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SUMMER BREEZE (SÁBADO)

HOT STAGE 

VOODOO KISS 

Por Leandro Nogueira Coppi

Enfim, o Summer Breeze fincou sua marca no Brasil e quem cortou a fita de inauguração foi a banda alemã Voodoo Kiss, que deu início a edição brasileira de estreia. O grupo não é tão conhecido em nosso país, porém tem uma história curiosa. Na bateria, seu fundador, Achim Ostertag, simplesmente o criador do Summer Breeze. Foi por falta de oportunidades para o Voodoo Kiss tocar que há 25 anos Ostertag decidiu criar o festival na cidade de Abtsgmünd. Já o Voodoo foi criado em 1995 e cinco anos depois encerrou atividades. Somente em agosto do ano passado, na cidade medieval da Baviera, Dinkelsbül, a banda voltou a se reunir, como parte do 25° aniversário do Summer Breeze. Ainda em 2022, o grupo aproveitou o fato para também lançar seu homônimo primeiro álbum, gravado em maio do mesmo ano. Além de Ostertag, o Voodoo Kiss é completado pelos cofundadores Marin Beuther (guitarra) e Klaus Wieland (baixo), além do vocalista Gerrit Mutz (Sacred Steel, Angel of Damnation, Dawn of Winter) e da recém-admitida Steffi Stuber, frontwoman da banda Mission in Black e mais conhecida em seu país como caloura no programa The Voice of Germany.

Achim Ostertag (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

O grupo fez um show curto de abertura do festival, apresentando uma sonoridade bem simples e direta, um ‘rockão’ pé-no-heavy em que os destaques foram os singles “The Beauty and the Beast” e “The Prisoner”. O que ficou nítido é que a função do grupo alemão no palco era algo bem descompromissado, mais como uma celebração e a realização de um sonho de seus integrantes em a banda poder estar em um festival de grande porte fora de seu continente. Fato é que os músicos performavam de modo bastante tímido, principalmente Mutz quando se comunicava com o público, bem como a própria Stuber, que mais olhava em direção aos seus companheiros de banda do que para a plateia.

De todo modo, o público, em número ainda pequeno nesse primeiro show do dia, parece ter sido conquistado pela simpatia dos músicos. Prova disso é que a banda deixou o Hot Stage sendo bastante aplaudido. E olha que isso foi só uma amostra de que o público que compareceu nos dois dias de festival foi bem caloroso com todas as atrações que pisaram em cada um dos palcos do Summer Breeze. Ponto para o Brasil, que mostrou que o radicalismo (ao menos nos shows) é coisa do passado.

Gerrit Mutz e Steffi Stuber (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

 

MARC MARTEL 

Por Heverton Souza 

O sol já pegava pesado nessa tarde de sábado quando no Hot Stage a coisa esquentaria ainda mais com a encarnação canadense do Freddie Mercury batizada de Marc Martel. O cara que começou fazendo rock cristão no fim dos anos 1990, ganhou notoriedade na década de 2010 ao fazer covers do Queen na internet, justamente pela similaridade vocal. E depois de levar isso aos palcos ao lado da banda Queen Extravaganza, Martel sai solo pelo mundo com banda na tour One Vision of Queen. Ao som de “Baba O’Riley” (The Who) nos PAs, a banda entra em palco no exato horário das 13h05 com “Tie Your Mother Down” seguida de “Hammer to Fall”. Com sua camiseta do cantor George Michael (que por muitos anos foi apontado como o cara certo para substituir Freddie Mercury no Queen), Marc se apresenta e diz que será um show de hits, pergunta quem na platéia curte Queen e a banda dá início a “Under Pressure”, com o guitarrista Tristan Avakian assumindo a voz de originalmente de David Bowie.

Marc Martel (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

Era possível notar entre o público que muita gente que iria apenas passar pelo espaço, ali parava e ficava. Comentários como “a voz é idêntica” eram ouvidos a todo momento e se fechassem os olhos, daria pra dizer que o próprio Freddie Mercury estava em palco. E não bastando a voz, Marc ensaiou todos os trejeitos de Mercury, mas não exatamente o imita em nada e carrega sim sua própria identidade, tem total domínio do público e ainda apresenta suas graças como fazer um perfeito moonwalker, do Rei do Pop Michael Jackson.

Quanto ás músicas, ele não mentiu um show de hits, apesar de muitos mostrarem não conhecerem “Stone Cold Crazy”. E o show por ser curto, ainda deixou de fora uma penca de sucessos da banda. Mas todos puderam cantar com ele clássicos como “Radio Gaga”, “Crazy Little Thing Called Love”, “I Want to Break Free”, “Bohemian Rhapsody”. Em “Another One Bites the Dust” chega até a soltar um vocal gutural por breves segundos, já em “Somebody To Love” regeu um coral do público, inclusive separando as vozes para depois uni-lás. A despedida veio como num show do Queen, com “We Will Rock You” emendada por “We Are the Champions”. Uma experiência arrepiante para quem é fã de Queen e do maior frontman da história do rock.

Tristan Avakian e Marc Martel (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

 

SKID ROW

Por Ricardo Batalha

A relação do Skid Row com o Brasil já foi do amor ao ódio de 1992 a 1996, quando o grupo americano implodiu após ser massacrado por parte do público no Monsters of Rock. Agora, em mais um exemplo de ressurgimento de uma banda que estava quase esquecida e era lembrada por glórias do passado, a nova fase do Skid Row, com a presença do vocalista sueco Erik Grönwall (ex-H.E.A.T), não só agradou os antigos fãs como vem conquistando novos seguidores. Assim, logo após a homenagem a Andre Matos no Ice Stage, os hard rockers aguardavam ansiosamente a presença de Grönwall, Dave “Snake” Sabo e Scotti Hill (guitarras), Rachel Bolan (baixo) e Rob Hammersmith (bateria) no Hot Stage.

O Skid Row, que veio ao Brasil pela primeira vez no festival Hollywood Rock em janeiro de 1992 e voltou naquele mesmo ano para fazer mais três apresentações em agosto, começou o set da mesma forma. Assim, como esperado, entraram com a acelerada, agressiva e clássica “Slave to the Grind”. Do mesmo álbum, lançado em 1991, veio “The Threat”.

