Vencer as adversidades é apenas um passo entre tantos para se alcançar qualquer objetivo, e a banda norte-americana Halcyon Way sabe muito bem como funciona isso. Com três álbuns lançados e ótimos contatos no meio musical, eles não se intimidam quando o assunto é passar por cima de problemas. O pior, e já superado, foi a notícia de que o guitarrista Jon Bodan estava com câncer. Felizmente, com muita força de vontade e apoio, Jon superou esta etapa e a banda encontra-se a todo vapor. É fazendo um som com influências de Queensrÿche, somadas a riffs que beiram o Thrash Metal, vocais melódicos, passagens guturais e uma pequena dose de Progressivo, Jon Bodan, Steve Braun (vocal) e Ernie Topran (bateria) seguem aproveitando todas as oportunidades. Numa conversa honesta e bem humorada, Jon falou com a ROADIE CREW sobre o mais novo disco e os planos da banda.
Vamos começar conversando sobre o último lançamento, “IndoctriNation”. O que ele trouxe de novo?
Jon Bodan: Quando compusemos e gravamos ‘Building The Towers’, entre 2009 e 2010, tínhamos muito material em mãos e sabíamos que teríamos que lançar um álbum duplo ou dividi-lo em dois discos. Decidimos escolher as faixas que estariam em cada disco e optamos por lançar o material separadamente. Por isso, a diferença de tempo entre os lançamentos é pequena. Foi uma questão de mixar o álbum, acertar a parte gráfica, arrumar algumas coisas e colocá-lo no mercado.
Mas vocês estavam trabalhando já visando uma data programada ou a coisa aconteceu naturalmente?
Jon: A intenção era lançar no período de um ano. A mixagem foi mais uma vez feita por Lesse Lammert e a arte pro Travis Smith (Opeth, Nevermore, Avenged Sevenfold). Apesar de termos uma data em mente, sabíamos que a agenda de Travis era bem ocupada e que ele não assinaria qualquer trabalho. Decidimos esperar até que ele estivesse satisfeito com a parte gráfica e a partir daí nos programamos para o lançamento.
Vocês levaram em consideração as críticas que obtiveram em “Building The Towers” e, a partir delas, planejaram como projetar “IndoctriNation”?
Jon: Não. Recebemos ótimas críticas em ‘Building The Towers’. Já estávamos na segunda prensagem seis meses antes do lançamento de ‘IndoctriNation’. Além disso, havia a vontade mostrar do que a banda é capaz.
Infelizmente, logo após o lançamento do segundo CD, vocês tiveram que cancelar uma turnê europeia e outros compromissos…
Jon: O fato é que quando ‘Building The Towers’ saiu, eu fui diagnosticado com câncer. Isso, obviamente, nos obrigou a cancelar quaisquer compromissos que envolvessem apresentações. Como estávamos parados, a melhor opção foi fazer com que ‘IndoctriNation’ ficasse pronto o quanto antes e com isso seriam dois álbuns para uma turnê em 2012!
E o que a banda fez durante esse hiato?
Jon: Bom, primeiro ficamos parados por uns seis meses. Tivemos todo o envolvimento com a arte e mixagem do disco. Além disso, eu fiquei trancado em casa por quatro meses e nesse período escrevi material suficiente para mais um disco.
Então, entre este lançamento e os shows que já estão sendo marcados, vocês pretendem começar a produzir o quarto disco?
Jon: Não, não (risos). Continuaremos compondo e acho que somente no final de 2012 iremos começar o novo álbum.
O Halcyon Way passou por muitos altos e baixos desde a sua formação. Conte um pouco desse processo.
Jon: Primeiramente, tivemos algumas trocas de integrantes, antes mesmo do primeiro álbum, ‘A Manifesto For Domination’ (2008), ser lançado. Depois que gravamos o primeiro disco houve mais um atraso por causa das mixagens e outros problemas. Quando finalmente o lançamos, o vocalista Sean Shields deixou a banda. Por sorte, Steve (Braun, ex-Ashent) logo entrou e gravamos o segundo CD. Quando ‘Building The Towers’ começou a tomar forma, notamos como havíamos melhorado. Além de mais maduros, tínhamos um vocalista muito melhor!
A entrada de Steve adicionou algo na hora de compor o segundo disco?
Jon: Certamente! Por ser um vocalista bem mais versátil, isso abriu a possibilidade de melhores harmonias, refrãos com corais e arranjos em geral.
Tive a oportunidade de ver o Halcyon Way três vezes e posso afirmar que vocês rendem mais ao vivo que em estúdio!
Jon: É, certamente somos uma banda que funciona bem ao vivo. Gostamos de preparar o show, proporcionar uma apresentação com qualidade e entretenimento. Claro que fazemos o melhor nas gravações, mas a energia flui melhor ao vivo.
O som de vocês traz ótimos riffs, quais as suas influências?
Jon: É muita coisa (risos). Eu tocava Death Metal na minha primeira banda. Escuto muita coisa do início dos anos 90, como Gorguts e Suffocation. Também gosto muito de Fates Warning e da fase antiga do Queensrÿche; além de coisas mais recentes, como Chimaira, Devil Driver e Killswitch Engage. Quando componho, busco algo que seja pesado, bem direcionado e fácil de ser lembrado. Não gosto de escrever coisas muito complicadas como tem por aí em algumas bandas de Prog Metal. Não gosto de muita masturbação instrumental (risos).
