O cerne é heavy metal clássico. Só que o invólucro é formado por hard, thrash, new metal e prog. Isso sem contar a versatilidade de seus quatro instrumentistas – a saber, os guitarristas Emanuel Murialdo e Diego Corral, o baixista Davi Isac e o baterista Rodrigo Reinhardt – e os tons mais graves e únicos do vocalista Henrique Radünz. Misture tantas nuances e você terá o mosaico sonoro dos gaúchos do Mistreated. E é sobre o álbum de estreia, Brand New Rust (2021), e dos próximos passos da banda que conversamos com Emanuel Murialdo. Confira abaixo.
A banda iniciou as atividades em 2021 e soltou seu primeiro álbum no mesmo ano. As coisas aconteceram muito rapidamente. Então como se deu o planejamento para o debute? Dentro desse contexto, os integrantes já tinham ideias antes mesmo da fundação do grupo e que foram maturadas em tão pouco tempo?
Emanuel Murialdo: Sim. Eu tinha algumas ideias guardadas, e fomos resgatando esse material. No início do ano fizemos um planejamento de como e quando seriam os períodos de composição, pré-produção, gravação e lançamento. Iniciamos o ano compondo muito e trabalhando em demos e, além disso, criando entrosamento. No inverno de 2021, começamos a pré-produção no meu home studio e depois partimos para o Load Studio, do produtor musical Clayton Chiesa. Fomos gravando e lançando alguns singles. Depois, com todo o material na mão, e com algum atraso, o álbum saiu em dezembro.
Muitas bandas surgiram na pandemia, e muitas delas estão tendo a oportunidade de ensaiar e subir aos palcos em 2022. Quando e como começou essa rotina no Mistreated e como está o cronograma para o restante deste ano e até pensando no próximo?
Emanuel: Na realidade, a gente demorou seis ou sete meses a fazer nosso primeiro show, já tínhamos tocado em outros formatos, com duo acústico ou trio. Mas lembro que os shows já estavam rolando desde o início de 2021 em Pelotas (RS). Para o restante do ano, estamos explorando o universo de organizar eventos underground; gostamos e queremos explorar mais esse universo. Estamos acostumados com a noite já, tocar em pubs etc, mas queremos os fests, trazer bandas para cá e visitar novas cidades.
O que o título do disco, Brand New Rust, indica? Há um conceito por trás do título e de que alguma forma se manifesta no disco, mesmo não sendo um álbum conceitual?
Emanuel: É mais relacionado à nossa sonoridade e ideia da banda em si do que com alguma temática, sabe? Nosso baterista Rodrigo já tinha essa ideia em mente e, quando nos apresentou, gostamos bastante. Foi uma solução rápida (risos). Brand New Rust significa “Ferrugem Nova em Folha”, se refere ao nosso som ser uma “ferrugem”, pois soamos como bandas antigas, porém, “novo em folha”, porque também podemos soar mais atuais.
The Enemy Inside Me foi o primeiro single. Do que se trata o tema da canção e como foi a repercussão junto ao público para este cartão de visitas?
Emanuel: Não sei se já comentei isso antes, mas The Enemy Inside Me fala basicamente sobre alguém que sofre de alguma paranoia, de crises de pânico, ansiedade ou algo do tipo. Eu tive muito isso durante minha adolescência e acredito que muitos jovens tenham o mesmo problema, porém, meio que “mascaram” isso. A repercussão foi bem legal, logicamente não esperávamos que seria um hit comercial, somos realistas. Mas ver que as pessoas ao nosso redor gostaram, a ponto de sempre berrar o refrão dela nos shows com a gente, nos deu a sensação de dever cumprido.
O álbum abre com Break the Rules, com um começo à la Judas Priest e que dá uma dica do que virá pela frente. Mas embora o metal tradicional se mostre como fio-condutor, percebemos outras nuances, como power, hard e um lance até prog. Queria que comentassem sobre essa variedade.
