Na vida, nem tudo pode ser sempre levado a sério. Às vezes é necessária uma boa dose de bom humor para seguir adiante, caso contrário, fica muito difícil se manter de pé. Pensando assim, o projeto internacional Warkings surgiu, em 2018. Aqui, a música é a única coisa levada à sério, já que todo o conceito da banda, do apelo lírico à imagem, tudo foi trabalhado com muito bom humor. O conceito é básico: Quatro antigos guerreiros, desencarnados em épocas e lugares diferentes, se reuniram para tocar heavy metal. Juntos no Warkings, estão o Viking (The Viking, baixo), o Tribuno Romano (The Tribune, vocal), o Espartano (The Spartan, bateria) e o Cruzado (The Crusader, guitarra). Nem eles mesmos sabem a razão de saberem tocar, mas aí estão, em turnês e lançando discos, como convém aos personagens que encarnam nos palcos. E é praticamente impossível tirá-los do personagem, como revela essa bem-humorada conversa com The Viking, que como um bom guerreiro lendário (desencarnado) nórdico, nos forneceu os detalhes desse interessante projeto que une músicos da Alemanha, Suíça e Áustria.
Certo, não é todo dia que temos a chance de conversar com uma banda formada por lendários guerreiros desencarnados, então, acho que temos um bocado de História para cobrir aqui, certo?
The Viking: Ah, pode ter certeza disso. Embora ainda tenha sido apenas em 2018 que possuímos esses corpos frágeis para encarnar nossa música, há toda uma existência para ser coberta nessa conversa, então, por onde devo começar?
Como foi a formação da banda?
The Viking: Foi naturalmente confusa, como você pode imaginar (risos). Digamos que não éramos exatamente o tipo de cidadãos que gostar de perambular por aí e fazer amigos. Tirando talvez o tribuno (N.R: The Tribune, o vocalista), pois, você sabe, ele é mais um político do que qualquer outra coisa (risos), então ele não será necessariamente seu amigo, mas estará cheio de sorrisinhos e gentilezas enquanto planeja cravar uma adaga nas suas costas.
“Até tu, Tributus”?
The Viking: Pois é, você pegou o espírito (risos gerais). Mas veja, nós éramos todos guerreiros lendários. Vivemos em diferentes eras históricas, nascemos e travamos nossas batalhas em diferentes lugares do mundo. Um dia, eventualmente, morremos com a mesma bravura com a qual vivemos. Eu, claro, fui recebido com honras e cerveja no Valhalla, e os outros estavam no Paraíso, no Elísio ou qualquer coisa que o valha, são muitos nomes confusos com esses caras (risos). Bem, após muito beber e lutar, ou, no caso do Crusader (N.R: guitarrista), após muito beber suquinho de uva e tocar arpa para os anjinhos (risos gerais), acabamos nos encontrando em um desses salões do além-vida. O nosso primeiro impulso foi, claro, sentar a porrada um no outro até não poder mais, porém, o Tribune nos convenceu que conversar poderia ser um bom caminho. Eu concordei, desde que tivesse cerveja, e então começamos a nos entender. Cada um de nós contou as suas histórias, e vimos que todos tínhamos lutado duras batalhas e ostentado vidas honradas em nossas épocas, e embora não diga isso com orgulho algum, fui capaz de reconhecer a bravura daqueles homens. Assim, decidimos que talvez fosse uma boa ideia nos unirmos para contar essas histórias para os fãs de heavy metal, pois não existem pessoas mais valorosas e bravas no mundo atual do que os fãs de metal.
Parece uma boa ideia.
The Viking: Acho que sim, pois no fim das contas existiam tantas boas histórias para contar! Travamos tantas batalhas durante nossa vida, e que maneira poderia ser melhor para contar essas histórias do que o metal, que é épico, pesado, intenso, poderoso… Era tudo o que precisávamos, sinceramente. Então, colocamos as nossas diferenças de lado em nome das histórias e da música, e começamos com o Warkings. E foi isso, começamos em 2018, e não aconteceu nada antes, estávamos mortos por vários séculos (risos).
O que tornou o power metal a plataforma perfeita para contar essas histórias?
The Viking: Acho que não existe nenhuma boa história que não possa ser narrada com uma boa música power metal rolando ao fundo. Você sabe, o equilíbrio perfeito das melodias cativantes do hard com o peso do heavy metal, a possibilidade de passar de um ambiente musical totalmente intenso e rápido para uma parte cadenciada e intencionalmente épica, acho que esse gênero musical é o que melhro apresenta todos esses elementos para uma banda como nós. Podemos partir de uma canção mais vigorosa e rápida sobre uma antiga batalha repleta de violência e sangue para uma balada que versa sobre a saudade que o guerreiro tem da sua casa e da sua família, e tudo isso soa natural, sem parecer forçado nem de um lado e nem do outro. Quando se trata de contar histórias, o power metal é a melhor plataforma, não tenho dúvida.
