Por Daniel Agapito
Formado originalmente em 1996 nos arredores de Taubaté, cidade interiorana do estado de São Paulo, o Zumbis do Espaço vem trazendo um pouco do bom e do melhor do horror punk (à la Misfits) para terras tupiniquins. Com A Fúria Selvagem, seu mais novo álbum, o grupo mostra que ainda é capaz de entregar faixas divertidas, porém aterrorizantes na medida certa, como Ir, Seguir e Destruir e Aos Vivos Fica a Maldição. A ROADIE CREW bateu um papo com o vocalista Tor Tauil, grande idealizador da banda. Com ele, discutimos desde as nuances da capa do novo disco à sua experiência no Summer Breeze Brazil deste ano.
A Fúria Selvagem é o décimo álbum da banda, que está próxima de completar 30 anos de carreira. Mesmo assim, parece que vocês têm encontrado uma boa e consistente “fórmula” para sua sonoridade. Como descreveria a evolução sonora dos Zumbis? De que modo o novo LP cabe na trajetória evolutiva musical da banda?
Tor Tauil: Nós chegamos ao nosso som muito cedo em nossa carreira. Desde o início eu sabia que tínhamos algo único e especial. Acredito que já no nosso segundo álbum, de 1999, Abominável Mundo Monstro, já possuíamos nosso som e estilo de modos bem definidos. A partir disso, acho que apenas fomos melhorando como músicos.
Por extensão, durante suas três décadas de carreira, como diria que a cena musical evoluiu no geral?
Tor: Sinceramente não sei se evoluiu. Se por um lado temos produtores, casas de shows e um circuito mais profissional, no nosso caso se deve unicamente pela posição que a banda se encontra. Falo isso porque conheço muitos músicos e bandas mais jovens que estão começando, e por mais talento que tenham encontram muitas dificuldades para se estabelecer e construir seu público. Quando começamos o mundo era outro e existia um certo interesse das pessoas por música e arte inovadora e desafiadora. Não importava se não havia condições ou casa de shows. Nós improvisávamos esses espaços e as pessoas apareciam. Hoje não vejo mais isso.
Durante seus 30 anos na estrada, tem feito músicas com títulos um tanto controversos: O Mal Nunca Morre, Prostíbulo do Inferno, Mato Por Prazer, Inspirado Pelo Cão, Enquanto Eu Defecar; nada fora do comum para o estilo. Já tiveram algum problema em relação a isso? Já foram vítimas do “cancelamento”?
Tor: Verdadeiramente, não me importo. Falo o que eu quero da maneira que eu quero. Não faço música para agradar nenhum grupo de pessoas, pelo contrário. No início, o que me motivou a montar uma banda foi fazer música desafiadora e insana, que incomodasse, que despertasse alguma reação, como todas as bandas e artistas que eu amava causaram em mim. Definitivamente eu não ia fazer o que eu faço na minha vida se eu tivesse ouvido artistas inodoros, incolores, insípidos e politicamente corretos.
Vocês comentaram que para a produção do disco pela primeira vez na carreira se isolaram no estúdio por uma semana, sem distrações externas. O que inspirou essa decisão?
Tor: Ter as condições apropriadas para fazer isso. Eu sou um fã de música primal e seminal como o som da Sun Records, por exemplo. Todos os meus discos favoritos foram gravados dessa maneira, isso explica a força e qualidade de gravações dos anos 50, 60 e 70. Para gravar dessa maneira você precisa ser bom, precisa estar focado, ter espontaneidade e um pouco de loucura. E se tudo der certo você tem a mágica.
Você revelou que haviam produzido 30 faixas, gravando 19 e lançando 13, fazendo um álbum “all filler no killer”. Mesmo com o novo LP sendo de qualidade indubitável, podemos esperar ouvir estas seis músicas “perdidas” de alguma maneira?
Tor: Com certeza. Três dessas faixas extras são versões que fizemos para músicas de bandas que gostamos; outras são inéditas e devem sair em reedições futuras como faixas bônus. Quanto aos covers talvez lancemos um EP em vinil com quatro músicas para o dia das bruxas desse ano. Seria ser insano.
A arte da capa contém diversas referências à história da banda. Poderia explicá-las?
Tor: São muitas, acho que se eu explicasse tiraria a diversão dos fãs que ficam discutindo isso e nos perguntando. Sempre adorei esse tipo de coisa e até hoje me divirto pegando a capa do Somewhere in Time ou do Powerslave e procurando as referências. Se eu revelasse de mão beijada ia ser um estraga prazeres.
No último mês de abril, vocês tocaram no Summer Breeze Brasil, no Waves Stage. Como foi a experiência de fazer um show em um festival tão grande?
Tor: É lógico que é legal tocar num festival desse porte com um line-up com algumas das melhores bandas em atividade e uma excelente produção e organização. Porém não acho que seja nenhum divisor de águas na nossa carreira, mas é sempre legal e uma forma de reconhecimento.
Para assumir o baixo nesta turnê, vocês estão contando com o experiente Val Santos (Viper, Toy Shop, Brutal Brega). Como está sendo a turnê de lançamento? Quais as diferenças dos estilos de Val e Gargoyle?
Tor: O Val é nosso amigo há décadas. Ele é um excelente produtor e músico, e trabalhou com a gente na pré-produção do álbum. Quando o Gargoyle se mudou pra Alemanha após as gravações do álbum e da nossa tour “Primavera Sangrenta” o mais certo a se fazer seria convidar o Val pra cobrir os shows que iam vir, já que ele conhecia todo repertório da banda – inclusive as músicas novas. Dessa maneira teríamos tempo e tranquilidade para encontrar alguém que preenchesse essa vaga definitivamente. Lembrando que o Gargoyle continua participando e colaborando com a banda, o estilo dele de tocar foi muito importante na construção do nosso som (Inclusive, ele tocou no show de lançamento em São Paulo, no último dia 11 de maio).
O novo álbum também conta com a participação especial de Natacha Cersósimo, vocalista da ToyShop em Noite das Bruxas. Vocais femininos era algo que estava no planejamento do disco? Como diria que ficou o produto final?
Tor: Ter vocais femininos não fazia parte a princípio, porém durante a pré produção quando eu mandei essa música pro Val, ele de imediato sugeriu que fizéssemos duas versões, uma só comigo, e outra com a Natacha. Na hora achei a ideia excelente e realmente fazia sentido. Então, escrevi mais uma estrofe adaptando a letra para que encaixasse o vocal dela. Eu já tinha trabalhado anteriormente com a Natacha no meu sétimo álbum solo, Indomável, e nossas vozes soam muito bem juntas. Portanto, foi a escolha óbvia, e eu nem cheguei a cogitar gravar a versão só com minha voz depois disso.
Onde esperam estar em um futuro próximo? Quais os planos?
Tor: Quanto aos outros eu não sei, mas quanto a mim espero estar na praia com várias Margaritas e long necks geladas ouvindo minhas músicas favoritas e aprontando alguma coisa irresponsável.
Siga o canal “Roadie Crew” no WhatsApp: