Uma banda com músicos competentes e que conta com um produtor como Alan Niven, que quando empresário de Great White, Mötley Crüe, Guns N’ Roses, Dokken e Tesla os ajudou a alcançar o sucesso, só poderia resultar em qualidade. E é isso mesmo que o Razer oferece em seu homônimo terceiro álbum, além de um som direito e contagiante. O grupo norte-americano conta em suas fileiras com o vocalista Chris Powers e com o baixista Chris Catero (Marty Friedman). Falantes, eles atenderam a ROADIE CREW para conversar sobre o álbum e também de outros projetos e do futuro do Razer.
Foram dois anos trabalhando em Razer. Por que o processo foi demorado?
Chris Catero: Coisas boas levam tempo. Foi como se fosse um primeiro álbum, pois nos transformamos em uma banda diferente do que éramos até então. Antes tínhamos um som mais voltado ao rock americano de rádio e neste álbum fomos brutalmente honestos artisticamente. ‘Fodam-se as tendências e expectativas, faremos o que manjamos bem!’: essa era a mentalidade. Outro fator foi que Jordan Ziff tinha acabado de se juntar a banda. Legitimamente, ele é um talentoso Deus da guitarra ‘old school’ e sua entrada mudou completamente a dinâmica da banda e nos guiou a uma direção que musicalmente estávamos interessados. Como compositor senti que em Chris Powers tínhamos um incrível cantor de rock e agora também este grande guitarrista, então pensamos: ‘vamos chutar bundas e fazer rock de verdade!’. Nesse período conheci Alan Niven e, uma vez que ele estava comandando a mesa conosco, demos um passo atrás, nos reaproximamos de tudo que vínhamos fazendo e levamos um tempo para desenvolver coisas organicamente. Naquela altura, atiramos os calendários pela janela, tudo estaria pronto quando tivesse que estar, sem pressão ou estresse.
Chris Powers: Acho que o Catero fez um bom trabalho analisando toda a perspectiva da banda, mas falando sob a visão de um vocalista, levou um bocado de tempo para sair da nossa antiga maneira, ou melhor que esse “novo modelo” de se fazer vocais de rock de hoje em dia, com todas essas bandas de rádio utilizando grandes ‘pads’, ‘takes’ perfeitos de vocais e de ‘timing’, ‘auto-tune’ etc. Em nosso álbum, Niven forneceu sua experiência em como os vocais deveriam ser feitos (outra de suas sagacidades), onde as coisas não são perfeitas, mas há ‘takes’ vindos do coração, e a dinâmica de vocal e de tempo projetando um sentimento verdadeiro ao ouvinte. Ou, ao seu melhor sotaque inglês: “uma conexão espiritual com a música e o ouvinte”.
Já que mencionaram Alan Niven, como chegaram até ele?
Catero: Conhecemos Alan e nos tornamos amigos dele. Por sermos fãs de seu trabalho, eventualmente discutíamos a respeito e ele conferia algumas das novas músicas que estávamos compodo e achei que esse seria o seu território. Na verdade, ele ficou intrigado e após realizarmos uns testes vocais com Chris Powers ele se rendeu e se juntou a bordo. Como tudo com Alan nunca é formal, ele disse: ‘ok, eu sou o grande cara para produzir e gerenciar isto agora’. Ele é genuíno e com uma ‘vibe’ bem orientada, muito tranquilo. Organicamente, começamos a trabalhar juntos e foi perfeito. Sem estresse algum para os envolvidos. Ele tem grande sensibilidade para o rock and roll e um histórico de Platina como produtor. Acho que houve um respeito maior por sua entrada, algo que ajudou a todos na banda a se abrir para novas ideias de como fazer as coisas. Co-produzi todos os nossos álbuns e quando essa parceria orgânica começou eu estava empolgado com a chance de trabalhar com ele. Honestamente, pensamos muito parecidos. Acabou que todo o processo ficou melhor do que eu esperava. É um disco muito honesto, das nossas performances até a produção.
Realmente, há aspectos técnicos de gravação interessantes em Razer…
Catero: Ah, é muito orgânico! Todos nós tocamos e cantamos. Então, fizemos um álbum que é uma espécie de Led Zeppelin II, pela maneira que gravamos as músicas em momentos diferentes, sem nos preocuparmos se tudo parecia igual, apenas fizemos cada canção do próprio jeito. Para mim, isso é muito mais interessante para os ouvidos do que a maioria dos álbuns de hoje, onde tudo soa tão uniforme e parecido – eventualmente, esses álbuns se transformam em uma longa canção para mim. Eles usam os mesmos sons de bateria ‘sampleados’, tudo fica perfeito. Em minha opinião, isso não é nada rock and roll.
Powers: Fizemos os vocais em um galpão, em um prado com cabras. Então foi orgânico até demais! Quase fomos alimentados pelo capim do rock and roll se você quer saber! (risos) Realmente foi como um livro aberto tentar coisas novas (ou reintroduzir antigas maneiras, talvez). De verdade, fizemos algumas partes em tempo real, de um jeito que saiu naturalmente.
Catero, você e Niven estão trabalhando juntos atualmente, não é mesmo?
Catero: Niven e eu reiniciamos sua antiga empresa de produção, Stravinski Brothers. Produziremos bandas juntos, e consultaremos para contratar algumas em vários aspectos de negócios da música.
Powers, você “emprestou” sua voz em The Devil Went Down To Georgia para o jogo de vídeo game Guitar Hero III: Legends of Rock. Como foi que isso aconteceu?
Powers: Alguns amigos meus, Steve Conley (guitarrista atual do Flotsam & Jetsam) e o produtor Ryan Green (NOFX, Megadeth) – que recentemente mixou algumas velharias do Razer -, estavam trabalhando em um projeto de uma estação de rádio o qual eles me pediram para cantar em algumas trilhas. Ryan também estava trabalhando com Steve Ouimette, um Deus da guitarra extraordinário que estava se dedicando a algumas canções para o jogo Guitar Hero 3, e ele disse a esse guitarrista que tinha um cara que ele deveria ouvir, e esse cara era eu. Ouimette amou o que eu estava fazendo na canção de Charlie Daniels – a título de crédito, também fiz Cities on Flame With Rock and Roll (Blue Öyster Cult), para o mesmo jogo. Também gravamos uma resposta a The Devil Went Down To Georgia, chamada Lou’s Revenge, que foi lançada no álbum solo de Steve Ouimette, Epic (2010). É uma canção divertida para guitarristas, que a comunidade do Guitar Hero pegou para si para criar todos os mapas dela para a versão do jogo para computador. De fato, é um testamento de quão boas Steve deixou essas canções.
Catero, você trabalhou para o lendário guitarrista Marty Friedman (ex-Megadeth) dentro e fora de sua banda de turnê. Jordan Ziff também toca com ele. Fale sobre essa experiência.
Catero: Maravilhoso! Fiquei amigo de Marty, provavelmente desde o ciclo final do álbum Countdown To Extinction do Megadeth. Ele convenceu minha antiga banda, Wardog, a se mudar para Phoenix (onde ainda vivo) e por lá acabamos tocando por diversão algumas vezes em bares locais. Eu ia bagunçar junto com ele em seu ‘home studio’. Eventualmente ele me perguntava se eu poderia aparecer para tocar com sua banda solo. Na verdade, mesmo que tivéssemos sido amigos por um tempo, a perspectiva de tocar com sua banda me assustou. Ele era meu amigo, mas é foda, afinal ele também era um dos meus guitarristas de metal favoritos de todos os tempos! Seus álbuns tinham alguns músicos convidados matadores no baixo, então eu sabia que teria que “aparar as costeletas” para tocar aquele material. Mas uma vez que pisei fundo e fiz disso um momento definitivo, tanto quanto músico como experiência, minha confiança foi elevada e eu realmente aprendi um pouco de como os verdadeiros profissionais lidam com os negócios. No estúdio peguei algumas dicas dele de produção e também de gravação de guitarras. Acabei fazendo algumas turnês com ele, o CD Exhibit A: Live In Europe (2007) e o DVD Exhibit B: Live In Japan (2007). A banda de Marty está sempre em rotação, com diferentes músicos, e meu período tocando com ele foi bastante divertido. Ao fazer Razer, comecei a enviar algumas demos para ele, para mostrar um pouco do Jordan tocando e ele dar o seu aval. E foi como pensei: ele deu! Então os apresentei na NAMM (N.R.: feira internacional anual que acontece em Anaheim, California) e Marty acabou convidando Jordan para tocar em sua turnê americana, que penso ter sido uma oportunidade incrível para Jordan ter uma experiência similar a que eu tive, e também ajudar a promover seu nome entre os guitarristas. Conferi o show deles em Las Vegas e eles soaram matadores!
Vocês já estão trabalhando no quarto álbum do Razer?
Catero: Levamos alguns meses fora da banda, tocando em outros projetos. Eu, por exemplo, toquei com Mick Brown (N.R.: baterista do Dokken) em sua banda solo, The Bourbon Ballet. Mas voltaremos a nos reunir em breve para trabalhar no novo material.
Quem sabe, após lançá-lo, vocês não venham conhecer o Brasil?
Catero: Eu amaria fazer alguns shows no Brasil. Espero que tenhamos sorte o bastante para isso!
Powers: De acordo! Queremos agitar o Brasil! Assistimos daqui alguns shows que acontecem aí e notamos multidões de pessoas que vivem e respiram rock and roll. É um dos lugares mais fodas, que ainda quero tocar.