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KHADHU CAPANEMA: o inverno mineiro do líder do Cartoon

Apenas um ano depois de o Cartoon soltar no mercado seu quinto disco, V (2017), o líder, compositor e multi-instrumentista da banda mineira de rock progressivo/hard rock, Khadhu Capanema, mostra uma nova faceta artística em seu primeiro voo solo. Elementos de rock, folk, música brasileira e pop são parte da fórmula utilizada para a criação de Inverno Mineiro. E uma particularidade: o disco marca o reencontro de Khadhu com letras compostas em português, algo que não acontecia deste o debut do Cartoon, Martelo (1999), que ano que vem completará duas décadas. Em entrevista à ROADIE CREW, Khadhu fala a respeito deste seu primeiro rebento solo, indica alguns caminhos que o Cartoon poderá seguir em seus próximos lançamentos, confirma planos para a Orquestra Mineira de Rock, recorda episódios ao lado da Orquestra Ouro Preto e do cantor e compositor Alceu Valença, relembra sua participação no projeto de folk metal Kernunna, liderado por Bruno Maia (Tuatha de Danann), e relata os apuros que passou ao ter um valioso instrumento de sua coleção roubado (e o alívio em recuperá-lo).

 

Como se deu a decisão de fazer um trabalho solo, de onde vieram as ideias, quando tudo começou?

Os projetos que envolvem composição são os mais importantes para mim, são minha essência. Este disco, o Inverno Mineiro, surgiu dentro de uma necessidade de colocar para fora mais material musical. Com o Cartoon, a gente está sempre em atividade, mas nem tudo entra na banda. E algumas canções vão ficando para trás. Algumas eu vou guardando. O Cartoon acabou fazendo um disco mais acústico e cantado em inglês, o (quinto disco, lançado em 2017). E foi numa época em que eu comecei a me interessar em fazer músicas também em português. Quando voltamos de uma turnê (norte-americana, em 2016), me deu muita vontade de cantar em português e falar sobre minha terra, as cidades que vivi, o astral de Minas. Começou a pintar um monte de música com essa ideia, de falar sobre esperança, misturando com essa onda de Minas Gerais. De 2016 para cá começaram a surgir mais ideias e mais canções, então as músicas antigas que não entravam nos discos do Cartoon continuaram para trás, e o Inverno Mineiro virou um disco com faixas compostas entre 2016 e 2017.

De que forma você apresentaria esse disco a alguém? Porque, para mim, diria que ele tem elementos do rock, do folk, do pop e da música brasileira.

Gosto mais de perguntar a alguém o que acha do disco do que eu mesmo dizer (risos). É muito difícil para a gente rotular o próprio trabalho. Se o artista fala que tem um rock ali, dá uma limitada. Mas o disco segue um pouco a linha do último disco do Cartoon, em termos de concepção sonora, que tem muito a ver com valorizar os violões. Aliás, o violão é meu instrumento principal da vida. No Cartoon, eu sou baixista, mas no último disco mesmo toquei mais violão do que baixo. Acho que o Khykho (Garcia, guitarra) tocou mais baixo do que eu nesse último do Cartoon. Bom, mas aí eu juntei uma galera para gravar esse álbum solo. E, respondendo à pergunta, acho que é mais folk (risos), embora o próprio folk é uma coisa muito ampla também.

Você voltar a cantar em português é algo que chamou atenção, porque, no Cartoon, isso só aconteceu no álbum de estreia, o Martelo (1999). Como foi essa volta?

Não registrei mais nada realmente em português. A não ser em discos de outros artistas, como do (cantor e compositor mineiro) Péricles Garcia ou da (cantora) Isabella Bretz. O Cartoon mesmo não gravou mais em português. E muito em função do fato de que, quando estou escrevendo música, o inglês flui bem mais fácil. Desde o Martelo eu não tinha composto quase nada em português, saiu uma coisa ou outra que não achei tão importante. Recentemente veio essa onda de compor e cantar em português, e eu fiquei muito feliz. Gosto de escrever em português, mas somente quando consigo achar a linguagem certa para dizer o que estou pensando.

O disco não chega a ser conceitual, no sentido de não ser uma só história, mas existe uma ligação entre todas as faixas, certo?