Erik Grönwall (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

Pronto, a dúvida estava sanada. Quem teve a chance de ver a performance de Grönwall no H.E.A.T, como no caso deste que vos escreve, já sabia do que ele era capaz. Porém, bastaram duas músicas no Summer Breeze para que todos comprovassem sua competência. Mais que isso, a de que o Skid estava realmente de volta, tocando com a mesma pegada, groove, peso, intensidade e, principalmente, a felicidade dos velhos tempos. E vou além, pois o clamor pelo retorno de Sebastian Bach, após a banda contar com o saudoso Johnny Solinger, Tony Harnell (TNT) e ZP Theart (Tank, Dragonforce), vai se esvaindo. Se naquele mesmo Hot Stage vimos Marc Martel reencarnando Freddie Mercury, Grönwall fez muito bem seu papel de entreter a plateia, agitar e cantar até as notas mais altas gravadas originalmente por Bach. Ele até brincou com o público em certo momento, dizendo em alto e bom som umas palavras que tinha aprendido em português: “Filho da puta”. Brincou também com seus parceiros quando revelou ao público a camiseta por baixo de sua jaqueta com os dizeres ‘Estou cercado de idiotas’.

Dave “Snake” Sabo e Scotti Hill (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

O homônimo álbum de estreia, lançado em 1989, foi lembrado na sequência formada por “Big Guns” e pelo hino “18 and Life”, uma das mais saudadas do set. Depois, a faceta punk entrou em cena com “Riot Act”, também de “Slave to the Grind”, seguida por outro destaque do debut, “Piece of Me”. Se faltava algo do mais recente trabalho, “The Gang’s All Here” (2022), a faixa “Time Bomb” foi colocada à prova após “Livin’ on a Chain Gang”, mas acabou sendo recebida de forma morna. O panorama mudou com a execução da clássica “Monkey Business”, destacando a bela timbragem das guitarras de Sabo e Hill. Seguindo com outra de “Slave…” que fez muito sucesso no Brasil, nas rádios e na MTV, foi a vez da balada “In a Darkened Room”. Se quisesse, a banda até teria nas mãos outras para dar aquela acalmada no set, como “Wasted Time”“Quicksand Jesus” e “I Remember You”.

O show estava caminhando para o final quando veio a faixa-título de “The Gang’s All Here”, esta com mais apelo e aquela velha malícia do hard americano. Mantendo a tradição, o encerramento em alta veio com “Youth Gone Wild”, a mais saudada de todo o repertório – entre os músicos, o baixista Rachel Bolan foi o mais ovacionado quando Erik apresentou a banda. Ninguém esperava, mas o Skid Row, que não tocava no Brasil desde 2009, finalmente renasceu e o hard rock mostrou que merece espaço em eventos como este.

Rachel Bolan (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

 

LAMB OF GOD

Por Daniel Dutra 

Não deixa de ser estranho ouvir que o Lamb of God é um dos grandes nomes da nova geração do heavy metal, uma vez que a banda completará 30 anos em 2024. No entanto, apesar de esse clichê ser eventualmente usado lá e acolá, a verdade é que um dos principais nomes – e talvez o principal – da New Wave of American Heavy Metal se tornou uma grande força também no Brasil, e não seria nada demais ver a banda fechando um dos palcos principais do festival.

Se alguém duvida, basta dizer que os empolgados de última hora correram para o stand de merchandising e deram com os burros n’água. As camisas do quinteto esgotaram não muito depois do fim do show, com o detalhe de que no dia seguinte ainda havia material de todas as outras bandas disponível para venda. Pudera, Randy Blythe (vocal), Mark Morton e Phil Demmel (guitarras), John Campbell (baixo) e Art Cruz (bateria) passaram como um rolo-compressor pelo ótimo público que aguardava no Hot Stage, o palco principal à direita.

Lamb of God
Randy Blythe (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

Rolo-compressor e, também, um verdadeiro bate-estacas, uma vez que o som alto fazia com que cada batida do bumbo fosse uma estaca fincada no peito – entenda: o som estava realmente alto. E se você conhece a música do Lamb of God, sabe bem com os dois bumbos são (muito) utilizados… Antes, porém, o ‘wake up’ de “Memento Mori”, clássico instantâneo do grupo, acendeu o pavio de um show que só não explodiu a cada música porque nem todo material mais recente estava na ponta da língua dos fãs.

Do homônimo álbum lançado em 2020, “Memento Mori” ficou com todos os holofotes, enquanto “Resurrection Man” serviu mesmo para manter as rodas em dia – rodas que alguns descerebrados acham que servem para sair distribuindo socos, como fez um rapazinho com a camisa do “Master of Puppets”, do Metallica, que botou o galho dentro depois de levar dois safanões muito bem dados.

Lamb of God
Mark Morton (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

De “Omens” (2022), o trabalho mais genérico do quinteto, muito em parte pela falta que faz a criatividade de Chris Adler, a faixa-título até causou alguma reação sonora durante o refrão, mas “Ditch” foi apenas mais uma num repertório que, no geral, se mostrou brilhante nos grandes clássicos e em algumas agradáveis surpresas, como “Ruin”, de “As the Palaces Burns” (2003), e “Contractor”, de “Wrath” (2009).

Só que o melhor mesmo era ver que pouco importava qual música estivesse sendo apresentada para Blythe mostrar por que é um dos melhores frontmen do metal, e já há bastante tempo, enquanto o restante da banda assume com bom gosto o papel de coadjuvante para o vocalista – menção honrosa para Demmel (Vio-Lence), que tem substituído Willie Adler em shows fora dos EUA. Acostumado a quebrar o galho em bandas como Slayer e Overkill, o guitarrista engoliu o titular do posto, que não sai do país de origem porque, dizem as más línguas, não se vacinou contra a Covid.

Lamb of God
John Campbell (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

E a julgar pela reciprocidade entre banda e público, não fez falta alguma, principalmente em músicas que estão no rol do melhor do metal contemporâneo. “Walk With Me in Hell” foi recebida com tanto êxtase quanto “Now You’ve Got Something to Die for”, sem contar um desfecho absolutamente arrasador, que incluiu até mesmo uma homenagem ao Sepultura, “banda que todos nós já ouvíamos antes mesmo de sermos o Lamb of God”.

Cruz, que usava uma camisa da maior entidade do metal brasileiro, ainda puxou “Refuse/Resist”, mas foram “512”, “Laid to Rest” e, especialmente, a espetacular “Redneck” que efetivamente enlouqueceram de vez a massa que estava lá principalmente ou também pelo Lamb of God. E o trecho da letra que diz ‘This is a motherfuckin’ invitation, the only one you could ever need’ mais uma vez fez todo sentido. Que show!

