A cidade de Cuiabá, Mato Grosso, tem tido sido um ponto de parada de diversas bandas nos últimos dez anos, e um dos responsáveis pelos shows atende pelo nome de Vicente De Albuquerque Maranhão, da Vendetta Produções. Na ativa desde 2008, a produtora já levou à cidade shows de bandas como Master (Estados Unidos), Horna (Finlândia), Gräfenstein (Alemanha) e diversas bandas brasileiras, e promete um calendário cheio para 2020. Conversamos com o produtor sobre esta jornada e de quebra descobrimos sua lista dos melhores do ano. Confira o bate papo!
Roadie Crew – O recente show do Mondo Generator em Cuiabá encerrou o ano com chave de ouro e coroou mais de dez anos de intenso pelo Metal na cidade. Antes de qualquer coisa, como surgiu a produtora? O que te levou a ingressar no meio da produção?
Vicente De Albuquerque Maranhão: A Vendetta Produções foi fundada em 2008 com o intuito de apoiar e fomentar o heavy metal valorizando as grandes bandas do cenário underground nacional. A proposta da produtora é oferecer um evento de qualidade, com infraestrutura de ponta, e o intuito de movimentar, fomentar e apoiar o cenário underground no país. A produtora visa apresentar um novo conceito, valorizando o metal nacional, reunindo nomes já consagrados, além de dar espaço para as grandes revelações do cenário underground.
Roadie Crew – De 2008 pra cá foram produzidos shows com diversos nomes internacionais, como Master (Estados Unidos), Horna (Finlândia), Gräfenstein (Alemanha), Black Oil (Estados Unidos), Gore (Peru), Bemdesar (Bolivia) além das brasileiras Torture Squad, Nervosa, Hammurabi, Ophiolatry, Holder, Predator, Jupiterian e Mythological Cold Towers. Destes shows, qual foi o mais satisfatório em termos de resposta do público e também da competência das próprias bandas?
Vicente: Essa é uma pergunta bem difícil, todos os shows tiveram algum ponto de relevância extremamente significativa. Cada show é um aprimoramento e acúmulo de experiência. Fazendo um retrospecto eu posso dizer que os shows que mais me impactaram foram do Horna, Gräfenstein, Master, Mithological Cold Towers, Nervosa e Torture Squad. Geralmente são os que eu vejo o público relembrando com mais carinho e sempre perguntando de um possível retorno das bandas. Acredito que agora o show do Mondo Generator também acabe entrando nesta lista. Em um dia atípico para eventos em Cuiabá tivemos casa lotada e um show muito intenso com o Nick Olivieri extremamente a vontade, sempre brincando e interagindo com o público.
Roadie Crew – Sabendo que organizar um show nem sempre é sinônimo de sucesso financeiro, como lidar com as adversidades? Hoje, num Brasil com mais de 13 milhões de desempregados e uma forte crise política/financeira, o que motiva pessoas como você a continuar?
Vicente: O meu maior aprendizado a respeito da produção de eventos foi justamente viajando para outros eventos e festivais. Tive oportunidade de conhecer diversos produtores independentes no país e acompanhar a produção de diversos festivais tanto nacionais quanto internacionais, esse intercâmbio entre bandas, produtores e festivais além de ser meu maior fator de motivação, também me ajudou a entender quais seriam as principais questões que eu deveria focar quando resolvo produzir um evento. Os três principais conselhos que eu posso dar para quem resolver entrar nesse ramo são: 1 – Conheça sua cena! Para você fazer o evento, você tem que saber a dimensão aproximada do seu público e a realidade socioeconômica da sua região, a dimensão e custos do seu evento vão depender de quanto publico você consiga agregar. 2 – Planejamento e promoção! Meus eventos são feitos com uma média de 04 meses de planejamento e divulgação da banda esse é o tempo mínimo que eu considero para você conseguir agregar público e conseguir prospectar patrocinadores, lembre-se quando maior o interesse do público maior o número de possíveis patrocinadores. 3 – Não dependa de bilheteria! Por mais que sempre esperamos a casa cheia, há diversas variáveis que podem influir na quantidade de público presente, o que torna esse fator muito inconstante para garantir o sucesso financeiro do evento. Quase todos os eventos produzidos atualmente pela Vendetta já estão praticamente pagos antes da banda subir ao palco, isso garante uma maior tranquilidade para produzir, além de evitar desgastes.
Roadie Crew – Hoje, mesmo com a internet auxiliando o fã de música, há pessoas que não conhecem ou não buscam informações sobre bandas fora do tradicional eixo Rio/SP ou não saem do mainstream, deixando de conhecer bandas excelentes, como o Solarisphere, que abriu o show do Mondo Generator. Como está a cena local de Cuiabá e região? Quais nomes você poderia nos apontar como destaques?
Vicente: A cena underground em Cuiabá e região sempre foi extremamente rica com um movimento bem atuante! Mato Grosso sempre teve muita força no metal extremo, tendo inclusive um dos maiores festivais do Brasil deste gênero chamado ART UNDERGROUND! Que trouxe grandes nomes do metal nacional de diferentes regiões do Brasil e ajudou a formar toda uma geração de headbangers, inclusive a mim mesmo! Hoje Cuiabá conta com diversas bandas em diferentes estilos que estão calcando seu nome na cena nacional, algumas que posso citar são: Gorempire, Malignant Excremental, Total Desastre, Heretic Razor, Desdém, Burning in Hate, Malevah, Fuzzly, Sr. Infame, Dying Order! Todas essas bandas estão por aí produzindo suas músicas, lançando seus álbuns e EPs e viajando para tocar em shows e festivais pelo Brasil!
