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SUBWAY TO SALLY: COMO O CORAÇÃO MANDAR

A missão mais difícil talvez seja achar a classificação mais apropriada para a música criada por esse grupo alemão. O heavy metal é uma referência constante e pungente, e o folk tradicional também costuma marcar presença em todos os momentos. Porém, não é absolutamente incomum aparecerem referências à música industrial, assim como algumas pitadas de gótico se mostram aqui e ali. Ouvindo com atenção, toda essa mistura tem um algo de progressivo, ao passo que a força do show ao vivo às vezes chega a arranhar no thrash. Bem, se você for bem sucedido em colocar uma alcunha em toda essa mistura, a dificuldade agora será apenas achar uma razão razoável para não curtir a música do Subway To Sally. Ainda bem que essa é uma missão que não precisamos cumprir, pois é ótimo poder aproveitar toda a criatividade sem limites do grupo. Formado há mais de três décadas em Postdam, a banda coleciona álbuns de sucesso e posições de destaque nas paradas alemãs, ao passo que é presença sempre constante nos maiores festivais de música pesada da Europa. Com a forçada pausa da pandemia, eles aproveitaram para lançar mais um álbum ao vivo, Eisheilige Nacht – Back to Lindenpark (2021). E nós aproveitamos para conversar com o baterista Simon Michael Schmitt. 

Como esta tem sido a época em que você mais tem tido folga nos últimos trinta anos, como tem passado o tempo? 

Simon Michael Schmitt: Ah, tenho tentado aprender tantas coisas quanto meu cérebro conseguir absorver. Vivemos uma época interessante, você liga as coisas, e pronto, elas já funcionam, você não precisa fazer mais nada. Por exemplo, peguei meu telefone, cliquei em um único ícone, e aqui estamos nós conversando em áudio e vídeo em tempo real, um de cada lado do planeta. E isso nem sequer é surpreendente hoje em dia, isso absolutamente normal, e as pessoas riem de mim quando fico abismado com isso (risos gerais). Mas é um fato que eu acho bizarro, hoje em dia as coisas simplesmente funcionam, você nem precisa fazer ajustes, elas simplesmente funcionam (risos). 

É um bocado mais confortável, mas não dá pra negar que ficamos bem mais estúpidos com isso também. 

Simon: É verdade (rindo muito). Cara, eu lembro de época em que comecei a trabalhar com música no estúdio, quando comecei a lidar com produção e mixagem, essas coisas. Era um pesadelo, mas era fascinante. Você tinha esses equipamentos enormes com tantos botões e pequenas telas, e não havia escolha, você tinha que memorizar como todos eles funcionavam. Existiam segredos que você só aprendia com aquele profissional específico, você precisava estar lá naquele momento para conquistar aquele conhecimento. Hoje em dia, você quer saber como qualquer coisa funciona, e faz o que? Assiste a porra de um tutorial no YouTube (risos gerais). E funciona, eu mesmo faço isso, mas sabe qual é o problema? Você vai lá, segue o tutorial, a coisa funciona, e você esquece completamente o que fez. Quando precisa fazer a mesma coisa, não sabe porra nenhuma, e tem que ver aquele mesmo maldito vídeo de cinco minutos de novo e de novo, até o fim dos tempos (risos gerais). Então, basicamente tenho dedicado meu tempo livre a aprender coisas sem o YouTube, para saber de verdade em vez de apenas fingir que sei (risos). 

Antes do Subway To Sally você tocou em bandas cover, certo? 

Simon: Ah sim, é verdade. Eu tocava em uma banda cover no melhor estilo ‘Top 40’, sabe? Essas são aquelas bandas que não são especializadas nem em um gênero e nem em um artista específico, você apenas pega as 40 canções mais ouvidas no seu tempo, e faz versões dela, sem se importar com o que está tocando. 

Eisheilige Nacht: Back To Lindenpark – Napalm – IMP

Então, imagino que naquela época você abençoaria o Google e o YouTube, já que poderia aprender qualquer riff ou qualquer letra em questão de minutos, com dedicação zero. 

Simon: Sim, é mesmo (risos). E aprender qualquer riff errado, como costuma-se fazer hoje (risos). Mas, eu tenho uma história engraçada sobre exatamente isso. Na época da banda cover, o Google ainda não era uma realidade, então era bem complicado conseguir as letras exatas de algumas canções. Quando era rock, não sei se existia aí no Brasil a mesma coisa, mas por aqui tínhamos essas revistas de cifras e letras, que salvavam a pele. Mas, sendo uma banda Top 40, era muito comum tocarmos muitas músicas que não eram rock, e que, portanto, não estavam nessas revistinhas. Pois bem, chegou o dia em que precisávamos tocar uma música que foi tema do filme Godzilla, de 1998, a Come With Me. É, você está rindo porque já sabe o tamanho do problema (risos gerais). 

