“De certa forma, a ideia do álbum surgiu assim que a gente se separou”, contou o vocalista OZZY OSBOURNE para a ROADIE CREW, em entrevista publicada na edição #174, “em algum lugar no fundo da minha mente eu sempre soube que queria fazer outro álbum do BLACK SABBATH, e chegamos a tentar várias vezes, mas alguma coisa sempre impedia que acontecesse”. De fato, as complicações para uma reunião realmente efetiva de Ozzy com o Black Sabbath foram muitas, tanto que décadas se passaram sem que houvesse algo maior do que um ensaio daquilo que ouvimos em 13. Porém, mesmo que tardio, o momento do retorno um dia chegou.
A verdade é que, embora na época ventilada em todas as mídias possíveis e imagináveis (até naquelas que tratam qualquer tipo de música com guitarras distorcidas como ‘elemento alienígena’), o ‘retorno da formação original’ jamais de fato aconteceu. A banda nunca de fato conseguiu entrar em acordo com o baterista BILL WARD, mas o fato é que, pela primeira vez desde 1978 (ano do lançamento de Never Say Die!), o trio OZZY OSBOURNE (voz), TONY IOMMI (guitarra) e GEEZER BUTLER (baixo) trabalhava em um novo álbum de estúdio, e o melhor, esse álbum sairia sob o nome BLACK SABBATH. Convenhamos, que fã de metal ousaria não ficar empolgado com isso?
A verdade é que, a despeito da importância da banda e dos seus músicos para todo o cenário, algumas pessoas de fato ‘ousaram’ não se empolgar. Afinal, o último ‘ensaio’ para essa reunião do vocalista com a banda havia acontecido em 1998, época em que o grupo havia se reunido para uma série de shows especiais e o lançamento do disco ao vivo Reunion, que trazia duas faixas inéditas da lendária banda de Birmingham. E a questão era justamente essa, aqueles que não tinham apreciado as faixas Psycho Man e Selling My Soul mostravam certa descrença em um novo álbum dos pais do metal. Some-se a eles um grande número dos velhos fãs que ainda não nutriam as mais saudosas lembranças dos álbuns Technical Ecstasy (1976) e Never Say Die! (1978) – então os últimos com Ozzy na banda – e pronto, você tem a receita para a desconfiança e os narizes torcidos.
A despeito do sempre eterno grupo dos descontentes de plantão, a maioria dos fãs torcia para esse retorno, e nunca deixaram de pedir, gritar, implorar, ameaçar se preciso em nome de um novo álbum com Ozzy nos vocais. “As pessoas não paravam de me perguntar sobre isso, chegava a ser aterrorizante”, declarou Ozzy aos risos para a ROADIE CREW. E, bem, para todos esses (e também para aqueles que esperavam o pior), o fato é que finalmente esse retorno aos estúdios aconteceria, apesar das dificuldades do momento, que incluíam o desencontro com Bill Ward, e mais grave, Tony Iommi diagnosticado com um linfoma. Para chegar em 13, eles teriam que lutar, e lutar em todos os campos. “Sinceramente, não consigo entender como o cara ainda pegou uma guitarra e não apenas tocou, mas criou todas essas músicas novas”, comentou Ozzy, “sua determinação é incrível! Ele não estava com uma porra de uma gripe, era algo realmente sério”.
Tanto Iommi quando seus velhos companheiros sabiam muito bem o que queriam para o novo álbum do Black Sabbath. Ozzy chegou a comentar que o álbum precisaria soar moderno, mas ainda como Black Sabbath, e que sentia que haviam sido bem sucedidos na tarefa. Para sintetizar, ele disse que “ninguém entra num estúdio depois de 45 anos fazendo isso, e pela primeira vez sai de lá com um álbum ruim”. Bem, ao menos não era essa a intenção. Quanto à musicalidade em si, eles não estavam preocupados com as opiniões ruins que os fãs da ala dos descontentes pudessem ter: “Nós é que somos o Black Sabbath, e sabemos como a banda deve soar”. Convicções fortes a parte, convenhamos, ele estava realmente certo. Ainda assim, ele tenta dar uma explicação para aqueles que temiam uma continuação de Never Say Die!: “O segredo é se divertir durante o trabalho. Não foi o que aconteceu em Never Say Die!. A gente entrou no estúdio e gravou, quase de forma burocrática. Foi quando eu resolvi sair. Não estava mais interessado, não estava mais feliz. Mas agora estou muito feliz por termos conseguido fazer esse álbum.”
Para produzir um álbum que de forma alguma poderia falhar, eles resolveram contar com Rick Rubin, um produtor que sonhava trabalhar com o Black Sabbath e com nome sólido no cenário, mas que também contava com certas ‘particularidades’ no currículo. Afinal, foi ele quem produziu o clássico Reign In Blood em 1986, mas também foi ele quem produziu Diabolus In Musica em 1998. Além da experiência dele ao lado do SLAYER não servir como o mais claro dos indícios, ainda havia a história de que ele costumava ser um produtor um tanto ausente durante o processo, e tudo isso meio que aturdia os pensamentos daqueles que aguardavam ansiosamente por décadas por um novo álbum do Black Sabbath com Ozzy. Porém, Geezer foi categórico ao afirmar a importância do produtor para o processo: “No primeiro dia de trabalho, nós nos reunimos com Rick, ele colocou o nosso primeiro disco na mesa e disse ‘é assim que eu quero que soe, é essa atmosfera que o novo disco vai ter’.”
Respeitando-se todas as proporções, 13 de fato evoca a aura dos clássicos do passado em vários momentos. Não em sua totalidade, e nem com precisão absoluta, isso de fato seria impossível, e não apenas pelas décadas que separavam o novo registro dos álbuns clássicos. O fato é que Bill Ward não estava mais na banda, não gravaria o novo álbum, e isso obviamente seria refletido na música do grupo inglês. Para o lugar dele, Rick Rubin sugeriu o talentoso Brad Wilk, que anos antes havia ganhado o mundo ao lado de bandas como RAGE AGAINST THE MACHINE e AUDIOSLAVE. Talvez não o currículo mais adequado para um baterista do Black Sabbath, e apesar de tocar no álbum, ele jamais integrou a banda oficialmente. Mas, fato é que ele acabou caindo como uma luva: “Chegamos a testar outras pessoas, mas quando Brad chegou, ele provou ser um grande fã de Bill Ward, e fez um trabalho muito similar ao que ele faria. Era exatamente isso que estávamos procurando”, declarou Geezer.
Extremamente satisfeito e sem encontrar grandes razões para queixas, Geezer tinha apenas um único ponto de desconforto, e este não residia na música, mas no título do álbum: “Por mim este título teria mudado. Eu sempre gostei de End Of The Beginning, 13 é apenas uma referência, a forma que nos referíamos ao disco enquanto estávamos compondo e gravando. Foi um título de trabalho, quase uma piada interna da banda. E aí a gravadora pelo jeito resolveu levar isso a sério. Uma pena que esse nome tenha sido mantido.” O descontentamento, claro, vinha da grande quantidade de álbuns sendo lançada naquele mesmo ano com título semelhante, mas o fato é que essa pequena falta de cuidado ou criatividade não maculou o resultado em 13: Hoje, quase uma década depois de seu lançamento, ele continua um álbum sólido, fácil de ser ouvido, que encapsula muitas qualidades típicas da música desses britânicos, e, a despeito do EP The End (2016, vendido durante a The End Tour), um álbum que encerra a jornada discográfica de um dos maiores nomes da história da música pesada com tons honrosos. E, no fim das contas, isso é tudo o que os verdadeiros fãs mais almejavam.