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KIP WINGER – 31 de março de 2019, São Paulo/SP

“Hoje é meu último show no Brasil. E será o melhor!”, disse Kip Winger assim que surgiu no palco do Manifesto Bar, em São Paulo, no último domingo, 31. Era o fim de sua turnê acústica sul-americana, que antes passou por Florianópolis (SC), Brasília (DF) e Rio de Janeiro (RJ). Aliás, foi com esse formato de show, já realizado no mesmo Manifesto em 2009, que há exatos 22 anos o multi-instrumentista, líder do Winger e ex-baixista de Alice Cooper – com quem gravou os álbuns Constrictor (1986) e Raise Your Fist and Yell (1987) e que lhe recomendou batizar a banda como Winger -, se apresentou pela primeira vez no Brasil. Naquele dezembro de 1997, Kip aportou por aqui um mês após o hoje saudoso Jani Lane, que estava acompanhado de seus ex-companheiros de Warrant, Rick Steier (violão e guitarra) e Danny Wagner (teclado), também debutar no país, proporcionando o mesmo tipo de show. Depois de Kip e Jani, passou a ser comum outros cantores da era dourada do hard rock americano nos visitarem com turnês acústicas: Eric Martin (Mr. Big), Michael Sweet (Stryper/ex-Boston), John Schilitt (Petra), Jeff Scott Soto e John Corabi (The Dead Daisies, ex-Mötley Crüe, Union, The Scream e Angora) são alguns exemplos.

Tendo dessa vez a companhia do percussionista e backing vocal Robby Rothschild, Kip Winger foi recebido por um público razoável em São Paulo. Empunhando seu velho e inseparável violão de doze cordas, o filho de pais jazzistas e ex-aluno de balé (curso que lhe rendeu altas performances de palco nos áureos tempos do Winger), deu início com Cross, música bacana de seu terceiro álbum, Songs from the Ocean Floor (2000). Aplaudido, Kip tinha na manga outras músicas de alguns de seus cinco álbuns solo. Porém, antes fez o público ferver com hits do Winger. O primeiro deles, Easy Come, Easy Go, do platinado In the Heart of the Young (1990), 15º colocado no chart Billboard 200, foi cantado em alto e bom som pelos fãs, principalmente no grudento refrão. Na sequência, a cativante Who’s the One, gravada em 1993 no terceiro álbum, Pull (o favorito deste redator, diga-se de passagem). Esta foi seguida por Can’t Get Enough, também de In the Heart of the Young, e Hungry, do debut Winger, de 1988, que deram um gostinho dos três primeiros e mais bem sucedidos materiais da carreira da banda nova-iorquina.

Perfeccionista e exigente que é, em várias pausas entre as músicas Kip Winger solicitava dos técnicos de som uma melhora no volume de seu microfone. Porém, em nenhum momento ele perdeu a simpatia com o público. Sempre comunicativo e brincalhão, chegou até a puxar um “Parabéns Pra Você”, em homenagem a uma pessoa da plateia, que aniversariava. Dando continuidade, ele revisitou o mais “recente” álbum do Winger, Better Days Comin’ (2014), que considero ser o melhor entre IV (2006) e Karma (2009), que marcam a segunda fase do grupo. Falando em Better Days Comin’, se você ainda não conhece esse disco, recomendo ouvir a faixa título, que é sensacional e traz nítidas influências das bandas da Motown.

Seguindo com o show, Kip e Robby executaram outros dois hits de In the Heart…: a climática Rainbow in the Rose e o hino-mor do Winger, Miles Away, em que o vocalista convidou uma garota da plateia a subir no palco para cantar com ele. Vale lembrar que a indelével balada fez muito sucesso no Brasil não só por seu clipe, que foi exibido à exaustão pela MTV e por programas como o extinto Clip Trip, da TV Gazeta, mas também por integrar a trilha da novela Felicidade (Rede Globo), exibida entre os anos de 1991 e 1992. Mais ainda, por um dos lendários comerciais do cigarro Hollywood, que sempre associavam imagens de esportes, vida saudável e natureza, com fundo musical de bandas de hard rock. E, ao contrário do que muita gente possa pensar, Miles Away não é uma composição de Kip Winger, pois tanto a música quanto a letra são de autoria do ex-tecladista/guitarrista do Winger, Paul Taylor, que, assim como o vocalista e baixista, também teve passagem pela banda de Alice Cooper.