Lamb of God
Art Cruz (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

 

BLIND GUARDIAN

Por Ricardo Batalha

De 1998, quando veio pela primeira vez ao Brasil, até a última, ocorrida em 2015, o Blind Guardian realizou shows memoráveis, mas esta ficará marcada como a primeira da banda alemã em um festival por aqui. Fechando o Hot Stage, por volta das 20h, Hansi Kürsch (vocal), André Olbrich e Marcus Siepen (guitarras), Johan van Stratum (baixo), Frederik Ehmke (bateria) e Michael Schüren (teclado) entraram em cena como gente grande e no lugar merecido com o hino “Imaginations From the Other Side”, tendo a belíssima arte de capa de Andreas Marschall ao fundo.

Voltando mais um pouco no tempo veio “Welcome to Dying”, de “Tales from the Twilight World” (1990). O som estava muito bem equalizado e os fãs de power metal em sintonia receberam bem “Nightfall” e “Time Stands Still (At the Iron Hill)”, ambas de “Nightfall in Middle-Earth” (1998), especialmente porque estas remetem à primeira vinda da banda ao Brasil.

(Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

A acelerada faixa-título do álbum de 1992, “Somewhere Far Beyond”, mostrou que, embora sempre criticado pela performance mais estática, os vocais de Hansi Kürsch continuam com a mesma força e potência dos velhos tempos. E ele canta todas as partes mais rasgadas e agressivas de forma natural até hoje. Kürsch, por sinal, disse ao público que eles tinham preparado uma surpresa, mas que todos já sabiam.

De fato, tempos antes do evento, algumas pessoas foram selecionadas para listar músicas que não poderiam ficar de fora do set. Porém, não ficamos sabendo o resultado final. Seja como for, a banda fez exatamente o que vinha fazendo no ano passado quando fizeram shows celebrando os 30 anos de “Somewhere Far Beyond”.

Com a mudança do cenário de palco com a arte de capa todos os fãs sabiam até mesmo a sequência do que viriam: “Time What Is Time”, “Journey Through the Dark”, “Black Chamber”, “Theatre of Pain”, “The Quest for Tanelorn”, “Ashes to Ashes”, “The Bard’s Song – In the Forest”, “The Bard’s Song – The Hobbit”, “The Piper’s Calling” / “Somewhere Far Beyond”. Haja fôlego… E aqui valeu um adendo, pois os fãs cantaram a plenos pulmões “The Bard’s Song”. Era um prenúncio do que ocorreria depois com a clássica “Lord of the Rings”, de “Tales from the Twilight World”, foi a primeira após a parte especial do show e levou muitos fãs às lágrimas. A magia desta música pairou no ambiente e só foi encerrada com a chegada da porradaria “Violent Shadows”, a única do mais recente álbum, “The God Machine” (2022). Em contraste de épocas mandaram “Majesty”, música que abre o debut da banda, “Battalions of Fear” (1988).

(Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

Com a mudança do cenário de palco com a arte de capa todos os fãs sabiam até mesmo a sequência do que viriam: “Time What Is Time”, “Journey Through the Dark”, “Black Chamber”, “Theatre of Pain”, “The Quest for Tanelorn”, “Ashes to Ashes”, “The Bard’s Song – In the Forest”, “The Bard’s Song – The Hobbit”, “The Piper’s Calling” / “Somewhere Far Beyond”. Haja fôlego… E aqui valeu um adendo, pois os fãs cantaram a plenos pulmões “The Bard’s Song”. Era um prenúncio do que ocorreria depois com a clássica “Lord of the Rings”, de “Tales from the Twilight World”, foi a primeira após a parte especial do show e levou muitos fãs às lágrimas. A magia desta música pairou no ambiente e só foi encerrada com a chegada da porradaria “Violent Shadows”, a única do mais recente álbum, “The God Machine” (2022). Em contraste de épocas mandaram “Majesty”, música que abre o debut da banda, “Battalions of Fear” (1988).

Nada a reclamar com a execução primorosa dos músicos, que deixaram o palco sob aplausos, como também era esperado. No retorno, a mais que esperada “Valhalla”, que é tipo “Princess of the Dawn” do Accept, pois você sabe que eles vão fazer a interação para o público cantar junto e depois ela gruda na mente. Para novamente remeter à primeira vinda, o set foi encerrado com “Mirror Mirror”, faixa clássica de “Nightfall in Middle-Earth”. Nada a reclamar.

Blind Guardian (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

 

 

PALCO ICE STAGE 

BENEDICTION 

Por Leandro Nogueira Coppi 

Em pleno horário do meio-dia, um banho de death metal sobre o Summer Breeze. Era o veterano grupo britânico Benediction, uma das instituições do gênero, fundada em 1989 na mesma cidade operária de Birmingham, de onde surgira o todo poderoso Black Sabbath. Com a introdução mecânica rolando, os guitarristas fundadores Peter Rew e Darren Brookes, mais o baterista italiano Giovanni Durst e o estreante baixista Nik Sampson já estavam apostos e deram início a pancadaria com “Divine Ultimatum”, do clássico álbum de estreia do “Benê”, “Subconscious Terror”, de 1990. O lendário Dave Ingram entrou triunfante no decorrer dessa que pertence ao único disco gravado por seu antecessor, Barney Greenway, que no dia seguinte se apresentaria no Sun Stage com seu Napalm Death. De cara, Ingram, que é reverendo da Church of Satan, chamou atenção por seu vozeirão cavernoso influenciado por Kam Lee (Massacre) e Tom Warrior (Hellhammer/Celtic Frost). Com uma voz dessa e total domínio do palco e público, Ingram ia mostrando que, mesmo no alto de seus 54 anos, ainda é um dos grandes frontmen do death metal.

Dave Ingram (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

O mais recente álbum do Benediction, “Scriptures”, foi lançado em outubro de 2020, ou seja, no primeiro ano da pandemia, e somente há um ano exatamente a banda inglesa está na estrada podendo divulgá-lo. Desse, a primeira do set foi “Scriptures in Scarlet”. Na sequência, veio “Vision in the Shroud”, música que abre o segundo álbum do Benê, “The Grand Leveller”, que marcou a estreia de Ingram no ano de 1991. Particularmente, achei de arrepiar a trinca seguinte, formada por “Unfound Mortality”, “Nightfear” e “I Bow to None”, músicas do meu álbum favorito do Benediction e um dos meus preferido do death metal, “Transcend the Rubicon”, lançado há 30 anos.

