Diversos esportes têm muito a ver com o rock e o metal. Começando pelo futebol, como comprovamos no especial sobre a Copa do Mundo de 2014 (ed. #185), mas também passando pelo futebol americano (bandas de rock como Rolling Stones e The Who já fizeram o show do intervalo do Super Bowl, a final do campeonato) e pelos chamados esportes radicais, que sempre têm rock na trilha sonora.
Então, por que não juntar rock e esporte a motor? Foi o que fez o blog FuteRock, comandado pelo jornalista Charley Gima, que promoveu no último domingo, dia 20 de maio, o Fórmula FuteRock Edifier no Kartódromo Internacional Granja Viana, em Cotia, na Grande São Paulo. O evento reuniu nada menos que 30 nomes do mundo do rock, como músicos e jornalistas, além de fãs e convidados.
Dentre os participantes estavam Felipe Andreoli (Angra), Nando Fernandes (Rádio Show), Bruno Sutter (solo e Massacration), André Mellado (Woslom), Diego Sabio (Anthares), Mylena Monaco (Synaya), Paulo Soares (Krusader) e Vini Castellari (Project 46). Representando os jornalistas, participaram Thiago Mauro Rahal, Costabile Salzano Jr., Adriano Coelho e este repórter da ROADIE CREW. Também alinharam no grid Silvio Golfetti (Voice Music, ex-Korzus), Silvano Brancati (Manifesto Bar), Evanil Alves (FuteRock) e Charley Gima, além de representantes das empresas patrocinadoras e diversos fãs, como Everton Roso e Leandro Dicieri, pilotos de kart e fãs de metal que fizeram questão de participar.
Como no futebol sempre tem aquela resenha antes do jogo, o mesmo aconteceu no kartódromo. Só que lá o assunto era rock. Felipe Andreoli, por exemplo, comentou que a turnê atual do Angra tem sido um grande sucesso, assim como o novo disco da banda, Ømni. E enquanto Bruno Sutter brincava dizendo que era Andrea de Cesaris (piloto italiano de Fórmula 1 que detém o recorde de maior número de provas sem uma mísera vitória e que batia tanto que era chamado de ‘Andrea de Crasheris’) fomos todos para o briefing.
Lá, além de instruções básicas sobre segurança, incluindo a função de cada bandeira utilizada pelos comissários, cada piloto um recebeu um kit do blog FuteRock contendo fones de ouvido cedidos pela Edifier, DVDs oferecidos pela loja virtual Black Rock e uma cerveja FuteRock, uma APA (american pale ale) produzida pela Cervejaria Villa’s.
E debaixo de um frio de 10º era hora do treino de classificação. Dá pra dizer: o negócio é intenso. A pista é usada para competições profissionais, portanto tem um nível de dificuldade bastante grande, com curvas fechadas, subidas, descidas e algumas curvas em que não dá pra ver o final. Tudo bem, se dá algum problema os comissários praticamente esfregam uma bandeira amarela na sua cara, mas daí a conseguir se livrar do enrosco é outro problema, como conto logo em seguida. Aliás, com 30 karts correndo ao mesmo tempo, a maior parte deles guiada por malucos que tinham aquela experiência pela primeira vez, certamente os comissários bateram o recorde de intervenções numa corrida. Ao longo dos 25 minutos de prova (5 de classificação e 20 de corrida), praticamente o tempo todo uma bandeira era agitada em algum ponto do circuito.
Outro aspecto que chama a atenção é o barulho. Um kart é praticamente um chassi grudado no chão com um motor e um piloto em cima. Ou seja, o motor grita na sua orelha durante o tempo todo – e é um carrinho valente, que chega aos 80 km/h na reta, sensação que se potencializa pelo fato de você estar praticamente sentado no chão. E justamente por conta disso, dá pra fazer curvas bem rápido, o que gera outro som: os pneus (slick) cantam praticamente todo o tempo. Ah, e tem as zebras! Pra quem não sabe, são aqueles complementos da pista existentes nas curvas, pintadas em duas cores (daí o nome zebra), que ajudam o carro a ficar dentro dela. Algumas dessas zebras eram “sonoras”, como explicou Leandro, ou seja, proporcionavam uma tremenda vibração quando atacadas. Pra completar, o volante é duro de verdade e dá trabalho manter o bicho na pista – é literalmente trabalho braçal!
Só que tudo isso, que parece um desconforto imenso, é o que torna o negócio divertido. E a raiva que dá quando alguém te ultrapassa e a vontade de gritar “acelera, prego!” quando você faz alguém comer poeira só aumentam a diversão.
Durante a prova você não tem a menor noção da sua classificação. Na reta principal há um painel que mostra os dez primeiros colocados – os outros que tentem adivinhar. Acabei me classificando em 22º para a largada. Quase no fim da fila, mas passei um punhado que rodou logo na segunda curva. Estava indo até bem até, logo no começo, dar de cara com uma bandeira amarela. Tirei o pé (mas não muito…) fiz a curva e dei de cara com três karts atravessados na minha frente. É muito rápido, não dá pra fazer praticamente nada. Virei o volante, o kart girou e bateu de lado em algum outro que estava parado por ali. Sorte dentro do azar: parei de frente pra pista, foi só acelerar e continuar a prova. Só que aí um batalhão tinha me deixado pra trás.
Quase rodei mais duas vezes, ataquei várias zebras e levei uma pancada de responsa na traseira no fim da reta principal (mas segurei a onda e mantive o carro na pista). Lá pelas tantas, os braços começam a perguntar que diabos você está fazendo com eles – os pulsos, principalmente, doem um bocado para quem não está com o preparo físico exatamente em dia, caso deste que vos fala. E os tais 20 minutos passam rápido, muito rápido.
Você recebe a bandeira quadriculada e não tem a menor ideia da sua classificação, mas logo a organização do kartódromo passa o resultado: 22º lugar. Entre largada e chegada, teoricamente não saí do lugar. Mas quem se importa?
Todo mundo vai para os boxes e o que se vê é um bando de marmanjos crescidos (alguns levaram os filhos adolescentes pra assistir) com os olhos brilhando como se fossem crianças com um brinquedo novo. O rock deixou de ser assunto na hora resenha, só se falava na corrida ali. Era hora do pódio. Evidentemente, os dois kartistas experientes ficaram com os dois primeiros lugares (e eram impressionantes a velocidade e a facilidade com que eles te ultrapassavam…), mas para efeito da brincadeira proposta pelo FuteRock valeu a partir do terceiro colocado. Assim, os três primeiros foram Marcelo Martins (executivo da AACD, convidado do FuteRock), Rafael Nalesso (fã sorteado para participar momentos antes do início da corrida) e Eric Claros (baterista do Children of the Beast). Cada um ganhou um fone de ouvido Bluetooth oferecido pela Edifier.
Só que, muito mais que isso, cada um de nós ganhou o direito de voltar a ser criança ao pilotar carrinhos que parecem ser de brinquedo mas são coisa muito séria. E o que todo mundo se perguntava enquanto ia pra casa era: quando vai ser a próxima corrida?