Bem, não deixa de ser bastante fortuito lançar seus álbuns justamente em uma época em que o power metal está novamente chamando atenção no cenário, com várias novas bandas aparecendo, além de tantas clássicas que permanecem ativas.
The Viking: É verdade. E posso afirmar com toda certeza que todos nós somos grandes fãs de power metal, é o estilo que mais ouvimos. Veja, nosso guitarrista é absolutamente incrível, sei que ele poderia tocar qualquer tipo de música em qualquer banda que quisesse, mas ele escolheu tocar power metal porque ama o estilo, e sinto que isso é verdade para todos nós. Além disso, nunca fizemos promessas, apenas entregamos aquilo que de melhor conseguimos produzir. Tentamos soas únicos e originais, tentamos chamar a atenção das pessoas com a nossa música sem copiar ninguém, mas é como você disse, existem tantas boas bandas novas além de tantas ótimas bandas do passado, é difícil. Então, acho que a melhor maneira de criar a nossa música com uma cara própria é justamente não se policiar demais sobre isso, simplesmente deixar fluir. Pegamos um bom momento no cenário, e estamos tentando aproveitar lançando o máximo de músicas que conseguimos, mas sem deixar a qualidade de lado.
Soa como uma atitude bastante honesta.
The Viking: Sim, a ideia é essa mesmo. Somos guerreiros honrados, certo? (risos). E veja, não quero enganar os seus leitores, então quero deixar uma coisa bem clara aqui: nós não estamos apresentando nenhuma revolução no metal, não temos nada realmente novo na nossa música, nada disso. Temos sim música honesta, e feita da melhor maneira que somos capazes de fazer, então, se é isso que vocês apreciam, deveriam dar uma chance para nós.
Liricamente, também gosto da proposta de vocês. Abordar batalhas históricas com foco em uma determinada civilização do passado não é exatamente uma novidade no metal, como Nile, Ex-Deo, Amon Amarth e tantos outros bons nomes comprovam. Agora, misturar tudo em um mesmo caldeirão não é algo tão comum assim.
The Viking: É verdade. Bem, fico feliz que goste disso, dessa mistura de épocas e povos, mas você não imagina o pesadelo que é isso a cada vez que começamos a escrever um novo álbum (risos).
Por quê?
The Viking: Bem, porque todos querem contar as suas próprias histórias, por isso (risos). Lembra que no início da nossa conversa eu disse que a primeira coisa que quisemos fazer quando nos conhecemos era brigar um contra o outro como se não houvesse amanhã? Pois é, sempre que começamos a trabalhar em novas letras, essa vontade retorna com força total (risos gerais). Esses caras são tão ridículos, é claro que um viking vai ter sempre as melhores histórias sobre batalhas (risos).
Quanto a isso, imagino que você, o Crusader e o Spartan devem ter ótimas histórias de batalhas, mas quanto ao Tribune, ele é basicamente um político, certo? Deve ser entediante ouvi-lo discursar por horas a fio sobre qualquer pequeno assunto que vier à tona…
The Viking: Ah, meu bom amigo, vejo que você entende a minha dor (risos). É realmente entediante passar os dias entre um discurso e a expectativa de outro discurso dele, que homem prolixo (risos gerais). Mas, cá entre nós, espero que ele não nos ouça, afinal… Você sabe, ele pode ser apenas um político, mas tem a força de todo o exército romano agindo sob suas determinações, então, vamos deixar isso entre nós (risos gerais).
Bem, imagino que tenha sido divertida essa jornada até aqui.
The Viking: Ah, muito mesmo, é até difícil de dizer. Você sabe, quando nos unimos e começamos a escrever músicas, acabamos chamando a atenção de um selo que apostou em nós, mas o que realmente esperávamos? Acho que foi tudo além do que pensamos, e muito rapidamente. Lançamos o primeiro álbum (Reborn) em 2018, e então saímos para fazer muitos shows, e rapidamente veio o segundo (Revenge, 2020), o terceiro mais rápido ainda (Revolution, 2021), e assim tem sido a nossa vida desde então. Não dá tempo para pensar muito, é apenas ação e ação, e eu gosto muito disso. Claro que daqui para frente espero que possamos demorar mais para lançar outro álbum, pois estamos todos com saudade de tocar ao vivo, queremos sair em turnê. Quem sabe um dia tenhamos a chance de tocar no Brasil, hein? Seria uma grande honra, vocês têm plateias famosas por aí, e eu adoraria conferir tudo de perto com o Warkings.
Muito obrigado pela conversa, foi divertida.
The Viking: Eu que agradeço o interesse, foi muito gentil, de verdade! Enquanto passamos o dia divulgando o novo álbum, convido seus leitores para conferirem nossa música, e nos deixem saber o que estão pensando. É música honesta, feita por pessoas que amam o que fazem, então, espero que curtam. E, se vocês conseguirem se divertir ouvindo nosso álbum, teremos cumprido a nossa missão.