Não há dúvida que vivemos um período em que cada vez há menos espaço para atrelarmos criaturas divinas aos fenômenos naturais de nosso planeta, e inversamente proporcional a isso, a ciência tem contribuído para o bem estar do homem moderno em vários segmentos. (Visto que, hoje em dia, se você tem uma “dor de cabeça” você vai direto pra uma farmácia, e não a uma igreja).
Mas mesmo nesse período iluminado da humanidade, acredito que nada mais intriga tanto o homem moderno quanto as perguntas: “Quem sou eu? Minha existência tem um propósito? De onde eu vim? Para onde vou após minha morte?”
Imagine se a resposta fosse que existem seres superiores responsáveis pela criação do homem, o qual foi gerado somente para servi-te, e por quem os criadores têm enorme desprezo.
Com o princípio de que a vida é incompreensível à mente humana e que o universo é fundamentalmente alienígena, o escritor americano Howard Phillips Lovecraft (Province, Rhode Island, 20 de agosto de 1890 – 15 de março de 1937) iniciou uma série de ficção com histórias interligadas com um grupo de entidades anti-humanas.
Esse grupo de seres fantásticos, esse panteão de monstros que habitam os contos de H.P.Lovecraft foram batizados de Mitos de Cthulhu pelo também escritor August Derleth. (Também conhecidos como o mito dos Grandes Antigos).
“Grandes Antigos” é o seguinte: há bilhões de anos, antes de haver vida na Terra, nosso planeta foi habitado por criaturas fantásticas. Eles, e não Deus teriam criado a vida em nosso planeta. Em contos posteriores, fica implícito que os “Grandes Antigos” seriam criadores do próprio universo, e de todos os seres nele presentes, e teriam Cthulhu como um de seus líderes.
A primeira história da série intitulada “O Chamado de Cthulhu” foi publicada na revista Weird Tales de 1928. No conto, Cthulhu é descrito como um ser misto de “humanoide”, “polvo” e “dragão”, com centenas de metros de altura, com asas nas costas. A cabeça tem inúmeros tentáculos que se sobressaem pela face e boca. E essa criatura malevolente hiberna nas profundas águas do pacífico em uma cidade chamada R’lyeh, se comunicando com os homens através dos sonhos (nota que Lovecraft sofria com pesadelos terríveis).
Bom, isto posto, podemos citar uma série de obras inspiradas nos “Mitos de Cthulhu”, como cinema, literatura, história em quadrinhos, e música. E quando o assunto é música, nada mais adequado do que o Heavy Metal.
Podemos listar uma série de composições, mas com certeza vamos começar com um dos artistas mais célebres a escrever sobre Cthulhu.
Metallica:
Apesar de usar uma grafia diferente, “The Call of Ktulu” é sobre o mesmo personagem ao qual estamos nos referindo nesse texto. A música é instrumental e fecha o álbum “Ride The Lightning” (1984). Diz a lenda que foi Cliff Burton que apresentou H.P.Lovecraftt para o resto da banda.
“The Thing That Should Not Be” do álbum “Master of Puppets” (1986) é sobre outra criatura dos mitos chamado Nyogtha ou “a coisa que não devia existir”. Personagem concebido por Henry Kutner, que fazia parte de escritores admiradores de H.P.Lovecraft chamados “Lovecraft Circle”.
“All Nightmare Long” – música do album Death Magnetic (2008) tem forte influência do universo Lovecraft. Assista ao vídeo-clip e entenderá.
Outras bandas:
Cradle of Filth – “Cthulhu Dawn” é uma música sobre despertar do “Grande Antigo” e das consequências para o planeta Terra. A banda usa termos da mitologia de Lovecraft como “Sarnath” e “Kadath”, o que demonstra conhecimento sobre o tema.
Blue Öyster Cult – tem uma série de composições também sobre o tema, E.T.I. (Extra Terrestrial Intelligence), In the Presence Of Another World, Curse of the Hidden Mirror, The Old Gods Return.
The Darkest of the Hillside Thickets – Banda do Canadá especializada em lançar trabalhos temáticos sobre os “Mitos de Cthulhu”. Álbuns como “Cthulhu Strikes Back” (1995) e “Great Old Ones” (1996) são diversão garantida.
Mercyful Fate – “The Mad Arab” do álbum Time (1994), “Kutulu (The Mad Arab Part Two)” de Into the Unknown (1996), ambos tem como tema o livro Necronomicon, escrito pelo poeta fictício Abdul Alhazred (o “Árabe Louco”).
Morbid Angel – tem álbuns inteiros com referencias sobre o tema: Altars of Madness (1989), Blessed are the Sick (1991), Covenant (1993).
Rage – o álbum Black in Mind (1995) tem as seguintes canções “The Crawling Chaos”, “Shadow Out Of Time” e “In a Nameless Time”.
Bal-Sagoth – “Shackled To The Trilithon Of Kutulu” do álbum The Chthonic Chronicles (2006). Esse trabalho de Byron Roberts não poderia ficar de fora.
Black Sabbath – tem “Behind The Wall Of Sleep”, canção baseada em um conto de Lovecraft de 1919.
Para não ficar somente na música, fica uma dica de leitura, o comic book Neonomicon, escrito por Alan Moore e ilustrado por Jacen Burrows. O livro todo é um tributo a Lovecraft, com suas 188 páginas de terror, sexo, drogas e investigação policial.
É óbvio que este é somente uma amostra do universo literário de H.P.Lovecraft, mas com certeza tem dicas interessantes pra quem não conhece começar a ter por onde pesquisar.