Sim. Toda vez que vou lançar um material novo, um grupo de músicas, esse grupo tem que fazer algum sentido. Gosto dessa coisa de disco, pensar numa obra, mesmo sendo uma coisa fora de moda. O disco Inverno Mineiro partiu dessa relação minha com Minas, a forma como eu enxergo e vivo Minas, as cidades que morei, Ouro Branco, Conselheiro Lafaiete, Belo Horizonte, lugares como Serra do Cipó. Esse disco tem a ver com Minas Gerais em relação a mim. E que pode mexer com várias pessoas que tiveram, por exemplo, adolescência no interior, como eu. As harmonias, os ritmos e as melodias também têm similaridades, criando uma unicidade no disco. Não é um álbum conceitual, mas ao mesmo tempo é, pois tem uma emoção e uma temática que permeiam o disco todo.

O Cartoon é colocado por muitos como uma banda de rock progressivo, mas ao mesmo tempo também tem um som rock ‘n’ roll, hard rock, folk. O grupo gosta de se reinventar. Só que, depois de cinco álbuns com a banda, você crê que esse seu primeiro disco solo é o mais experimental de sua carreira? Digo no sentido de haver muitos instrumentos nele, como cello, gaita, saxofone etc.

A palavra experimental não me vem à cabeça. Acho até que há um formato, digamos, mais tradicional, inclusive. Mas realmente tem muito instrumento, tem quarteto de cordas, mais metais. Só que tudo funcionando como banda. Ao vivo, é tocado da mesma forma como está no disco. Talvez eu até lance um registro ao vivo da gente tocando esse disco. Acho que é um lance mais intuitivo, que flui muito. Experimental me remete a algo mais louco, então considero o Martelo talvez o mais experimental nesse sentido. A gente estava aprendendo e experimentando algumas coisas. Meu disco solo talvez seja experimental no sentido de ser uma experiência nova, um desafio. Até para juntar uma banda como quem nunca tinha tocado antes, como o Marcelo (Ricardo, bateria), o Paulinho (Paulo Santos, percussão), do Uakti, que trouxe algo muito legal, como barulhos de água, da natureza etc.

Este disco solo pode influenciar o Cartoon de alguma forma?

Vai depender muito da decisão que o Cartoon vai tomar por agora, o rumo que vamos tomar musicalmente. Finalmente depois de muitos anos algumas pessoas começaram a entender essa onda do Cartoon. Alguns críticos falavam que nosso trabalho tinha muita coisa ao mesmo tempo e não tinha uma identidade…

Chegou muito esse tipo de crítica para vocês?

Já ouvimos isso, percebemos a dificuldade de alguns de querer rotular nosso trabalho, algo que vem desde o primeiro disco. E o rock progressivo acabou sendo o rótulo preferido. Porém, tem coisas no nosso trabalho que não são rock progressivo. Em uma matéria que saiu na ROADIE CREW, sobre o mesmo, aconteceu algo muito legal porque o Daniel Dutra (que fez o material) sacou exatamente isso, que a viagem da banda é surpreender a cada álbum, indo para caminhos diferentes, mas que a essência do Cartoon e a maneira como tratamos a música está em todos os discos. Seria muito difícil para mim, como compositor, e para a banda, ter que fazer só uma coisa. O AC/DC é uma banda clássica nesse sentido, eles sim conseguem fazer um mesmo estilo em todo o disco, e fazem isso muito bem, seguindo um só estilo. Mas para mim seria cansativo fazer o mesmo som por 40 anos. Me identifico mais com o Queen nesse caso. O Queen era uma banda que fazia muito bem essa viagem de pegar um determinado estilo musical e fazê-lo à maneira do Queen. A gente tenta fazer uma música à maneira do Cartoon. Os três primeiros discos tem uma visão mais progressiva. Já no Unbeatable (2013), apesar de haver alguns momentos assim, o progressivo não é o que marca o disco. Ali tem mais rock ou hard rock. E o é totalmente diferente deles. Nosso próximo disco talvez siga um pouco nessa direção do último ou quebre totalmente isso e vá para algo totalmente novo. Ainda não decidimos.

Relembrando um pouco do segundo disco, já que você tocou no lado progressivo, Bigorna (2002) tem várias músicas, mas que parecem ser uma música só, que o leva para mil caminhos.

