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MITSEIN – Muito Mais do que um ‘Negócio de Família”

A miríade das emoções humanas sempre rendeu muito para os letristas nos mais variados estilos do heavy metal. Unindo bocados de filosofia, sociologia, psicologia e pinceladas nada discretas de fantasia, bandas como Uriah Heep se tornaram referência não apenas ‘sonora’, mas também ‘poética’ para várias gerações. Nascida em Planaltina, no Distrito Federal, a banda Mitsein mergulha fundo nas experiências pessoais para desenvolver o caráter lírico da sua música, perfeitamente embalada em uma sonoridade melódica e pesada, encontrada em cada detalhe de seu EP de estreia, I’ll Find My Way. Os fundadores da banda, Jeff Oliveira (guitarra) e Cristienne Graciano (voz) conversaram com a ROADIE CREW, e explicaram em detalhes cada etapa do processo até este momento.

A Mitsein foi idealizada pelo guitarrista Jeff Oliveira e sua esposa, a vocalista Cristienne Graciano. Quanto do caráter musical da banda já existia nesses primeiros dias, enquanto a banda existia apenas nas ideias do casal?

Jeff Oliveira: Em primeiro lugar, gostaria de registrar o quanto estamos felizes por estar aqui na ROADIE CREW falando um pouco do nosso trabalho. Bom, foi tudo espontâneo e experimental, não seguimos fórmulas, não nos guiamos por gêneros específicos do Metal e nem trabalhamos em cima de um tema específico para escrever as letras. A ideia foi deixar fluir tudo o que queríamos externar e a partir disso, iniciamos os ensaios para lapidar as primeiras composições até ficar bom o bastante para o processo de gravação.

Muitos comparam uma banda ao casamento, mas neste caso, a banda realmente envolve um casamento (risos). Assim sendo, como encontraram os parceiros corretos para seguir adiante com os mesmos ideais, sem deturpar a visão original da banda?

Jeff: Isso foi um desafio muito grande, pois Cris e eu consideramos a Mitsein a nossa quarta filha… Nesse sentido, somos muito cautelosos e cuidadosos com cada detalhe que envolve a banda. Por isso, os outros dois integrantes, Aquiles Lima e Alberto Barbosa, foram escolhidos a dedo. Eu conheci Aquiles (bateria) durante um ensaio de um outro projeto musical que participávamos, o cara tocava pesado e já demonstrava muito compromisso e responsabilidade com o projeto, isso me chamou atenção. O Alberto (baixo) conheci tocando com a Mitsein em eventos organizados por ele quando o meu sobrinho André Oliveira fazia parte da banda, mas por conta da faculdade e do trabalho precisou sair. Alberto já era conhecido na cena do Distrito Federal e entorno, músico competente, empreendedor e ficou apaixonado pelo som da banda na primeira vez que presenciou o nosso show. Inicialmente, Cris e eu conversamos com cada um de forma a detalhar todo o projeto, para que tudo ficasse o mais claro possível, pois o diálogo é fundamental em qualquer tipo de relacionamento, e a banda é uma família, com todas as partes boas e as não tão boas assim (risos). O resto, a gente ajusta a partir de cada experiência nova que vivenciamos nos palcos ou nas gravações.

Apesar de sempre existir a luta pela manutenção da identidade original da banda, suponho que a entrada de novos integrantes sempre acrescente algo mais à sonoridade. Vocês sentiram essa evolução na música que vinham criando?

Jeff: Ainda não foi possível vivenciar isso de forma efetiva, pois dos quatro integrantes, trÊs participaram da gravação do álbum (I’ll Find My Way) e das outras cinco músicas que começaram a ser lançadas em formato de single, sendo Decide a primeira, lançada em dezembro/2020. Com a entrada do Alberto, penso que esse momento chegará quando formos gravar o próximo álbum previsto para 2021, com a super produção do Thiago Bianchi (Noturnall).

Já que falamos nisso, como surgiram as primeiras músicas de vocês, e como tem funcionado o processo de composição na Mitsein?