Sim, nessas horas, hip-hop pode ser um problema bem grande. 

Simon: Com certeza (risos). Bem, a questão é que eu não odiava essa música, não tinha como, afinal, é um hip-hop construído sob a base de Kashmir, do Led Zeppelin, e não tem como estragar essa música. Porém, temos o riff clássico do Jimmy Page aqui, mas Come With Me é uma música do Puff Daddy, logo, eu estava com um belo problema para conseguir tirar aquela letra! Cara, eu simplesmente não conseguir pegar todas aquelas palavras, eu não entendia as expressões, as gírias, ele falava ou cantava muito rápido, nem sei dizer o que fazia (risos gerais). Cara, eu passei quatro horas ouvindo aquela canção repetidas vezes, enquanto tentava escrever a letra, e no fim, terminei com algo que eu achava ter ouvido, mas que não fazia nenhum sentido. Cara, não dá pra entender o Puff Daddy com o inglês que você pegou no Segundo Grau (risos gerais). Resultado, cada vez que tocávamos essa música ao vivo, era um constrangimento geral, pois estava muito claro que não fazíamos ideia de que diabo estávamos fazendo (risos). Quando lembro disso e penso que hoje em dia podemos encontrar a porra da letra de cada merda de música já gravada na internet… Cara, eu nasci na época errada (risos gerais). 

Mas, musicalmente foi uma boa época, certo? Afinal, temos um background incrível que vem das ótimas bandas das décadas anteriores, além de convivermos com um cenário global integrado pela internet, que garante uma facilidade extra. 

Simon: Ah sim, nesse sentido não tem nem como contestar, vivemos em uma época maravilhosa. Pegamos tudo de incrível que as bandas fizeram nos anos 60, 70 e 80 e misturamos com o que nossas contemporâneas fizeram, tudo com acesso quase instantâneo, isso é algo realmente legal, pois amplia os seus horizontes. Desde que você saiba lidar com tudo isso, claro. 

Bom, o Subway To Sally está lançando um novo álbum ao vivo, e com o momento estranho que vivemos, é interessante recordar certas histórias. Você ainda recorda o primeiro show que foi, como fã? 

Simon: Sim, foi uma banda alemã que vi naquele dia, o Fiddler’s Green. É engraçado até, pois hoje nós e eles integramos a mesma cena, o folk alemão (risos). Acho que eu tinha treze anos na época, e o baterista deles era uma espécie de ídolo pra mim, eu já tocava bateria na época. Lembro de ter visto uma entrevista incrível na revista de bateria alemã Sticks, era uma entrevista realmente longa e detalhada com Wolfram Kellner, que era o baterista do Fiddler’s Green na época (N.R: Hoje ele integra o J.B.O.). Eu fui ao show com a revista na mão, queria pegar o autógrafo dele, você sabe. Tive a sorte dele estar sentado basicamente ao meu lado antes da apresentação, mas eu estava tão nervoso, você pode imaginar (risos). Aquele foi um dia fabuloso para mim, eu não teria como esquecer, nem se tentasse. Eu estava encantado com tudo, o palco, as luzes, a banda interagindo com os fãs. Eu nem imagina que algum tempo depois eu estaria vivendo nesse mesmo mundo. 

Você conseguiu o autógrafo? 

Simon: Não naquele dia, pois eu tremia tanto que nem consegui falar com ele (risos gerais). Mas, quinze anos depois, quando estávamos em turnês juntos com nossas bandas, eu levei essa mesma revista para ele assinar, e contei a história. Ele ficou emocionado, mas claro, deu boas risadas também. Hoje somos grandes amigos. E, meu segundo show foi naquele mesmo ano, quando fui ver o Blind Guardian! 

Uma ótima banda para ver ao vivo! 

Simon: Sim, e naquela época eles já eram gigantes aqui na Alemanha, na verdade já eram bem grandes no mundo todo. Lembro que foi um show diferente, pois era uma ‘apresentação secreta’ em um pequeno clube de Nuremberg, eu nem lembro como consegui os ingressos, mas lá estava eu! Foi ótimo, eles estavam na turnê do Nightfall In Midde-Earth (1998), e o baterista era ainda o Thomas Stauch, ótimo baterista! Anos mais tarde, tocamos com o Blind Guardian, e disse ao Hansi Kürsh (vocalista) que meu segundo show foi o Blind Guardian, e ele foi muito gentil comigo. Vivemos em um mundo de pessoas gentis no metal, quem diria (risos gerais). 