E ele é pensado para ser um disco conceitual, tem história, começo, meio e fim. E existe essa questão de buscar o máximo de unidade no álbum como um todo. Tem um tema que permeia o disco inteiro, algo que vai e volta no disco, mesmo que imperceptivelmente. O  Unbeatable  foi o primeiro álbum onde a gente não quis ter tanta unidade temática, é mais um disco de canções, no sentido de não ser tão conceitual. O próximo vai depender da vontade maior do grupo, o que cada um mais quer fazer. As duas principais ideias que temos são completamente antagônicas. Uma seria pelo lado mais parecido do último disco, e a outra seria um disco de uma música só, uma composição que já está praticamente está pronta, houve até uma pré-produção dela, mas decidimos não lançar ainda. Vamos ver se a finalizaremos por agora ou mais para frente.

Mas vocês não vão deixar um longo hiato entre um disco e outro como já aconteceu em outras ocasiões, não é? (risos)

O trabalho de promoção de discos toma tanto tempo, e todo mundo faz tanta coisa dentro da banda… A galera toda é muito ocupada por várias coisas. Mas a ideia é lançar um disco a cada dois anos. A meta do Cartoon tem sido essa.

Dentro deste contexto e deste cenário, já dá para pensar até num segundo disco solo?

Agora que dei o pontapé inicial, talvez fique muito mais fácil para fazer um segundo, um terceiro… Já estou com algumas ideias. O CD e o DVD hoje em dia são como “fetiche” para o artista, e digo isso no mais nobre sentido, uma coisa maior do que querer ser comercial. Para gravar um disco gasta-se muito, leva muito tempo, e você não possui uma necessidade de ter um álbum inteiro no mercado atual, em que a galera tem lançado mais singles. Talvez eu vá soltando músicas com meu trabalho solo até formar um disco inteiro. Temos um projeto também de gravar um disco com a Orquestra Mineira de Rock (formada pelos membros do Cartoon, do Cálix e do Somba), mas aí é algo que demanda ainda mais, pois juntar 13 pessoas é complicado (risos).

Já que você citou a Orquestra Mineira de Rock, realmente deve ser muito difícil juntar tanta gente. E já pensaram em trazer mais pessoas para ela ou já receberam convites de gente de fora querendo fazer parte dela?

A gente recebeu inúmeros pedidos de pessoas, que, inclusive, têm muito a ver com a gente. Mas é um negócio tão difícil de gerenciar! A gente se conhece há mais de 20 anos, desde menino. Colocar tanta gente nesse caldeirão acaba até sendo um risco. A gente já teve para tirar gente (risos). Mas participação especial talvez seja uma ideia boa, alguém que possa acrescentar algo em determinada ocasião. Como membro efetivo acho difícil. O grupo total tem umas 25 pessoas, não só os 13 músicos, mas também técnico de som, iluminador, pessoal de produção.

Ainda sobre a Orquestra Mineira de Rock, o que esperar desse próximo show que estão preparando para o dia 9 de dezembro em BH?

Com certeza será um show memorável! Estamos muito animados com ele! Gostamos muito do Palácio das Artes, um dos centros de cultura de Minas e até do Brasil. Muita gente faz questão de tocar lá. O Palácio guarda ainda aquele glamour de ser uma casa tradicional. Já fizemos shows memoráveis lá, com o Cartoon e com a própria Orquestra Mineira. Temos histórias legais tocando e assistindo shows no Palácio. A gente vem aprimorando esse show ao longo do tempo. Em 2019 também temos projetos de diversificação maior da orquestra, pensamos em lançar composições próprias do grupo, mais arranjos de música clássica, tocar discos na íntegra de bandas como Beatles, Queen, sei lá… Alguns projetos para colocar em prática. Mas para este show específico vamos comemorar os 20 anos do início do projeto. De lá para cá muita coisa aconteceu. Será um momento de comemoração, e muito especial! É um sonho realizado poder tocar com um monte de gente que, além de ser muito competente no que faz, ainda é seu amigo de anos tantos anos.

Falando em orquestra, você teve a oportunidade de tocar várias vezes com a Orquestra Ouro Preto.

