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VAZIO: GUIADOS PELA ESCURIDÃO

Já podendo ser considerado um dos maiores nomes do black metal nacional, quarteto explora temáticas e sonoridades mais profundas do que nunca em "Necrocosmos"

Foto: Dani Moreira

Por Daniel Agapito

Formado nas profundezas do underground da capital paulista em 2016, o quarteto formado por Renato Gimenez (vocal, guitarra), Daniel Vecchi (bateria), Eric Nefus (guitarra) e Nilson Slaughter (baixo) tem se consolidado como um dos pilares do black metal em terras tupiniquins. Impressionando ouvintes no mundo todo desde seu brilhante debut Eterno Aeon Obscuro, lançado ainda em tempos pandêmicos, decidiram seguir um caminho mais ritualístico e espiritual em seu segundo álbum, tanto na sonoridade quanto nas temáticas abordadas. A ROADIE CREW conversou com o idealizador da banda, Gimenez, sobre Necrocosmos.

 

Como foi compor a sequência de Eterno Aeon Obscuro e como você descreveria a evolução musical da banda? 

Renato Gimenez: Salve, Daniel e leitores da ROADIE CREW. O nosso disco anterior, Eterno Aeon Obscuro, saiu durante 2020, período de pandemia. Para um novo capítulo a gente tentou se superar, compor em um nível mais sofisticado. Para a gente é uma busca pela lapidação e evolução do nosso trabalho.

 

A capa do álbum (feita por Rafael Frattini) traz uma visão do “sagrado e dos princípios herméticos”. Poderia elaborar um pouco mais sobre o simbolismo por trás da arte de Necrocosmos?

Gimenez: O artista Rafael Frattini é o quinto elemento da banda. Junto com ele a gente criou o Necrocosmos do Vazio. Ele também é responsável pela capa do disco Eterno Aeon Obscuro e do EP Penumbra do Lamento. É muito importante para a gente ter a parceria desse amigo tão talentoso. Juntos, a gente vêm desenvolvendo a estética visual dos trabalhos do Vazio, que dialogam com as letras e música. Frattini, além de artista plástico, ele é um pensador das artes sagradas, há muita filosofia envolvida nos trabalhos dele e em muitos aspectos o seu lado mais sombrio se encontra com os caminhos do Vazio.

 

Continuando nesta mesma linha, Necrocosmos é destinado novamente ao “culto aos ancestrais”, assim como Eterno Aeon Obscuro. Qual a história por trás deste “culto”? O que ele quer dizer, visto que mergulham nos reinos dos mortos e exploram seus mistérios, tendo influências da quimbanda, da necromancia brasileira e da filosofia?

Gimenez: Sim, o Vazio é uma banda de black metal que traz a devoção mortuária como tema central. Sou iniciado na Quimbanda e trago nas composições algumas das chaves desse culto entre outros temas. Os mortos vêm abençoando a caminhada do Vazio desde seu nascimento e que assim seja até o seu inevitável fim.

 

Uma das grandes diferenças entre Necrocosmos e seu primeiro álbum é a inserção em maior escala de elementos indígenas e de cultos afro-brasileiros em meio ao metal extremo. Qual a importância da inserção de elementos culturais no gênero? E quanto à importância de cantar em português?

Gimenez: Vazio é uma banda brasileira, natural se remeter às nossas raízes mais profundas, assim como o respeito e devoção àqueles que aqui caminharam antes de nós. Sobre cantar em português, pô, faz sentido para a gente, vamos direto ao ponto. Sinceramente, acho muito melhor do que cantar num inglês todo errado como vejo em muita gente sem vergonha por aí, pronúncia sofrida e etc, aqueles erros horrendos de concordância… Ou, já ouvi também aquele papo de “não consigo escrever em português”… Se o cara não consegue escrever nem na língua nativa, imagina a qualidade do conteúdo que esse cara está gerando em outra língua. Provavelmente é apenas um “recorta e cola” de alguma banda gringa. O Vazio não faz parte desse baixo clero, buscamos profissionalismo alinhado com a excelência de performance, não somos cópias de nenhuma outra banda, autenticidade para mim é muito importante, nossa música é nossa oferenda aos mortos, e como toda oferenda, tem que ser do coração.

 

Como se deu a escolha de Escuridão Seja Minha Guia como primeiro single e vídeo, estreando no Canal Scena e com produção de Dani Montero (Harta Produciones)?

Gimenez: Essa música foi a primeira que compus para esse disco. Ela reúne grande parte do aparato bélico-criativo do disco. O videoclipe que a Dani Montero fez é uma edição artística de vários registros ao vivo desta música.

 

A versão física de Necrocosmos está disponível através do combo Xaninho Discos, Black Hole Productions, Misanthropic Records, Excarnation Records e Sinfonia de Cães – esta última sendo também o estúdio onde o disco foi gravado. Qual a importância de juntar forças com o objetivo comum, neste caso o lançamento físico?

Gimenez: Os selos independentes de seus devidos locais trazem suas expertises de venda e troca de materiais, vejo isso como uma importante união de forças a fim de fazer o disco circular. Somos parceiros de trampo e amigos também.

 

Em 2017, logo após o lançamento do primeiro EP, houve uma turnê pela Europa com 23 shows feita no modo “Do it yourself”. Tem alguma história interessante para contar? Como diria que essa turnê afetou sua carreira?

Gimenez: Essa tour de 2017 agendamos eu e o Daniel, foram 23 shows em um mês, por vários países logo após o Vazio lançar o primeiro EP, em versões tape e CD. Fizemos uns shows antes da tour pra juntar uma grana, mandamos rodar umas camisetas e “bora”. Maioria das gigs (aconteceu) em ‘squats’, lugares que têm uma história de resistência política e artística. Temos uma próxima tour na Europa em 2024 ainda mais insana: 28 shows em 36 dias, 16 países. Porém, agora, a banda está mais estruturada na cena do metal extremo, então temos mais shows em festivais de metal e clubes com mais qualidade. 

 

Tendo em mente que já dividiram palco com grandes nomes e têm mais uma turnê europeia marcada, poderia descrever como é a experiência ao vivo do Vazio? Como os anos de estrada mudam as ações, as performances e as perspectivas de contato com o público?

Gimenez: A gente é bem unido quanto grupo. Queremos entregar um show foda pra galera que curte nosso trampo. Pra isso, a gente ensaia toda semana, uma ou duas vezes, estamos sempre compondo, trocando demos, e assim vamos fazendo nossa existência ter sentido. Tudo que fizemos na música até hoje é armamento pra gente trabalhar, somos todos músicos experientes e o Vazio é o reflexo disso.

 

É inegável que o Vazio é uma das bandas de black metal mais promissoras do país, dividiu splits com bandas como Bad Luck Rides on Wheels (ALE), Velho e Vulcano, e palcos com Uada (EUA), Mayhem (NOR), Belphegor (AUS) e Incantation (EUA), entre outras. Como descreveria a sua trajetória? Onde quer estar com o Vazio em 10 anos?

Gimenez: Obrigado! Daqui a dez anos parece muito longe, mas pretendo seguir gravando música, é nossa maldição e nosso legado.

 

Para fechar, tem algo mais que queira falar aos leitores da ROADIE CREW?

Gimenez: Apareçam nos rituais do Vazio e apoie o metal nacional!

Foto: Dani Moreira
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