Outra nova, “Progenitors of a New Paradigm” foi mais uma amostra de que “Scriptures” parece ter caído no gosto dos fãs. Porém nada como clássicos, e então vieram dois deles, “The Grotesque” e “Foetus Noose”, músicas que em suas épocas tiveram videoclipes bastante exibidos no Brasil. Mais duas que agradaram os fãs ‘old school’ foram “Jumping at Shadows” e “Subsconscious Terror”, que anteciparam outra das novas, “Stormcrow”. Para fechar, o Benediction mandou “Magnificat”, única de “Grind Bastard”, disco de 1998 que encerrou a primeira passagem de Ingram na banda. 

Finalmente, o Benediction matou a saudade dos fãs brasileiros, que desde 2015 não viam a banda passar por nosso país. No Summer Breeze, o grupo fez um show coeso, beneficiado por uma boa qualidade de som. Como fã, só lamento o fato de a banda não incluir no set “Violation Domain”, do mencionado “Transcend the Rubicon”. Ouça e depois me diga se essa música tem ou não tem em seu decorrer um dos melhores riffs da história do death metal.

Darren Brookes (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

 

VIPER + SHAMAN + FELIPE E RAFAEL

Por Luiz Tosi 

O Summer Breeze Brasil marcou um golaço ao celebrar a vida, a arte e o legado de Andre Matos criando alguns dos momentos mais marcantes do final de semana. A primeira homenagem foi no Waves Stage, com a premiére exclusiva da segunda parte do documentário “Maestro do Rock”, filme de Anderson Bellini que estreia agora em maio nos cinemas. Mais tarde, com música no palco, no show conjunto do Viper e Shaman, que ainda contou com as participações de Felipe Andreoli e Rafael Bittencourt (Angra). O encontro aconteceu no palco Ice Stage e contou com grande presença do público. O pouco tempo disponível para o set não deixou muita brecha para discursos de homenagem, e nem precisava, as músicas de Viper, Angra e Shaman falam por si. A apresentação foi dividida em três partes e, apesar de alguns problemas técnicos no início, cumpriu a expectativa. Foi de arrepiar!

A primeira parte foi um set de apenas três músicas do Viper, que “roubou no jogo” e iniciou com o recente single “Under The Sun”. Não deixou de ser uma homenagem a Andre, visto que a faixa tem todos os elementos dos clássicos “Soldiers of Sunrise” (1987) e “Theatre of Fate” (1989) – Andre aprovaria! As outras duas foram as indefectíveis “A Cry From the Edge” e “Living For The Night” – em minha opinião, o maior hino do metal nacional, além de sinônimo de Andre Matos. Musicalmente, nada que não tenha sido constatado: o Viper está voando. Destaques para os dois “meninos” da banda, Leandro Caçoilo e Kiko Shred.

Leandro Caçoilo e Pit Passarell (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

Sai Viper, entra Shaman. Contando com os mencionados Rafael Bittencourt e Felipe Andreoli, além da ajuda do baterista Rodrigo Oliveira (Korzus e Oitão), a banda escolheu um set com cara e jeito de Andre, a começar pela abertura com duas semibaladas emendadas, as emocionantes “Lisbon” e “Make Believe”. Improvável, mas altamente eficiente. A seguinte foi outra com impressões digitais de Andre, “Turn Away”, do álbum “Reason (2005), uma das preferidas do maestro, desta vez com Luis Mariutti no baixo e Fabio Ribeiro nos teclados. Alirio Netto, frontman do Shaman, esbanjou carisma e presença, não só pela excelente performance vocal, mas pela habilidade em segurar o público durante algumas longas pausas para trocas de membros e instrumentos.

Apostando apenas nos hits de Andre, mais duas clássicas, “For Tomorrow” e “Fairy Tale”. Então, Hugo Mariutti chama Felipe Machado, Rafael e Andreoli para o encerramento: “Carry On” (Angra), outra música que é sinônimo de Andre Matos.

Em nome de todos, Alírio agradeceu a organização do Summer Breeze pela homenagem. O cantor levantou as mãos ao céu e direcionou seu recado ao encerrar a apresentação: “Andrezão, isso é pra você. Muito obrigado, meu irmão”.

Viper (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

 

SEPULTURA

Por Leandro Nogueira Coppi

Desfrutando de grande fase na carreira, o Sepultura não podia ficar de fora da edição de estreia do Summer Breeze. Divulgando o aclamado “Quadra”, álbum que foi lançado em 2020, exatamente um mês antes da pandemia, infortúnio esse que obrigou a banda a demorar para cair na estrada em divulgação do mesmo, Derrick Green, Andreas Kisser, Paulo Jr. e Eloy Casagrande entraram em ação após a introdução mecânica com “Polícia” (Titãs) – faixa consagrada também pelo próprio Sepultura -, tocando “Isolation”, música que abre o novo disco. Na sequência, o chão tremeu com o primeiro clássico do set, “Territory”, de “Chaos A.D.”, álbum que em setembro completará 30 anos.

Derrick Green (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

Veja bem, desde os tempos de Max e Igor Cavalera (ainda com um “g” só) até os dias atuais, assisti inúmeros shows do Sepultura e posso garantir que esse está entre os melhores em qualidade de som, especialmente no que diz respeito a guitarra de Andreas. Falando em Andreas, não canso de dizer em minhas coberturas de shows do Sepultura o quanto lhe fez bem a entrada da “aberração” chamada Eloy Casagrande, pois o ‘playing’ do guitarrista tem soado mais técnico, raivoso e complexo. “Means to An End”, também de “Quadra”, foi mais um exemplo no set que deixou isso evidente.

Derrick Green, Eloy Casagrande e Andreas Kisser (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

De tudo o que o Sepultura gravou com Derrick, uma das músicas mais explosivas ao vivo é “Kairos”, que considero um dos hinos compostos após a entrada do vocalista há 25 anos. Depois dessa e de outro clássico de “Chaos A.D.”, “Propaganda”, vieram mais duas novas, “Guardians of Earth” e “Ali”. Essa segunda, em que Paulo Jr. teve destaque, foi especial para o Summer Breeze, visto que era a primeira vez que estava sendo tocada ao vivo. Ainda sobre “Ali”, assim como em estúdio, o Sepultura teve a participação de Paulo Cyrino, conhecido como Babylons P, produtor de heavy dubstep com quem o próprio Derrick já havia colaborado na música “Everlasting Blood” do músico paulistano.  

Outra das novas a fazer bonito foi “Agony of Defeat”, uma das melhores músicas da carreira do Sepultura e que torço para que seja sempre mantida no repertório. Para finalizar, quatro hinos que nenhum fã de metal no mundo consegue segurar o pescoço quando os ouve: “Refuse/Resist”, “Arise”, “Ratamahatta” e “Roots Bloody Roots”. Embora na internet o Sepultura seja sempre alvo de haters que ficaram relegados ao passado, ao vivo essas pessoas não se manifestam – ou se rendem ao som do grupo. O que se viu e o que se vê é o público sempre curtindo, agitando e bradando o nome dessa que, indiscutivelmente, ainda é a maior representante do metal feito no Brasil.

