O Thrash Terror é uma banda que vem se destacando muito na cena underground paulistana e vem conquistando cada vez mais a atenção de bangers apaixonados pelo seu estilo em todo Brasil. Este ano a banda lançou o muito bem comentado EP We Shall Revenge, um trabalho que vem se espalhando pelo mundo e angariando muito boas críticas. Para falarmos desse fenômeno com espirito oitentista convidamos o baterista Jeferson “Jeff” Romão para um bate papo a respeito de como tudo está acontecendo e sobre os caminhos trilhados pela banda até aqui, além de seus planos para o futuro.
A primeira vez que o vi tocar, você ainda era integrante da banda Evil Sense que inclusive lançou um ótimo álbum tem pouco tempo. Qual foi o motivo que o levou a deixar as baquetas da banda?
Jeferson “Jeff” Romão – Bom, já faz um tempo isso e vamos ver se lembro. Mas basicamente ocorreram algumas divergências musicais, formas de pensar e de levar as coisas. Eu e o Glauber ex-guitarrista e vocal, queríamos fazer músicas mais trabalhadas, arranjos mais elaborados e nem todos estavam querendo fazer algo assim mais trabalhado. Eu e o Glauber começamos a idealizar um projeto com músicas mais elaboradas, o que se tornaria mais tarde o Migth Execution. O Glauber deixou a banda e após alguns meses tive que fazer uma escolha. Como eu ainda era um adolescente, precisava focar nos estudos, trabalhar e ter minha profissão, pois infelizmente viver de música e principalmente heavy metal no Brasil é muito difícil. E então tive que escolher, já que nem todos da banda na época tiveram a compreensão de que eu precisava dar esse passo na minha vida profissional, então deixei a banda. Mas somos grandes amigos, todos, sempre nos vemos por ai, shows, estúdio ou em casa mesmo, são pessoas que sempre farão parte da minha vida.
Durante o hiato entre o Evil Sense e o Thrash Terror você participou de mais alguma banda?
Jeferson “Jeff” Romão – Nossa, sim participei de diversas bandas e projetos de camaradas. Eu comecei a tocar muito novo, entrei no Evil Sense com 16 anos, é até meio maluco imaginar isso. Após o Evil Sense entrei no Might Execution com o Glauber, começamos a ensaiar, porém uma lendária banda da zona sul chamada Under Attack me fez o convite para assumir as baquetas, já que o batera original Thomaz (atual Nuclear Frost) havia deixado a banda e novamente tive que fazer uma escolha. Como o Under Attack tinha uma proposta de ser algo mais maleável com horários e etc, e eu precisava dessa flexibilidade optei por ficar no Under Attack. Fiquei aproximadamente 3 anos e fizemos diversos shows. Abrimos para a lendária banda Omen, foi uma época extremamente divertida. A banda meio que se diluiu e optei por dar um tempo com as bandas e focar ainda mais no lado profissional comum digamos (rs). Após um período reencontrei os amigos do Guerrilh, uma banda de speed metal em português. O Dodo estava reformulando a banda e fui convidado a integrar essa nova formação. Fiquei alguns anos no Guerrilha também porém a banda também acabou se diluindo. Após isso cheguei a fazer alguns ensaios com o Clenched Fist também, muito legal conhecer a todos e aprenderem e foram grandes momentos com essas bandas.
Você é multi-instrumentista. Todos sabemos que você é um guitarrista extraordinário, mas por que a preferência bela bateria?
Jeferson “Jeff” Romão – Primeiramente obrigado pelo elogio! Dou uma arranhada apenas. Eu comecei a tocar/aprender bateria muito novo e com 6 ou 7 anos eu já tocava bateria, meus tios todos tocam violão, guitarra, baixo. Eu tive uma infância muito musical, escuto rock/metal/mpb desde criança. Meu tio, que é praticamente meu pai, foi quem percebeu que eu tinha um talento e havia uma bateria velha na casa da minha avó. Meu tio pegou o violão e fez os acordes básicos de blues, aquele mais lento mais down mesmo, por ser um compasso lento de cara me dei bem e toda tarde praticamente a gente tirava algum som junto. Eu ia tentando tirar as coisas que ouvia, Guns n’ Roses principalmente, em seguida Black Sabbath, Iron Maiden e por ai foi, até chegar no metal extremo. Porém minha paixão e onde me sinto mais confortável é no thrash metal. Com uns 12 anos comecei a aprender violão e meu tio me passou as 7 notas básicas. Na época praticamente não havia Internet e nem computador, logo não tinha YouTube, então a gente passava horas ouvindo a mesma música, ou o mesmo solos para tentar absorver algo. Meus pais não tinham condições de me colocar numa escola de música então fui indo na raça e ouvindo muita coisa, o que foi muito bom pois desenvolvi um bom ouvido e um modo diferente de interpretar as músicas o que me favorece muito para compor e construir meus arranjos.