Depois de tocar a belíssima Spell I’m Under, mais uma de Pull, álbum que influenciou o Dr. Sin na época do pesado Brutal (1995) – inclusive, os irmãos Andria e Ivan Busic estavam no mezanino assistindo ao show, acompanhados de seu novo guitarrista, Thiago Melo –, Kip voltou a mostrar um pouco mais de seus álbuns solo. Vieram, How Far Will We Go, de seu debut This Conversation Seems Like a Dream (1996), a instrumental experimental Free, música de ritmo árabe oriunda de Songs from the Ocean Floor (2000) e, com Kip ao teclado, duas de From the Moon to the Sun (2008), as românticas Pages and Pages e Where You We Go.

Aos 57 anos de idade e ainda desfrutando de uma voz incontestável, Kip Winger era ovacionando em algumas músicas quando resolvia soltar a garganta pra valer. E isso nem é surpresa para os fãs, que sabem e reconhecem o talento desse que um dia foi alvo (literalmente falando) para chacota do falastrão baterista do Metallica Lars Ulrich, e, injustamente, ridicularizado pelo desenho Beavis and Butthead, da MTV, por conta do jovem Stewart, um garoto que sempre usava camiseta do Winger e era vítima de bullying na mão dos dois personagens principais.

Cabe ressaltar também que Kip Winger é compositor da premiada peça clássica “Ghosts” e de “Conversations with Nijinsky”, que celebra a vida do coreógrafo Vaslav Nijinsky. Tal gravação, executada pela San Francisco Ballet Orchestra em “C.F. Kip Winger: Conversations with Nijinsky, Ghosts & A Parting Grace” (2016), conquistou o primeiro lugar na categoria de música clássica tradicional da Billboard, além de ter sido indicada ao Grammy como Melhor Composição Clássica Contemporânea.

O set seguiu com mais duas músicas do primeiro álbum do Winger. Porém, antes de começar a tocar Without the Night, Kip esqueceu-se da estrofe inicial e se concentrou em um jovem fã que estava à sua frente, na primeira fila da pista, ajudando-lhe a lembrar da letra. Muito legal isso. Em seguida, uma das mais aguardadas fez a alegria dos fãs, a balada Headed for a Heartbreak. A última de sua carreira solo a ser anunciada nem estava programada, mas, atendendo aos pedidos de alguns dos fãs, Kip tocou a balada pop Daniel, de This Conversation Seems Like A Dream. Um dos pontos altos da noite aconteceu na música que tenho como minha preferida do Winger (na verdade, pau a pau com a sempre esquecida Junkyard Dog): Down Incognito. Sempre tocada nos shows acústicos de Kip com um suingue diferente da pesada versão original, Down Incognito ficou ainda mais grooveada com a percussão de Robby Rothschild, que no decorrer dela teve uma performance cavalar, começando por um ritmo que até parecia ser influenciado pela música regional brasileira. Ainda com Down Incognito rolando, o músico foi aplaudidíssimo pelo público e arrancou um indisfarçável sorriso do “patrão”. Antes de encerrá-la, foi de arrepiar quando ele e Kip deixaram o refrão sob a responsabilidade dos fãs, que cantaram com empolgação.

Dando números finais, dois hinos do álbum Winger: a viciante Madalaine, em que o afinado público segurou a bronca no que seriam os backing vocals originais da música, e a ingênua Seventeen. Mais uma vez, valeu a pena relembrar a adolescência regada à hard rock, quando quase furei meus autografados discos do Winger de tanto ouvi-los. Apesar do cansaço e da pressa em voltar para o hotel, Kip Winger não saiu do Manifesto sem antes atender quem ficou para cumprimentá-lo e garantir fotos e autógrafos. Torçamos agora para que Kip, além de Reb Beach (guitarra) e Rod Morgenstein (bateria), retornem em breve ao Brasil com o Winger, já que faz quatro anos que o grupo esteve aqui pela última vez, abrindo para o Mr. Big. Produção, fica a dica!

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