Emanuel: Acho que essa variedade se dá pela guerra interna de gostos dentro do rock/metal que cada integrante da banda tem (risos). Sou fascinado por heavy clássico, Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Dio, Judas Priest, Motörhead, Diamond Head, Tygers Of Pan Tang etc. E como talvez tenha sido o membro que mais compôs no álbum, talvez por isso essa seja a “vertente principal” do álbum. Os guris gostam de outras vertentes que também amo, classic rock, hard rock, new metal, thrash… Então foi muito divertido compor músicas um pouco “fora da minha caixa”.
Ainda nessa questão da proposta musical, acho que um dos pontos que diferenciam o Mistreated de outras bandas de metal mais tradicional é o vocal de Henrique Radünz. Não se trata de algo mais agudo ou rasgado. Seu tom mais grave chega a flertar com doom/gothic em alguns momentos sem se desviar da proposta heavy da banda. Isso pode ampliar o leque da banda futuramente?
Emanuel: O Henrique é um vocalista que temos sorte de ter, ele é uma peça que podemos explorar muito para chegar aos mais diversos lugares que o rock pode nos levar. Ele gosta bastante de new metal, e essas bandas não tem como característica aquele vocal rasgado e agudo dos anos 80, mas não vejo isso como problema e sim como algo que faz nosso som ser mais “palatável” a públicos fora do metal.
A faixa Destiny é uma de minhas favoritas e parece ter sido uma das que mais caíram no gosto dos fãs. Do que se trata o tema desta composição? E como foi o trabalho instrumental até o resultado final?
Emanuel: O Henrique é um romântico (risos). Mas acho que não somente no lado “amor”, mas também no modo de ver as coisas, eu acho. Destiny não foi uma música que compus a letra, mas acredito que fale sobre alguém que quer desfrutar do momento e esquecer das coisas ao redor ou o passado. A parte musical da música é talvez uma das mais elaboradas do álbum a meu ver. No início, trabalhamos nela para ser nossa À Tout Le Monde (Megadeth, do álbum Youthanasia, de 1994), precisávamos de uma balada, mas não queríamos algo comercial demais. Daí foram entrando os riffs mais pesados e um refrão mais explosivo. Uma característica legal dessa música são os backing vocals na voz feminina no final… Eu achava o refrão meio vazio e então dei essa ideia por WhatsApp para os guris cantando um falsete muito horrível. Eles riram, mas o resultado ficou brilhante a meu ver (risos).
O disco se encerra com Eternal Lie e seus belos arranjos, um início meio balada e um andamento mais cadenciado envolto a riffs e melodias. Faixa que foge daquele padrão de encerramento com uma música mais rápida…
Emanuel: Sim, ela foi a última música em que trabalhamos. E surgiu de um assovio do nosso baterista Rodrigo. Passei o assovio para guitarra, e nos soou meio “épico”. Gostamos daquilo e fomos elaborando a segunda “balada” do álbum. O Henrique foi quem criou a letra, e eu até gostei do resultado no início, só achava muito feliz de uma forma geral. Então tive que botar meu lado mais “desesperançoso” na letra (risos). Pode ver que a letra soa meio bipolar… O Henrique é o anjo, e eu, o demônio (risos).
Como está o processo de composição para um segundo disco?
Emanuel: Queremos fazer do mesmo jeito que o Brand New Rust, só que agora não quero trabalhar tanto sozinho (risos). Tenho o costume de criar riffs e gravar rapidamente com o celular, e nosso baterista Rodrigo tem feito isso bastante também. Temos algumas ideias já para trabalhar, mas não queremos apressar as coisas, até porque ainda estamos focados no Brand New Rust e em todos os ouvidos que ele tem que chegar (risos).
Por fim, de que maneira vocês analisam a cena gaúcha de metal atualmente?
Emanuel: Acredito que temos uma cena muito rica, com ótimas bandas, tanto as que já estão na estrada há algum tempo quanto as que estão surgindo agora. Mas não vou deixar de criticar a falta de movimentação das bandas, e isso serve também para nós da Mistreated. Tem de haver uma conexão maior entre as bandas, uma cena só é forte quando as bandas estão unidas, e não somente querer se unir às bandas grandes como também puxar para o barco as que estão iniciando. Organizar mais fests, comprar material um do outro para se ajudar… Apoio, saca? Mas, enfim, eu vejo a chama mais forte agora do que há poucos anos atrás, vamos para cima!
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