Jeff: As primeiras músicas surgiram de ideias que eu tive na época em que estava na faculdade, trabalhava de dia e estudava à noite, contudo, nas horas livres que tinha eu aproveitava para tocar guitarra e compor, tanto que músicas como Revenge, Reborn, Fighter e I’ll Find My Way vieram de composições feitas entre 2004 e 2008. Eu começo a compor tocando riffs e melodias na guitarra, a partir daí, seleciono os que mais gostei e começo a escrever em um programa de partituras e tablaturas as linhas de guitarra, baixo, teclados e bateria. Gravo tudo em casa, a partir daí a Cris começa a compor a letra e a melodia, registramos a voz dela e encaminhamos a pré-produção para os outros integrantes que ficam encarregados de criar as suas linhas instrumentais. A partir disso, marcamos os ensaios para lapidar tudo e, quando avaliamos que ficou do jeito que esperávamos, partimos para a gravação em estúdio, mixagem e masterização.

O nome da banda tem algo a ver com o conceito do ‘ser-com’, o Mit-sein, de Heidegger?

Jeff: Exato! Cris e eu estávamos à procura do nome perfeito (risos), parte fundamental para o sucesso de uma banda. Um nome fácil de gravar, forte e com um significado profundo. Foi aí que Cris encontrou essa expressão da filosofia existencialista de Heidegger e se apaixonou de cara. O ser-com, conviver com, partilhar com é o que nos torna humanos. Portanto, nós somos Mitsein!

Seguindo adiante, temos o EP de estreia, I Will Find My Way. Pelo que sabemos, as músicas foram sendo elaboradas ao longo dos anos, então, como foi o trabalho de organização dessas músicas para o EP?

Jeff: A organização ocorreu de maneira fluida e natural. Simplesmente nos pareceu que aquelas músicas contariam algo a respeito de nós e a sequência das faixas deveria representar experiências vividas de maneira aleatória, não optamos por linearidade ou algo que fosse crescente ou decrescente historicamente. Nós vivemos altos e baixos todos os dias, experimentamos as mais diversas realidades e nos emocionamos a cada momento, portanto, o álbum deveria representar essa realidade humana.

Existe um conceito principal que permeia as canções de vocês? Liricamente, do que trata o Mitsein?

Jeff: Existe sim… Cris e eu tivemos experiências ruins e traumáticas com familiares dependentes do álcool. Passamos boa parte das nossas infâncias lidando com algo difícil, doloroso e angustiante que só quem passou por isso sabe realmente como é. Além disso, somos de uma área pobre e de risco social do Distrito Federal, Planaltina, portanto, lutar todos os dias para que a nossa mente ficasse sã o bastante e a partir daí buscar melhorar de vida a partir do estudo e do trabalho sempre foi um esforço muito grande. Convivemos lado a lado com a miséria, a violência e as desigualdades. Portanto, a Mitsein fala das dificuldades que enfrentamos todos os dias, medo, tristeza, violência, insegurança, revolta, esperança, amor, liberdade… A mensagem é sempre a de que devemos lutar, mesmo quando caímos e tudo parece ser pesado, impossível e desesperador. Enquanto houver vida haverá luta.

Musicalmente, a banda apresenta uma sonoridade muito rica, instrumentalmente correta e bastante diversificada, como o ouvinte pode perceber na canção The Voices, que mescla muito peso e melodia. Fale-nos um pouco sobre esta música?

Jeff: The Voices começou pelo riff inicial da estrofe na guitarra, agressivo e dinâmico, depois pensei em um refrão melódico e mais compassado, dando a sensação de viajar internamente e por último pensei em uma introdução mais sinfônica, sem exagerar em nenhum desses pontos de forma a integrar as partes numa música com início meio e fim equilibrados.

Cristienne Rodrigues: A letra fala sobre baixa alto-estima, estagnação, dúvida, desespero. Uma pessoa que literalmente está paralisada, perdida em seus pensamentos como se estivesse em um labirinto, ela quer sair, se libertar, se encontrar. Mas ao mesmo tempo que ela tem consciência sobra a sua condição, tem dificuldades para superá-la. Uma luta constante para encontrar a si mesma.