O Thrash Terror foi formado em 2007 quando ainda você não integrava a banda, você acompanhou o início da banda para nos falar como foi começo da carreira?
Jeferson “Jeff” Romão – Sim, já tínhamos contato, eu já estava no underground, o Nelson (guitarrista) já me conhecia desde bem moleque da cena rock aqui da zona sul e sempre o admirei por ser um excelente guitarrista. Além de ser uma pessoa maravilhosa. Vi o Thrash Terror tocar no antigo e saudoso bar chamado Warriors Pub, não lembro se esse dia eu toquei também, mas sei que vi esses caras tocando e pensei “Esses caras tem problema, são loucos, por que é um som rápido, técnico, e com vocal agudo” o que é muito peculiar por que normalmente o pessoal quer cantar de uma forma mais agressiva puxando para o gutural.
No mesmo ano de sua formação a banda lançou a demo Delivering To Metal, você poderia nos falar como foi a repercussão deste primeiro material?
Jeferson “Jeff” Romão – A banda passou a ser bastante notada e participava de diversos festivais e shows. Lembro que eles estavam a todo vapor e eu sempre estava nos shows, a banda começou a ser mais notada não só na zona sul, mas em outras regiões de São Paulo.
Anos depois a banda sofre uma reviravolta radical em sua formação, digamos que entre 2010 e 2015 foi uma época difícil para banda, pois saíram três membros neste período. Qual foram os motivos?
Jeferson “Jeff” Romão – Alguns integrantes tinham outros projetos, acabaram focando mais nesses outros compromissos o que acabou sendo quase que o fim da banda. O Walter (vocal), chegou a me dizer que até ele mesmo saiu, ele é o fundador da banda junto com o Nelson. O underground as vezes é difícil pois o retorno financeiro praticamente não existe e todos temos nossos gastos, alguns tem família, então muitas vezes é preciso tomar algumas decisões.
Em 2016 a banda retorna as suas atividades quase que totalmente reformulado e já com você assumindo a bateria. Como surgiu essa oportunidade de você se integrar a banda?
Jeferson “Jeff” Romão – Apesar de todas as dificuldades com as saídas de integrantes e etc, o Nelson e o Walter nunca desistiram de acreditar na banda e em seus potenciais. Mérito maior para o Nelson pois ele resgatou o Walter. Após o resgate do Walter eles precisavam de baterista e baixista e um amigo nosso em comum – o Edu (Hellven), foi quem fez a ponte entre eu e o Nelson. O Nelson entrou em contato comigo, pedi para ele me enviar as músicas, eu queria ouvir com cuidado pois eu não estava mais afim de tocar o mesmo estilo de thrash metal que eu tocava, queria algo diferente. E quando ouvi as músicas com atenção fiquei doido por que era exatamente o que eu queria fazer, alguns riffs lembravam muito o que eu já escrevia (cheguei a compor músicas pra um projeto solo, mas por falta de tempo na concluí), então aceitei o convite e começamos a trabalhar nas músicas.
A banda hoje está com a formação definitivamente estabilizada? Nos fale um pouco de cara membro…
Jeferson “Jeff” Romão – Sim, essa formação está bem estabilizada e consolidada, todos pensam de uma maneira diferente, mas sempre chegamos na mesma opinião em prol do Thrash Terror, nos tornamos uma família, irmãos, estamos sempre juntos, um na casa do outro ou em festas de amigos, nos damos muito bem. Estamos com uma idade legal, madura, e já temos uma grande experiência no underground o que facilita certas coisas. Bom, sobre nós, o Walter (vocal) é um cara de um grande coração totalmente atrapalhado as vezes, o Luís Moura (Toninho), também é uma excelente pessoa, muito correto e muito justo com todos, tem um temperamento forte assim como eu, normalmente as pequenas discussões começam comigo ou com ele (rs). O Nelson é o nosso buda, um cara sempre de bem com a vida, além de um excelente músico, o Toninho também é um excelente músico, estamos com um time bem redondo, uma engrenagem completa que não vai parar nunca.