Paulo Jr. (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

Stone Temple Pilots

Por Heverton Souza

O Stone Temple Pilots pode ser visto como a única banda com carreira no Mainstream em todo o festival, apesar de não ser mais tão lembrada após a morte do vocalista Scott Weiland, em 2015. Para ajudar, a banda tocou no Ice Stage, que tinha como show seguinte no vizinho Hot Stage, nada menos que o Blind Guardian, o headliner do sábado. Ou seja, a banda tocou seu grunge para fãs de Power Metal. Problema? Absolutamente nenhum! Trazendo ao Brasil pela segunda vez sua formação com o vocalista Jeff Gutt, que assumiu o lugar que vinha sendo ocupado ao vivo pelo também falecido Chester Bennington (Linkin Park), a banda apresentou um set impecável, cheio de feeling e sem se intimidar pelos headbangers presentes ali para assisti-los com certa curiosidade e muito respeito. A intro começo a soar nos PA’s ainda ás 18h28 quando os irmãos Dean e Robert DeLeo (guitarra e baixo, respectivamente), o baterista Eric Kretz e o já citado vocalista Jeff Gutt, começaram com a pesada “Wicked Garden”, seguida de “Vasoline” e “Big Bang Baby”, todas hits da era de ouro da MTV, mostrando a força que os dois primeiro álbuns “Core” e “Purple” ainda tem nos shows da banda.

Robert DeLeo e Jeff Gutt (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

Quem queria riff, gostou mesmo de “Down”, uma das músicas de mais peso da banda, faixa que abre o quarto álbum da banda, intitulado apenas de Nº 4. E, inquieto, Gutt, desceu do palco e colou na grade pra cantar junto ao público. “Meadow” veio em seguida, lançada em 2018, já com os vocais de Jeff, serviu para mostrar como haviam fãs infiltrados cantando em meio à platéia “guardiana”. “Silvergun Superman” foi devidamente oferecida a Weiland, mas a melancolia de Big Empty fez os fãs sentirem mais aquele aperto no peito pelo velho ídolo da banda.

E se até aqui, muitos estavam ali de curioso, sem reconhecer muito as músicas da banda, Plush mudou o jogo e colocou até mesmo os mais fervorosos fãs de Blind Guardian a cantar com a banda americana. E diferente do que muitos poderiam achar por terem presenciado a banda tocando seu maior hit, o show não acabou ali. Ainda tivemos outros clássicos como “Interstate Love Song”, “Sin”, “Crackerman”, “Dead & Bloated” (com direito a mais uma “invasão” de Gutt ao público para cantar com os fãs) e o encore finalizou quase uma hora e meia de show com a potente “Sex Type Thing”. Um show lindo para fãs da banda, principalmente aos que ainda não haviam visto os caras com Jeff nos vocais, que diga-se de passagem, incorpora até trejeitos de Weiland de forma bastante natural, sentindo as músicas. E para os não-fãs, com certeza uma apresentação de respeito!

Jeff Gutt (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

 

PALCO SUN STAGE 

JOÃO GORDO – BRUTAL BREGA 

Por Daniel Dutra

Meia hora depois de o Voodoo Kiss ter iniciado os trabalhos musicais na primeira edição brasileira do Summer Breeze, a diversão tomou conta do Sun Stage, no outro lado da passarela que une o Memorial da América Latina. Sim, porque é preciso estar muito de mal com a vida para não curtir o Brutal Brega, projeto de João Gordo (Ratos de Porão) e Val Santos (ex-Viper) que conta com Rogerio Wecko (guitarra), Daniel Giometti (baixo) e Guilherme Martin (bateria; Viper).

Bom, havia, sim, gente de mal com a vida assistindo ao show, como o sujeito que passou o tempo todo mostrando o dedo do meio e xingando João Gordo, que nada gentilmente o chamou para subir ao palco para um tête-à-tête – convite não aceito, obviamente. Houve, também, quem se incomodou com o fato de o vocalista ter à sua disposição as letras das músicas num suporte – e aí vale um exercício de imaginação: será que essas mesmas pessoas reclamam de Ozzy Osbourne usar há vários e vários anos um teleprompter?

Brutal Brega
Daniel Giometti e João Gordo (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

Enfim, quem não tinha o espírito de um cricri acabou se divertindo. E muito. E foi a grande maioria, felizmente, que curtiu uma apresentação além do “Brutal Brega”, CD lançado em 2022 como resultado de uma brincadeira de pandemia, como bem ressaltou João Gordo. Isso porque algumas das músicas do cancioneiro brega brasileiro no setlist (ainda) não foram registradas em estúdio pelo projeto.

“Pavão Misterioso”, por exemplo, e João Gordo lembrou que se trata de parte da trilha sonora de “Saramandaia”, de 1976. E começou aí a comédia stand-up do vocalista, que revelou ter ganhado o apelido de Dona Redonda, personagem de Wilza Carla, exatamente por causa da novela da Rede Globo – lembre-se: ele tinha 12 anos à época. O bom humor foi do horário da apresentação, às 11h30, forçando o público a acordar cedo – “É uma merda, eu tô ligado” –, à reclamação pela quantidade de músicas de Sidney Magal no repertório (três).

Pouco importou para a plateia, que foi se animando ao longo do show e soltou a voz (e dançou em forma de roda de pogo) em “Sandra Rosa Madalena”, numa versão tão boa quanto à de outro clássico, “Fuscão Preto”, e de duas das melhores canções revisitadas pelo Brutal Brega: as divertidíssimas “Pepino” e “Tô Doidão” – imortalizada por Reginaldo Rossi, um nome que não poderia mesmo faltar, esta última ainda serviu de trilha autobiográfica para aquele exato momento do vocalista no palco.

Brutal Brega
Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew

“É tudo muito ruim. Bom mesmo é death metal”, disse João Gordo, ressaltando, porém, que são todas canções satânicas. “Qual é a próxima música? ‘Feiticeira’? Estão vendo? É tudo cruz invertida, 666!”. Justiça seja feita, também entre as músicas que não estão no disco se fizeram presentes obras de artistas que passam ao largo do brega, como “Atrás do Trio Elétrico”, Famosa na voz de Caetano Veloso, ela ganhou uma versão quase grindcore.

