Depois de quase trinta anos de trajetória, o vocalista, multi-instrumentista, compositor e produtor Fabiano Negri (Rei Lagarto, Dusty Old Fingers) anunciou que estava encerrando sua carreira artística. A falta de apoio que sofre um artista independente aqui no Brasil foi determinante para que ele resolvesse fazer de The Fool’s Path (2020) seu último trabalho. Continuaria fazendo suas produções e atuando como professor de música em sua escola Cultura Pop, mas discos, nunca mais. Foi uma aposentadoria relâmpago. Meses depois, uma produtora americana, Big Can Productions, interessou-se pelo trabalho dele e a parceria resultou na retomada da carreira de Fabiano através do disco Reborn, que será lançado em duas partes, em formato físico e digital. Nessa conversa Fabiano fala sobre o contato com a produtora, o novo disco e as perspectivas que a parceria abre para sua carreira.
Há menos de um ano, você lançou o álbum Fool’s Path e anunciou que estava encerrando sua carreira por absoluta falta de apoio. Como surgiu o contato com a Big Can Productions, que fez você mudar seus planos?
Fabiano Negri: Eu estava realmente disposto a encerrar a minha carreira e lancei The Fool’s Path como um ponto final. O trabalho foi muito bem aceito, recebi muitos elogios de diversas pessoas e veículos bacanas. O disco está aparecendo em diversas listas de melhores do ano, mas, mesmo assim, seria o meu último álbum mesmo. Aí apareceu a Big Can Productions. O que chamou a atenção deles para o meu trabalho foi, primeiramente, minha voz. Charles Kegley, que é um dos sócios do selo, ficou muito impressionado com um cover que eu fiz para Outshined, do Soundgarden, e fez o primeiro contato. Aí eles descobriram que eu tinha um trabalho bastante extenso aqui no Brasil e começaram a ouvir com mais carinho toda minha discografia. Depois de algum tempo, eles me fizeram uma proposta para o disco. Eu sempre fui um artista independente, então o fato de essas pessoas terem me procurando, me propondo um acordo que eu nunca tive, com um tipo de apoio que eu nunca tive e em condições que eu nunca tive foi um baita empurrão. Era uma oportunidade que jamais eu poderia deixar passar.
Não soa meio irônico que, depois de quase trinta anos de carreira no Brasil, tenha que vir uma produtora lá de fora para oferecer o apoio que você nunca conseguiu por aqui?
Fabiano: Pois é… Muitas pessoas se aproximaram de mim durante esses trinta anos, mas sempre havia uma conta pra eu pagar ao final de cada acordo proposto. Minha resposta sempre foi ‘não’. Foi a primeira vez que houve um acordo justo e veio justamente de um lugar que eu jamais imaginaria. Mas eu procuro não pensar a respeito e tenho encarado tudo isso como um recomeço.
Entre o primeiro contato com a Big Can e a conclusão do álbum Reborn quanto tempo se passou?
Fabiano: Seis meses.
Toda a produção artística, inclusive visual, ficou por sua conta? A produtora não interferiu em nada nesse processo?
Fabiano: Sim, toda a produção artística e visual foi feita por mim, sem qualquer interferência. Eles estão cuidando da produção e da distribuição do material, da publicidade e trabalhando como assessoria de imprensa fora do Brasil.
Seu filho Ian Pinheiro participa no baixo e na percussão da faixa Gazing e você gravou todos os demais instrumentos e vozes. Por que essa opção?
Fabiano: Eu gosto de trabalhar assim. As coisas tomam forma muito mais rápido e eu tinha certa urgência em entregar o material. A pandemia também ‘ajudou’ para que essa fosse a única opção.
Reborn vai ser dividido em dois lançamentos distintos. Como isso vai funcionar?
Fabiano: Eu preparei onze faixas para o álbum. Tanto eu quanto o selo achamos que seria mais sensato, tendo em vista o mercado atual, dividir o trabalho em dois EPs. O público vai ter mais tempo para absorver o material e o selo terá mais assunto para manter a publicidade rolando.
Reborn soa bem mais direto que suas produções recentes, mais na linha do hard rock que você fazia com o Rei Lagarto. Foi uma estratégia para agradar o mercado norte-americano?
Fabiano: Eu pensei em fazer músicas mais simples e diretas, com grandes refrãos e mensagens positivas. Não foi uma opção para agradar nenhum mercado, foi uma resposta ao ano miserável que eu tive pessoalmente. Sentei para compor sem pensar em lamentações. Eu compus para buscar uma saída de onde eu estava. Eu me senti bem criando essas canções e espero que as pessoas tenham o mesmo tipo de sentimento.
O brasileiro vai ter acesso ao disco físico?
Fabiano: Por enquanto, apenas através da gravadora e com preço de disco importado (https://www.facebook.com/BigCanProductions). Mas eu vou tentar arrumar um jeito de oferecer esse material por um preço mais acessível para o brasileiro.
Quais os próximos passos que você projeta nessa retomada de carreira?
Fabiano: Estou finalizando a segunda parte do álbum nesse momento. Temos vários planos rolando, mas dependemos de como a história da covid-19 vai se desenrolar. Eles gostariam de me levar para os Estados Unidos para alguns shows e uma tour promocional. Isso estaria previsto para o meu período de férias, no final de 2021. Na verdade, se isso acontecesse seria fantástico e os últimos 26 anos dedicados à música já teriam valido a pena. Estamos no começo do trabalho e estou realmente empolgado com o que eles estão fazendo por mim.
Vídeo da faixa Inside Out, do disco Reborn:
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