Por Antonio Carlos Monteiro
Fotos: Karen Holtz
Confesso que tenho certa má vontade em relação a temas instrumentais no rock. Acontece que a voz acabou se tornando algo tão importante nesse estilo que sua ausência gera uma espécie de estranhamento, uma sensação de “está faltando alguma coisa”. Alguns poucos músicos (guitarristas, notadamente) conseguem suprir essa ausência pela forma como abordam o instrumento num tema desses. Dentre nomes mais do que consagrados, como Steve Vai e principalmente Joe Satriani, há um brasileiro que poucos se lembram de colocar nesse balaio: o paulistano Tony Babalu, que está celebrando nada menos que cinquenta anos de carreira. Com uma trajetória que abrange passagens por bandas como Made in Brazil e Quarto Crescente, Babalu de uns anos para cá vem se envolvendo com a música instrumental, que já rendeu quatro ótimos discos: Live Sessions at Mosh (2014), Live Sessions II (2017), No Quarto de Som… (2021) e De Volta ao Quarto de Som… (2024), todos eles baseados no rock, mas sem deixar de lado outras influências do artista, como blues e soul music.
E foi isso que Tony Babalu mostrou em recente turnê por vários SESCs de São Paulo e do interior do estado, como na apresentação gratuita acontecida no SESC de Campinas. Acompanhado por uma banda excepcional, formada por Bete Barban (teclados), Leandro Gusman (baixo) e Carlos Contreras (bateria), Babalu entrou em cena sem grande estardalhaço e mostrando que o protagonista ali não era ele, mas sim a música, o que ficou claro desde o primeiro tema, Crash!, rockão setentista com direito a alavancadas e tudo mais. Meio Fio, com um pé no jazz, um rápido dueto entre baixo e teclado e que descamba num blues veio na sequência, seguido pela singela Lara, que Tony fez em homenagem à sua cachorrinha. Aliás, Babalu passou todo o show conversando com a plateia, contando histórias, interagindo com os fãs e transformando o show em praticamente uma reunião de amigos.
O Lenhador, com seu ritmo intrincado, serviu também para mostrar a imensa qualidade do som que saía do palco. Em seguida, mais uma homenagem, a belíssima balada Suzi, que Babalu fez para sua companheira de décadas. Antes de iniciar o próximo número, ele falou sobre a relação entre música e matemática, e pediu para Bete Barban explicar para o público como funcionam os tempos na música para só aí começar Valsa Paulistana, tema que se desenvolve num pouco usual 3/4 – em se tratando de rock, naturalmente.
Babalu comentou que várias pessoas encaixam In Black no soul e na funk music, o que é verdade. E que timbre que ele tirou nessa música de sua famosa Stratocaster creme – que ele comprou do saudoso Wander Taffo lá nos anos 70. Mais ecletismo veio na sequência, com vários ritmos latinos se misturando em Veia Latina (ah, vá!). E para encerrar ele perguntou o que o povo queria: um rock ou um blues? Ganhou o rock e nós ganhamos Locomotiva, mais uma composição com os dois pés fincados nos anos 70 e com direito a show do guitarrista.
Foi uma apresentação descontraída, sem falhas, com ótima qualidade de som e performance impecável da banda. Já no uber, voltando pra casa, teclando com um amigo a respeito do show, chegamos à conclusão óbvia: tivesse nascido na Europa, Babalu seria mais um músico a ter sucesso mundial. Nem sempre a vida é justa…
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