Aquele domingo foi decisivo para a política de muitas cidades, inclusive Fortaleza/CE, onde foi realizado o terceiro show da mine-turnê do Vulture pelo Nordeste. Antes, a banda passou por Natal/RN (28/10) e Mossoró/RN (29/10). Mas o dia 30/10, reservado à realização do segundo turno das eleições, em nada impediu que o headbanger – em especial o “deathbanger” – comparecesse ao evento underground, marcado pelo poder brutal das guitarras e guturais calamitosos dos vocais.
Tudo bem que o festival estava marcado para iniciar às 17h30, o que não aconteceu, pois quando a primeira banda começou a tocar já era noite. Nesse caso, o atraso até que foi “benéfico”, se levarmos em consideração a dificuldade de muitas pessoas com transportes naquele domingo de votação. O lugar cercado por residências particulares causava certa reflexão sobre o som alto que poderia incomodar, afinal, muitos vizinhos iriam trabalhar na manhã da segunda-feira – pensando nisso, o técnico de som preveniu o problema, plugando apenas parte do equipamento de saída. Deu certo!
Felizmente, o set inicial já contava com muita gente à frente do palco conferindo o Death Metal do Ankerkeria, grupo que não contou com a guitarrista Maiara Oliveira, deixando o show a cargo de Jóice Lopes (vocal), Mateus Martines (guitarra), Icaro Cavalcante (baixo) e Arthur Tenório (bateria). O quarteto que ainda não lançou um álbum, é prestigiado pelos videoclipes de “Trace Of Disgrace” e “Blessed By Thy Shame”. Nessa noite, os fãs já conquistados, puderam conferir ao vivo as execuções destas e de outras músicas que brevemente estarão no primeiro disco.
A performance da banda foi conduzida por um som denso, muitas vezes homogeneizando a nebulosidade do Death/Doom à rispidez do Death Metal. Os músicos que iniciaram a jornada em 2010 sentiam-se bem à vontade, e a falta de uma guitarra não causou desgaste, já que a apresentação empolgou aos presentes, arrancando aplausos.
Quem também está trabalhando em seu ‘debut’ e que fez o set mais pesado da noite, foi o Decomposing, banda formada em 2013 com influências do que há de mais grotesco no Metal Extremo. As longas pausas entre uma canção e outra não incomodaram mais que o som limitado que saia dos falantes, pois no momento em que músicas como “Into The Dead” eram tocadas, lamentava-se não haver um suporte sonoro à altura da brutalidade de Anderson Nunes (vocal), David Barroso (guitarra), David Kollias (bateria) e Carlos Meneses (baixo). Mas o público soube aproveitar cada momento do espetáculo, absorvendo doses cavalares de destruição.
Velhos conhecidos do cenário local, cada integrante possui um currículo extenso de bandas que, assiduamente, marcam presença em shows undergrounds por Fortaleza, isso foi um dos fatores que contribuiu para uma casa cheia e boa expectativa de palco. Os seguidores da banda e entusiastas do estilo, ainda puderam contar com homenagens feitas a Vader com a execução de “Wings”, faixa que abre o álbum “Litany” (2000) e a Cannibal Corpse com a clássica “Hammer Smashed Face”, do terceiro álbum, “Tomb Of The Mutilated” (1992).
Chegada a hora dos visitantes, o Vulture representou o que há de melhor em sua discografia que abrange os álbuns “Test Of Fire” (2005), “Through The Eyes Of Vulture” (2008), “Destructive Creation” (2012) e “Abandoned Haunt Of Cosmic Hate” (2015), para citar apenas os ‘full lengths’ oficiais. Os paulistas de Itapetininga mostraram que os últimos dias na estrada não afetou o desempenho da banda. O Death Metal visceral promovido por Adauto M. Xavier (guitarra, vocal), Yuri Schumann (guitarra, backing vocal), André M. Xavier (bateria) e Max Schumann (baixo), segurou a parte final do festival que fez valer a espera da visita.
Cacetadas do tipo de “Riders Of A New Age” e “Under The Blade Of Death” “ditaram” as regras durante as sessões de riffs, que geraram muitas “bangeadas” ao longo da apresentação. Pessoas mais animadas não perdiam tempo e participavam ativamente diante do palco. Houve até quem subisse e arriscasse alguns ‘stage divings’. Para quem precisava observar com um olhar mais atencioso como este que vos escreve, teve que aguentar uma iluminação vertiginosa que apontava para o público, além, é claro, do baixo rendimento do som, mas todo esforço valeu a pena, pois Fortaleza, mais uma vez, conseguiu alimentar a sua cena que se encontra em grande momento no contexto nacional.