E o melhor exemplo foi um dos maiores sucessos de Alceu Valença, “Tropicana”, que encerrou a apresentação pegando o público muito bem inserido no clima do Brutal Brega. Teve roda, teve pula-pula e teve refrão cantado com vontade por aqueles que já se faziam em bom número num Sun Stage pouco depois do meio-dia.

Foi, de fato, o clímax de um show bem definido pelas palavras finais de João Gordo: “Satanás! 666! Cruz invertida! Bolsonaro filho da puta!”. Foi, acredite, o momento de maior êxtase do público. Por isso mesmo, que o metal nacional tenha mais projetos como o Brutal Brega. E que tenha sempre vozes como a de João Gordo.

Brutal Breha
Daniel Giometti e João Gordo (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

 

CRYPTA

Por Daniel Dutra

Com um público que tomou conta do Sun Stage, parte dele bem aquecido pelo Brutal Brega, a Crypta subiu ao palco para mais do que um massacre sonoro. Foi um massacre sonoro revitalizado pelo fato de Fernanda Lira (baixo e vocal), Tainá Bergamaschi e Jéssica di Falchi (guitarras) e Luana Dametto (bateria) estarem em casa, especialmente de uma turnê tão emocional quanto a recente passagem pelos Estados Unidos ao lado de Morbid Angel, Revocation e Skeletal Remains.

Recapitulando: no dia 31 de março, o teto do Apollo Theater, em Belvidere, Illinois, desabou logo após a apresentação da banda brasileira, resultado da forte tempestade e do tornado que passou pelo local – o serviço de meteorologia americano chegou a emitir um alerta, mas somente dez minutos antes do acidente. Havia 260 pessoas no local: 28 foram hospitalizadas, e uma morreu.

Crypta
Fernanda Lira, Luana Dametto (fundo) e Tainá Bergamaschi (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

Para a Crypta, a tragédia deixou óbvias marcas psicológicas – que você pode ter acompanhado pelos relatos das integrantes nas redes sociais – e um prejuízo felizmente apenas material: o problema com o motorhome destruído foi rapidamente superado com a ajuda da comunidade internacional do heavy metal, fundamental para o sucesso da vaquinha que arrecadou os US$ 60 mil necessários para cobrir os custos.

Então, imagine voltar ao Brasil e ter como primeira recepção um Sun Stage bem cheio, especialmente num horário em que o sol fazia jus ao nome do palco, castigando um público que, mesmo assim, não arredou o pé do local… Assim, os agradecimentos de Fernanda a todo instante soaram tão especiais quanto as tradicionais (e sempre divertidas) caretas da baixista e vocalista.

Crypta
Fernanda Lira (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

Nem mesmo os problemas de som no início – na plateia, ninguém conseguiu ouvir a voz de Fernanda no início com “Death Arcana” – foram suficientes para apagar o brilho de um set que contou com a íntegra “Echoes of the Soul” (2021) e a agradável inclusão de “I Resign”, gravada nas sessões do álbum de estreia e lançada como single no ano seguinte.

Todo e qualquer problema de som já estava corrigido na hora da excelente “Under the Black Wings”, que antecedeu outro grande destaque do primeiro disco, “Starvation” – e “nossa música mais rápida”, disse Fernanda antes de anunciá-la e pedir à plateia que participasse abrindo uma roda. Foi prontamente atendida.

Apesar de o repertório ser óbvio – e felizmente óbvio, diga-se, pelo fato de a Crypta não cair no artifício dos covers ou de músicas da Nervosa, ex-banda de Fernanda e Luana –, os atrativos da música ficam ainda melhores quando ilustrados pelo que está em cima do palco. Isso porque não é apenas a performance única de Fernanda que chama a atenção, uma vez que Luana é uma impressionante máquina com as baquetas, e Tainá e Jéssica brilham não somente em riffs e solos, também na simbiose necessária às duplas de guitarristas.

Crypta
Jéssica di Falchi (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

O show mostrou, também, um setlist bem equilibrado dentro do próprio mundo da Crypta, deixando mais para o fim duas de suas melhores criações em “Echoes of the Soul”, álbum que merece audições atentas para ser corretamente assimilado: “Dark Night of the Soul” e, especialmente, “From the Ashes”, que fechou a apresentação depois de Fernando brincar dizendo que elas não tinham mais o que tocar: “Mas o novo álbum vem aí, muito em breve”.

De qualquer maneira, a arrasadora “From the Ashes” provou que a banda conseguiu em seu primeiro trabalho – e com seu primeiro single – o seu primeiro hino. E a cumplicidade do público, agitando e cantando com vontade o refrão, concedeu com louvor o selo de verificação.

Crypta
Tainá Bergamaschi (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

 

LORD OF THE LOST

Por Heverton Souza

Com uma carreira muita ativa, lançando materiais quase todo ano desde seu debut “Fears”, de 2010, o Lord of The Lost era uma atração esperada por parte do público do Sun Stage. O quinteto alemão de gothic/indudtrial liderado pelo vocalista Chris “Lord” Harms vem divulgando seu mais recente álbum Blood & Glitter, de 2022, mas em um set de 14 músicas, quase conseguiu abordar todos seus 11 discos de estúdio.

No horário exato das 15h, a banda surgiu em palco com visuais que combinavam o estilo gótico com andrógeno e com um som tão perfeito, que parecia que estávamos ouvindo um disco se estúdio. Mas a alegria durou pouco, quando Lord começou a ter falhas em seu microfone sem fio ainda na segunda música da apresentação, a agressiva “Leave Your Hate in the Comments”, e se ver forçado a trocar por um convencional.

Chris “Lord” Harms (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

O público que ia chegando no Sun Stage era tomado por fãs da banda, alguns góticos prontos para conhecerem os alemães e curiosos que vinham se espalhando por grande parte do festival. “The Future of a Past Life” conquistou a todos eles, lembrando muito bandas como Darkseed e Crematory. Lord agradece ao público e por fazer parte da edição brasileira do Summer Breeze e aproveita o momento de fala para se zoar com as falhas do microfone. Com certeza o set mostrou todas as nuances da banda, mas músicas como “Under the Sun” com trechos que remetem até mesmo ao New Metal, faz com que todos em palco agitem mais, com destaque para o tecladista Gared Dirge (que também se divide em guitarra e percussão), enquanto outras como “Full Metal Whore” colocava o público de vez na mão dos caras, que ainda sentiram o calor dos fãs ao tocarem “Loreley”.

