Texto e fotos: Daniel Croce
Aos 62 anos de idade, completados em novembro último, Jordan Rudess caiu na estrada para, em suas próprias palavras, fazer a primeira turnê solo – e não, você não leu errado, ele é um tiozão do rock. Mas o melhor de tudo foi que o tecladista do Dream Theater fugiu do lugar-comum na hora de se apresentar como atração principal. E sozinho, literalmente. Que ele é um dos principais expoentes do instrumento no mundo – senão o principal – seja no metal progressivo, no rock progressivo ou no power metal e congêneres, disso ninguém duvida. O ponto de interrogação seria se, mesmo sendo um artista de tal calibre, conseguiria segurar e entreter uma plateia por quase duas horas apenas no piano. No piano e com histórias.
Sim, ainda bem que não era só o instrumento de cordas. Como aqueles pianistas de bar em algum filme noir com uma trilha sonora jazzística, Rudess relembrou momentos de sua vida, da infância às primeiras bandas sem grandes proeminências internacionais. Isso até o momento em que conheceu Mike Portnoy e entrou de cabeça no histórico projeto instrumental Liquid Tension Experiment, em 1998. O resto foi consequência: sua efetivação numa das maiores e mais amadas bandas do mundo, no mesmo ano, quando substituiu Derek Sherinian.
Essa linha do tempo da própria vida ganhou cores com os relatos – num inglês perfeito, pausado, sem gírias, eloquente e com muito bom humor – intercalados com peças musicais. Nessa turnê intimista, batizada de “From Back to Rock”, nosso tiozão até arriscou cantar algumas coisas. O repertório: peças clássicas de sua época na Juilliard School, em Nova York, com canções de Pink Floyd e Emerson, Lake and Palmer – “as peças de rock progressivo mais belas que conheço”, assim disse o mestre –; e, claro, Dream Theater. “Eu encorajo vocês a cantar, se assim quiserem”.
Com a partida de Mike Portnoy do Dream Theater em setembro de 2010 – o batera era o garoto-propaganda do quinteto nas redes sociais, o principal avatar entre público e banda –, caiu no colo de Rudess a missão de ser o cara bonachão, o porta-voz dos gigantes do prog metal no meio de outros quatro caras bem sisudos. Ou você acha que essa “task” cairia no colo de John Myung? Ele sequer jamais faria uma turnê solo como essa, quanto mais abrir a boca. Enfim, foi uma agradável noite de segunda-feira em Copacabana, que deve se repetir em 2019, desta vez com Steve Hogarth, vocalista do Marillion. Os fãs de prog agradecem.