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RICKY WARWICK – WHEN LIFE WAS HARD AND FAST [8,5/10]

É difícil falar ou escrever a respeito de Ricky Warwick sem mencionar Thin Lizzy, Black Star Riders ou The Almighty. Essa introdução acaba sendo um pouco previsível, eu sei, mas é um passo necessário que precisa ser dado para falar desse talentoso artista irlandês.

Do hard/heavy do início dos anos 90, passando pela reencarnação da lendária banda de Phil Lynott, e aproveitando a onda de sucesso com o Black Star Riders, Ricky conseguiu chamar a atenção do público fora do Reino Unido, não apenas em razão do seu estilo único de cantar (com sotaque carregado nos “alright” e “tonight”), mas também por representar a cara do rock: atitude, tatuagens e, especialmente, por usar a música como uma forma de prestar homenagem às suas raízes e à sua terra natal (“Tank McCullough Saturdays” e “Belfast Confetti”, ambas da carreira solo, são bons exemplos disso).

Não seria exagero compará-lo a uma versão moderna de Bruce Springsteen, ainda mais quando estamos falando de sua trajetória fora das bandas que o consagraram. No entanto, é preciso apenas um pequeno ajuste na comparação com o “The Boss”. Ao invés de carros, das lutas da classe operária e de pobres coitados nascidos para correr, Ricky se envereda muitas vezes por memórias da juventude, da cultura irlandesa e rebeldias adolescentes. Em resumo, temos aqui um contador de histórias, ou melhor dizendo, um cantor de histórias, e a prova disso é o seu ambicioso trabalho duplo de 2016, “When Patsy Cline Was Crazy (And Guy Mitchell Sang The Blues)/Hearts on Trees”.

Quem é fã sabe a dificuldade de se aguardar um lançamento, e quando o hiato entre os álbuns é de quase 5 anos, a expectativa fica ainda mais alta. O fato é que a espera foi recompensada agora em fevereiro de 2021 com o quinto trabalho solo de Ricky, “When Life Was Hard And Fast”.

Podemos dizer que ele voltou com estilo para apresentar ao ouvinte um empolgante rock and roll repleto de frases de impacto que, para qualquer outro artista significaria algo clichê, mas, para ele, representa sua identidade musical e, acredite, o resultado final é muito bom! Talvez seja um pouco clichê mesmo, não há outra palavra para descrever esses versos: “You can’t fix yourself by breaking somebody else” (da faixa “I’d Rather Be Hit”), ou “If distance wasn’t measured/I’d always be by your side”, da sutil faixa “Time Don’t Seem to Matter”.

Outro ponto relevante é que este não seria um típico álbum solo de Ricky se o título não fosse marcante ou, no mínimo, digno de nota. Já mencionei acima o longo nome do trabalho anterior, e parece que ele tem mesmo um cuidado especial ao escolhê-los. Assim, “When Life Was Hard And Fast” é mais um bom título em sua discografia, que inclui outros nomes interessantes, como “Tattoos & Alibis” (2003) e “Love Many Trust Few” (2005).

Se comparado com a extensão do trabalho de 2016, o novo álbum é mais centrado (pelo simples fato de não ser duplo!), e vai direto ao ponto com aquilo que o irlandês sabe fazer melhor: música sem compromisso com a complexidade ou grandes arranjos. Acrescente aí doses de romantismo e um espírito de rebeldia que remonta aos tempos “old school” do rock.

Assim como em seus álbuns anteriores, Ricky precisou de alguns ingredientes básicos: uma boa banda de apoio, criatividade nas letras e, para completar, melodias simples, cativantes e que prendem a atenção do ouvinte. A receita em si não é inovadora, mas ao unir tudo com letras de conteúdo, Ricky chegou a um resultado final muito bom, pois melodia sem conteúdo não tem graça, e o inverso também é verdade.

