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PAT TORPEY: mais do que um grande baterista, perdemos um batalhador

Dia 7 de fevereiro de 2018, uma data triste para os que admiram o trabalho do baterista do Mr. Big

Pat Torpey não era admirado apenas por seu talento como músico, mas também pela força de vontade em seguir carreira ao lado de seus companheiros de Mr. Big. A Doença de Parkinson acabou vencendo a batalha contra o baterista de 64 anos de idade, mas ele não se deixou abalar pelo diagnóstico, tornado público em 2014. Além de compor, Torpey seguiu saindo em turnê ao lado de Eric Martin (vocal), Paul Gilbert (guitarra), Billy Sheehan (baixo) e Matt Starr (bateria). Sempre com um sorriso no rosto e muita dedicação, em nenhum momento desistiu da música, da banda e de seus fãs.

Nascido em Cleveland, Ohio (EUA), a 13 de dezembro de 1953, Torpey teve seu primeiro contato com a bateria aos 7 anos de idade. “Eu estava com a família e amigos num piquenique, e havia uma banda de polca tocando. Estava sentado numa grade atrás do baterista e fiquei extasiado com o que vi e ouvi. Fui para casa e desenvolvi minhas próprias baquetas ‘signature’, com galhos de árvore que estavam caídos no nosso quintal”, recordou certa vez. Na adolescência, ele começou a acompanhar e a se envolver com diversos gêneros musicais. Depois, estendeu isso aos seus estudos percussivos quando, aos 13 anos, ganhou de sua mãe o primeiro kit de bateria.

No início de carreira, tocou com artistas e bandas como Belinda Carlisle, The Knack, Jeff Paris, Ted Nugent, Impellitteri e outros, mas foi quando se juntou a Martin, Gilbert e Sheehan no Mr. Big, no fim dos anos 80, que ganhou reconhecimento. Alcançou o estrelato através de discos inesquecíveis que gravou com o Mr. Big, como “Mr. Big” (1989), “Lean Into It” (1991), “Bump Ahead” (1993) e “Hey Man” (1996). Dali para frente participou de diversas gravações em outros projetos e bandas, chegando, inclusive, a lançar dois álbuns solo: “Odd Man Out” (1998) e “Odd Man Out: Y2K” (1999).

Em relação ao Brasil, Torpey estreitou laços quando veio pela primeira vez , em 5 de fevereiro de 1994. A banda havia lançado “Bump Ahead” menos de cinco meses antes e tocou no festival “M2000 Summer Concert”, evento ‘open air’ gratuito, realizado na Praia do Boqueirão, em Santos, litoral de São Paulo. Na ocasião, o Mr. Big dividiu palco com a cantora pop Deborah Blando, com os grupos Lemonheads, Rollins Band e com os brasileiros Dr. Sin e Raimundos. Apesar da forte chuva, foi um show histórico para o grupo, que tocou para aproximadamente 180 mil pessoas, seu maior público.

Torpey retornou ao Brasil em 1º de outubro de 2004, desta vez acompanhando seu até então novo companheiro de Mr. Big, o respeitado guitarrista Richie Kotzen, juntamente do baixista Phil Soussan (ex-Ozzy Osbourne, Vince Neil), para apresentação única no país, ocorrida na D’Loft, em São Paulo. O show foi parte da “Hard ‘n’ Heavy Party”, evento organizado pela Animal Records que, como atrativo, trouxe também o vocalista Jeff Scott Soto e realizou sua tradicional “Bikini Party” (concurso de biquínis) ao som de muito hard rock. Ainda com o Mr. Big, Torpey lançou vários outros discos, vídeos e singles.

Infelizmente, no dia 25 de julho de 2014, o baterista pegou os fãs de surpresa ao anunciar a triste notícia sobre sua saúde: “Tenho lidado com os sintomas de Parkinson nos últimos dois anos e recentemente recebi um diagnóstico confirmando que eles pioraram”, revelou. Ele finalizou o relato mostrando toda a força de vontade: “Pretendo lutar contra a doença com a mesma intensidade e tenacidade que também vivo minha vida. Continuarei gravando e tocando ao vivo como sempre, com o melhor da minha capacidade”.

Tanto para as turnês mundiais de “…The Stories We Could Tell” (2014) quanto do álbum seguinte, o mais recente lançamento da banda, “Defying Gravity” (2017), Torpey acompanhou seus companheiros em turnê, mas não teve condições de tocar bateria durante todo o set. Ele participou fazendo backing vocals, tocando alguns instrumentos leves de percussão e sentando atrás da bateria em raros momentos. Na primeira turnê, assumiu o kit nas baladas “Just Take My Heart” e “Fragile” e no bis com “Mr. Big”; na segunda, apenas em “Just Take My Heart”; e nos dois giros a banda teve Matt Starr (Ace Frehley, Burning Rain, Joe Lynn Turner e Beautiful Creatures) como seu baterista principal. Ambas as turnês passaram pelo Brasil e, por aqui, Torpey comoveu o público com seu carisma e simpatia, sendo sempre muito bem recepcionado e aplaudido pelos fãs. Em estúdio, no caso de seu último disco com a banda, “Defying Gravity”, foi como uma espécie de “produtor de bateria” e técnico de Starr, atuando apenas em algumas músicas.

Em novembro de 2017, Torpey contou ao site Anti Hero Magazine como vinha se sentindo e também como estava sendo bem amparado pelas pessoas de sua convivência. “Bem, você tem que ser positivo. A banda tem sido muito solidária, minha esposa, minha família… Quero dizer, a questão de ter Parkinson não é uma sentença de morte. Há algumas manhãs em que você acorda após ter tido oito horas de sono, mas ainda se sente cansado. Quando você acorda e precisa ter certeza de que tem de sair da cama, apoiar os pés e fazer algo, você só precisa levantar e continuar trabalhando nisso, e isso é bom”, contou. “As pessoas que me rodeiam são solidárias e entendem que talvez eu não seja capaz de fazer as coisas de maneira um pouco mais rápida ou da forma que eu costumava fazer. Ter esse apoio tem sido realmente importante e útil para lidar com isso. Considero-me muito afortunado”, finalizou.

Um baterista de pegada precisa e de raro bom gosto, Torpey era conhecido pelo extraordinário talento. Demonstrou isso sempre com groove, viradas e arranjos impecáveis em músicas do Mr. Big, como “Addicted to That Rush”, “Temperamental”, “Mr. Gone”, “Take Cover”, “Colorado Bulldog”, “Jane Doe” e outras. Algumas boas dicas em vídeo para conferir ou lembrar o talento de Torpey são: “Mr. Big Live (Live in San Francisco)” (1992) e “Live at Budokan” (2009), do Mr. Big, além dos instrucionais de bateria “Big Drums” e “Rock Groove Drumming”.

Vá em paz, Pat Torpey. Só temos a agradecê-lo pela música e pela lição de vida que nos deixou. Da parte de seus fãs, só há um sentimento em relação a você: ‘nothing but love’.

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