Estar envolvido em alguma polêmica, nem sempre é bom. Mas no caso do Project 46, apesar do episódio lamentável, foi ótimo! Em dezembro do ano passado um jogador do time de futebol americano do Corinthians pediu uma música no Globo Esporte para comemorar os três touchdowns e era para ser “Se quiser” ser tocada. A emissora vetou o nome da banda e colocou outra homônima no lugar. A história rendeu mídia, projeção e mais alguns solidários que, assim como o jogador, passaram a ser fãs. Cantando em português e sem medo de rótulos despontam como um dos bons nomes, das bandas surgidas depois de 2006, que representam o do Metal nacional na atualidade. Com nova formação, o quinteto formado por MacBeserra (vocal), Jean e Vinicius (guitarras) e Henrique (bateria) continuam a divulgação do disco, fazendo shows e lançando videoclipes. A ROADIE CREW conversou com o baixista Rafael Yamada para saber como anda a repercussão do disco e todas as novidades antes após a polêmica.
Para quem ainda não sabe, tudo começou com uma banda cover do Slipknot que alguns de vocês faziam parte e daí surgiu o nome Project46. É isso mesmo?
Rafael Yamada: Isso mesmo, na verdade todos nós fazíamos parte de um Slipknot Cover, o Kroach, mas os fundadores da banda, Vini e Jean eram, respectivamente, o 4 e o 6, daí vem o Projeto 46, que originou o nome da banda.
O logo da banda foi feito por quem? Qual foi a idéia ao criá-lo? Na capa do Doa a quem doer tem algo de Judas Priest ali, concorda?
Rafael: O logo foi feito por um amigo nosso, o competentíssimo ilustrador Jeferson Fernandes (Mutations Artwork). O que a gente queria na verdade era um logo bonito, diferente e meio ‘gangueiro’, expressando mais o lado da rua, cidade, pichações e ao mesmo tempo, o orgulho. Na capa não pensamos em conceitos de outras bandas para ilustrá-la.Na verdade o que a gente queria era dar a intenção de que chegamos com tudo, quebrando tudo, falamos o que queremos, doa a quem doer. Quem fez as ilustrações do disco foi o nosso outro brother, Luis Ramos, outro monstro da ilustração 3D.
Como foi a produção e como tem sido o retorno do disco que vocês disponibilizaram para streaming?
Rafael: A produção foi longa, pois todo o disco foi produzido de forma independente, e como em toda produção independente, faltou recurso. Mas essa falta de recurso foi benéfica, pois acabamos tendo mais tempo para refletir sobre o disco e também de compor com mais calma. O retorno está sendo ótimo, logo de cara já fizemos o show de lançamento com mais de quinhentos pagantes no Inferno Club, em São Paulo. Tivemos ‘sold out’ em dois shows, no Outs e no Inferno, os dois com mais de seiscentos pagantes cada. Abrimos o show do Aborted em Catanduva. Lançamos um webclipe de Capa de Jornal com cenas ao vivo do show de lançamento, acabamos de lançar o clipe de Se Quiser e vamos tocar com o Matanza no mês que vem.
Falando mais especificamente do produtor, qual foi a influência que vocês consideram fundamental no trabalho do Adair Daufembach?
Rafael: A perfeição. O Adair é um cara espetacular. Em seu estúdio ele faz gravações de nível gringo, que vai muito além de todos os estúdios que eu conheci em São Paulo. Só que parar pra gravar com ele, o cara tem que ser muito bom no que faz. Ele explora o máximo do músico, não tem papa na língua pra te dar uma puxada de orelha e se não tiver bom, ele não deixa passar. Eu me lembro que ficamos cerca de dezesseis horas gravando as guitarras de Impunidade e um dia inteiro gravando os baixos da Atrás das Linhas Inimigas.
Ele tem, inclusive, produzido várias outras bandas, especialmente da cena paulistana. Além da produção focada e o talento individual de cada uma, o que você acha que tem de melhor dessas bandas com quase o mesmo tempo de estrada que vocês e representa uma nova safra do Metal nacional?
Rafael: A união! Todas as bandas que estão com ele se unem para o bem maior, que trazer de volta o rock, fazer o nosso estilo voltar a ser respeitado e ouvido como música e não como barulho ou modinha Emo. Todos nós, bandas de Metal, Hardcore, Metalcore e Deathcore não gostamos de ser taxados como Emo por pessoas mais tradicionais que pararam a vida nos anos 90.