Secretamente, Simon Michael é um fã de power metal melódico. 

Simon: É, não tão secretamente assim (risos). Desde que entrei para o Subway To Sally, tenho puxado muito nossas músicas por esse caminho, é inevitável para mim. Se você observar, vai perceber que as canções que eu escrevi, são as mais ‘metal melódico’ dessa banda, então acabo revelando de maneira bem clara de onde vêm minhas inspirações e o que gosto de ouvir quando estou em casa (risos). 

Acho isso ótimo, afinal, ninguém aparece no mundo da música do nada, todos têm suas referências. 

Simon: É isso mesmo, não gosto dessa ideia de esconder as nossas influências, seria estupidez! Começamos a tocar por influência dos nossos ídolos, não há razão para depois fingir que eles não existem e que nós somos 100% brilhantes e originais. Claro que buscamos certa originalidade, mas não vamos negar quem somos. O metal existe há décadas, é uma longa tradição que nos orgulhamos em manter. 

Outra tradição que se orgulham em manter está muito bem representada no seu novo álbum ao vivo, Eisheilige Nacht – Back to Lindenpark. 

Simon: É verdade! Sabe, metal é sobre tradição, então temos certo prazer em manter algumas tradições, e essa é talvez uma das mais legais de todas. Deixe-me explicar: O Subway To Sally é uma banda bastante antiga, já temos três décadas de existência, isso é um longo tempo para uma banda. Ao longo de todas essas décadas, ao menos pelos últimos vinte e cinco anos, temos mantido uma tradição, que é fazer o último show de cada turnê, o último show de cada ciclo na cidade de Postdam, em um pequeno clube chamado Lindenpark. Então, pode ter certeza: No dia 30 de dezembro, um dia antes do fim de cada ano, o Subway To Sally vai tocar no Lindenpark! É mais que uma tradição, é quase um culto para os nossos fãs (risos), uma ‘comunhão’ entre nós e nossos fãs na Alemanha, onde tudo começou. Bom, a cerca de dez anos nos tornamos uma banda grande demais para o Lindenpark, os shows estavam sempre ‘sold-out’, e boa parte dos fãs ficava de fora da festa, o que acabava não sendo muito justo. Decidimos então tocar em uma casa maior em Postdam, mas todas as outras casas eram grandes demais para nós! Foi por isso que começamos a convidar outras bandas para tocarem conosco em uma espécie de ‘mini-festival’ de fim de ano, o Eisheilige Nacht, como chamamos na primeira ocasião, pois vínhamos de uma turnê com esse nome. O festival foi um sucesso absolutamente inesperado, então mantivemos pelos próximos anos, sempre entre o Natal e o Ano Novo, cerca de dez shows desse pequeno festival. Claro, Postdam sempre estava na rota. 

E como funcionou esse ‘retorno’ ao Lindenpark, que o título indica? 

Simon: Bem, fomos fazendo o nosso festival ao longo dos anos, mas então um belo dia apareceu a pandemia, e tudo precisou mudar. Tivemos que cancelar turnês, como aconteceu com todas as bandas do mundo, mas não queríamos ter que cancelar essa apresentação em específico, essa parte da nossa tradição, da nossa história, e justamente em uma época tão marcante para a banda, em que celebraríamos uma marca histórica tão importante. Não queríamos que na nossa história ficasse este ‘asterisco’ vermelho, indicando que a nossa celebração anual havia sido cancelada por um motivo tão triste para tantas pessoas. Só havia uma opção: Faríamos um show online, venderíamos ingressos para nossos fãs, e estaríamos diante deles no final do ano, como sempre, apenas de acordo com as circunstâncias ditadas pela época. Não havia porque cancelar tudo, tornar toda aquela tristeza em algo ainda mais miserável, realmente nos esforçamos para dar às pessoas ao menos um algo de bom naquele fim de ano, você sabe. Demos o melhor de nós naquela apresentação, tocamos até várias canções cover das nossas bandas convidadas, algo que não costumamos fazer já que não somos uma banda cover, mas fizemos pela diversão e pela vontade de entregar algo realmente único e especial para os nossos fãs. E isso foi o que fizemos para eles, enquanto ainda não podíamos estar de fato diante deles e receber de volta toda aquela energia que eles sempre enviam para o palco!  

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