EDU FALASCHI: VOLTANDO AO TEMPLO DAS SOMBRAS

Aproveitando os 20 anos de lançamento de Temple of Shadows, Edu Falaschi sai em turnê repleta de convidados celebrando a data

Por Daniel Agapito

É praticamente impossível ser fã de metal nacional e escapar do chamado “Angraverso”. Sem dúvida uma das bandas mais importantes do cenário brasileiro, todos já ouvimos a história de superação do quinteto após a saída de André Matos, Luís Mariutti e Ricardo Confessori, que formaram o Shaman. Para resumir rapidamente, Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro rapidamente reuniram uma outra formação, apostando em Felipe Andreoli, baixista até então conhecido por seu trabalho com Paul Di’Anno, Aquiles Priester, baterista virtuoso que tocava com Andreoli, e Eduardo Falaschi, vocalista já conhecido na Baixada Santista, tendo integrado Mitrium, Symbols e Venus. Rebirth foi um álbum marcado por um sentimento de provação, a sensação de um abismo intransponível; muitos achavam que seria uma tarefa hercúlea manter o legado estabelecido pela formação “clássica”, e de fato foi, mas o sucesso deste renascimento foi estrondoso.

Passados estes tempos incertos, veio Temple of Shadows em 2004, um projeto mais que ambicioso, disco conceitual complexo que mostrou um lado mais progressivo do Angra, uma banda sem medo de experimentar e sem receio para inovar. Na época, público e crítica ficaram praticamente divididos, mas agora, mais de 20 anos depois, faixas como Spread Your Fire e Waiting Silence se tornaram clássicos, inclusões perenes nos setlists da banda e do próprio Falaschi, que entrou em carreira solo em 2015, alguns anos após sua saída conturbada do Angra. No presente momento, ambos estão excursionando o Brasil e o mundo com repertório celebrando do disco, com a banda já tendo passado por diversas capitais, culminando em um grande show em São Paulo no final do ano passado e neste ano iniciando a “reta final” das celebrações, enquanto o vocalista está iniciando sua segunda turnê tocando o álbum na íntegra e prometendo um espetáculo marcante em São Paulo. Tivemos a chance de conversar com Falaschi, que refletiu sobre a importância de Temple of Shadows em sua carreira, falou da sua relação com Roy Khan, ex-vocalista do Kamelot, e respondeu à pergunta que não quer calar: qual a diferença entre ver ele e o Angra?

No próximo dia 5, você estará voltando para São Paulo, desta vez com a turnê de 20 anos do Temple of Shadows, tocando o disco na íntegra, além de alguns outros hits do Angra. Como tem sido, até agora, celebrar um disco tão impactante para o metal nacional?
Edu Falaschi: Então, é sempre uma honra poder celebrar esse disco que mudou minha vida, mudou a vida do Angra e mudou a vida dos fãs. É um disco que veio depois do Rebirth, veio cheio de responsabilidades, porque chegamos com Rebirth, beleza, tínhamos que provar que a banda estava forte ainda, e o Temple of Shadows tinha a responsabilidade de no mínimo manter esse nível. Aí a gente veio com um disco mais progressivo, um pouco mais complexo, bem mais sofisticado que o anterior, então foi um risco, um disco muito importante. Então, estamos celebrando esse disco novamente, desta vez com 20 anos, e fazendo uma celebração em São Paulo com orquestra sinfônica, com o Kai Hansen, que cantou no disco, com o Roy Khan, com a Adrienne Cowan, do Avantasia, fora a participação do Maestrick, que vai tocar com o Roy, participação do Noturnall, todas as outras bandas, é quase um festival! Vai ser um showzaço com mega produção, tem todo um cenário. Vai ser imperdível. É muito gratificante ter essa oportunidade de celebrar esse momento com os fãs.

Não é a primeira vez que você cai na estrada com o repertório deste clássico, tendo feito tanto a turnê Rebirth of Shadows como a própria ‘primeira edição’ do Temple of Shadows in Concert antes da pandemia. Diria que agora está mais ‘azeitado’?
Edu: Sim, sim. Na verdade, todo início de turnê é um pouco mais engessado, você cai na estrada com a equipe e tal, até tudo ficar redondo vai um tempo. Não dá nem para comparar o décimo show (de uma turnê) com o primeiro. A gente chega preparado, ensaiado, mas quando você tá ali no palco, cara a cara com o fã, é diferente. Esse ‘azeitamento’ aí que você comentou vem com o tempo, vem com a estrada. Sempre começa bom e vai ficando melhor. No final, a banda tá sempre entrosada, arrebentando, aí quando a banda tá tinindo, acaba a turnê… É foda (risos).

Agora, 20 anos à frente, como você enxerga o impacto do Temple oh Shadows no Angra e na sua evolução como músico?
Edu: É muito louco, a gente está celebrando 20 anos, mas parece que gravou o disco ontem. É um disco mega atual, né? Quando escuto não acho um disco datado. A gente tem exemplos aí de vários discos de rock que você ouve e vê que é um disco datado, você reconhece que é de tal época. O Temple of Shadows você ouve e ele segue super atual. Para fazer o trabalho dessa turnê, todo mundo teve que treinar as músicas, escutamos muito, e é aí que você percebe o quão top foram a produção, os arranjos, as composições. Foi um trabalho que marca até hoje, super importante.