Apesar de ainda ser bastante comum, hoje já não é tão mais necessário que as bandas cantem em inglês para ter projeção e retorno do trabalho. Outras bandas locais e com mais tempo de estrada fazem isso sem maiores problemas. Vários sons de vocês já são conhecidos do público e tem, talvez, mais retorno por estarem no idioma que aqui todo mundo conhece. Por que fizeram a opção de não seguir o fluxo e cantar em português?
Rafael: A maioria das pessoas ainda acredita que um dia algum produtor gringo vai ouvir o seu som e achar o máximo, pagar tudo pros caras gravarem, gravarem um clipe, morar fora, tocar lá na gringa e ficar famoso no mundo inteiro. A gente não acredita nisso, tiramos tudo do nosso bolso, não dependemos de ninguém, não esperamos nenhum salvador da pátria, e cantamos em português simplesmente pelo fato de que a gente quer ser o que as pessoas querem ouvir. Quem muda a cena não é o produtor ou empresário, e sim as pessoas que ouvem e consomem os produtos e aqui no Brasil a parada tem que ser assim, curta e grossa, em alto e bom som, e em português.
E covers? Tem vontade de fazer versões ou cantar em inglês ou outro idioma?
Rafael: Nós não gostamos muito de vincular a imagem da banda com covers, mas prestamos homenagens a bandas que nos influenciaram a fazer o nosso som. Nos últimos shows nós fizemos homenagens ao Despised Icon, com Furtive Monologue, e ao próprio Slipknot com The Heretic Anthem.
O Henrique já era da banda ou coincidiu de ele assumir as baquetas na saída dele do Paura?
Rafael: Ele ainda estava no Paura quando assumiu o Project46, mas que fique bem claro que não houve pressão de nenhum dos lados para a saída dele do Paura. Estávamos conciliando muito bem a agenda e o Henrique é um batera comprometido e responsável, além de muito talentoso e conseguiria lidar com as duas bandas numa boa. A saída dele do Paura foi decisão dele, por motivos particulares dele, que não vem ao caso agora, além do mais o ele foi muito bem substituído não havendo complicações pra nenhuma das bandas.
Antes de falar do clipe de “Se quiser”, como foi que vocês souberam e o que acharam daquela confusão da Globo? Vocês conhecem o jogador que pediu o som?
Rafael: Recebemos uma mensagem na nossa página do Facebook do jogador, o próprio Paulo César Santos, ele como fã, pediu a música, deu no que deu e ele veio nos falar o que aconteceu. Não o conhecíamos até então. A partir disso começamos a trocar idéia com ele, viramos amigos e fizemos o clipe onde ele ajudou na produção e hoje em dia saímos pra tomar cervejas juntos. Nós achamos bem estranho o que aconteceu. Passou tudo na nossa cabeça, censura por ser Metal, direitos autorais, que a música não tinha clipe, que era independente, que a Tânia Mara é mulher ou parente de algum grande diretor da Globo. Enfim, não somos nós que devemos julgar. Não foi legal, mas foi ao mesmo tempo. Hoje em dia muitas pessoas nos conhecem através desse fato. Aquilo gerou polêmica e revolta, tantos dos fãs do Project46 como fãs de Metal em geral e até odiadores da Rede Globo (risos). Foi parar no TT’s São Paulo no Twitter com a hashtag #VergonhaGloboEsporte.
Se tivessem algum direito de resposta sobre esse episódio, o que diriam?
Rafael: ‘Aceitamos pedidos de desculpas, se corrigirem o erro e passarem o clipe de ‘Se Quiser’ AO VIVO no Globo Esporte!’
E, agora sim, como foi a produção do clipe?
Rafael: Foi cansativa, mas muito satisfatória. O clipe tem cenas da banda tocando e o Futebol Americano. Jogadores do Corinthians Steamrollers e São Paulo Storm participaram. Quem dirigiu o clipe foi o Mess Santos, um ótimo diretor que fez um belíssimo trabalho. Percebemos que assim como o Metal, o Futebol Americano tem dificuldades nesse país, e tudo casou isso sacou muito bem, essa união ficou forte e a letra é forte. Isso acho q serviu muito bem no vídeo. Se você quiser, faça acontecer. E fizemos!
Quais os planos de vocês para este ano, além do videoclipe e dos shows de divulgação?
Rafael: Continuaremos com a turnê ‘Doa a Quem Doer 2012’, e estamos sempre pensando em outros projetos como novos singles, clipes, vídeos, mas não afirmar nada, somente que sempre teremos alguma surpresa.
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