Roadie Crew – O Cavernas Bar têm recebido muitos shows e parece ser um forte parceiro da Vendetta. Nesse sentido de espaço, como Cuiabá está servida? Há mais casas de shows que recebem o público Heavy Metal?
Vicente: Cuiabá devido a sua grande importância econômica, como capital do estado que hoje figura como referência de agronegócios no país, teve um grande avanço no mercado de entretenimento na última década! Hoje a capital está preparada para receber shows de bandas tanto underground quanto as que figuram no mainstream da música! E para o heavy metal o Cavernas Bar se destaca como o palco principal e de fundamental relevância! Além de sua história e tradição, a casa conta com estrutura e aparelhagem para qualquer tipo de evento, fora uma equipe técnica totalmente habituada a trabalhar com o metal o que faz com que as bandas que se apresentam no Cavernas, sempre queiram voltar!
Roadie Crew – Creio que tenha sido interessante trabalhar com lendas como Paul Speckmann, do Master, um dos criadores do Death Metal. Obviamente na hora da produção é preciso separar o lado fã do lado dos negócios. Mas, durante estes mais de 10 anos, quais situações interessantes você poderia nos encontrar em relação a este lado mais fã que todos temos?
Vicente: O maior ponto de realização sem sombra de dúvidas é o momento que a banda sobe no palco e começa o show! Esta para mim sempre será a catarse máxima, eu sempre assisto os show da frente do palco, naquele momento não existe mais o produtor, sou novamente aquele garoto de 12 anos com sua camiseta de banda e coturno parado na frente do palco elevando seu braço e mandando um “Horns Up!” para a banda como sinal de respeito e admiração! Fora este momento, as lembranças mais carinhosas que tenho são dos diálogos muitas vezes despropositados que você tem com estas pessoas que você tem essa admiração, por exemplo, quando o Paul sentou em um banco na frente do hotel para fumar o cigarro e ficou contando como foi a produção do “Vindictive Miscreant”, ou quando o Nick Olivieri foi contar a historia de quando ele tatuou a capa do “Never Say Die” nas costas e estava tão chapado que duvidou que o tatuador estivesse fazendo a tatuagem pois não sentia a dor da agulhada, ou quando Ulvernost (batera do Gräfenstein) me contou que era antropólogo e que a pesquisa dele era toda voltada paras as etnias indígenas existentes no Brasil e que o sonho dele era realizar seu trabalho de campo aqui, enfim essas conversas triviais que você de vez em quando começa a relembrar que aconteceram.
Roadie Crew – E como está a agenda para 2020? Alguma banda já confirmada?
Vicente: Estamos começando o planejamento para 2020 agora, tem muitas bandas e bookings entrando em contato querendo fechar datas, mas ainda não temos nada realmente confirmado, infelizmente o momento econômico e a alta valorização do dólar acaba deixando muitas incertezas principalmente em relação às bandas em tour internacional. Em relação à cena brasileira a primeira data confirmada que posso adiantar aqui será com a Nervosa que, ao retornar de sua turnê na Ásia, tocará pela primeira vez em Cuiabá.
Roadie Crew – Do seu ponto de vista de fã, com qual banda você gostaria de trabalhar?
Vicente: Meu amigo! Se eu pudesse listar todas aqui acho que não sobraria espaço para mais nenhuma pergunta, o cenário do metal é deveras produtivo no mundo inteiro, sempre há novas bandas surgindo dos mais variados estilos, que vem realizando grandes shows e ainda há aquelas turnês de grandes bandas homenageando um determinado disco de sua discografia e tocando o mesmo na integra! Mas acredito que produzir nomes tradicionais na historia metal mundial traz a tona um sentimento diferente, desta forma cito bandas como: Cannibal Corpse, Asphyx, Pentagram, Crowbar, Obituary, Candlemass, Sunn O))), Fu Manchu, Angel Witch, etc.
Roadie Crew – Para finalizar, algo bem pessoal: liste os 10 discos que você mais curtiu este ano, e cite também uma banda brasileira que você acha que dominará 2020.
Vicente: Neste caso então vou listar aqui uma listas com os 10 discos que mais gostei esse ano lançado por bandas brasileiras! Vai dar trabalho, mas acredito que o resultado seja interessante!
Nervochaos – Ablaze
Beyond The Mirror – The Broken Mirror
Pesta – Faith Bathed in Blood
Justabeli – Intense Heavy Clash
Age of Artemis – Monomyth
Mystifier – Protogoni Mavri Magiki Dynasteia
Svatan – Blazing Winds of Transcendence
Low Levels of Serotonin – Katharsis
Infamous Glory – An Ancient Sect of Darkness
Armagedom – Em Lenta Decomposição
E acredito que uma banda que dominará tudo em 2020 é o Nervochaos, os caras lançaram um disco impecável este ano com a produção do Alex Azalli, estão com contrato com a Hammerheart Records e estão fazendo turnês enormes! Edu Lane é um grande lutador da cena brasileira e merece todo sucesso que está tendo!
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