Você é o cara mais thrash que já conheci na vida, você realmente respira e transpira os anos 80. Como está sendo para você estar no Thrash Terror? Você também está por trás das novas composições?
Jeferson “Jeff” Romão – Pra mim os anos 70 e 80 foram o ápice musical, acho que essas décadas nunca serão superadas, principalmente os anos 80 para o metal. Eu acho que sim, respiro e transpiro os anos 80, apesar de não ter vivido nesta década. As bandas tinham uma atitude diferente no palco, tocavam com sangue nos olhos, riffs complexos e o visual também agressivo. Não deixo meu tênis cano alto, calça justa e jaqueta de couro jamais. Não uso mais cinto de balas por que pesa muito e não tenho mais idade pra isso (rs). Mas musicalmente me inspiro muito pois todos tocavam de uma forma muito peculiar, timbres também, até o início dos anos 90 para a bateria é muito animal a forma como tocavam. Estar no Thrash Terror e ver tudo que estamos construindo é muito gratificante, ver as pessoas falando com você após os shows, contatos na página no Facebook é isso que nos faz continuar, além do amor pela música e pelo heavy metal. Como eu havia dito a faixa título We Shall Revenge, foi praticamente escrita por mim, temos uma música chamada Rock n’ Roll Party que também tem participação minha. O Nelson e o Walter queriam reformular as músicas antigas quando entrei, então praticamente todas as músicas eu mudei algo, ou opinei algo, eu e o Nelson temos muita sintonia para criar.
Esse ano vocês atacaram com o ótimo EP “We Shall Revenge”, como está sendo a receptividade do publico a respeito deste EP?
Jeferson “Jeff” Romão – Cara, está sendo ótima, o pessoal tem escutado, recentemente em alguns shows notei a galera cantando os sons, está sendo bem positivos para nós.
Em nossa conversa través de uma rede social, você me falou que a banda estava buscando parceiros para a materialização deste EP em formato físico. Já há alguma parceria para isso?
Jeferson “Jeff” Romão – Ainda não fechamos nenhuma parceria, há alguns selos em vista, mas ainda não fechamos com nenhum. Se algum selo se interessar podem entrar em contato, pois ainda estamos à procura.
Vocês disponibilizaram o We Shall Revenge nas plataformas digitais, como está sendo esse processo de divulgação?
Jeferson “Jeff” Romão – Lembrando do termo punk “do it yourself”, a gente tá seguindo esse estilo, então estamos divulgando por nós mesmos, nos shows, Facebook, Instagram, grupos do Whatsapp, estamos usando todos os recursos de mídia social que temos hoje em dia para a divulgação, claro! Sempre contato com os amigos e com o público quem também nos da muita força.
Ouvi atentamente o EP e digo que vocês estão muito entrosados e fazendo um ótimo som. E falando das músicas, quais os temas abordados nas letras?
Jeferson “Jeff” Romão – Obrigado! Nosso entrosamento é extremamente natural, temos muita conexão. A gente procura ser neutro e não levantar nenhuma bandeira, política, religiosa, etc. A bandeira que levantamos é do heavy metal bem feito, bem executado. Em nossas letras falamos de tudo um pouco, heavy metal, bares, bebida, política, mitologia, comportamento e atitudes. No EP temos a Deliver Us To Metal que fala justamente sobre levantar a bandeira do metal, e dizemos como o metal pulsa em nossas veias. March To Kill, aborda questões políticas, Hell’s Pub é um bar onde pode acontecer de tudo, liberdade de fazer o que quiser, beber o quanto quiser sem se preocupar. Já a Death Maker fala basicamente sobre o domínio do mal na terra. E We Shall Revenge é nossa vingança contra todos que um dia duvidaram da banda, ou de nós. Serve também para todas as bandas do underground onde sempre tem alguém duvidando, seja a sociedade, família. É pra dizer “Ei conseguimos, fizemos nossa música, estamos vivos”.
E falando do Jeferson “Jeff” Romão, quais as suas principais influências?