Masturbação instrumental!?
Jon: (risos) (N.R.: Jon começa a falar com sotaque britânico, imitando o Spinal Tap) ”Vamos tocar no compasso doze por oito seguido por sete solos de guitarra e quatro de teclado. O baterista tocará em seis por oito enquanto a banda toca em doze por oito. Se isso soar como um descarrilamento, provavelmente é música Progressiva (mais risos).
Parece que você tem uma boa relação com a vocalista Pamela Moore. Como vocês a conheceram e qual foi o papel dela na banda?
Jon: Tocamos no festival ‘Rocklahoma’ com o Queensrÿche em 2009, se bem me lembro. Encontrei-me com ela nos bastidores, começamos a conversar e ali mesmo fiz o convite para gravar conosco. Ela aceitou prontamente e meses depois estávamos gravando! Em ‘Building The Towers’ ela interpreta a personagem Lady Liberty, que aparece em algumas faixas. Decidimos por manter a participação dela somente neste disco porque ele segue uma lógica contextual.
Muito legal o fato de ela aparecer nas fotos promocionais da banda.
Jon: (risos) Foi muito legal! Basicamente o que aconteceu foi o seguinte: Sean deixou a banda, nove dias depois Steve já estava efetivado e Pamela chegaria em duas semanas. As passagens de avião dela já haviam sido compradas e estava tudo acertado. Passaram-se as duas semana e Steve ainda não conhecia todos os integrantes da banda (risos). Ele saiu de Nashville (Tennessee), chegou em Atlanta (Geórgia) e nos encontramos no aeroporto. Aí começamos uma sessão de fotos com três fotógrafos, dois helicópteros e uma limusine. Foi uma loucura (mais risos).
Todos os três discos trazem letras bem politizadas…
Jon: Deixe-me explicar isso abordando cada disco. ‘A Manifesto For Domination’ não é um álbum conceitual, mas traz um tema central que seria ‘não desistir por maior que sejam as adversidades’. Já ‘Building The Tower’ e ‘IndoctriNation’ são bem mais voltados para a política, mas sem apoiar partido algum. Certas pessoas nos Estados Unidos acham que merecem ter certas coisas e se os políticos derem o que essas pessoas querem logo fazem o que querem. As pessoas passam a não perceber ou não se importar com o que acontece na política. Os políticos ficam lá fortalecendo suas estruturas e não dão a mínima para as necessidades do povo. Eles apenas fazem o que tem que fazer para se reeleger. Você percebe essa reflexão na arte das nossas capas. Apesar disso, não somos uma banda como o Rage Against The Machine que ataca de frente a política.
É praticamente um desabafo!
Jon: (risos) Exatamente isso! A raiva da classe média (mais risos).
Mas como as letras apontam para a realidade e ao mesmo tempo trazem personagens fictícios?
Jon: Bom, são várias músicas que tratam do mesmo tema. Apesar disso, usamos alguns personagens em ‘Building The Towers’, como a Lady Liberty – ela seria uma analogia com relação a ideia de que o nosso país representa a liberdade, mas as pessoas que vivem aqui ficam apáticas com as atitudes do governo e a privação dessa liberdade. Outro personagem seria The Ghost Of The Founding Fathers (N.R.: O espírito dos pais fundadores dos Estados Unidos) – acho que se eles soubessem do que está acontecendo hoje estariam se remexendo no caixão e pensando: ”Foi por isso que demos nossas vidas?’… São tantas coisas ridículas que o governo faz. Enfim, temos esses personagens apenas para ilustrar um ponto.
Como a banda lidou com a sua enfermidade e o cancelamento dos compromissos?
Jon: Ficamos muito desapontados. Eu me perguntava ‘É sério isso, você está dizendo que eu tenho câncer?’ Nós sempre exploramos todas as oportunidades que surgiram. Estávamos com as passagens de avião compradas para a turnê com o Stuck Mojo na Europa. O primeiro show seria em Paris, em duas semanas. Uma semana depois do diagnóstico, o segundo álbum foi lançado. Ainda sob tratamento, no início de 2011, fomos convidados para uma turnê de três semanas e meia no mês de junho com o Fozzy e outra em novembro pela Europa. Obviamente não pudemos assumir o compromisso porque eu ainda esta sob cuidados médicos e não sabia como estaria a minha situação até o final do ano. Foi bem frustrante, mas a banda sempre esteve do meu lado e me apoiou em tempo integral.
E a recompensa veio agora, com um giro pela Europa ao lado do Delain e Trillium. Qual foi o resultado dessa turnê, realizada entre abril e maio?
Jon: Foi fantástico, valeu muito a pena ter ido! Fizemos ótimos shows, a resposta do público foi muito positiva, conseguimos rever vários fãs, fizemos novos amigos e vendemos várias camisetas e CDs. A Europa, mais uma vez, se mostrou muito receptiva!
Algo que me chama a atenção é o profissionalismo de vocês.
Jon: Obrigado! É algo que certamente ajuda muito. O meio musical é complicado, quando você é um idiota ou um artista que não se pode confiar a notícia se espalha rapidamente. Gente séria do meio não dá atenção para aqueles que não honram os compromissos.
O que mais você espera de 2012?
Jon: Fazer o máximo de shows possível! Depois que dermos o devido suporte para ‘Building The Towers’ e ‘IndoctriNation’ pensaremos sobre o quarto álbum.
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