Tenho tocado com a Orquestra Ouro Preto também. Toco de vez em quando com eles o concerto em homenagem aos Beatles, em que atuo no contrabaixo e é muito legal. Mas a experiência mais forte que tive com eles talvez tenha sido a gravação do DVD Valencianas (2014), da Orquestra Ouro Preto com o Alceu Valença, no Palácio das Artes. O violonista oficial da orquestra estava numa turnê fora do país, e eu fui chamado para substitui-lo. Eu nunca tinha tocado com a orquestra e nunca tinha tocado aquele repertório. Tive que pegar o repertório rapidinho, fizemos dois ensaios com a orquestra e já era o show de gravação. Foi um desafio enorme pra mim. Agora o lance da orquestra é muito legal, de juntar muitas possibilidades. Tocar com um grupo grande é outra experiência e tanto. Gosto muito de poder variar essa coisa de ora fazer voz e violão, ora tocar com banda, ora com orquestra.

Por outro lado, você tocou num projeto com Bruno Maia chamado Kernunna. Foi a coisa mais metal que você fez?

Com certeza (risos).

Como foi aquela experiência?

Foi legal pra caramba. Sou amigo e fã do Bruno. O Tuatha de Danann e o Cartoon começaram mais ou menos na mesma época. Só que em caminhos paralelos. A gente se encontrou a primeira vez em 1996 ou 1997, antes do primeiro disco. Tocamos em festivais, mas curiosamente eu não conhecia o trabalho do Tuatha. Eu tinha uma loja na Savassi, e um amigo levou para eu ouvir o disco do Braia, trabalho solo do Bruno. Nas primeiras notas já achei foda, material muito acima do que eu ouvia na música brasileira em geral para aquele tipo de som. Curti demais, mas foi a partir daí que ouvi os discos do Tuatha. Curti pra caramba também, principalmente o Trova di Danú (2004). Passa um tempo, e o Bruno me liga para chamar o Cartoon para tocar num Roça ‘n’ Roll. Depois, falamos em fazer algo juntos, e foi ele quem veio com a proposta do Kernunna. Foi muito legal. Não queria pegar um trabalho em que eu fosse liderar, então fiquei só como músico e dando minha contribuição também como intérprete. O trabalho (The Seim Anew, de 2013) é muito legal. Só tem um porém nesse disco. Apesar de eu gostar tanto das músicas, detesto a mixagem. Não gostei mesmo. Não participei desse processo, e todo mundo da banda também achou a mixagem ruim. Já estávamos com show marcado para o Rock in Rio e acabamos lançando o disco na pressa. Meu sonho é remixar esse álbum, porque é um trabalho foda. Se tivesse uma mixagem decente, seria o mais foda do folk metal do Brasil, na minha opinião.

Já pensaram em lançar mais músicas com esse projeto?

O Bruno já cantou essa ideia. Eu topo demais, mas é foda juntar todo mundo. Atualmente tem coisas que estou fazendo que não tem como abdicar… Tem que estar na hora certa de todo mundo fazer. Um problema adicional é que cada um mora numa cidade diferente… Mas seria um prazer gravar novamente.

Por fim, queria que você nos contasse de uma história recente, em que você passou um susto e tanto. Um instrumento seu, o esraj, foi roubado, mas acabou sendo recuperado.

É muito legal essa história. Ia haver um concerto da Orquestra Mineira de Rock, e meu carro estava com problema na embreagem, então, resolvi ir de Uber. Vim para porta de casa com o instrumento na mão pra esperar o Uber e fui assaltado. Levaram o esraj e meu celular. Fiquei meio desnorteado, mas fui para o show mesmo assim. O instrumento é único em Belo Horizonte, então divulguei nas redes sociais e rolou uma grande mobilização de amigos e fãs, muita gente ajudou. Enfim, no final de uma semana o instrumento apareceu numa lixeira aqui perto de casa. Uma vizinha estava passando, pegou a caixa, abriu e viu o instrumento. Dentro do case tinha um papel com meu nome e o telefone, que um luthier havia anotado. Porém, meu telefone havia sido roubado, então a moça acabou ligando para um outro Kadu (também músico) que ela conhecia. Ele já estava sabendo do acontecido e entrou em contato comigo, e foi assim que o esraj voltou pra minha mão! Tudo foi num intervalo de sete dias. O mais legal é que gerou muito engajamento da galera em tentar ajudar, e todo mundo ficou muito feliz quando o instrumento “voltou”.

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