Como foi o trabalho em estúdio, para capturar a melhor performance de cada instrumentalista, e revelar cada camada instrumental com clareza?

Jeff: Nós gravamos faixa por faixa, cada instrumento separado, tudo no metrônomo de acordo com o que ensaiamos durante um ano e quatro meses. Desde a timbragem dos instrumentos, amplis, afinação da bateria, efeitos utilizados e demais detalhes, tudo foi pensado e programado para registrar as músicas o mais próximo daquilo que idealizávamos para elas. Aquiles gravou as baterias, eu gravei todas as guitarras, baixos e algumas vozes (The Voices e Fighter) e Cris todas as vozes principais e backings. Os teclados e pianos foram escritos por mim em formato Midi e inseridos via plugins nas músicas. Produção própria, tudo feito no 1234 Recording Studio do nosso amigo Pedro Tavares.

Gostaria também que falassem sobre um dos destaques da música de vocês, que são os vocais. Da composição à gravação, como trabalham esse quesito?

Jeff: Cris é incrível! Ela ensaia cada sílaba, a métrica, cada nota da melodia até ficar do jeito que ela imaginou. A letra sempre é focada no ser humano e em todos os seus desdobramentos existenciais. A partir disso, o processo sempre é lapidado nos ensaios. O melhor disso tudo é que ela faz parecer muito natural, une razão e emoção de uma forma única. Ela usa alguns elementos do canto lírico para incrementar as melodias.

Para finalizarmos, qual é a ligação da Mitsein com o Dark Avenger?

Jeff: Posso afirmar com todas as letras que a Mitsein existe por conta do incentivo que Cris e eu recebemos do nosso saudoso amigo Mário Linhares. Inicialmente, eu conheci o trabalho do Dark Avenger em meados de 2001, por meio de uma rádio aqui em Planaltina/DF, programa Utopia Rock. Eu fiquei surpreso com a qualidade da banda e adquiri os dois primeiros álbuns, o debut e o Tales Of Avalon: The Terror, escutava todos os dias. Nós fomos em alguns shows, mas até aí era apenas uma relação de fã. Contudo, em 2013 houve a possibilidade da Cris participar do coral que acompanharia o Dark Avenger no show de lançamento do álbum Tales Of Avalon: The Lament. Contudo, Cris decidiu não participar, pois precisaria de mais tempo para se preparar. Mesmo assim, Mário a convidou para assistir um dos ensaios que faria com a banda e o coral, ela perguntou se eu poderia ir junto já que era fã da banda e ele autorizou. Detalhe, penúltimo ensaio antes do show de lançamento oficial. Fomos para o ensaio, conhecemos toda a banda e fomos convidados a ficar dentro da sala de ensaio. Incrível! A banda e o coral estavam numa sincronia perfeita, fiquei emocionado ao ver em primeira mão o que seria o show de lançamento. A partir daí, Cris começou a fazer aula de canto com o Mário e nós começamos a trocar várias ideias depois das aulas, ele sempre incentivando que nós batalhássemos pelo nosso sonho de fazer música autoral, falava de todas as dificuldades, compartilhava as suas experiências, enfim, aprendemos muito com ele. Em 22 de fevereiro de 2014, eu e mais dois amigos, Helder e Éder, organizamos o primeiro Workshow do Mário aqui em Planaltina/DF, ele ficou muito feliz com essa experiência. A partir daí, sempre mantivemos contato, acompanhamos a fase difícil que ele atravessou lutando contra um câncer, e quando ele se recuperou e voltou com o Dark Avenger para lançar o álbum The Beloved Bones: Hell, nós estávamos começando a trabalhar as composições da Mitsein. Ele ouviu a pré-produção da música Keep Walking, ficou muito animado e falou: “vou ajudar vocês! Podem contar comigo”. Mas, infelizmente, veio a falecer pouco tempo depois. Apesar da pancada que levamos ao perder um amigo, uma referência, de uma forma tão abrupta, nós decidimos seguir com a Mitsein e dessa forma fazer com o legado do Marongas se multiplicasse ainda mais. E aqui estamos. Muito obrigado ROADIE CREW, forte abraço!

https://youtu.be/W8arqdK5qYM

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