Jeferson “Jeff” Romão – Na bateria minhas principais influências são: Nicko Mcbrain, suas longas viradas me inspiram muito. Dave Lombardo é minha maior influência principalmente no disco South Of Heaven, pois ali a bateria é simplesmente perfeita nos timbres e em toda a sua criatividade para construir viradas e frases na bateria. É simplesmente genial, gosto muito do Nick Menza também, ele era muito preciso. Os nossos brasucas, Igor Cavalera também tem um groove que gosto de acrescentar nos arranjos, Ricardo Confessori também sempre colocou batidas diferentes fugindo do convencional, Aquiles Priester que tive a honra de conhecer pessoalmente, o vi tocando de perto e é algo fantástico, aprendi muito apenas olhando com seus paradiddles absurdos. E também o monstro Gene Hoglan, o qual também tive a honra de conhecer pessoalmente, o percursor de paradiddles rápidos no metal, tento me inspirar nesses caras porque pra mim realmente são músicos diferenciados. Na guitarra me inspiro muito no Dave Mustaine, sou fã do Megadeth há anos e o jeito que ele toca e cria riffs é incrível, ele coloca sentimento, seja de raiva ou tristeza nas músicas e eu gosto dessa ideia de você ouvir uma nota, um riff e aquilo querer te passar ou te dizer algo, ou alguma sensação. Pra mim a música tem que ter vida, ela tem que falar algo. Curto riffs mais diretos também, mas não feitos de forma desleixada, isso não chama minha atenção. Chuck Schuldiner também é outro cara que passa sentimento com a música, te transporta exatamente pra onde a música quer, são caras geniais pra mim.
Com o EP já disponível no formato digital, como está sendo os shows para divulgação do mesmo?
Jeferson “Jeff” Romão – Tá bem legal! Esse mês de novembro tocamos praticamente todos os sábados, no feriado também com muitas aventuras, está sendo bem positivo e um aprendizado para nós também. Queremos agora ir para fora de São Paulo, expandir mais, agregar com mais bangers e metalheads de outros locais, estamos abertos a convites para tal. Nos chamem!!
Jeff, tenho uma pergunta que sempre faço a todos que entrevisto. Qual seu ponto de vista a respeito da cena underground atualmente no Brasil?
Jeferson “Jeff” Romão – Cara, pergunta legal e ao mesmo tempo delicada. Particularmente acho que já tivemos anos melhores em questão do público comparecer nas casas de show, festivais e etc, há muita diversidade, sempre tem muitos eventos, isso é bom mostra que o underground vive, mas até que ponto é ser underground? Você pagar pra tocar? Ter banda é ter gastos, instrumentos, estúdio, transporte, alimentação muitas vezes as pessoas não levam isso em consideração e já vi muita banda parar por causa disso. Mas obviamente para um evento dar certo depende de uma série de fatores. A cena no Nordeste me parece sempre bem viva inclusive tenho muita vontade de tocar lá, a cena brasileira é boa e viva, acho que falta mais cooperação de todos pra que as coisas melhorem cada vez mais. Torço muito para que cada banda conquiste o que almeja, temos que levar nosso metal pesado brasileiro para os quatro cantos do mundo, potencial todos nós temos.
Quais os planos futuros do Thrash Terror?
Jeferson “Jeff” Romão – Estamos trabalhando em novas composições para que se tudo der certo ano que vem a gente gravar e lançar o full-length, também tocar fora de São Paulo e por que não, no país inteiro.
Jeff meu amigo, muito obrigado pela oportunidade de podermos trazer aos leitores da Roadie Crew um pouco sobre você e sua carreira honrada no underground… As últimas palavras são suas…
Jeferson “Jeff” Romão – Meu caro amigo, foi uma honra enorme poder participar, foi ótimo relembrar os acontecimentos nessa minha trajetória de mais de uma década no underground, agradeço o espaço como baterista, sempre ficamos lá trás, escondidos, carregando um monte de tralha, e minha ideia foi mostrar que nós bateristas também temos voz, muitos assim como eu também são compositores, não fazemos apenas barulho. Quero agradecer a minha família em especial meu tio Donizeti, minha mãe por me aturar desde moleque, minha namorada Cris por sempre estar ao meu lado e a todos meus ex companheiros de banda, meus amigos, em especial Josenildo, João, Anete, PC, Kinho, Henrique, por me acompanharem desde o início, são muitas pessoas que me ajudaram e ajudam, sou extremamente grato a todos! Vamos apoiar nossa cena, ir em shows, bandas tocarem bem pra proporcionar um bom show, todos se respeitando e pensando no outro, assim coisas andam. Keep Thrashing!!!
Trazemos aqui para vocês o EP We Shall Revenge na íntegra: