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RED HOT CHILI PEPPERS – São Paulo (SP)

10 de novembro de 2023 - Estádio Morumbi

Por Luiz Tosi

Fotos gentilmente cedidas por Marcelo Rossi (@mrossifoto)

Com uma mistura eclética de gêneros, o Red Hot Chili Peppers foi pioneiro de um novo som que estendeu os limites do rock ao mesclar punk, funk e hip-hop. Ao longo de 41 anos de carreira, a banda vendeu mais de 120 milhões de discos em todo o mundo e quebrou os recordes de maior número de singles em primeiro lugar (15), maior número de semanas acumuladas em primeiro lugar (91) e de maior número de músicas entre as dez primeiras na parada de músicas alternativas da Billboard (28). Ainda ganhou seis prêmios Grammy e em 2012 foi incluída no Rock and Roll Hall Of Fame.

Mesmo com toda essa bagagem, críticas às performances ao vivo do RHCP não são raras. A banda, formada por Anthony Kiedis (vocais), Flea (baixo), Chad Smith (bateria) e John Frusciante (guitarra), é conhecida por alternar apresentações épicas (vide Credicard Hall em 1999) com outras bem pífias (alguém aí falou em Rock In Rio 2001?). Parte disso deve-se às performances, sim, porém outro aspecto tem que ser considerado: a dinâmica dos shows da banda. Sem roteiros e recheados de momentos autoindulgentes como jams, solos, improvisos e pausas, além de setlists nada óbvios e pouca interação com o público; as apresentações do Red Hot – as boas e as ruins – tendem a ser mais sombrias e intimistas do que se poderia esperar de uma banda com fama de ser alegre e dançante.

Particularmente, acho que o combinado não sai caro, afinal, os Chili Peppers sempre foram assim. Seria como ir a um show dos Ramones e reclamar de que a banda tocava rápido. Mas, nem todos parecem entender. Recentemente, um fã foi ao Twitter questionar exatamente esse aspecto: “Há momento e lugar para jams prolongadas. Quando você se apresenta em estádios é preciso tocar boas músicas e encurtar as jams”, postou o rapaz. Flea, que é formado em teoria musical e composição, e iniciou na música como trompetista de jazz, rebateu: “Sempre improvisamos ao vivo. Se você quiser ouvir uma música tocada do jeito que está no disco, é só ouvir o disco. Onde está o risco e a expectativa de surgir algo maior sem a improvisação?”. Touché!

Ainda assim, a banda segue arrastando multidões mundo afora, e nada menos do que 70 mil pessoas lotaram o estádio Cícero Pompeu de Toledo, o popular Morumbi, na última sexta-feira (10), para conferir a 10° passagem do Red Hot Chili Peppers pelo Brasil, numa turnê que além de São Paulo (SP) passou ainda por Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS). A última vez que os Chili Peppers estiveram no Brasil havia sido em 2019, para um show no Rock In Rio. A abertura ficou por conta do Irontom, banda que mistura funk rock, post-punk e alguns elementos pop-dançante. E o grupo agradou o público. O destaque ficou por conta do excelente guitarrista e de Zach Irons, filho de Jack Irons, baterista original dos Chili Peppers.

Três dos quatro integrantes do Red Hot Chili Peppers já passaram da casa dos 60, mas o peso da idade parece não ter chegado. Pontualmente às 21h o baixista Flea, com saia e uma meia de cada cor, entrou no palco plantando bananeira, enquanto Chad Smith e John Frusciante se ajeitavam nos seus instrumentos. Com todos a postos, o trio iniciou uma jam instrumental. A química entre Flea, John e Chad é impressionante! Anthony Kiedis, o vocalista de bigode com cabelos corte de tigela surge e a banda emenda Can’t Stop, The Zephyr Song e Snow (Hey Oh). Se havia dúvidas quanto à performance, a sequência inicial tranquilizou os fãs e deixou claro que a noite seria boa. Os Peppers estavam “on fire”!

Embora Kiedis não seja conhecido por ser um cantor excepcionalmente melódico, seu estilo vocal pontuado com linhas criativas e suas letras enigmáticas são peças insubstituíveis e distintas no som da banda. Comedido para entregar a performance vocal, que não é ruim, mas que exige muito dele, o vocalista se move pouco, olha pra baixo e segura o microfone de uma maneira que encobre parte de seu rosto. Para alguém cuja personalidade é tão grandiosa, Kiedis demonstra uma insegurança notável ​​em relação à sua voz. Não deveria, pois é um grande frontman e seus vocais foram corretos durante toda a noite.

