romper a barreira e se tornar ‘mainstream’ foi a Pitty, e daí acabou. Então o que acontece, as grandes atrações estão envelhecendo, as bandas estão acabando ou voltando. O problema então é ‘não repetir bandas’. A alternativa é buscar bandas internacionais, para compor o quadro. Bandas internacionais você tem que ter muito planejamento, tem que ter grana seis meses antes, é em dólar, e isso não é nada fácil. Montar o quadro de atrações de um festival como esse é uma partida de xadrez que precisa ser muito bem jogada, senão fica complicado.
Apesar de tudo isso o festival permanece ativo e uma opção atrativa no calendário dos fãs de rock.
Gustavo: Sim, exatamente. Existe muito envolvimento, as pessoas aqui se sentem donas do festival, e isso é incrível. Eu costumo dizer que a gente toma muita porrada porque as pessoas se sentem donas do festival, elas realmente sentem que a opinião delas é importante e que podem dizer o pensam, criticar, etc. Isso é incrível. É até engraçado, pois nas nossas redes sociais, quando começa uma discussão e algumas pessoas postam coisas mais ofensivas, nos atacando ou agredindo, o próprio público conversa entre si e resolve a questão (risos).
Sim, uns atacam e outros defendem, e tudo vira fórum.
Gustavo: Exato! Inclusive, o público do metal é o que mais nos critica, pois apesar de termos uma noite dedicada ao metal, não somos um festival do estilo. E aí, você sabe como é, o público do metal é o que mais nos ataca, ‘esse monte de banda bosta, bota banda de verdade’ (risos). Gente, vocês não estão entendendo. Não somos um festival de metal, somos um festival de rock que abriu um dia para o metal, é parte das nossas atrações.
Falando do dia do metal, 16 de agosto, vocês têm algumas ótimas atrações confirmadas para este ano.
Gustavo: Sim, temos muitas apresentações interessantes. Nervosa e Ratos de Porão já são bem tradicionais para os fãs de música pesada, tem o show especial do Edu Falaschi, recheado de participações especiais, tem o Nuclear Assault. E tem também aquelas atrações que eu talvez não colocaria no palco mais pesado, mas que colocamos pela questão do ‘headliner’ que eu comentei, como é o caso do Dead Fish e do Raimundos. Eles têm um público muito volumoso e a galera do som mais pesado curte, então os agreguei neste palco para dar mais pegada. E não podemos esquecer Project46, uma banda que tem crescido muito, e que, da nova geração do metal, talvez seja a banda brasileira que mais aparece. Quer dizer, para um festival que não é de metal, temos muitas atrações do estilo, e boas atrações.
Outra coisa muito interessante do Porão do Rock são as seletivas para o festival. Muitas bandas interessantes despontaram a partir daí, e esse ano teríamos novamente, estava agendado para julho. O que aconteceu?
Gustavo: Elas vão rolar, sim, eu só adiei porque, diferentemente do festival, nas seletivas vou usar verbas públicas, pois são de graça. Então, consegui uma verba junto a Secretaria de Cultura para produzi-las de forma gratuita. Elas vão acontecer nos dias 9, 10 e 11 de agosto, uma semana antes do festival, da seguinte maneira: serão dez concorrentes em cada dia, concorrendo a uma vaga por dia. Cada dia teremos uma banda de Brasília convidada, que abrirá para o headliner da noite. Sempre gostamos de apoiar a cena de Brasília, então nós convidamos algumas bandas daqui que já estiveram entre as atrações do festival, mas que não apareceram em 2019, e convidamos para este palco, é mais uma forma de apoiar a cena local. Bem, e claro, cada noite terá seu headliners. Dia 9 será o Gloria, dia 10 o Autoramas e dia 11 o Matanza Inc. Serão então doze bandas em cada noite de seletivas, cada uma elegendo uma vencedora, shows com bandas de Brasília e mais as bandas principais de cada noite, e tudo isso de graça. Quer dizer, o ingresso do festival esse ano está mais caro, mas serão dois fins de semana, um de graça e o outro pago. É transformar limão em limonada, sempre tem dificuldades, mas sempre vale a pena.
Tem alguma apresentação em especial que você esteja ansioso para ver como público?
Gustavo: Sim, acho que sempre tem, né? Tem uma banda de Londres (ING) que ainda não é muito popular aqui, mas que eu gosto muito e estou muito curioso para ver, o Demob Happy. O Nuclear Assault eu também nunca vi, e acho que vai ser bem legal, estou bem curioso. Tem, claro, a banda do meu irmão, o Rumbora, que está dez anos sem tocar e que vai se apresentar no festival, então é algo bem especial para mim. Enfim, acho que o legal do festival não é uma banda específica, mas o lance todo, todo o pacote.
O que o motiva a continuar com o festival todos os anos, apesar dos desafios?
Gustavo: Bom, eu sou um cara desse ambiente, esse é o meu lugar. Eu tenho 53 anos, sou alguém que chegou a Brasília em 1977 e vi o rock de Brasília nascer, andava com essa galera, vários músicos, artistas, fotógrafos dessa época são grandes amigos meus e isso fez parte da minha formação aqui em Brasília. E como eu sou da primeira geração e o meu irmão é da segunda geração do rock de Brasília (N.R: Gustavo é irmão de Alf, guitarrista e vocalista do Rumbora), viviam lá em cada Digão (Raimundos), Gabriel (Autoramas), essa molecada toda. E o meu irmão era um tarado com isso, desde pequeno, ele montou a primeira banda com onze anos, e toda essa galera frequentava a nossa casa, tinha acesso as nossas coisas, nossa coleção de discos e tal. Então, essa é a minha história, e parte da minha vida. Eu não me vejo não o fazendo.
- COMUNICADO IMPORTANTE – PORÃO 2019 ADIADO!
Informamos que o Porão 2019 foi ADIADO! A mudança de data ocorre devido ao uso do Estádio Nacional pelo Campeonato Brasileiro. Desse modo, respeitando o Decreto 34.561 de 09 de agosto de 2013, que prioriza o uso do Estádio para eventos esportivos, a Secretaria de Esportes solicitou a mudança de local do festival. Infelizmente, essa mudança inviabilizou uma série de tramites e prazos burocráticos imprescindíveis para a realização do Porão como divulgado.
O Porão acontecerá em outubro, em área 100% COBERTA (divulgação em breve) e manterá em seu line-up nomes como Raimundos, DeadFish, Project46, Rumbora, Academia da Berlinda, Rincon Sapiência, Supercombo. Mais bandas serão confirmadas.
Outra boa novidade é que os ingressos para o festival terão valores menores, visando atender ao público cativo do Porão que nos acompanha nesses 21 anos. O festival então, volta a contar com incentivos públicos e, por isso, terá ingressos a valores mais acessíveis.
Para os fãs do Nuclear Assault outra boa notícia: o show da banda será MANTIDO e acontecerá no dia 15 de agosto, no Toinha Brasil Show. Em breve divulgaremos mais informações.
Se você já tinha adquirido seus ingressos para o Porão, fique tranquilo. TODOS serão reembolsados integralmente. No caso de compra online, a Sympla fará o estorno diretamente para as contas/cartões da compra. Se você adquiriu em um ponto de venda, basta retornar a ele para receber o reembolso.
Informamos ainda que as Seletivas do Porão estão mantidas e acontecerão no próximo final de semana (9 a 11 de agosto), no estacionamento do Teatro Nacional, com entrada franca mediante doação de 1kg de alimento. As bandas selecionadas tocarão no palco principal do Porão na nova data.
Nos vemos no Porão em outubro, mantendo nossa vontade maior: fortalecer dia após dia a potente cena do rock!
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