O Angra, inclusive, sempre foi uma banda muito dinâmica, difícil de definir, sem medo de entrar em outros estilos. Em entrevistas na época em que o disco foi lançado, você disse ‘acredito que Temple of Shadows é a mais fiel representação do que somos como músicos e banda’. Essa visão permanece?
Edu: Boa pergunta. A gente sempre tem opiniões, e essas opiniões refletem o momento. Agora, de fato, esse disco é especial, ele mostrou mesmo a maturidade da banda, de certa forma ainda penso assim. É um disco que quando apresentamos para a galera, viram o potencial daqueles cinco músicos que trabalharam no disco. É realmente diferenciado.

Foto: Fábio Augusto

Ele também não tinha aquele mesmo ar de provação do Rebirth, vocês tiveram mais liberdade…
Edu: Exato, no Temple of Shadows, como eu falei, a gente ousou mais. A gente chegou lá e falou: ‘Beleza, já mostramos com Rebirth que somos o mesmo Angra.’ Claro, músicos diferentes, épocas diferentes, mas a qualidade era a mesma, conseguimos honrar o legado que o Angra tinha e seguir com uma carreira sólida. Quando a gente foi fazer o Temple of Shadows, a gente arriscou mesmo, colocamos um monte de música super progressiva, muitas músicas com várias partes instrumentais, além de ele ser bem mais virtuoso. Ele chegou meio para chocar mesmo. Na época lembro que a galera inicialmente não gostou, que preferiam a primeira parte do disco, acharam a segunda muito experimental, mas com o tempo ele se tornou um clássico.

Voltando ao show de São Paulo, você não será a única grande atração, já que terá com ninguém mais, ninguém menos do que Roy Khan celebrando 20 anos do Black Halo e subindo no palco antes de você. Como aconteceu este convite?
Edu: O Roy cantou comigo em um
show em São Paulo, ficamos amigos e ele demonstrou interesse em saber como que construí essa carreira solo. Resumindo, ele decidiu tomar o mesmo rumo e ajudei ele no que pude. Acabei oferecendo para que ele pudesse começar essa carreira solo no meu show em São Paulo, com uma mega estrutura, grande público e tal, onde ele vai tocar um especial de The Black Halo – não vai ser o disco na íntegra, mas vai ser um especial com algumas outras músicas, mas o cara é uma lenda. Estou feliz de poder ser o suporte para ele iniciar a carreira solo em grande estilo, já vai começar com uma orquestra sinfônica, né, a Orquestra Jovem Artur Nogueira, do maestro Michelino, uma lenda da música erudita brasileira. Ver ser uma noite histórica, com vários eventos: tem Kai Hansen, do Helloween, e Adrienne Cowan, do Avantasia. Representantes de Helloween e Avantasia, o Roy representando o Kamelot junto do Maestrick, Noturnall, Auro Control, é sensacional, uma grande produção, fora o cenário, palco. Fico feliz em ouvir o Roy falar que eu o apoiei, nós vamos trocando essas energias, fico feliz de poder influenciar um ídolo, me sinto lisonjeado de poder ter acendido a chama, ter despertado essa vontade nele. Assim rolou também com o Guilherme Arantes, lenda viva, sou muito fã dele, ‘fãzoca’, sabe? Depois do meu show conversamos muito, ele participou do DVD Temple of Shadows in Concert, que tem toda a questão dos templários, toda aquela parte do conceito do disco, ele logo na sequência gravou o disco dele (A Desordem dos Templários, 2021) com influências sobre os templários, voltou um pouco para o rock progressivo. Ele mesmo falou que antes de ser cantor de música mais pop participava de uma banda de rock progressivo nos anos 70, o Moto Perpétuo. O cara me falou: ‘Pô, voltei para o rock progressivo, que não cantava há mil anos, fiz um disco mais conceitual’, ele ficou super empolgado. Imagina como me senti, ele também foi influenciado por isso para fazer um disco com essa pegada. É isso, a gente tem que jogar energias positivas para o mundo para influenciar positivamente as pessoas. Influenciar e inspirar.

Para fechar, acabou que o Angra está fazendo exatamente a mesma turnê que você, tocando o mesmo disco na íntegra com um repertório muito parecido. Fora ser a voz original, qual você diria ser o grande diferencial entre o seu show e o show deles?
Edu: Cara, não sei, é difícil dizer. A gente tá fazendo basicamente a mesma coisa, celebrando um trabalho que a gente construiu junto, né? Então é mérito dos dois, vamos dizer, direito dos dois também. Acho que todo mundo que se envolveu com aquele trabalho gostaria de estar celebrando. É um puta disco, a gente tem orgulho de dizer que fez aquilo lá, então estamos contentes em celebrar. Acho que todo mundo está feliz de estar podendo fazer isso aí. Quem ganha é o fã, né? Os caras estão tendo uma overdose de Angra, de Temple of Shadows. O bom é que tem para todos os gostos, eu estou fazendo minha parte, celebrando do meu jeito, e acho que o importante é que está todo mundo contente.

Agora é com você, quer deixar uma última mensagem para os leitores da ROADIE CREW?
Edu: Não perca esse show! Quem gosta de rock progressivo, power metal, quem gosta de Kamelot, Angra, Helloween, Avantasia, quem é desse universo, compareça ao show, os ingressos já estão à venda. Em São Paulo, quase todos os setores esgotaram, e os que sobraram estão indo para o caminho de se esgotar, então não percam essa oportunidade! A gente se vê por aí!

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