Flea e Chad dispensam comentários, ambos são lendas em seus universos e instrumentos, formando uma das melhores cozinhas da história do rock, precisos sem soar mecânicos. A novidade dessa turnê é o retorno de Frusciante, que tocou nos maiores álbuns da banda e agora está em sua terceira passagem com os caras. O guitarrista foi a estrela da noite. Que apresentação! Com seu dedilhado percussivo, Frusciante estabeleceu o ritmo para um show cheio de solos criativos e grandes sacadas, trazendo uma abordagem exploradora e emotiva para o palco. O guitarrista realmente transforma a banda.

O setlist foi uma combinação ousada de hits com faixas novas ou menos conhecidas, algumas dos dois álbuns mais recentes, Unlimited Love e Return of the Dream Canteen, ambos lançados em 2022, já com Frusciante de volta. Nenhuma música dos quatro primeiros lançamentos da banda – The Red Hot Chili Peppers (1984), Freaky Styley (1985) The Uplift Mofo Party Plan (1987) e Mother’s Milk (1989) -, todos da fase Jack Irons, foi executada.

O público conectou-se com sucessos como Parallel Universe, Soul to Squeeze e Tell Me Baby, enlouqueceu com o mega-hit  Californication e se deliciou com um trecho de London Calling, do The Clash, na abertura do funk Right On Time. Porém, mesmo com grandes sucessos executados por excelentes músicos e um vocalista carismático, fica uma sensação estranha ao longo dos 90 minutos de apresentação da banda. O show parece nunca engrenar de verdade, são poucos e curtos os momentos de empolgação e raros os de verdadeira catarse como uma apresentação de estádio pede. É tudo morno, isso quando não chega a ser frio.

Em minha opinião, isso deve-se à alguns fatores. Ironicamente, o primeiro é a maior qualidade da banda: ser 100% orgânica, direta e real. São três instrumentistas tocando de verdade, sem banda de apoio, backing vocals, excessos de trilhas pré-gravadas, nenhum playback e “truques” que grandes artistas recorrem para engrandecer apresentações em estádios. O RHCP conta, no máximo, com a ajuda de Chris Warren, técnico de bateria de Chad Smith, que faz uns teclados e sintetizadores aqui e ali. O segundo, é a já citada dinâmica intimista das apresentações. Em alguns momentos, o quarteto chega a se desconectar com o público, formando um círculo entre os integrantes, como se estivessem num ensaio aberto ou em uma jam improvisada. O terceiro, é o local. Os Peppers pagam pela sua popularidade e dimensão, uma vez que esse tipo de abordagem não funciona tão bem em estádio. Em um local menor, esse show seria (ainda mais) arrepiante. Por fim, o público, que não ajuda em nada. Red Hot é aquele tipo de banda “sorvete de creme”, que todo mundo gosta, mas não é o favorito de ninguém. A maioria disparada dos presentes parecia ser o que eu chamo de “fã de greatest hits”, desconectando-se completamente de números mais recentes como as ótimas Eddie, Here Ever After, Tippa My Tongue e Black Summer, da surpresa Don’t Forget Me, do álbum By the Way (2002) e dos covers Havana Affair (excelente versão do Ramones) e Terrapin (de Syd Barrett).

Na reta final, a arrebatadora By The Way precede o inevitável bis com Under the Bridge e Give It Away – faixa composta intencionalmente em cima do riff de Sweet Leaf, do Black Sabbath -, os dois maiores sucessos da banda, ambos do álbum Blood Sugar Sex Magic, de 1991.

Os Peppers atingiram um patamar em que podem o que quiser, seja fazer longas pausas para conversar entre si sem se preocupar com o público, seja se dar ao luxo de renunciar a sucessos que outras bandas se matariam para ter, como Suck My Kiss, Breaking The Girl, Scar Tissue, Around The World, Otherside, Universally Speaking e Dani California – para citar apenas alguns. E parece que a banda se alimenta disso, ao evitar obviedades e eliminar risco de soar um cover de si mesmo, nostálgico e repetitivo. Como disse Flea em resposta àquele suposto fã: onde está o risco e a expectativa de surgir algo maior sem a improvisação?

Com John Frusciante de volta à guitarra, a banda trouxe um renovado senso de propósito e coesão no palco, entregando aquela que foi, para mim, sua melhor apresentação no Brasil. A energia de Flea é contagiante, os vocais de Anthony estavam no ponto, e a bateria de Chad segue firme como sempre. No fim, quem soube aproveitar, viu uma grande apresentação de uma excelente banda numa noite inspirada, que provou que ainda está no topo e, mesmo após quatro décadas, claramente ainda curte o que faz!

Red Hot Chili Peppers setlist

Intro Jam

Can’t Stop

The Zephyr Song

Snow ((Hey Oh))

Here Ever After

Havana Affair (cover Ramones)

Eddie

Parallel Universe

Soul to Squeeze

Right on Time

Tippa My Tongue

Tell Me Baby

Terrapin (cover Syd Barrett)

Don’t Forget Me

Californication

Black Summer

By the Way

Under the Bridge

Give It Away

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