A banda cumpre muito bem seu papel e agora conta com Keith Nelson na guitarra (que recusara o convite para substituir Damon Johnson no Black Star Riders), Xavier Muriel (bateria) e Robbie Crane, atual baixista do BSR e que já havia colaborado anteriormente com o artista no álbum “When Patsy Cline….”.

O disco abre de forma promissora com a batida da faixa título, coescrita com Sam Robinson, amigo de Ricky que o auxiliou em grande parte das letras do álbum anterior. O ritmo é empolgante, o refrão (que conta com uma apagada participação de Joe Elliott – Def Leppard) é melodioso e as guitarras gêmeas no meio da canção dão o toque característico de Thin Lizzy. E não vou deixar de pontuar o óbvio: o vocal rasgado típico de Ricky deixa a música ainda mais interessante.

Outra canção que segue um pouco da mesma estrutura é “Fighting Heart”, primeiro single do álbum. Foi uma boa escolha para promover o disco, mas acontece que ela não impressionar tanto quanto a faixa de abertura e deixa a desejar se comparada com a qualidade dos singles do álbum anterior, como as ótimas “The Road To Damascus Street” e “Celebrating Sinking”.

Apesar de ter ressaltado a simplicidade das melodias, não entenda isso como um álbum monótono. O refrão com nítidas influências de Motown em “You Don’t Love Me” (algo que Ricky já fez no Black Star Riders em “Testify Or Say Goodbye”, por exemplo) e o punk rock de tirar o fôlego em “Never Corner a Rat” (com uma ótima linha de baixo!) são complementados com a delicada “Time Don’t Seem To Matter”, cujo refrão é cantado em dueto com a filha Pepper Warwick.

Essa última música, que é basicamente guiada pelo violão, causa ainda mais espanto por vir logo em seguida da já mencionada “Never Corner a Rat”, e a sensação que fica é de que o artista realmente quis pegar o ouvinte de surpresa, pois a opção mais óbvia para seguir com o disco seria com o hard rock vigoroso de “Still Alive”, que conta com a participação de Dizzy Reed (Guns N’ Roses) nos teclados. Não faz mal, brilhou a imprevisibilidade do artista!

Ricky Warwick mais uma vez comprova seu “padrão Bruce Springsteen” para contar histórias e nos apresenta a western “Gunslinger”, que só não é melhor por duas razões: repete muito o refrão e acaba rápido demais. “Still Alive”, que está facilmente entre uma das melhores do álbum, narra as desventuras de Billy Joe e Jimmy Brown em um roubo a banco, enquanto “Never Corner a Rat” lida com negócios perigosos em becos escuros. Ah, claro, sem contar a faixa título, na qual uma pessoa sonha em fugir do campo para seguir seus sonhos movidos a automóveis e rock and roll.

O álbum ganha um contorno lúgubre em “I Don’t Feel At Home” e, apesar de ser uma balada muito boa, não condiz com a energia positiva do álbum, que é bem agitado e tem sempre como pano de fundo uma decepção amorosa, histórias de malfeitores e uma paixão escancarada pelo rock. Prova disso é a ótima faixa que encerra o disco, “You’re My Rock’N’Roll”, na qual Ricky, rebatendo a frequente ideia atual de que o rock morreu, diz que, na verdade, ele apenas está perdido em seus próprios mistérios. Frase de efeito para terminar um grande álbum, que não perdeu seu encanto nem mesmo contendo uma faixa insossa como “Clown Of Misery”!

Em “When Life Was Hard And Fast”, Ricky Warwick escreveu mais um belo capítulo em sua discografia solo. A estrutura simples das canções é compensada com o carisma do artista e com sua habilidade em escrever letras que realmente querem passar alguma mensagem ao ouvinte. Ele não se reinventou, mas podemos dizer que ele soube aproveitar muito bem o talento acumulado em mais de 30 anos de carreira para proporcionar ao ouvinte uma prazerosa viagem musical em um mundo louco onde, parafraseando o próprio artista, a salvação é o rock and roll.

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