Mas sem dúvida, apesar de ainda relativamente nova “Blood & Glitter” foi o momento mais cativante da banda em palco com seu refrão simples e grudento. E claro, nada disso seria possível se Lord não fosse um excelente frontman e performer, que agita muito e canta na mesma proporção. Dentre as gracinhas dele, tentar (e falhar) tirar o cinto para acertar o guitarrista π foi das mais memoráveis. O show encerrou com as batidas latinas de “La Bomba”, com direito a uma coreografada dancinha horrorosa e divertida do guitarrista π com o baixista Class Grenayde. Um ótimo show que agradou a fãs não apenas do próprio Lord of the Lost, mas a fãs também de nomes como Deathstars, Rammstein e Pain.

Lord of the Lost (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

 

PERTURBATOR

Por Heverton Souza

Sem dúvida o duo francês Perturbator era um dos nomes com formato mais curioso e diferenciado de todo o festival, afinal, trata-se de uma banda de música eletrônica.

Na ativa desde 2012, a One Man Band de James Kent combina trilhas de games, industrial, eletrônico e até metal num formato pouco convencional para um público roqueiro ou headbanger como do festival, mas ainda assim, ao lado do baterista Dylan (Hyard), Kevin teve um bom público. Alguns xingavam, outros apenas observavam a pegada de Dylan ou como Kent se dividia entre teclados, sintetizadores e guitarra e muitos outros apenas dançavam, fazendo dessa tarde do Sun Stage uma espécie de “rave para metaleiros”.

James Kent (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

O show, que começou pontualmente às 16h45, foi ganhando mais clima perto do fim, por volta das 17h30, já com o sol baixando, pois aí as luzes começaram a mostrar as caras. Entre os destaques, Neo Tokyo, Future Club (que chegou a ser ovacionado logo nas primeiras batidas de Dylan) e a dark Dethroned Under a Funeral Haze. Vale citar aqui que James Kent começou sua carreira no Black Metal, então, por mais que seja uma banda eletrônica, é muito comum o músico se apresentar no meio metal europeu, o que então faz todo sentido em ser uma das atrações do Summer Breeze.

Dylan (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

 

ACCEPT

Por Leandro Nogueira Coppi

Uma semana antes de se apresentarem no Summer Breeze, os alemães do Accept passaram perrengue no Chile. Por lá, a banda tocou desfalcada do baterista Christopher Williams (substituído por seu técnico de bateria, Daniel Douchette) e do guitarrista e Philip Shouse. Ambos tiveram intoxicação alimentar e no voo do Equador para o Chile Shouse chegou a desmaiar.

Felizmente, os dois músicos se recuperaram e juntos de Mark Tornillo (vocal), Wolf Hoffmann e Uwe Lulis (guitarras), mais o baixista Martin Motnik, marcaram presença na primeira edição do festival conterrâneo no Brasil. Baseado em todas as suas últimas apresentações no país, a expectativa era grande, pois a banda dispõe de um belo palco e faz um show visceral.

Philip Shouse, Mark Tornillo e Wolf Hoffmann (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

Atualmente, o Accept ainda divulga o álbum “Too Mean to Die”, lançado em janeiro de 2021, e foi dele que vieram as duas primeiras rajadas da noite, “Zombie Apocalypse” e “Symphony of Pain”. As primeiras impressões sobre essa apresentação foi de que, por ser um palco de tamanho inferior aos principais, “Hot Stage” e “Ice Stage”, o “Sun Stage” ficou literalmente pequeno para a configuração em sexteto do Accept. A qualidade de som também foi aquém do esperado, um tanto quanto abafada.

Em minha opinião, o Accept merecia estar em um dos palcos principais, embora no mesmo horário o Stone Temple Pilots estava tocando no Ice Stage. Mas o público não desanimou e ficou ainda mais empolgado com os dois primeiros clássicos do set, “Restless and Wild” e “Midnight Mover”. Após outra das novas, “Overnight Sensation”, última tocada de “Too Mean to Die”, o Accept mandou um medley com trechos de outros de seus clássicos old school.

Wolf Hoffmann e Uwe Lulis (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

E não faltaram hinos, “Princess of the Dawn”, “Fast As A Shark”, “Metal Heart”, “Balls to the Wall” e porque não incluir nesse quesito “Teutonic Terror”, música do ótimo “Blood of the Nations” (2010), a qual aponto sem pestanejar como um clássico absoluto do heavy metal dos anos 2000. Fechando a noite, a banda mandou aquela que tem total inspiração no punk rock, o cover do AC/DC para “I’m A Rebel”, que deu nome ao segundo álbum do Accept, de 1980: “I’m A Rebel”.

Particularmente, não desmerecendo Martin Motnik que pela segunda vez esteve em solo tupiniquim, confesso que ainda sinto falta de Peter Baltes no baixo. No mais, foi outra aula de heavy metal teutônico oferecida pelo Accept, que já havia detonado no país em anos anteriores, principalmente quando abriu para o W.A.S.P. em 2019 e para o Anthrax em 2017.

Martin Motnik (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

PALCO WAVES STAGE 

TUATHA DE DANANN 

Por Daniel Dutra

Coube ao Tuatha de Danann inaugurar o Waves Stage, nome dado ao Auditório Simón Bolívar na primeira edição brasileira do Summer Breeze, mas seria mais cabível dizer que a banda mineira acabou servindo de cobaia num espaço cujo acesso era exclusivo àqueles que desembolsaram alguns bons reais a mais pelo Summer Lounge Card, que dava direito também à pista VIP nos dois palcos principais (Hot Stage e Ice Stage) e um bar com bebida e comida 0800 – quero dizer, pré-pagas.

Mas por que cobaia? Porque os problemas de som que fizeram com que o início do show atrasasse dez minutos foram uma dor de cabeça até o fim para Bruno Maia (vocal, flauta, guitarra, bandolim e banjo), Edgard Britto (teclados), Giovani Gomes (baixo e vocal), Raphael Wagner (guitarra), Rick Dias (violino) e Rafael Delfino (bateria). Um exemplo? “Essa foi a nossa passagem de som”, disse Maia ao fim de “Believe: It’s True!”.

Tuatha de Danann
Raphael Wagner, Bruno Maia e Rafael Delfino (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

O tom foi bem-humorado, mas o fato é que a todo instante Maia reclamava do retorno, pedindo a quem estivesse na mesa de som que aumentasse esse ou aquele instrumento tanto para ele quanto para outros integrantes. Inegavelmente, foi um banho d’água fria, especialmente porque os shows do Tuatha são uma enérgica celebração da (boa) música. Assim, imagine que até uma canção do quilate de “Molly Maguires” não causou o efeito esperado.

