Por Nelson Souza Lima
Fotos: Denis Svet
No dia 13 de julho não faltaram opções para curtir o bom e amado rock’n’roll. O Dia Mundial do Rock, que, segundo uma galera aí, é comemorado só no Brasil, teve muita coisa legal acontecendo em vários espaços da capital paulista. Uma delas foi o Penha Sounds Festival no Centro Cultural Penha, na zona leste da capital, com duas ótimas bandas: o tarimbado Wizards, com seu power/symphonic metal de responsa, e as cada vez mais sacramentadas meninas da Malvada.
Organizado pela Secretaria Municipal de Cultura e com produção da TC7 Produções, do sempre profissional Tiago Claro, o Penha Sounds Festival aconteceu pela primeira vez e promete se consolidar no calendário rocker da cidade nos próximos anos.
Tudo ocorreu conforme o roteiro: dois excelentes grupos com grandes instrumentistas e ótimas performances. A parte decepcionante ficou por conta do público, que compareceu em número apenas razoável. Não dá pra colocar isso na conta da friaca que assolou São Paulo no final de semana e no grande número de eventos que rolaram, ainda mais por que o PSF teve entrada franca. Era só chegar e entrar no Teatro Martins Penna para curtir o evento.
Enfim, quem compareceu viu duas ótimas apresentações e não saiu frustrado, pois estava tudo de primeira. Pouco depois das 18h, o Wizards iniciou os trabalhos. Tendo a frente Christian Passos, o grupo formado lá nos anos 90 mandou um set que passeou por toda sua discografia. Atualmente, os caras estão divulgando seu mais recente trabalho, Seven, lançado em 2022. Desse álbum tocaram a alucinante Pain, com arranjos monumentais e solo inebriante de Léo Mancini, que figura tranquilamente entre os dez maiores guitarristas do rock nacional. A cozinha segura da banda com Mendel Ben Waisberg (baixo) e Gabriel Triani (bateria) dão todo o suporte para os solos e riffs de Mancini, que fica de boa para mostrar seu talento nas seis cordas. Já Christian mostra que mesmo aos 50 anos mantém um vocal firme com agudos que, se não têm o mesmo alcance do início da carreira, ainda impressionam. Segundo ele, apenas duas das músicas do Wizards tiveram o tom alterado para que ele pudesse cantar sem prejudicar a voz.
O set de 40 minutos começou com A Promisse of Love, do disco Sound of Live (1996), e, apesar de o tecladista Charles Balla não comparecer por questões de agenda, o trio Mancini/Waisberg/Triani deu conta do recado com energia e virtuosismo. Passos fez piadas, contou novidades dos próximos projetos do Wizards e fez o possível pra animar o público que se mostrou meio preguiçoso para agitar. Outras porradas do set foram Fallen Angels, do The Kingdow (2002), The Black Night, do disco homônimo (2010), Freedom, de Wizards, primeiro disco da banda, lançado em 1995, e Thunderbolt, canção de Beyond the Sight (1998). Na parte de homenagens, mandaram We Are the Champions, clássico do universo “queeniano” interpretada com maestria. Foi um ponto alto do show, assim como todo o set. Grande apresentação.
Com o Wizards deixando o palco, a expectativa pela Malvada aumentou. Pontualmente às 20h, as cortinas se abriram e Bruna Tsuruda (guitarra), Juliana Salgado (bateria), Indira Castilho (vocal) e Rafaela Reoli (baixo) deram início a um show que vem consolidando a banda paulistana entre as melhores do hard rock nacional da atualidade. Apesar de apenas quatro anos de estrada (elas brincam que o grupo surgiu junto com a pandemia da covid-19), as meninas estão cada vez mais maduras no palco. Mesmo após as mudanças de formação, com Castilho assumindo o mic no lugar de Angel Sberse e Rafa comandando os grooves substituindo Ma Langer, o nível continua alto e a régua só sobe, evidenciando que elas são uma banda de palco, mandando bem tanto em temas autorais quanto em versões.
O set da banda priorizou músicas do disco de estreia, A Noite Vai Ferver, de 2021, destacando a balada Ao Mesmo Tempo, tocada em homenagem a Nelson Brito, baixista do Golpe de Estado, falecido na última sexta-feira, 12 de julho. Apesar de problemas técnicos no vocal de Juliana Salgado, que também brigou boa parte do show com o chimbal da bateria, a Malvada mostrou um som furioso, com pegada e um entrosamento entre baixista e batera que dão toda segurança para Bruna Tsuruda detonar nos solos e riffs. Eu assisti o show dos bastidores e até cooperei com Bruna quando, no cover de Whole Lotta Love, do Led Zeppelin, ela pediu uma garrafa de cerveja – só que não era pra beber no palco, mas para fazer slides na guitarra. Corri pra encontrar uma garrafa vazia e deu tempo para ela solar com precisão. Ainda bem que a guitarrista não pediu uma furadeira, como fazia o saudoso Eddie Van Halen…
Durante 80 minutos, o quarteto detonou um repertório já conhecido da galera e com doses generosas de clássicos, como Wasted Years, do Iron Maiden, War Pigs, do Black Sabbath, e Zombie, do The Cramberries. Porém, um dos pontos altos do show foi a bela versão para Felling Good, de Nina Simone, na qual Bruna e Indira demonstram como estão entrosadas com guitarra e vocal se completando de maneira harmoniosa.
Foi a quinta vez que conferi a Malvada, e com a certeza a banda segue seu caminho rumo ao topo. Mesmo que seja a long way to the top.