Na raça, a banda ainda mandou alguns clássicos, como “Tan Pinga Ra Tan” e mais uma das mais recentes, caso de “Guns and Pikes”, que encerrou um set encurtado por causa do atraso causado pelos problemas técnicos que permearam os 50 minutos em que o Tuatha ficou no palco – “The Last Words” e “Bella Natura”, que seria o desfecho de fato e de direito, tiveram de ser limadas.

Ao fim de um show que tinha tudo para ser especial, fica o sentimento de que o maior nome do folk metal brasileiro – e um dos melhores do estilo no Planeta, senão o melhor – bem que poderia ser compensado por esse gostinho de quero mais com uma volta (em melhores condições) no Summer Breeze Brasil 2024. Ou seja, hashtag fica a dica.

Tuatha de Danann
Giovani Gomes, Raphael Wagner, Bruno Maia, Rafael Delfino, Rick Dias e Edgard Britto (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

 

BRUCE DICKINSON (PALESTRA)

Por Luiz Tosi

Enquanto o Skid Row incendiava o Hot Stage (perdão pelo trocadilho), portadores de ingresso da modalidade Summer Lounge lotavam o lindo palco Waves Stage para uma palestra exclusiva com Bruce Dickinson, vocalista do… Bom, você sabe de quem!

Falando sobre sua vida, carreira e empreendedorismo, Bruce baseou sua palestra “From Rock Star to Businessman” em sua autobiografia, “What Does This Button Do?”, de 2017. No cardápio apresentado pelo famoso palestrante, pitadas de humor, críticas sociais, autoajuda e, claro, autopromoção. Bruce arrancou boas risadas do público, como quando contou como, ainda na escola, descobriu o Deep Purple. Fã declarado de Ian Gillan, o vocalista soube naquele momento o que gostaria de ser para o resto da vida: baterista! Em alguns momentos, ele arrisca algumas imitações e interpretações bem convincentes, ao melhor estilo Monty Python.

Com um texto muito bem amarrado e alguns ótimos ganchos, Bruce passou pelas suas múltiplas facetas: sobrevivente de um câncer, aviador, escritor, cervejeiro, empresário, empreendedor – caso da construção do Airlander, maior avião de carga do mundo, com zero emissão de carbono e apto a pousar em diferentes superfícies (como água e neve), e do qual Bruce foi investidor e idealizador.

Salvo um breve trecho de poucos segundos onde cantou “Let It Be” (Beatles), ao contar sobre sua audição para a banda da escola, Bruce desta vez não fez aquela tradicional palhinha a capella que sempre circula na internet. Aliás, o final foi um tanto esquisito, com ele saindo do palco de modo abrupto e apressado, mal se despedindo do público. Entretanto, não sem antes confirmar para 2024 o lançamento do seu novo álbum solo, notícia exclusiva essa que arrancou aplausos efusivos dos fãs.

Foi uma ótima iniciativa do Summer Breeze Brasil, esse formato de palestras dá sinais de que veio para ficar.

 

APOCALYPTICA

Por Daniel Dutra

Para encerrar a maratona de shows no primeiro dia do Summer Breeze, aquele momento relaxante ao som de violoncelos… Bom, relaxante até certo ponto e apesar da maldada da hora: por ser no Auditório Simón Bolívar, um anfiteatro confortável, com cadeiras e ar-condicionado, a apresentação do Apocalyptica seria o momento para uma soneca antes da volta para casa ou para o hotel. Mas os finlandeses não deixaram que isso acontecesse.

A turma que abriu a carteira para adquirir o Summer Lounge Card e garantir algumas benesses acabou presenteada com a empolgação de Eicca Toppinen (violoncelo), Paavo Lötjönen (violoncelo e contrabaixo), Perttu Kivilaakso (violoncelo) e Mikko Sirén (bateria), mais algumas boas surpresas. A começar pela montagem do palco, que causou estranheza logo na abertura com “Ashes of the Modern World”.

Apocalyptica
Eicca Toppinen, Perttu Kivilaakso e Mikko Sirén (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

A bateria e os postos dos três violoncelistas estavam de lado, o que foi explicado com bom humor por Toppinen: “Falaram para nós que haveria público dos dois lados, então foi montado dessa maneira esquisita e que agora parece ainda mais ridícula”. De fato, há cadeiras em ambos os lados do palco, mas o ótimo público que compareceu ao Waves Stage se concentrou apenas no lado da entrada principal, sobrando alguns gatos pingados do outro.

Voltando à música supostamente relaxante, a verdade é que o Apocalyptica imprime um peso ainda maior ao vivo. E apesar de os três músicos de frente terem ótima presença de palco, além de um baterista que desce o braço e agita o tempo todo, a banda é inteligente o suficiente para usar um vocalista em momentos específicos para não deixar a peteca cair. No caso, Franky Perez.

Apocalyptica
Franky Perez (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)

Oficialmente no Apocalyptica desde 2022, depois de fazer shows com o grupo entre 2014 e 2016, Perez comandou muito bem as ações em “I’m Not Jesus”, “Not Strong Enough”, “I Don’t Care” e “Shadowmaker”, que emendou em seu fim uma citação a “Killing in the Name of”, do Rage Against the Machine. Mas o principal momento da noite foi mesmo a participação surpresa de Simone Simons em “Rise”, em que a vocalista do Epica fez o que faz de melhor: cantar lindamente e atrair todas as atenções, ofuscando quem mais estiver no palco – Simone, aliás, subiu ao mesmo palco no dia seguinte para uma palestra.

Para relembrar o passado do Apocalyptica como banda de covers, Toppinen Lötjönen, Kivilaakso e Sirén homenagearam o país anfitrião com “Inquisition Symphony” – instrumental do Sepultura presente em “Schizophrenia” (1987) e feita sob medida para um arranjo de cordas – e fizeram os fãs soltarem a voz em “Nothing Else Matters” e “Seek & Destroy”, do Metallica. Ou seja, jogaram direitinho para a galera.

E ainda tinha um bis, que contou com a bonita “Farewell” e a brilhante “In the Hall of the Mountain King”, do compositor e pianista norueguês Edvard Grieg (1843-1907) – e sim, a obra que o Savatage transformou na instrumental “Prelude to Madness”, que antecede a faixa-título de “Hall of the Mountain King” (1987). Anunciado por Kivilaakso como “enfim uma pela clássica no show”, foi o encerramento de gala de um show que superou as expectativas.

Apocalyptica
Paavo Lötjönen, Eicca Toppinen, Perttu Kivilaakso e Simone Simons (Foto: Roberto Sant’Anna/Roadie Crew)
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